Monografia Um Arquiteto, Uma Cidade - Barragán e a Cidade do México - Trabalho final TH3 IAU USP

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IAU0754 - TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO MODERNOS II

LUIS BARRAGÁN CIDADE DO MÉXICO

CAROLINA HORIQUINI | FELIPE LEME | MARIA ALICE | MARIA SYLVIA | MARINA GIL


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SUMÁRIO 3 SUMÁRIO 4 LINHA DO TEMPO 6 7 9 10 12 16 18 18 19 21 23 24 28 30

CIDADE DO MÉXICO INTRODUÇÃO DADOS GERAIS MÉXICO-TENOCHTITLAN E O IMPÉRIO ASTECA INVASÃO ESPANHOLA E A COLONIZAÇÃO NO MÉXICO A INDEPENDÊNCIA MEXICANA REVOLUÇÃO MEXICANA O contexto sócio-político antecedente à revolução O decorrer da revolução: narrativas em disputa O pós-revolução SOBRE A PROPRIEDADE DA TERRA A METRÓPOLE MEXICANA E A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO PRAÇA ZÓCALO COMO SÍNTESE DE UM PERCURSO HISTÓRICO SOBRE O BAIRRO DA CASA: TACUBAYA

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LUIS BARRAGÁN INFÂNCIA FORMAÇÃO VIAGEM À EUROPA RETORNO AO MÉXICO VIAGENS À CHICAGO E NOYA IORQUE RETORNO À EUROPA E INFLUÊNCIA DE LE CORBUSIER TRABALHO NO MÉXICO El Pedregal Casas em Tacubaya

43 VIAGEM AO NORTE DA ÁFRICA 44 PRÊMIO PRITZKER 48 FALECIMENTO 50 CASA ESTÚDIO 72 CONSIDERAÇÕES FINAIS 73 APROXIMAÇÕES ENTRE AS OBRAS DE BARRAGÁN, O MÉXICO E A CIDADE DO MÉXICO 75 DIÁLOGOS ENTRE O MURALISMO MODERNO MEXICANO E A OBRA DE BARRAGÁN 77 SOBRE A OBRA DO ARQUITETO E INSERÇÃO NO REGIONALISMO CRÍTICO 80 ANEXO 1: CRONOLOGIA DE OBRAS LUIS BARRAGÁN (CANHADAS, 2018) 94 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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CIDADE DO MÉXICO

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INTRODUÇÃO

A história do país hoje conhecido como México é marcada por uma série de acontecimentos, entre eles uma constante de disputas de narrativas e projetos de nação pelos diferentes povos que queriam chamar aquele território de seu. O primeiro, no enfrentamento entre os Astecas e os recém-chegados colonizadores espanhóis; com um fim no qual os povos nativos foram subjugados e mortos, caindo sobre o domínio espanhol. No entanto, o Império Asteca, seus preceitos e tradições ainda ecoavam sobre a colônia espanhola, em seu povo, em seus traços e costumes. A construção do México se deu sob a sombra do maior Império ameríndio, sua destruição e também sua luta; mas também com o espanhol, europeizante e todas as suas múltiplas influências e imposições. A partir do século XIX essas contradições se amontoaram e eclodiram em mais guerras, agora com o objetivo de se separar efetivamente da Espanha, e encontrar uma síntese e um projeto para um México independente. Após a independência da Espanha marca-se um novo capítulo na história, agora como República. Posteriormente, o processo revolucionário no início do século XX e o seu desaguar na constituição de 1917, colocam o país como pioneiro no estabelecimento de certas questões, como a legislação da Reforma Agrária e a jornada de trabalho de 8 horas. Entretanto, muitos dos ideais campesinos e de melhoria social foram perdidos ao longo de um século pós revolução, e hoje encontra-se inserido no contexto internacional como parte do controverso “sul

global”, mesmo sendo o único país latino a fazer parte da América do Norte. Para entender esse complexo processo histórico, se volta em específico para a antiga Tenochtitlán e atual Cidade do México; ela que foi a sede e palco dessa constelação de acontecimentos, se tornando uma síntese potente daquilo que atravessou e constitui a história do México. México-Tenochtitlán, capital do Império Asteca, já existia muito antes do século XVI e da chegada dos colonizadores espanhóis ao local, sendo destruída no processo de tomada da cidade, vindo só então a se chamar Cidade do México. Sua longa história se materializa na cidade, seus edifícios, suas ruas e praças; mas também em seu povo e suas ausências, de modo imaterial, mas ao mesmo tempo presente no coletivo. Hoje a cidade é classificada como patrimônio cultural mundial, tombada pela Unesco em 1987. Assim, é uma cidade que testemunhou diversos acontecimentos históricos e que possui grande importância até os dias atuais. Desse modo, a pesquisa e a investigação da Cidade do México, uma das maiores cidades da América Latina, palco de uma constelação de acontecimentos que atravessaram o curso da história de diversas maneiras, justifica-se de modo a compensar o enfoque eurocêntrico usual da historiografia. Essa não conferiu o devido prestígio às civilizações Ameríndias e aos processos históricos dos países latinos, interpretando-os como eventos paralelos, menos importantes do que aqueles que se passam

nos locais centrais para o poder. O estudo das cidades latinoamericanas, perpassa a investigação teórica antropológica de sociedades diversas e sua história de exploração, violência, imperialismo e dependência. Demograficamente, é a quinta cidade mais habitada do planeta, sendo também a 12ª mais populosa.

Escultura na Praça Cívida, Memorial da América Latina, São Paulo. Desenho de Fernanda Grimberg Vaz. Disponível em: https://vitruvius.com.br/index.php/revistas/read/minhacidade/17.199/6413 2002. Acesso em: 10 janeiro 2021.


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Além disso, trata-se do local que Luis Barragán escolheu para viver e trabalhar, tanto pelas oportunidades de trabalho quanto por sua efervescência cultural nesse momento. Atuou entre as décadas de 1940-1980, desenvolvendo várias obras na Cidade do México, tornando-se um dos arquitetos mais relevantes do país. O arquiteto traz consigo uma relação muito intensa com a natureza em suas obras, retomando as vivências da sua infância, e de certo modo buscou levar as características do campo ao ambiente urbano ao interior de suas construções. Por outro lado, atuou também como agente produtor da cidade, não como urbanista, mas projetando casas para comercializá-las, como uma forma de sustento econômico. Sua obra mais relevante, a Casa Estúdio (1947-1948), que será posteriormente analisada neste trabalho, residência pessoal e exemplo de diversos conceitos da sua linguagem arquitetônica, como a relação com a natureza aqui descrita, os espaços delimitados por muros, o uso das cores e luzes, dentre outros aspectos que serão desenvolvidos. Desse modo, analisaremos a produção de Barragán, suas influências, linguagem, ideias, etc; além da leitura de projeto da Casa Estúdio, e como ela reflete a obra do arquiteto. No decorrer do texto, procura-se pontuar brevemente os principais acontecimentos históricos que marcaram a trajetória e a conformação da Cidade do México. Tendo-se em vista principalmente: episódios geopolíticos, transformações no ordenamento da cidade, as relações com a propriedade, a evolução da habitação e um esboço das relações sociais nos diferentes momentos históricos. Dessa forma, busca-se que ao final do texto haja um entendimento sobre o quanto a Cidade do México ainda reflete as principais formas da capital asteca - como o planejamento espacial, a

escala, o centralismo, a abertura, a ortogonalidade e as várias ruas centrais que ainda acompanham o curso dos antigos canais, por exemplo. Além disso, uma abordagem mais atenciosa acerca da história e da consolidação da Cidade do México apresenta-se de extrema importância, não somente pelo fato da obra escolhida estar lá inserida, mas também pela experiência e o papel que a cidade representa para o urbanismo no geral. De acordo com o historiador da arte George Kubler,

“As criações urbanas do século XVI no México tem importância não apenas para a história da colonização espanhola, mas também para a história do urbanismo em geral. Tais obras constituem um dos capítulos mais importantes dentro da história do urbanismo ocidental e incluíram hipóteses nunca antes testadas na Europa, liberdade completa de experimentação, uma expansão incipiente e recursos ilimitados.” (KUBLER, 1982, p. 108 apud SAVAT, 2017)

Crescimento espacial da Cidade do México, 1524-1900. Disponível em: MACGREGOR, María Teresa; SÁNCHEZ, Jorge Gonazález. Geohistoria de la Ciudad de México (siglos XIV a XIX). UNAM, México. 2002.


Mapa México. Disponível em: Google Maps. Acesso em: 09/01/21 9

DADOS GERAIS

MÉXICO

EXTENSÃO 1958201 km²

POPULAÇÃO 127 milhões de habitantes IDH MÉDIO 0,779 ÍNDICE DE GINI 0,454 (2018)1 POPULAÇÃO EM 68% em 2020 ÁREA URBANA

Bandeira do México.

LOCALIDADE A posição do país é estratégica por ser banhado pelo oceano Atlântico e pelo pacífico. ESTADOS 31 estados

CIDADE DO MÉXICO EXTENSÃO 1,495 km²

POPULAÇÃO 21 milhões de habitantes2

Praça Zócalo. Disponível em: <https://dicasdecancun.com. br/cidade-do-mexico/praca-zocalo-na-cidade-do-mexico/>. Acesso em 09/01/21

IDH MÉDIO 0,885 ÍNDICE DE GINI 0,684 IMPORTÂNCIA Capital e metrópole (RM do PARA O MÉXICO Vale do México) PREFEITA (20/21) Claudia Sheinbaum (MORENA)

Mapa Cidade do México. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ Cidade_do_M%C3%A9xico#/map/0>. Acesso em 09/01/21

1 Disponível em: <https://datos.bancomundial.org/indicador/SI.POV.GINI?locations=MX>. Acesso em: 05 jan 2021. 2 Disponível em: <http://dgeiawf.semarnat.gob.mx:8080/ibi_apps/WFServlet?IBIF_ex=D1_POBREZA00_27&IBIC_user=dgeia_mce&IBIC_pass=dgeia_mce&NOMBREENTIDAD=*&NOMBREANIO=>. Acesso em: 05 jan 2021.

Bandeira da Cidade do México.


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MÉXICO-TENOCHTITLAN E O IMPÉRIO ASTECA Seria um erro historiográfico considerar que a atual capital do México se desenvolveu somente a partir da proclamação de Cortés em 1521. A história da cidade e de seu povo remonta a tempos pré-hispânicos, ou seja, antes da chegada dos colonizadores, com suas espadas e cruzes no início do século XVI. Segundo Alvarado Tezozómoc, mestiço e principal intérprete da Real Audiência de Cortés, o local e a ocupação da posterior Cidade do México foi iniciada em 1325 pelo povo mexica (MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002). Conhecidos como Povo do Sol, por conta de suas fortes crenças, mais tarde foram chamados por historiadores de Astecas - isso se deu devido ao fato de serem originários de Aztecatl (região ocidental norte do país), local de onde peregrinaram até chegarem a região da Bacia do México. Vieram por fim a se assentar na parte mais baixa, que cercada por montanhas, foi onde encontraram diversos povos que ocupavam as margens dos múltiplos lagos da Bacia. Entre dois deles (Texcoco que era redondo e de água salgada e México que era estreito e de água doce) se depararam com uma ilha, que foi onde fundaram México-Tenochtitlan e iniciaram o que viria posteriormente a ser um dos maiores impérios da América Latina. De acordo com a lenda asteca escolheram aquele sítio porque lá encontraram uma águia, representante do deus da guerra, Huitzilopochtli, que simboliza o Sol, sobre um Nopal devorando uma serpente, sinal que esperavam para se estabelecer (MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002). Rapidamente fixaram-se na região; eram

cultura. A grande fertilidade do solo da região assegurava colheitas abundantes e avançaram em suas tecnologias com a criação de um sistema de chinampas (pequenas ilhas artificiais construídas nos lagos), assim a terra recebia diretamente umidade e conseguiam cultivar milho, feijão, abóbora, pimenta, etc. Formaram, em conjunto com os po-

Lago de Texcoco. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/ wiki/Category:Texcoco_Lake,_Mexico>. Acesso em: 05 dez 2020.

um povo de guerreiros, consideraram as vantagens políticas de se situar numa ilha e tornaram a Guerra uma das suas principais atividades e meios de sustento, além disso lutavam com grande entusiasmo por estarem convencidos que salvariam a humanidade: em sua religião acreditavam que era necessário alimentar o sol com o sangue humano (MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002). Destacaram-se também com relação à Agri-

Representacion de la fundación de Tenochtitlan. Disponível em: MACGREGOR, María Teresa; SÁNCHEZ, Jorge Gonazález. Geohistoria de la Ciudad de México (siglos XIV a XIX). UNAM, México. 2002.


vos de Texcoco e Tlacopan, a chamada “Tripla Aliança” e conseguiram submeter todos os povos das margens do lago, os forçando a pagar tributos e incorporando muitas de suas práticas e culturas. Em poucos anos, estabeleceram uma estrutura de império na região e chegaram a se estender por todo o território que hoje conhecemos como Mesoamérica: do norte na região dos desertos e no sul até a Nicarágua. Seu rápido e exponencial crescimento os tornou também um grande centro comercial na região, que com auxílio da extensa agricultura e dos tributos internos (dentro da cidade) e externos (dos povos subjugados), reuniram mais de 25.000 pessoas diariamente em suas principais praças (MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002). A grandiosa cidade de México-Tenochtitlan se organizava com base em uma ordem concêntrica e zonificada: o núcleo se destinou a cidade dos deuses, com seus grandes e majestosos templos re-

ligiosos, com sua região imediata destinada a ser o centro comercial, com suas praças públicas, assim como os edifícios dos sacerdotes e da nobreza; ao redor se localizavam as casas da classe média onde moravam guerreiros, artesãos e comerciantes; e por fim, nas terras mais periféricas (nas chinampas, ou seja, nas ilhas artificiais) se construíram as casas das classes mais populares, que eram compostas em sua maioria por pessoas dedicadas ao serviço e à agricultora (MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002). Apesar de ser uma sociedade extremamente estratificada, havia características que compartilhavam tanto os palácios mais suntuosas, quanto as casas mais modestas: por ser um povo solar davam extrema importância para os espaços exteriores, por considerarem que as atividades mais importantes aconteciam de dia, o que se reflete na falta de interesse por espaços cobertos, assim como de portas e janelas que mediavam essas relações.

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Praça Central ou dos Deuses em México-Tenochtitlan. Disponível em: <https://www.revistacambio.com.mx/entretenimiento/la-historia-de-tenochtitlan-de-hace-500-anos/>. Acesso em: 05 dez 2020.

“Los mexicas crearon en el islote un centro urbano de gran poder y riqueza, autónomo y seguro, que creció en muy poco tiempo adquiriendo un poderío político sin comparación entre los demás pueblos de Mesoamérica, con base principalmente en el comercio, en los tributos y en la agricultura intensiva.”3

(MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002, p. 30)

3Tradução dos autores: Os mexica criaram em sua pequena ilha um centro urbano de grande poder e riqueza, autônomo e seguro, que cresceu em muito pouco tempo adquirindo um poderio político sem comparação entre os demais povos da Mesoamérica, com base principalmente no comércio, nos tributos e na agricultura intensiva.

México-Tenochtitlan. Disponível em: <https://www.mexicolore.co.uk/aztecs/aztefacts/tenochtitlan-centre-of-the-aztec-world>. Acesso em: 05 dez 2020.


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A cidade, e a própria estrutura administrativa e social, era organizada em Calpullis, que correspondiam aos quatro bairros geográficos da organização urbana, Atzacoalco que era no nordeste da região central, Cuepopan no noroeste, Zoquiapan no sudeste e Moyotlan no sudoeste. Esses bairros eram cortados por canais e ruas que atravessavam toda cidade e garantiam a comunicação entre todos os locais de Tenochtitlan, os fluxos de água serviam também para a comunicação com as cidades ribeirinhas (MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002).

INVASÃO ESPANHOLA E A COLONIZAÇÃO DO MÉXICO

“Y desde que vimos tantas ciudades y villas pobadas en el agua, y en tierra firme otras grandes pobazones, y aquella calzada tan derecha y por nivel como iba a México, nos quedamos admirados, y decíamos que parecía a las cosas de encantamiento que cuentan en el libro de Amadis, por las grandes torres y cúes y edificios que tenían dentro en el agua, y todos de cal y canto, y aun algunos de nuestros soldados decían que si aquello que veían si era entre sueños, y no es de maravillar que yo escriba aquí de esta manera, porque hay mucho que ponderar en ello que no se como lo cuente: ver cosas nunca oídas, ni aun soñadas, como veíamos.” 4 (DÍAZ DE CASTILLO, 1964 apud MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002, p. 59). 4 Tradução dos autores: E desde que vimos tantas cidades e vilas povoadas nas águas, e em terra firme outras grandes populações; e aquela estrada tão direta e plana como ia ao México, nós ficamos admirados, e dizíamos que parecia as coisas de encantamentos que contam nos livros de Amadis, pelas grandes torres e edifícios que existiam na água, e todos de cal e pedra, e alguns de nossos soldados diziam que se aquilo que viam se era entre sonhos, e não é de se maravilhar que eu escreva aqui desta maneira, porque há muito a ponderar que não sei como lhe contar: ver coisas nunca ouvidas, nunca sonhadas, como vimos.

Traza de Tenochtitlan señalando los cuatro calpullis. Disponível em: MACGREGOR, María Teresa; SÁNCHEZ, Jorge Gonazález. Geohistoria de la Ciudad de México (siglos XIV a XIX). UNAM, México. 2002.

México-Tenochtitlan. Disponível em: <https://www.mexicolore. co.uk/aztecs/aztefacts/tenochtitlan-centre-of-the-aztec-world>. Acesso em: 05 dez 2020.

Encontro entre mexicas e espanhóis. Cortés recibido por Moctezuma. Disponível em: MACGREGOR, María Teresa; SÁNCHEZ, Jorge Gonazález. Geohistoria de la Ciudad de México (siglos XIV a XIX). UNAM, México. 2002.

Desde que chegaram em terras ameríndias os espanhóis ouviram falar do grande Império Asteca. No entanto, só iniciaram a tentativa de tomar sua sede quando o exército de Hernán Cortés, o conquistador espanhol, junto às tribos que eram subjugadas pelos Astecas, travaram a sua primeira batalha em Tenochtitlan. Quando chegaram, reinava o mexica Motecuhzoma II Xocoyotzin, época de maior esplendor do Império Asteca onde cerca de 80.000 habitavam a ilha. A cidade asteca era maior do que as maiores cidades da Europa, com um exército numeroso, vantagens geográficas e experiência na guerra, no entanto os espanhóis contavam com armas de fogo e apoio de diversas tribos indígenas que sofriam com a subjugação do Império Asteca. O povo de guerreiros conseguiu enfrentar o exército espanhol e expulsá-los de suas terras, mesmo que com diversas baixas, entre elas a morte de seu imperador, Motecuhzoma II. Cortés inicia então o sítio da ilha de Tenochtitlan, que conseguiu re-


sistir por mais 75 dias quando por fim são derrotados - a expansão e subjugação espanhola em terras ameríndias se iniciou em 8 de novembro de 1519, no entanto sua sede só foi derrotada quase dois anos depois, em 13 de agosto de 1521. A cidade foi então completamente destruída, tendo seus principais edifícios demolidos pelos espanhóis e seus aliados indígenas. Inicia-se então uma discussão quanto ao melhor lugar para estabelecer a nova cidade espanhola na Colônia. Cortés decide pelo mesmo local de Tenochtitlan, levando em conta motivos políticos, militares, administrativos e “(...) entre otras cosas porque así quedaba sentado el triunfo de las armas castellanas sobre los mexicas y del cristianismo sobre el paganismo”5 (GURRÍA, 1978 apud MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002, p.62).

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Dessa forma, optaram por restaurar as calçadas e ruas que foram destruídas, limpar os fossos, reparar os aquedutos, iniciar a construção de suas igrejas e prédios do governo espanhol, tendo como resultado uma cidade fortificada construída com os destroços dos edifícios anteriores e feita por mão de obra escravizada e indígena. Apesar de Tenochtitlan ter sido totalmente arrasada, permaneceu a distribuição espacial de suas estradas, ruas, valas e praças, que somadas às influências urbanísticas renascentistas de Alonso García Bravo deu origem ao traçado urbano da recém-criada Cidade do México (MAZA, 1985 apud MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002) - mais tarde o crescimento da cidade trouxe a necessidade de também cobrir alguns dos canais de água que eram tão característicos do período pré-hispânico.

Ciudad de México. Plano atribuido a Hernán Cortés. Disponível em: MACGREGOR, María Teresa; SÁNCHEZ, Jorge Gonazález. Geohistoria de la Ciudad de México (siglos XIV a XIX). UNAM, México. 2002.

“Hernán Cortez desembarcou em Veracruz acompanhado de não mais de 100 marinheiros e 508 soldados; trazia 16 cavalos, 32 bestas, dez canhões de bronze e alguns arcabuzes, mosquetes e pistolas. No entanto, a capital dos astecas, Tenochtitlán, era então cinco vezes maior do que Madri e dobrava a população de Sevilha, a maior das cidades espanholas. Francisco Pizarro entrou em Cajamarca com 180 soldados e 37 cavalos.” (GALEANO, 1999, p. 34)

Batalha de Tenochtitlan, autor desconhecido. Disponível em: <http://links.org.au/indigenous-genocide-contributed-to-climate-change>. Acesso em: 09 dez 2020.

5 Tradução dos autores: (...) entre outras coisas porque assim estava assentado o triunfo das armas castellanas sobre as dos mexicas, e do cristianismo sobre o paganismo.]


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tinham como objetivo ensinar aos nativos a língua espanhola e também a religião católica. No século XVII a Cidade sofre um grande processo de transformação em seu semblante, mesmo que seu traçado não tenha tido grandes mudanças, abandona o ar de fortaleza e se aproxima mais do neoclássico. Outra alteração diz respeito às cores dos edifícios que, por muito tempo, eram de um vermelho e branco vivos, devido às pedras tezontle e cantera que haviam em abundância na região, passando a ter nessa época construções apenas brancas de cantera. Além disso, calcula-se que nessa época já havia cerca de 20 mil famílias espanholas e 60 mil nativos, evidenciando o crescimento da cidade, assim como a necessidade do surgimento e consolidação de novos bairros (muitos deles já vinculados a atividades que seus habitantes desempenhavam e as diferentes classes sociais).

Plano atribuido a Alonso de Santa Cruz, cosmógrafo de Carlos V, pintado a medianos del siglo XVI. Disponível em: MACGREGOR, María Teresa; SÁNCHEZ, Jorge Gonazález. Geohistoria de la Ciudad de México (siglos XIV a XIX). UNAM, México. 2002.

Em seu início, 1524, a Cidade contava com uma população de 30.000 habitantes e extensão de cerca de 1,9km², mas aos poucos se tornou o principal centro administrativo, econômico, educacional, cultural, religioso, de consumo, de comunicação e de transporte da Nova Espanha (MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002). Até o início do século XVII, a arquitetura da cidade dos espanhóis se aproximava de castelos feudais, fortificados e voltados para uma vida doméstica introvertida. Já a habitação indígena se localizava nos quatro grandes bairros que rodea-

vam o retângulo central espanhol: San Sebastián (correspondia a Atzacoalco), Santa María la Redonda (Cuepopan), San Pablo (Zoquiapan) e San Juan (Moyotlan). Além da segregação territorial, o período colonial foi marcado pelo constante empenho evangelizador, a colonização social como forma de submissão dos povos originários em suas próprias terras para o desenvolvimento pleno do então Império Espanhol em territórios ameríndios. Isso se refletiria com a construção de um grande número de edifícios católicos, tornando os religiosos uma parcela significativa da população da cidade, e que

Cabeça de Serpente. Em uma esquina do Palácio dos Condes de Calimaya. Exemplo de utilização de restos de templos indígenas na construção de edifícios espanhois. Disponível em: MACGREGOR, María Teresa; SÁNCHEZ, Jorge Gonazález. Geohistoria de la Ciudad de México (siglos XIV a XIX). UNAM, México. 2002.


Outro número impressionante da época é a quantidade de canais de água, se calcula que na cidade havia 50 pontes. Se inauguram também novas conformações de classes: a superior era formada pelos “advenedizos”, colonos atrasados e os “primeiros povoadores”, uma vez que o grupo de conquistadores originais já haviam morrido e seus filhos, os crioulos, eram renegados e mantidos no segundo estrato social, proibidos de ocupar altos cargos da igreja e do Estado e, por tanto, voltados às universidades, câmaras, etc; o terceiro estrato social era formado pelo conjunto de mestiços, nascidos da união de espanhóis e indígenas, só podiam ocupar empregos de pouca estima social e econômica; o quarto e último estrato social era formado pelos povos nativos e os africanos escravizados, renegados de qualquer tipo de direito e/ou olhar humanizante, acostumados a habitar as periferias da cidade. Embora os limites da cidade e sua extensão tenham continuado praticamente inalterados, foi durante o reinado de Carlos III na Espanha (17591788) que ocorreram as maiores transformações e melhorias na Cidade do México - algumas delas permanecem intactas até hoje. A imagem urbana

“Passeo de la Viga”. Um dos passeios mais populares desde o século XVII até o primeiro terço do XX na Cidade do México. Disponível em: MACGREGOR, María Teresa; SÁNCHEZ, Jorge Gonazález. Geohistoria de la Ciudad de México (siglos XIV a XIX). UNAM, México. 2002.

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Plano general de La Ciudad de México feito por Don Diego García Conde em 1793. Disponível em: <https://www.raremaps.com/gallery/detail/61278/plano-general-de-la-ciudad-de-mexico-levantado-por-el-tenie-conde>. Acesso em: 10 dez 2020.

foi totalmente alterada, as instituições foram ampliadas e reformadas, suas fachadas mudadas e amplamente decoradas; nesse período, a capital fica conhecida como “cidade dos palácios”, levando-se em conta os grandes palácios que haviam sido construídos nas principais ruas do centro (MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002). Juan Vicente Guemez de Pacheco, o vice-rei da Nova Espanha a partir de 1789, foi uma figura importante na construção da Cidade do México como a conhecemos hoje, considerado um grande administrador e pai do México moderno. Foi responsável por diversas melhorias urbanísticas, entre

elas o empedramento das ruas para facilitar a limpeza, mudança na iluminação da cidade, uma reforma na praça central, a eliminação da forca e do cemitério da catedral, etc. Em 1793 mandou traçar o plano da capital, feito por Don Diego García Conde; segundo este plano, a cidade tinha então 397 ruas e becos, 78 praças e praças, 14 paróquias e 41 conventos, dez escolas, três casas de reconhecimento, sete hospitais e um hospício para os pobres (DIAS, 1972 apud MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002). Ao fim de 1800, a população da Cidade do México já chegava a 137.000 habitantes e sua extensão era de cerca de 6,2 km².


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A INDEPENDÊNCIA MEXICANA

O território ameríndio que desde o século XV foi colonizado e explorado pela Espanha a partir de 1808 iniciou um complexo processo de independência e emancipação do domínio espanhol. Na perspectiva da construção de uma nação independente foram travadas guerras por mais de 10 anos no México, com o desfecho em 1821 com a invasão do exército da libertação na Cidade do México, forçando a renúncia do Vice-rei espanhol e a assinatura do Tratado de Córdoba. No entanto, os mexicanos lidaram diretamente com as consequências de uma guerra de tantos anos, assim como, do fim dos vínculos com o Império Espanhol: durante e após a guerra, enfrentaram períodos de grande pobreza, mas também de uma força revolucionária imensa, o que afetou diretamente as sociabilidades, assim como o projeto de nação

que estavam construindo (MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002). Uma dessas consequências foi o grande movimento migratório de populações nas zonas mais empobrecidas do México até a capital do país, muitos deles abandonaram o campo em busca de melhores condições de vida. Essa dinâmica rápida ocasionou uma série de problemas no ordenamento do espaço urbano - como falta de serviços urbanos, principalmente água, moradia, educação e saúde. A partir de 1861, a cidade foi zonificada através da criação de novos bairros, a maioria destinada às classes baixas e com incentivo do governo, que queria expandir a cidade com auxílio de inovações tecnológicas no sistema de transporte (como bondes e trens elétricos). Nesse contexto, a população da Cidade do México quase duplicou de tamanho,

Mural A Guerra de Independência do México, de Diego Rivera. Disponível em: <https://www.esquerdadiario.com.br/Diego-Rivera-e-a-vertiginosa-saga-da-luta-de-classes-33383>. Acesso em: 10 dez 2020.

Ángel de la Independencia é um monumento localizado no Paseo de la Reforma, no centro da Cidade do México. Foi erguido em 1910 em comemoração. Disponível em: https://guia.melhoresdestinos.com. br/monumento-a-la-independencia-el-angel-197-5413-l.html. Acesso em: 10 de dez 2020.

chegando em 1899 há uma população de 368.698 habitantes e uma extensão de 16,9km² e a anexação de outras localidades periféricas, como Tacuba, Tacubaya, Azcapotzalco e Guadalupe (MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002). Dessa forma, houve um profundo reordenamento do espaço, que transformou a aparência da cidade e conformou uma nova paisagem arquitetônica. Um dos responsáveis por isso, foi a mudança no controle da propriedade na Constituição de 1857, quando várias propriedades da Igreja se tornaram propriedades privadas, incentivando a construção de uma sociedade burguesa. Além disso, muitas propriedades que antes eram arrendadas passaram a ser da posse de seus inquilinos, o que


se soma ao início de um mercado imobiliário que influencia ativamente no ordenamento da cidade. Outras mudanças foram a pavimentação das ruas, a demolição de aquedutos, os primeiros circuitos elétricos, etc. Com relação à questão da moradia: às classes altas localizavam-se em bairros com as melhores infraestruturas, em casas suntuosas rodeadas de jardins. Em contrapartida, as classes populares instalaram-se em loteamentos carentes de serviços, ocupando casas de adobe em típicas construções mexicanas (MORALES, 2000 in MACGREGOR; SÁN-

CHEZ, 2002). A mais famosa na época era a Vencidad, tipo de habitação construída para aluguel e destinada a famílias de classes mais populares, um modelo de casa de pátio central que era ocupada por várias famílias.

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“La historia y el espíritu de la Ciudad de México son terriblemente contradictorios. Destruimos la ciudad del siglo XVI para substituirla por la del XVII y luego por la del XVIII. El siglo de la independencia se afanó por destruir la ciudad dieciochesca… Una vez pasada la guerra, la peste y el hambre, apenas tuvo la nueva generación reposo para reflexionar, encontró que esa ciudad no era satisfactoria: la sintió afrancesada, europeizante, extranjerizante, contraria al espíritu nacional. Y se dio a destruirla.” 6

(MANRIQUE, 1975 apud MACGREGOR; SÁNCHEZ, 2002, p.123).

6 Tradução dos autores: A história e o espírito da Cidade do México são terrivelmente contraditórios. Destruímos a cidade do século XVI para substituí-la pela do XVII e logo pela do XVIII. O século da independência ansiou por destruir a cidade diocesana… Uma vez passada a guerra, a peste e a fome, assim que a nova geração teve descanso para refletir, encontraram essa cidade que não era satisfatória: a sentiram afrancesada, europeizante, estrangeirizante, contrária ao espírito nacional. E deu-se a destruí-la.

As Vencidad eram uma das opções mais difundidas de habitação na Cidade do México a partir do século XVIII. Disponível em: <https://www. maspormas.com/ciudad/breve-historia-las-vecindades-la-cdmx/>. Acesso em: 9 dez 2020.


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REVOLUÇÃO MEXICANA

O CONTEXTO SÓCIO-POLÍTICO ANTECEDENTE À REVOLUÇÃO O Porfiriato, como ficou conhecido o regime do general Porfirio Diaz, perdurou por quase três décadas, entre 1876 e 1911, sendo interrompido entre 1880 e 1884. Após esse período foi reeleito por 6 vezes de forma consecutiva e estabe-

Porfirio Díaz (1830-1915). Disponível em: <https://www.britannica. com/biography/Porfirio-Diaz>. Acesso em: 10 jan 2021

leceu um governo ditatorial no qual priorizava os proprietários rurais, a igreja católica e o exército em detrimento do povo. Os eventos desse regime precederam e desencadearam a Revolução Mexicana, constituindo seu contexto precedente. Durante esse período de governo existia a ideia de um progresso decorrente das políticas vigentes, tendo como símbolo do desenvolvimento principalmente as ferrovias, além do telégrafo e dos correios. Estas, além de simbolizarem esse desenvolvimento, tinham a função de promover a integração do território e conectar o país aos Estados Unidos. Entretanto, esse progresso concentrava-se em apenas uma região do país e não para a totalidade da população (RAMPINELLI, 2011). Um outro conceito que permeia a época é a “paz porfiriana”, a qual era mantida por meio da força e de muitas mortes, buscando sufocar a luta de classes crescente. Segundo Julio Cortázar, essa paz foi produzida “alisadas pelo silêncio e pela morte”; assim como tantos exemplos na América Latina, no México as greves de Cananea (1906), Rio Blanco (1907) e São Luís do Potosí (1907) foram reprimidas pelo governo com massacres (RAMPINELLI, 2011). Nos anos anteriores à revolução a truculência do Estado se acentuou, e os anos de 1906 e 1907 foram marcados por uma intensa repressão às greves. Desse modo, percebe-se uma ação coordenada do Porfiriato para sufocar esses movimentos insurgentes, os quais demonstravam a insatisfação da população. Outro elemento apontado como símbo-

“Embora as ferrovias tivessem um objetivo econômico – escoar com rapidez a produção para os mercados internacionais e deste modo tornar o sistema capitalista mais competitivo – tinham elas uma finalidade política também, qual seja, chegar o mais rapidamente possível a qualquer parte do país para reprimir as rebeliões.” (RAMPINELLI, 2011, p. 91)

lo desse momento é a “hacienda” mexicana: “Ela exercia um mecanismo de exploração muito mais violento que o realizado pela fazenda no período colonial, já que interferia nos usos e costumes dos indígenas e dos camponeses” (RAMPINELLI, 2011). Uma grande mudança deu-se com relação ao cultivo para o autoconsumo e coletivo o qual não era mais permitido, opondo-se a um modo de organização tradicional, que conseguiu manter-se até mesmo na época da colônia. Segundo Rampinelli, a partir do deflagrar da revolução, os indígenas e camponeses bradavam “abajo haciendas y vivan pueblos!”. Assim, nota-se que a questão fundiária era algo muito em voga no México do início do século XX, uma vez que a maior parte das terras pertenciam a poucos proprietários - os latifúndios, e isso repercutiria na revolução subsequente, sendo um dos principais pontos em disputa pelas diferentes vertentes de revolucionários.

“Os primeiros operários mexicanos trabalham nas minas, nas fábricas têxteis e na indústria de cigarros. Porém, são os ferroviários que adquirem maior consciência de luta de classes, influenciados pelos trabalhadores estadunidenses assim como pelas ideias do liberalismo juarista, do humanismo cristão socialismo utópico e do anarquismo.” (RAMPINELLI, 2011, p. 92)


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As greves citadas anteriormente relacionam-se ao processo de industrialização do país e a intensificação da integração ao sistema capitalista (inicialmente de forma restrita, produzindo alguns insumos e principalmente como fornecedores de matérias primas), ocorreu também uma acentuação da dependência. No geral, as demandas eram por melhores condições de trabalho e de salário, adquirindo importância nacional, apesar da repressão.

O DECORRER DA REVOLUÇÃO: NARRATIVAS EM DISPUTA Deflagrada a revolta contra Porfírio Diaz, existiam várias frentes políticas em disputa, cada uma desejando implantar sua versão de qual seria o modelo vencedor para aquele país. Assim, a década de 1910 foi uma década de conflitos, até que em 1917 instituiu-se a Carta Magna, substituindo a constituição liberal de 1857, a qual estabelecia o Estado Oligárquico. A Revolução obteve êxito em destruir esse esse velho modelo e “ impede-se que a oligarquia se transformasse diretamente em burguesia industrial.” (RAMPINELLI, 2011) O primeiro momento da revolução foi com o governo de Francisco I. Madero, de caráter reformista, o qual visava estabelecer um governo favorável à burguesia. Ele chega ao poder por meio da eleição de 1911 e pela pressão da rebelião comandada por Zapata, Orozco, e Villa a redor do país que obrigaram o ditador a renunciar. Após assumir, sua postura reformista acaba fazendo com que Madero não se atente às demandas populares, conciliando com a estrutura de governo anterior - consequentemente a revolução não se finda, mas volta-se contra ele. Em 1913, Madero foi assassinado no episódio conhecido como La Decena Trágica, liderado por Victoriano Huerta.

”Sufragio efectivo, no reelección” 1969, Juan O’Gorman retrata Francisco Madero conduzindo o processo a chamada Marcha da lealdade. Disponível em: <https://www.milenio.com/cultura/20-de-noviembre-por-que-se-celebra-la-revolucion-mexicana>. Acesso em: 10 jan de 2021

Outras frentes que estavam em atuação desde o início eram a de Emiliano Zapata e Pancho Villa, iniciadas espontaneamente em regiões opostas do país, que representavam os ideais camponeses na Revolução. Apesar de não terem chegado ao poder diretamente, suas trajetórias caminham lado a lado com a revolução. Desse modo, devido a sua importância tornaram-se sinônimo dos movimentos que comandavam, respectivamente, o Zapatismo e o Villismo. Zapata tornou-se líder no sul, no estado

de Morelos - marcado por seu “agrarismo radical” (KNIGHT, 1990), do chamado Exército Libertador do Sul, por meio da luta armada adotaram a tática de guerrilha. O chamado Plano de Ayala foi uma grande contribuição do movimento para a Revolução, pois ele exigia a devolução das terras expropriadas pelas Leis da Reforma, da constituição de 1857, aos camponeses e indígenas. Além disso, destaca-se o fato do plano voltar-se bastante para sua própria história do país:


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“O Plano não faz referência à “paz”, ao “progresso” e à “democracia”, metas recorrentes dos demais projetos e preocupação iminente dos homens urbanizados daquela época. A finalidade é “reconquistar as liberdades” de um povo republicano e dar lugar à “prosperidade e o bem-estar” (RAMPINELLI, 2011, p. 97)

Emiliano Zapata (1879 - 1919). Disponível em: <https://brasil.elpais. com/brasil/2016/12/20/internacional/1482199810_385787.html>. Acesso em: 10 jan 202.

Pancho Villa (1878-1923). Disponível em: <https://www.elpasotimes.com/story/news/history/blogs/tales-from-the-morgue/2017/07/06/1923-gen-villa-slain-shot-16-times/457520001/>. Acesso em: 10 jan 2021

Em 1914, Zapata e Villa se encontram pela primeira vez, firmando o Pacto de Xochimilco e posteriormente tomando a Cidade do México, momento que se caracterizou como o auge da luta camponesa. Pancho Villa comandava a “Divisão do Norte”, formada por trabalhadores temporários conforme a demanda surgia. Mesmo não tendo um plano de reforma agrária, como o plano de Ayala, pensava nas colônias militares, lugares onde os camponeses viveriam e trabalhariam juntos, sendo assim: “ o villismo não dispunha de um programa acabado, mas sim da grande figura do líder.” (RAMPINELLI, 2011). Segundo o autor, ambas as vertentes campesinas não possuíam um programa que incluísse as outras classes da sociedade mexicana, desse modo, os operários se aliaram a Venustiano Carranza, formando os Batalhões Vermelhos ao lado da burguesia agrária e contra os camponeses. Após a queda de Victoriano Huerta em 1914, Carranza ascende ao poder aliando-se a facção camponeses como presidente provisório, logo no ano seguinte ele rompe a aliança com estes, publicando sua própria Lei Agrária, a qual expropria terras para realização da reforma agrária, por meio dos ejidos que seriam destinados aos camponeses revolucionários. O ejidal era a unidade de propriedade estabelecida para a reforma agrária, de comum uso para o trabalho e usufruto. Entretanto, a ideia de que os proprietários de terra particular

Zapatistas, 1931. José Clemente Orozco. Disponível em: <https:// www.moma.org/collection/works/79798>. Acesso em: 10 jan 2021

foram extintos é falsa, eles apenas diminuem em quantidade e, segundo Knight, a classe sentiu o aumento dos problemas agrários e alguns converteram seus investimentos para indústrias e comércios na área urbana. Em 1917, Carranza assumiu como presidente criando também o Congresso Constituinte, o qual seria responsável por promulgar a constituição nesse mesmo ano, institucionalizando a revolução. Carranza governou até 1920, quando foi deposto e Álvaro Obregón foi eleito. Percebe-se que a burguesia aos poucos foi se fortificando no poder e deixando de lado os ideais camponeses, os quais conquistaram o direito aos Ejidals, mas essa distribuição ocorreu muito lentamente; Segundo Alan Knight, em 1930 apenas 9% das terras haviam sido distribuídas. Além disso, o líder Zapata foi morto em 1919, durante disputa territorial com os Carrancistas, pelo domínio de sua região, Morelos. Em 1923, Pancho Villa também é assassinado. Além disso, vale ressaltar a influência da Revolução Mexicana na América Latina, influen-


ciando principalmente os países Caribenhos próximos ao país. Quanto a sua relevância, o autor destaca os feitos do processo:

“Se a Revolução Francesa conseguiu abolir o sistema feudal, abrindo caminho para uma sociedade burguesa moderna, e criou um modelo universal (como apontou Marx) de sistema político, ou seja, a forma clássica e paradigmática do moderno Estado democrático burguês; se a Revolução Russa logrou eliminar o regime político czarista e, sobretudo, superou uma realidade de servidão camponesa, criando, pela primeira vez na história da humanidade, um sistema social não capitalista; a Revolução Mexicana – interrompida ou traída – derrotou a hegemonia da oligarquia, substituindo-a por uma burguesia agrária, desencadeando mudanças significativas na economia, na política, na diplomacia, nos campos social e cultural e nas relações entre Estado e Igreja.” (RAMPINELLI, 2011, p. 90)

Mulheres revolucionárias. Disponível em: <http://www.oaxaca.media/politica/politicaygenero/exhiben-la-lucha-de-las-mujeres-en-mexico/> Acesso:10 jan 2021

O PÓS-REVOLUÇÃO As ressonâncias da revolução não acabaram com a promulgação da constituição de 1917, os processos de disputa pelo poder no México continuam ainda por algumas décadas. Outro fator é a violência, muito presente no contexto revolucionário, visto que essa não cessa no âmbito local e regional, com algumas revoltas e instabilidades locais, mesmo tendo se estabilizado a nível nacional. A década de 1920 foi marcada pelo governo de Plutarco Elías Calles, o jefe máximo e pelo regime do Maximato na sequência. Esse chega ao poder após o governo de Obrégon, assassinado em 1928. Seu governo ficou marcado pelo caráter mais à direita, e até mesmo ditatorial, por ser contrário à reforma agrária, contradizendo os ideais da revolução. Segundo Knight, em 1930 ele a declara como fracassada e indica que a solução seriam as haciendas capitalistas. No contexto também ocorre a formação do Partido Nacional Revolucionário (PNR) e alterações de leis que permitiram a sua permanência no poder por seis anos no poder. Ele opõe-se às greves trabalhistas e era favorável ao que chamava de revolução “psicológica”, a qual buscava “converter” as pessoas para o movimento, entretanto os exemplos apreciados pelo presidentes eram de um diferente espectro político: os exemplos fascistas vindos da Itália e Alemanha, entendidos como modelos de uma educação política bem sucedida. Outro evento marcante ocorrido nesse momento foi a Guerra de Cristero (1926-1929), na qual Calles intensificou as medidas anticlericais já presentes na constituição de 1917, e perseguiu os sacerdotes, gerando indignação por parte dos cristãos. Quanto ao Maximato, regime posterior ao seu, no qual os presidentes não tinham autonomia

21 e Calles continuava a exercer sua influência sobre eles, pode ser considerado um período de transição, chegando mesmo até a década seguinte, em 1934. Após 1934, com a eleição de Cardenas um novo cenário toma forma, o chamado Cardenismo, que perdurou por toda a década de 1930 e pode ser considerado o último momento de reformas da Revolução Mexicana; ademais, foi visto como a culminação da revolução, por apoiadores e opositores (KNIGHT, 1990). Ele foi candidato também pelo PNR, levando o partido mais para à Esquerda, segundo o autor, esse seria um exemplo de “esquerda institucionalizada”. Dentre as medidas desse período, podemos destacar as nacionalizações, isto é, expropriações de empresas estrangeiras de petróleo e ferrovias. Diferente dos outros investimentos internacionais, eles eram tratados de formas pragmáticas, o caso da indústria do petróleo como uma exceção , como um símbolo da identidade nacional de independência. As greves e o movimento organizado trabalhista também foram muito presentes nesse momento. Além da criação do Partido da Revolução Mexicana (PRM) a partir do PNR. Ademais, existia a ideia de se alcançar o socialismo pela educação. A educação estatal para combater preconceito e fanatismos (clericalismo), para instigar um conceito “racional e exato da vida social e do universo”. O conceito de socialismo absorveu muitas das aspirações de desenvolvimentos presentes no começo da revolução. A URSS era vista como um exemplo de desenvolvimento e produtividade e desenvolvimento bem-sucedido, muito mais do que uma resolução da luta de classes. Vale dizer que o socialismo não foi atin-


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gido na sociedade mexicana através da educação, mas como sistema educacional foi satisfatório para atender a demanda do crescimento populacional ao longo das décadas. O deflagramento da Segunda Guerra Mundial em 1939 só acentuou os problemas da indústria no país e as reformas cardenistas seguiam em condições extremas. (RAMPINELLI, 2011) Desse modo, os movimentos trabalhistas apenas cresceram nesse momento, aumentando a instabilidade. Nesse momento Cardenas concede exílio a Leon Trotsky e aos exilados pelo regime de Franco na guerra Espanhola. O que se tornou um motivo

de polarização na opinião pública, pois conservadores e católicos tendiam a apoiar Franco e condenavam o apoio do presidente a “Comunistas Ateus”. Assim, segundo Knight, a guerra espanhola ajudou a definir os rumos das próximas eleições. A década de 1940 marcou a interrupção do Cardenismo, a partir da presidência de Avila Camacho (Presidente entre 1940-1946). Uma mudança significativa foi a consolidação da mudança do caráter agrário para industrial, e a transformação do camponês em proletário, mas com a manutenção dos ejidos na organização desses trabalhadores. Criou também o IMSS, Instituto Mexicano de Seguridade Social protegendo o trabalhador. Trotsky, Marx e outros. Por menor de uma pintura de Diego Rivera. Disponível em: <https://estadodaarte.estadao.com.br/especial-revolucao-russa-leon-trotsky-a-revolucao-permanente/>. Acesso em: 09 de jan 2021.

Batalhão enfileirado e aviões sobrevoando, ao centro encontra-se a bandeira do México. Disponível em: <https://www.poblanerias. com/2014/05/que-sabes-de-la-participacion-de-mexico-en-la-ii-guerra-mundial/> Acesso em: 10 jan 2021.

Quanto à entrada do país na guerra em 1942, provendo suporte aos Aliados por meio de um esquadrão aéreo, além do episódio dos submarinos alemães no Golfo, o que causou um certo caos diplomático. O Partido Revolucionário Institucional foi criado pelo presidente em 1946, e este viria a exercer uma hegemonia política desde então (por todo o restante do século XX). Com relação a influência da guerra, também houve o aumento da importância das relações com os EUA, chegando a 90% em 1940 e para a Europa uma queda de 30% para 5% em 1946, assim como o aumento dos valores totais. Além disso, o país enviou trabalhadores para o país vizinho para ocupar as vagas disponíveis no período da guerra. Quanto ao aumento da industrialização, essa aproximação também foi marcante e consequentemente o aumento da dependência mexicana do país vizinho, cenário que se acentuou no restante do século XX. O próximo presidente a comandar o país foi Miguel Alemán Valdés, entre 1946-1952.


SOBRE A PROPRIEDADE DA TERRA A questão da propriedade da terra no México determinou de maneira significativa os modos de ocupação, produção e relação entre os mexicanos no decorrer dos séculos. Eles possuem um grande vínculo com a terra como propriedade comum (o Ejido), portanto, é algo que conformou a identidade dos povos que lá residiam e que foi mantido até mesmo durante a época colonial. Entretanto, essa importância não se deu somente a partir de cenários descomplicados, os quais a terra propiciava tudo o que o povo mexicano precisava. No século XIX, em 1857, a constituição aprovada retira da população o direito à terra comunal, e essa passa a ser propriedade privada. Assim, esse fato leva à conjuntura de que no começo do século XX, “97% das terras pertenciam a fazendeiros, 2% a pequenos proprietários e 1% aos povoados e comunidades indígenas. Das 70 mil comunidades indígenas existentes, 50 mil se encontravam em terrenos de fazendas e 40% em mãos de uns poucos latifundiários” (CRUZ, 2001). Essa realidade foi uma grande impulsionadora para que surgissem fagulhas revolucionárias, que teve como consequência um processo de restituição de terra aos indígenas e, posteriormente, a reforma agrária destinada aos camponeses sem terra. Isso pode ser evidenciado na Constituição de 1917, na qual o Estado reconheceu o direito à terra aos camponeses, adicionado a várias obrigações que estariam atreladas como direitos fundamentais (MATZKIN, 2006). Apesar desses feitos, a distribuição de terra ainda se apresentava em um número pequeno. Somente no governo de Lázaro Cárdenas (1934-1940), o qual também caminhou para esse reconhecimento, que houve uma distribuição massiva de terras, além de estarem aliadas a

medidas que fomentassem as unidades produtivas, como a fundação do Banco Nacional de Crédito Ejidal. Dessa forma, o ejido passou a ser o “sistema básico de produção agrícola”, bem como tornou-se uma ponte crucial na relação do Estado para com a sociedade (CRUZ, 2001). Em consonância a isso, é possível destacar quatro tipos de posse de terra resultantes do processo de urbanização mexicana: privada, federal, ejidal e comunal. As últimas duas não se divergem na legislação agrária, embora a primeira seja fruto da distribuição de terra e a última faça parte dos títulos dos povoados indígenas que foram mantidos desde a época colonial. A reforma agrária teve muitos impactos na sociedade mexicana, sobretudo na própria constituição territorial. Na região metropolitana da Cidade do México, por exemplo, houve a formação de um “cinturão ejidal”, formação que ocorreu nas margens da cidade e colocou em cena um novo ator social: o ejidatário” (MATZKIN, 2006). Portanto, conclui-se que no contexto mexicano a questão da terra e a sua relação com a sociedade e espaço urbano possuem peculiaridades. A terra para os indígenas não é só um meio de produção, é algo que conforma a cultura, a sociabilidade e a política desses povos. Assim, as reivindicações que ocorreram pela terra não se conceberam unicamente pela necessidade de posse frente a um valor de troca, são regimes objetivos e simbólicos que superam essa relação.

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A METRÓPOLE MEXICANA A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO O padrão de urbanização mexicano deu-se de maneira descontrolada e acompanhou o desenvolvimento dos empreendimentos comerciais, fato que resultou na gradativa conurbação dos assentamentos populares e antigos povoados (MATZKIN, 2006). Além disso, a urbanização da cidade foi constituída sobretudo a partir de um mercado habitacional com empreendedores imobiliários vinculados ao mercado ilegal de terras, cujo modo de apropriação deu-se através de moradias unifamiliares e da ocupação horizontal, sob forte influência indígena. Algumas das características que influenciaram essa morfologia de ocupação do solo e habitação decorrem das formas de vivência dos indígenas do período pré-hispânico. Eles eram donos de seus meios de produção, o trabalho constituía-se de forma coletiva e havia parcelas individuais de terra para a construção da moradia. Assim, esse padrão de constituição do lote deu continuidade em uma cultura urbana que foi propagada na cidade. Nesse ínterim, é possível apontar três características do padrão histórico de urbanização na região metropolitana da Cidade do México:

“Ocupação predominantemente horizontal do território; preservação dos antigos povoados indígenas e a reprodução de assentamentos populares novos com características muito semelhantes; e elevada proporção de população proprietária de casa própria.” (MATZKIN, 2006, p. 101)

A cidade abarca o centralismo político e econômico do país, o que faz com que tenha um

Evolução da mancha urbana da RMCM. Fonte: Colegio Mexiquense. Prourba.


padrão de urbanização com infraestrutura extensiva e receba a implementação de políticas e recursos federais. Além disso, a Cidade do México permaneceu como uma importante fonte de preservação e manutenção da estrutura e da arquitetura do período colonial, característica que é possível notar no seu centro histórico (MATZKIN, 2006). Sobre o processo de ocupação e metropolização do território da Cidade do México, Unikel (1976) afirma que entre 1930-1970 houveram três etapas. A primeira caracterizou-se pelo crescimento do distrito central (com o aumento da força de trabalho) e a terceira por um deslocamento da população para os locais periféricos, onde os empregos começaram a crescer. Delgado (1990), en-

tretanto, aponta para cinco etapas no processo de urbanização da CM: Cidade central (1900-1930), Primeiro anel (1930-1950), Segundo anel (1950-1970), Terceiro anel (1970-1990), Quarto anel (1990 até hoje). Sobre o primeiro anel, período que será mais dedicado neste trabalho, o autor afirma haver uma ampliação por conurbação, onde a cidade e sua influência aumentam, tendo o automóvel como meio de transporte principal. Além disso, “caracteriza-se pela consolidação da especialização funcional da área central iniciada no período anterior e pelo crescimento demográfico do entorno imediato” (MATZKIN, 2006, p.167). Segue um breve balanço sobre o desenvolvimento histórico da cidade durante o século XX:

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Nesse ínterim, é possível apontar três características do padrão histórico de urbanização na região metropolitana da Cidade do México: “O período 1900-30 caracterizou-se pelo crescimento disperso dos assentamentos. No período 1930-50 iniciaram-se o crescimento demográfico e a expansão territorial. Nos anos 1950 a Cidade do México apresentou a taxa de crescimento populacional mais alta da sua história (6%), expandiu-se fisicamente e registrou diminuição de densidade. Na década de 1960 a densidade aumentou e a expansão também, chegando a atingir os municípios do estado do México. Os anos 1970 foram de adensamento e consolidação dos loteamentos irregulares criados em larga escala nos anos anteriores. Dos anos 1980 em diante a expansão física da metrópole aumentou e a densidade urbana caiu. Na década de 1980, por exemplo, a cidade cresceu cerca de 35%, embora o incremento demográfico tenha sido de apenas 10%.” (DELGADO, 2001 apud MATZKIN, 2006)

Estrutura urbana básica da RMCM. Fonte: MATZKIN, 2006.

A questão da habitação vincula-se a permanentes apoios/subsídios/programas do Estado, visto que há uma grande dificuldade da população de baixa renda em conseguir o financiamento de uma casa. Mesmo que o Estado não se proponha a formular uma política habitacional que produza moradias, ele fornece subsídios por meio da ação de juros baixos e descontos, por exemplo, para o seu financiamento. Além disso, ele promove a infraestrutura urbana que dialoga com a moradia, aliada a equipamentos e serviços públicos. É possível afirmar que a habitação nos bairros populares se consolidou a partir de um processo misto de autoconstrução e contratação de trabalhadores pouco qualificados, a partir de lotes conseguidos através do mercado irregular. Porém, dada a essa política habitacional do Estado, foi possível que a


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maioria das famílias (59%) residentes na região metropolitana da Cidade do México conseguissem a legalização da propriedade do imóvel que ocupam (MATZKIN, 2006). Matzkin recorre ao Consejo Nacional de Población (CONAPO) para tratar das formas de ocupação da cidade. De acordo com o Conselho, existem seis tipos de ocupação do espaço na cidade: centro histórico (grande concentração de atividades econômicas, e importante função

habitacional, apesar de estar em redução); povoados conurbados (periferia metropolitana, onde há o predomínio do uso habitacional); colônias populares (nela encontram-se várias formas de moradias populares, sobretudo ilegais); colônias residenciais de tipo médio e alto (usualmente estão de acordo com as exigências legais e há uma maior presença do caráter privado); e na Zona Leste estão os conjuntos habitacionais (moradia de modelo multifamiliar; empreendimentos da segunda metade do século XX). A partir dessas caracterizações, afirma-

Mapa da Distribuição da População por Grupos de Renda. Fonte: MATZKIN, 2006.

-se que o problema da moradia reside sobretudo nos povoados conurbados e nas colônias populares. Outro ponto a ressaltar é uma questão curiosa que a Cidade do México carrega consigo. Sua localização insere-se no centro de uma bacia hidrográfica e grande parte da região era formada por um lago salino (a água doce era trazida por aquedutos, desde a época dos astecas). Várias obras de drenagem foram feitas e os problemas de afundamentos acompanham a cidade até hoje. Paradoxalmente, a cidade sofre escassez de água nos

Fonte: CONAPO (1998) “Escenarios demográficos y urbanos de la Zona Metropolitana de la Ciudad de México 1990-2010” – Síntesis.


dias atuais e, outrora, fora uma cidade banhada e acompanhada por vários rios e canais, além de se

assentar sobre o leito de um lago (GARZA, 2000 apud MATZKIN, 2006).

Totem com as iniciais CDMX sendo erguido por um guindaste. Disponível em: < https://www.eluniversal.com.mx/metropoli/cdmx/distrito-federal-195-anos-como-sede-de-los-poderes>. Acesso: 08 jan 2021.

Tipos de ocupação. Fonte: MATZKIN, 2006.

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PRAÇA DO ZÓCALO COMO SÍNTESE DE UM PERCURSO HISTÓRICO “Hoje em dia, no Zócalo, a imensa praça nua do centro da capital do México, a catedral católica se levanta sobre as ruínas do templo mais importante de Tenochtitlán, e o palácio do governo está situado sobre a residência de Cuauhtémoc, o chefe asteca martirizado e morto por Cortez.” (GALEANO, 1999, p. 40)

A praça do Zócalo é um importante símbolo das perdas e permanências da cultura asteca na Cidade do México. Identificada até 1812 como “Praça da Constituição”, foi somente em 1843 que começou a ser chamada de “Zócalo”. Sua origem remonta ao período pré-hispânico e está entre as quatro maiores praças do mundo. Ela é uma importante fonte que condensa uma história de tensões no

1803. É possível ver a recém chegada estátua equestre de bronze do Rei Carlos IV da Espanha, El Caballito, onde permaneceu até o ano 1822. Disponível em: <http://www.mexicomaxico.org/zocalo/zocaloEV.htm>. Acesso em: 07 jan 2021.

1948, Arquivo Casasola. “As áreas ajardinadas do Zócalo estão impecáveis, agora mostrando algumas palmeiras e as 4 fontes ainda existem. A limpeza e a ordem são notáveis.” Disponível em: <http:// www.mexicomaxico.org/zocalo/zocaloEV.htm>. Acesso em: 07 jan 2021.

A praça do Zócalo é um importante símbolo das perdas e permanências da cultura asteca na Cidade do México. Identificada até 1812 como “Praça da Constituição”, foi somente em 1843 que começou a ser chamada de “Zócalo”. Sua origem remonta ao período pré-hispânico e está entre as quatro maiores praças do mundo. Ela é uma importante fonte que condensa uma história de tensões no seu solo e ajuda a guiar o entendimento de como a Cidade do México foi influenciada pelos povos que lá viviam no período pré-colonial. Nesse sentido, apoiada em Salvat (2017), há uma tentativa de abordagem da configuração visual do Zócalo pelo viés decolonial e, além disso, de utilização do seu entendimento para um exercício de síntese sobre como o processo de colonização se inseriu no território mexicano no decorrer dos séculos. É sabido da vasta experiência transcultural que formou as cidades latino-americanas, sobretudo as mexicanas. Dessa forma, houve uma absorção, por parte dos espanhóis, de soluções urbanas indígenas que chegaram a ecoar no continente europeu. Com a chegada dos espanhóis em 1519, durante o auge político e econômico de Tenochti-


tlan, houve a instalação de um modelo de centro urbano que garantiu a permanência de algumas características já existentes no local, como a relação de construções importantes condensadas em uma proximidade com o centro, diferentemente do que ocorria nas cidades europeias. À luz disso, a cidade-estado asteca tinha como costume o início da construção a partir de três elementos: palácio real, templo piramidal e o mercado, que garantiam a fruição do espaço sagrado, da liderança política e do comércio, vinculados a uma praça no centro dos edifícios de poder, onde ela agregava múltiplas funções: atividades e celebrações no âmbito civil, religioso e político. Nesse ínterim, a Praça Zócalo cumpriu um papel relevante no desenvolvimento da Cidade do México, passando por uma série de transformações no decorrer da história. As mais recentes são: na segunda metade do século XIX, onde foi transformada em um grande jardim, influenciada pelas ideias europeias de arborização e ajardinamento dos espaços públicos; no começo do século XX, em que as árvores foram removidas, mas as fontes e o jardim foram mantidos; e, finalmente, a última e mais

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2007. Dia em que o fotógrafo Spencer Tunick reuniu em torno de 18.000 pessoas nuas na praça, recorde mundial. Disponível em: <https://www.spencertunick.com/installations/selected-works-1/view/387255/1/387256>. Acesso em: 07 jan 2021.

radical mudança que ocorreu entre 1957-1958, na qual o Governador do Distrito Federal (“Regente de Ferro”) retirou o jardim e os monumentos, além de cimentar toda a praça, que recebeu a bandeira nacional ao centro. O que teria um aspecto militar, corroborou, na verdade, por facilitar a aglomeração de um grande número de pessoas, tanto para eventos culturais quanto para manifestações políticas. Por fim, ao pensar na consolidação de seus aspectos simbólicos e materiais, é cabível sintetizar que: Tanque do exército no Zócalo da capital em 1968. Disponível em: <https://noticieros.televisa.com/especiales/fotografias-del-movimiento-estudiantil-de-1968-y-su-represion-por-parte-del-gobierno/>. Acesso em: 07 jan 2021.

“A evidência etno-histórica e arqueológica sugerem que a praça colonial evoluiu a partir de influências indígenas e espanholas e modelos que criaram uma nova forma de design urbano. Esta nova forma, a praça americana espanhola mantém elementos arquitetônicos, espaciais e físicos de ambas as tradições, de modo que as tensões culturais de conquista e resistência são simbolicamente codificadas em sua arquitetura.” (LOW, 1997, p. 759 apud SALVAT, 2017)


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SOBRE O BAIRRO DA CASA:

TACUBAYA

Tacubaya era uma municipalidade nas proximidades da Cidade do México e a sua cidade central era a “cabecera de la municipalidad”, como era conhecida. Marcada pela segregação socioespacial e conhecida por ser um “suburbio de veraniego”7. Os habitantes em melhor situação habitavam a região, principalmente os espanhóis e no século XIX as elites da Cidade do México, no período da revolução esse processo teve continuidade e a população indígena se instalava nas periferias das municipalidades, enquanto novos “pobladores” (residentes) continuavam se instalando no local. Nesse mesmo sentido, Morales afirma:

“Las clases altas se ubicáron en colonias con los mejores niveles de servicio, en suntuosas casonas rodeadas de jardines. En contraste las clases populares se establecieron en fraccionamientos que carecían de servicios, ocupando viviendas de adobe y casas de vecindad.”8

Mapa publicado pela revista arqueología mexicana, extraído de um livro educativo para crianças do terceiro ano do primário, de 1906, contém a população das “cabeceras das municipalidades”. J.J. Barroso, Geografía intuitiva del Distrito Federal, Vda de Ch Bouret, 1906.) fonte: Bernardo García Martínez, “Los últimos días de Tacuba”, Arqueología Mexicana núm. 136, pp. 72 - 79. Disponível em: https://arqueologiamexicana.mx/mexico-antiguo/el-pueblo-de-tacuba-y-la-ciudad-de-mexico-principios-del-siglo-xx Acesso: 07 jan 2021.

(MORALES, 2000, p.116)

Morfologicamente, a região era composta por bairros, ranchos, pueblos e fazendas, e o fim do regime de pro-

priedade comum no século XIX influenciou a concentração de renda no local. Destaca-se que essas localidades poderiam ser incluídas ou excluídas do controle administrativo de Tacubaya. (Sosa Ruiz, 2008, p.151) O crescimento demográfico da municipalidade foi essencial para que esta atingisse o estágio de conurbação com a Cidade do México. Pode-se ressaltar, também, que os meios de transporte exerceram um papel importante nesse momento, em conjunto ao crescimento demográfico e o novo regime fundiário. O “ferrocarril, el tranvíal y el automóvil introdujeron nuevas modificaciones en el tipo y número de asentamientos y en la estructura vial de las antiguas municipalidades” (SOSA RUIZ, 2008, p.152)9. Esses eram parte das estratégias de comunicação terrestre entre a capital e os arredores, a exemplo da linha ferroviária existente, a México-Tacubaya. Quanto às atividades econômicas, existia um aquecimento econô-

Observatório Astronômico de Tacubaya, 1928, Coleção:Villasana Torres. Disponível em: <https://www.eluniversal.com.mx/mochilazo-en-el-tiempo/desde-tacubaya-se-podia-ver-el-universo>. Acesso: 07 jan 2021


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mico, proporcionado pelos meios de transporte e a possibilidade de escoamento da produção. Assim, Tacubaya alcança uma importância no comércio entre a capital e o restante do país, “tanto en la circulación de mercancías como en la generación de nuevos y diferentes giros comerciales, industriales y fabriles” (SOSA RUIZ, 2008, p.152).10 Após 1930 ocorreu um processo de centralização e Tacubaya passa a fazer parte da Cidade do México, a partir do “Ayuntamiento”. Posteriormente, este daria lugar ao Distrito Federal (1970), o qual também foi extinto em 2015, passando a ser conhecido somente pelo seu nome. Dentre as estruturas administrativas de Tacubaya que funcionaram até 1930, destacam-se as obras de saneamento na região, realizadas pela Direção de águas e Obras Públicas de Tacubaya. Salienta-se que ainda não foram realizados estudos aprofundados para cada municipalidade que conformou o Ayuntamiento, em sua dimensão espacial, de produção, distribuição e consumo, de acordo com Sosa Ruiz em sua análise do livro “Tacubaya, de suburbio veraniego a ciudad” de Miranda Pacheco. A região, já na qualidade de bairro, foi local de várias construções do arquiteto Luis Barragán, após esse adquirir alguns terrenos para projetar e executar as construções, principalmente a Casa Ortega (1941-1943) e a Casa Estúdio (1947-1948), sua residência pessoal. A localidade também é marcada pelo grande parque Chapultepec, sendo o maior parque urbano do país, além de abrigar edifícios históricos como o Castelo de Chapultepec (séc. XVIII) e o Museu Nacional de Antropologia.

Povoado de Tacubaya visto do alto, foto da década de 1920, coleção Villasana - Torres. Disponível em: <https://www.eluniversal.com.mx/mochilazo-en-el-tiempo/desde-tacubaya-se-podia-ver-el-universo>. Acesso: 07 jan 2021. 7 “Tacubaya, de suburbio veraniego a ciudad” de Miranda Pacheco. Analisado por Sosa Ruiz, Andrés na revista Investigaciones Geográficas. 8 Tradução dos autores: As classes altas se instalaram em colônias com os melhores níveis de serviço, em suntuosas mansões rodeadas de jardins. Em contraste, as classes populares se estabeleceram de forma dispersa, em locais que careciam de serviços, ocupando casas de adobe e cortiços. 9 Tradução dos autores: O trem, o bonde e o carro introduziram novas alterações no tipo e número de assentamentos e na estrutura viária das antigas municipalidades. 10 Tradução dos autores: tanto na circulação de mercadorias, como na criação de novos e diferentes setores comerciais, industriais e fabris.


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BIOGRAFIA

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INFÂNCIA

Luis Barragán nasceu em Guadalajara em 1902, no estado de Jalisco, filho de Juan José Barragán e Angela Morfín de Barragán, na casa localizada na rua Pedro Loza, 168. Barragán foi o terceiro dos 9 filhos do casal. Sua infância foi marcada por temporadas entre escolas católicas e grandes períodos na fazenda Corrales da família, localizada à poucos quilômetros de distância do pequeno povoado El Volantín, na zona da Sierra del Tigre à sudeste de Guadalajara, e próxima ao lago de Chapala, paisagem marcada por montanhas cobertas por bosques e terra colorida devido aos componentes do solo, compondo a paisagem junto de pinheiros, carvalhos, magueis e cactos (CANHADAS, 2018, p.32).

Povoado mexicano. Disponível em: RULFO, Juan. Letras e imágenes. México: Editorial RM, 2002 in: CANHADAS, 2018.

El Volantín, vista para o sítio da família Barragán. Fotografia de Marina Canhadas, 2017. Disponível em: CANHADAS, Marina Panzoldo. Barragán em três tempos, 2018.

Igreja em povoado mexicano. Disponível em: RULFO, Juan. Letras e imágenes. México: Editorial RM, 2002 in: CANHADAS, 2018.

Povoado mexicano. Disponível em: Arquivo Fundação Barragán, sem data, in: CANHADAS, 2018.


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FORMAÇÃO

VIAGEM À EUROPA

Luis Barragán entra para a Escola Livre de Engenharia de Guadalajara em 1919, obtendo o título de engenheiro civil especializado em obras hidráulicas em 1923. Segundo Barragán, em entrevista a Alejandro Ramírez Ugarte, na faculdade de engenharia havia algo “muito primitivo” para se estudar arquitetura. Se fazia somente uma disciplina ou mais de desenho, uma de história da arte e uma de composição, assim já se podia fazer uma tese especializada em arquitetura. Sob a orientação de Augustín Basave, inicia os estudos para a obtenção do título de arquiteto (CANHADAS, 2018, p.40). Barragán elogia muito o professor na entrevista em questão. Diz tratar-se de um homem que despertou muita inquietude entre os estudantes sobre artes em geral. Suas aulas eram sobre tudo, inclusive de leitura, incentivando os alunos a escreverem, falando muito sobre história da arte, incluindo a arquitetura e a música. Segundo Barragán, sua tese foi aprovada por Basave, mas eles viajam à Europa e quando retornam, um ano e meio depois, o curso de Arquitetura havia sido extinto. Deram o título, pois tinham o direito de dar, mas não tinham um programa que fosse bom o bastante para que de lá saíssem arquitetos, ainda que houvesse a vantagem da formação em engenharia ser excelente. Diz que quem tivesse vocação para ser arquiteto poderia, com essas bases e caso tivesse capacidade, estudar depois por conta própria, mas que não se podia pensar que existia uma faculdade de Arquitetura boa o bastante para formar um arquiteto (UGARTE, 2017, p.16). da capital asteca - como o planejamento espacial, a escala, o centralismo, a abertura, a ortogonalidade e as várias ruas centrais que ainda acompanham o curso dos antigos canais, por exemplo.

Entre os anos de 1924 e 1925 Barragán realiza sua primeira viagem à Europa, acompanhado de seu professor Agustín Basave (CANHADAS, 2018, p.41). Essa viagem, em que pôde conhecer a França, a Espanha, a Itália e a Grécia, mudará a dimensão de sua relação com a paisagem. Apesar de não ter sido uma viagem especificamente de estudos, é neste momento que Barragán toma contato pela primeira vez com a arquitetura moderna europeia; com os jardins, ilustrações e contos de Ferdinand Bac (1859-1952); e com os pátios sombreados, jardins e espelhos d’água de Alhambra, memórias que Barragán guardou através de postais, guardados na Fundação Barragán na Cidade do México até hoje (CANHADAS, 2018, p.43). Ele também diz que foi nesta viagem que aprendeu francês e quando comprou livros sobre casas no norte da África, casas baseadas em pátios, “de enorme alegria”. A partir daí inicia sua biblioteca de arte, que o ajudou a “conservar a vocação de arquiteto” (UGARTE, 2017, p.18).

Alhambra. Disponível em: ANTEQUERA, Marino. La Alhambra y el Generalife. Granada: Editorial “Padre Suarez”, 1961 in: CANHADAS, 2018.

Luis Barragán em Alhambra. Disponível em: PAULY, Danièle. Barragán. L’espace et L’ombre, le mur et la couleur. Basel – Boston – Berlin: Birkhauser, 2002 in: CANHADAS, 2018.

Barragán toma contato com a arquitetura moderna ao visitar a Exposição de Artes Decorativas em Paris (Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes) em 1925, em que foram apresentados alguns pavilhões que se contrapunham com a arquitetura neoclássica vigente. A maioria dos pavilhões ainda mantinha o caráter neoclássico, mas dois deles traziam ideais vanguardistas (cubista, futurista e construtivista): o pavilhão “L’Esprit Nouveau” de Le Corbusier (18871965), e o pavilhão soviético de Konstantin Melnikov (1890-1974) (CANHADAS, 2018, p.43).


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Pavilhão L’Esprit Nouveau de Le Corbusier, 1925. Disponível em: <http://www.fondationlecorbusier. fr>. Acesso em: 10 dez 2020.

Pavilhão Soviético de Konstantin Melnikov, 1924. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br>. Acesso em: 10 dez 2020.


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A vila “Les Colombières” de Bac foi grande influência na compreensão das obras visitadas no Marrocos e na Espanha, e das emoções causadas por elas. Essa possui uma Influência perceptível do palácio de Alhambra, o Patio de los Mirtos.

(...) permite observar cómo Baragán no cerró su búsqueda de tradiciones al territorio mexicano sino que expandió los límites de su regionalismo cultural, abriéndose a la sensual arquitectura andaluza y a la de África del Norte (JÁUREGUI, 2005, p.55).

Em 2004, foi organizada na cidade de Lausanne (França) uma exposição denominada Paisagens interiores: Nos jardins de Ferdinand Bac e Luis Barragan (Paysages Intérieurs: dans les jardins de Ferdinand Bac et Luis Barragán). Ela foi composta por acervos dos dois e buscava ressaltar a influência e semelhanças entre ambos os arquitetos, destacando principalmente as relações entre arquitetura e paisagem, e os jardins, em si. Ilustrações de Ferdinand Bac. Disponíveis em: BAC, Ferdinand. Jardins Enchantés. Paris: Louis Conard, 1925 in: CANHADAS, 2018.

11- Tradução dos autores: (...) nos permite observar como Baragán não encerrou sua busca por tradições no território mexicano, mas, ao contrário, expandiu os limites de seu regionalismo cultural, abrindo-se para a sensual arquitetura andaluza e da África do Norte.


RETORNO AO MÉXICO Retornando ao México, Barragán passa a trabalhar como engenheiro hidráulico junto com seu irmão Juan José, para a Zona de irrigação do lago de Chapala, Jalisco (região próxima ao rancho da família e cidade em que a família também passava verões), mas é em Guadalajara onde inicia seus primeiros projetos de casas unifamiliares: Casa Robles León, 1927-1928; Casas Robles Castillo, 1927; Casa González Luna, 1928-29; Casa Cristo, 1929, e outras (CANHADAS, 2018, p.48). Nesse tempo, Barragán se interessou muito pela produção de casas pensando na “vida interior”, expressão que usa para se referir tanto a horas passadas dentro dos espaços construídos quanto à experiência espiritual de silêncio e solitude. Teve como forte referência as casas árabes, de onde vêm dos pátios, além da influência espanhola. Barragán diz ter assinado revistas de arquitetura para estar a par do movimento que ocorria entre 1926 e 1929, visto que não havia um movimento conhecido em Guadalajara que o interessasse, enquanto na Europa sim (UGARTE, 2017, p.19). Segundo Canhadas (2018), a historiografia da arquitetura moderna no México, representada aqui por Aníbal Figueroa Castrejón, Enrique de X. Anda, Louise Noelle, entre outros, define a produção arquitetônica de Luis Barragán em três fases, como coloca a autora como principal ponto de sua tese “Barragán em três tempos”. A primeira delas, entre 1927-1935, seria a fase em que seus projetos respondem às demandas dos clientes incorporando elementos arquitetônicos tradicionais e a relação entre os espaços internos com as áreas externas. É constituída por um conjunto de residências para clientes particu-

lares. Algumas dessas casas localizam-se no centro histórico consolidado de Guadalajara, e a maioria em novos bairros que surgiram naquele momento, como o bairro Americana.

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Foto histórica de uma das duas casas Robles Castillo, uma das primeiras construções de Barragan. Disponível em:< https://revisionesgdl. com/2018/12/30/ficha-av-vallarta-1095-y-argentina-27-casas-robles-castillo/>. Acesso em: 11 jan 2021

Casa Robles Castillo, construída em 1927. Disponível em < https://revisionesgdl.com/2018/12/30/ficha-av-vallarta-1095-y-argentina-27-casas-robles-castillo/>. Acesso em: 11 jan 2021


38 Apesar das marcas do tempo, essas casas resultam em verdadeiras joias entre a malha urbana de Guadalajara. Barragán começa a trabalhar já neste momento o desenho dos espaços externos, dos pisos, dos pátios, e como ele mesmo diz, “arquitetura exterior”, na busca de uma linguagem própria. (CANHADAS, 2018, p.48)

En la arquitectura popular mexicana se funde la tradición india precolombiana con la tradición mediterránea. Las formas son cúbicas, los materiales son los que se encuentran en la localidad y los muros están pintados con vivos colores – rojos, ocres, azules – a diferencia de los pueblos mediterráneos que son blancos. (PAZ, 1994, p. 17 in: CANHADAS, 2018, p.48).¹²

Nestas obras da primeira fase são recorrentes: o desenho da luz, a presença da água, a dimensão cromática e o uso de elementos vernáculos (CANHADAS, 2018, p.52). Barragán diz que seu interesse pela arquitetura se despertou a partir de suas visitas aos povoados do México e às casas populares, que considera de uma beleza inacreditável, particularmente no estado de Michoacán, cuja arquitetura popular ele considera a mais bonita. As visitas e excursões no México o levaram ao desejo de chegar ao desenvolvimento de uma casa moderna, enfatizando que entre 1928 e 1929 não houvetrabalho de arquitetura em Guadalajara (UGARTE, p.21). Barragán buscava construir habitações que fossem ao mesmo tempo fiéis ao presente momento e à história, construindo uma

Casa González Luna. Fotografia de Marina Canhadas, 2017. Disponível em: CANHADAS, Marina Panzoldo. Barragán em três tempos, 2018.

arquitetura contemporânea mas que “saibam que se está no México” (UGARTE, 2017, p.12).

12- Tradução de CANHADAS: “Na arquitetura popular mexicana se funde a tradição indígena pré-colombiana com a tradição mediterrânea. As formas são cúbicas, os materiais são os que se encontram em sua localidade e os muros estão pintados com cores vivas – vermelhos, ocres e azuis – com diferença dos povoados mouros que são brancos”.

VIAGENS À CHICAGO E NOVA IORQUE Luis Barragán viajou a Chicago em 1930 acompanhando seu pai com problemas de saúde, que falece após três meses da viagem, fazendo Barragán retornar à Guadalajara e assumir os negócios da família em Jalisco (CANHADAS, 2018, p.71).


Em Chicago, se depara com uma cidade moderna construída em grande parte a partir de invenções técnicas aplicadas nos edifícios desenvolvidas através do uso de estrutura em aço e concreto armado. No México, neste período, não existiam construções deste tipo (CANHADAS, 2018, p.71). Um ano depois dessa viagem, aos 28 anos, Luis Barragán viaja mais duas vezes. Primeiro passa três meses em Nova Iorque, e depois retorna à Europa. Sua viagem para Nova Iorque coincide com a passagem de José Clemente Orozco, que realizava um ciclo de murais para a New School for Social Research, e Barragán estabelece uma forte amizade com o pintor. Conhece nessa mesma viagem, através do amigo, o arquiteto austríaco Frederick Kiesler (1890-1965), que neste momento acabava de projetar e construir uma sala de cinema experimental em Nova Iorque, a Film Guild Cinema, 1929. Barragán projeta entre 1935-1936 em Guadalajara uma sala de cinema, o Cine Jalisco, onde são perceptíveis as lições de arquitetura de Kiesler (CANHADAS, 2018, p.72). (…) la ruta del funcionalismo estaba bien marcada, pero un funcionalismo que Kiesler entendió muy bien; quiero decir, funcionalismo de la función construcción cómo máquina para que el hombre la use, pero también la función para que el espíritu se desarrolle y viva agradablemente. Así que tuve esa conexión personal que fue buena (BARRAGÁN, 1962, p. 78 in CANHADAS, 2018, p.72).¹³

13- Tradução de CANHADAS: “As conversas com Kiesler foram para mim muito interessantes […] o caminho do funcionalismo estava bem marcado, porém um funcionalismo que Kiesler entendeu muito bem; quero dizer, funcionalismo da função da construção como máquina para que o homem a use, mas também a função para que o espírito se desenvolva e viva agradavelmente. Assim tive essa conexão pessoal que foi boa”.

RETORNO À EUROPA E INFLUÊNCIA DE LE CORBUSIER

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De fato, Le Corbusier nunca viajou ao México como o fez ao Brasil e Argentina, mas suas ideias ressoaram nas obras de alguns arquitetos locais, dentre eles Barragán. Este lia a obra de Le Corbusier e de outros arquitetos europeus e chega a difundí-la por entre seus amigos (UGARTE, 2017, p.20). No retorno à Europa, em 1931, o arquiteto conhece pessoalmente Le Corbusier (1887-1965) que propõe à Barragán uma visita à Villa Savoye, indicando com um desenho como chegar na casa: Fui al pueblo de Poissy a ver una casa de Jeanneret, muy moderna, me ha parecido una bella escultura. El paisaje a su alrededor sirve de mesa verde, se me figura sus bellos cuadros (...) Todos hablan de él, y yo apenas he leído unas cuantas cosas, aunque ya encargué a un librero todo lo que este publicado. Pude hablar con él, muy poco, y me dibujó el camino a la villa. Marie me dice que le hizo a un tal de Beistegui un proyecto por Campos Elíseos. Tengo curiosidad por ver lo que hizo a este paisano en París. A mi me gustan sus cuadros (BARRAGÁN, 1931, p. 17 in CANHADAS, 2018, p.72).¹ ⁴

Le Corbusier representa la admiración de Luís Barragán, el personaje com el que se reconoce, si bien no siempre está de acuerdo com él, pero al que destaca como el único arquitecto que realiza arquitectura moderna y contemporanea en Francia, “el lugar del mundo que más interesa” (ÁDRIA, 2013, p.7). ¹ ⁵

Carta Le Corbusier. Disponível em: NOELLE, Louise. Luis Barragán. Búsqueda y creatividad. México: UNAM, 2004 (1ª edição 1996) in CANHADAS, 2018. 14 -Tradução de CANHADAS: “Fui ao povoado de Poissy para ver uma casa de Jeanneret, muito moderna, me pareceu uma bela escultura. A paisagem ao seu redor serve de mesa verde, me lembrou seus belos quadros [...] todos falam dele, e eu apenas li algumas coisas, e pedi para um livreiro guardar tudo o que foi publicado dele. Falei com ele, muito pouco, e ele me desenhou o caminho para à Villa. Marie me falou que ele fez para um tal Beistegui um projeto em Campos Elíseos. Tenho curiosidade em ver o ele fez para este compatriota em Paris. Eu gosto de suas pinturas”. 15- Tradução dos autores: Le Corbusier representa a admiração de Luís Barragán, o personagem com quem se reconhece, embora nem sempre concorde com ele, mas destaca-se como o único arquiteto que realiza arquitetura moderna e contemporânea na França, “o lugar no mundo que mais interessa”.


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novación para construir su propia concepción de la modernidad arquitectónica (JÁUREGUI, 2005, p.57).¹ ⁷

TRABALHO NO MÉXICO Apartamento Beistegui de Le Corbusier, em 1929. Disponível em: <http://www.fondationlecorbusier.fr>. Acesso em: 10 dez 2020.

Apartamento Beistegui de Le Corbusier, em 1929. Disponível em: <http://www.fondationlecorbusier.fr>. Acesso em: 10 dez 2020.

Na fase madura do trabalho do arquiteto, principalmente em sua casa estúdio, pode-se perceber influências de Le Corbusier, como o Apartamento Beistegui (o qual não existe mais), e o Pavilhão de L’esprit Nouveau (1925). Para Barragán, sua casa era um espaço privado construído pelos muros coloridos, e para Le Corbusier, o apartamento Beistegui era um “espaço público” construído com planos. (ADRIÁ, 2013).

Luis Barragán conhece também neste retorno à Europa as cidades alemãs Munique, Stuttgart e Berlim. Ernst May (1886-1970) faz o uso de cores intensas já nas casas populares na cidade de Frankfurt (1928) e nas casas Weissenhoff em Stuttgart (1927) (RICALDE, 1989, p. 121). Dentre as diversas vanguardas que aconteciam na Europa neste período, os neoplasticistas, por exemplo, também incluíam o uso de cor na composição de planos na arquitetura (CANHADAS, 2018, p.74). Nestes deslocamentos, atento aos acontecimentos e às novas construções no exterior, Luis Barragán se depara com uma cultura externa que o leva ao olhar interno. Este estranhamento com o moderno, ao mesmo tempo que o encanta, faz com que Barragán entre em uma nova fase de sua produção arquitetônica (CANHADAS, 2018, p.74). Assim como afirma Constante Jáuregui:

Sin quitarle valor alguno, la influencia de Le Corbusier en Luís Barragán fue más allá de un simple y efímero contacto, y se tradujo en ciertas formas de entender el espacio moderno, a partir del ritmo de luces y sombras, del uso de las azoteas como espacios habitables sin techo y de la noción del paseo arquitectónico. No por casualidad, en su mesilla de noche se encontraba un pequeño libro releido en sus horas finales: El poema electrónico, de Le Corbusier (ADRIÁ, 2013, p.8).¹ ⁶

(...) del movimiento moderno Barragán absorbió sólo las influencias que eran compatibles con su búsqueda personal. Y es que en estos tiempos él intentaba fusionar la tradición y la in-

De volta a Guadalajara, onde teve que se ocupar de negócios familiares, fez algumas poucas casas. Com a industrialização, inicia-se uma intensa fase de construção na cidade, que neste momento passa por uma grande fase de crescimento econômico (CASTREJÓN, 1989, p. 73 in CANHADAS, 2018, p.82). Neste contexto, o qual incluía uma significativa reforma agrária no país, a família de Barragán perde algumas das propriedades rurais na região de Jalisco e Barragán decide mudar para a Cidade do México. Barragán aponta em alguns desenhos a sua preocupação com o crescimento da cidade sobre o Vale. A partir das notícias que vêm de fora e pela oportunidade de ver de perto a arquitetura de vanguardas europeias, Barragán encontra a possibilidade de experimentar uma nova arquitetura, passando por uma fase de transformação (CANHADAS, 2018, p.82). Barragán abre um escritório na Cidade do 16-Tradução dos autores: Sem desvalorizar, a influência de Le Corbusier sobre Luís Barragán foi além de um contato simples e efêmero, e se traduziu em certas formas de compreensão do espaço moderno, a partir do ritmo de luzes e sombras, o uso de terraços como espaços de vida sem telhado e a noção de percurso arquitetônico. Não por acaso, em sua mesinha de cabeceira estava um pequeno livro relido em suas horas finais: O poema eletrônico, de Le Corbusier. 17- Tradução dos autores: (...) do movimento moderno Barragán absorveu apenas as influências que eram compatíveis com sua busca pessoal. E é que nessa época ele estava tentando fundir tradição e inovação para construir sua própria concepção de modernidade arquitetônica.


México, e apesar de reconhecido como engenheiro, nas placas que colocava nos edifícios, identificava-se como “Luis Barragán, arquitecto” (CASTREJÓN,

Placa “Arquitecto Luis Barragán”. Fotografia de C. Labarta, 1936. Disponível em: AIZPÚN, Carlos Labarta. Material y memoria: transformaciones en la obra de Luis Barragán, 2016.

1989, pp. 73-74 in CANHADAS, 2018, p.82). Estas placas feitas com tipografias em ferro permanecem até os dias de hoje nas fachadas destes edifícios. venções técnicas aplicadas nos edifícios desenvolvidas através do uso de estrutura em aço e concreto armado. No México, neste período, não existiam construções deste tipo (CANHADAS, 2018, p.71). Um ano depois dessa viagem, aos 28 anos, Luis Barragán viaja mais duas vezes. Primeiro passa três meses em Nova Iorque, e depois retorna à Europa. Sua viagem para Nova Iorque coincide com a passagem de José Clemente Orozco, que realizava um ciclo de murais para a New School for Social Research, e Barragán estabelece uma forte amizade com o pintor. Conhece nessa mesma viagem, através do amigo, o arquiteto austríaco Frederick Kiesler (1890-1965), que neste momento acabava de projetar e construir uma sala de cinema experimental em Nova Iorque, a

Film Guild Cinema, 1929. Barragán projeta entre 1935-1936 em Guadalajara uma sala de cinema, o Cine Jalisco, onde são perceptíveis as lições de arquitetura de Kiesler (CANHADAS, 2018, p.72). No mesmo período, Max Cetto (1903-1980) chega ao México, vindo da Alemanha e de uma viagem aos Estados Unidos, onde se reúne com o arquiteto Richard Neutra (1892-1970), de quem já era amigo. Devido a problemas imigratórios, Cetto se muda para o México, onde é acolhido por Barragán em seu escritório. O arquiteto buscava o contato cotidiano com a cultura arquitetônica das experiências de projetos habitacionais alemães das décadas de 1920 e 1930. A parceria influencia muito o processo projetual de Barragán, sendo que Max Cetto colaborou no projeto do Edifício Casa Estúdio para Quatro Pintores na Plaza Melchor Ocampo, na Cidade do México, 1939-1940 e, posteriormente em casas do novo loteamento Jardines del Pedregal de San Ángel, 1945-1954, ao sul da Cidade do México. (CANHADAS, 2018, p.82) José Clemente Orozco (1883-1949) surge como o primeiro cliente com ideais modernistas de Barragán, levando-o a projetar a casa e o estúdio do pintor tanto em Guadalajara entre 1934, quanto na Cidade do México em 1940. Foi um dos interlocutores fundamentais dessa fase de Barragán, considerando que se transformou em um primeiro cliente, e um cliente que tinha toda uma afinidade com aquilo que Barragán estava procurando. (CANHADAS, 2018, p.75) Em entrevista a Ugarte, Barragán afirma que não fez trabalhos muito grandes próximo a 1940, e percebeu que se ganhava mais com a especulação de terrenos do que com os honorários como arquiteto. Diz que entre “ganhar pouco, servir muito e ter momentos desagradáveis com os clientes”, renunciou à profissão em 1940. Se dedicou à espe-

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culação com bens imobiliários, e dentre isso entrou a parte de construir para vender, durante os anos de 1940 a 1945. Nesse tempo também se ocupou de realizar alguns jardins de sua propriedade, que o ajudaram a criar um nome e uma facilidade para conseguir trabalhos, especialmente em loteamentos, incluído o projeto de Pedregal (UGARTE, p.22).

EL PEDREGAL Entre 1943 e 1945, Barragán compra um terreno na Avenida San Jerónimo, ao sul da cidade, denominado “El Cabrío”, onde realiza uma série de jardins privativos sobre a topografia existente conformada por pedra vulcânica e vegetação. Em frente a esse terreno, segundo Barragán, havia uma área enorme de lava vulcânica de enorme potencial. Trata-se da área El Pedregal. A zona sul, diferentemente do restante da cidade caracterizada por seu solo argiloso, possui um solo rígido de pedra vulcânica por conta das diversas erupções (CANHADAS, 2018, p.107). Em 1935, Diego Rivera (1886-1957) elaborou um documento com os requisitos para a organização de Pedregal, publicado anos mais tarde e com o qual Barragán teve contato antes mesmo da publicação. Neste documento, Rivera menciona Frank Lloyd Wright (1867-1959) como parâmetro de construção em Pedregal. Barragán se atrela a esses princípios. “Es preciosa la vista, y es ahí donde podremos hacer vida moderna sobre jardines modernos” (BARRAGÁN in CANHADAS, 2018, p.107). Com a consolidação da Cidade Universitária, localizada também no sul da cidade, e com o apoio do arquiteto e urbanista Carlos Contreras (1892-1970), surge o loteamento “Jardines de


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El Pedregal de San Ángel”. Barragán fez visitas ao local junto do pintor e vulcanólogo Dr. Atl e do fotógrafo Armando Salas Portugal, a quem Barragán propõe a documentação fotográfica da área e, posteriormente, de suas outras obras. Armando havia apresentado em 1944 uma exposição individual no Palácio Bellas Artes “Exposición Fotográfica del Paisaje Mexicano” com 14 fotografias de Pedregal, com as vistas dos vulcões, paisagem e vegetação (CANHADAS, 2018, p.108). Em colaboração com Max Cetto, Barragán realiza dois exemplos de casas para a venda

em El Pedregal. Essas casas buscavam a relação com a topografia natural dos terrenos e o uso de materiais locais, em uma nova maneira de entender o moderno (CANHADAS, 2018, p.108) Em colaboração com Max Cetto, Barragán realiza dois exemplos de casas para a venda em El Pedregal. Essas casas buscavam a relação com a topografia natural dos terrenos e o uso de materiais locais, em uma nova maneira de entender o moderno (CANHADAS, 2018, p.108).

Jardines de El Pedregal San Ángel. Fotografias de Armando Salas Portugal. Disponível em: SALAS, Armando Portugal. Morada de Lava: Las Colecciones Fotograficas del Pedregal de San Ángel y La Ciudad Universitaria. México: UNAM, 2006 in CANHADAS, 2018.

CASAS EM TACUBAYA

Jardines de El Pedregal San Ángel. Fotografias de Armando Salas Portugal. Disponível em: SALAS, Armando Portugal. Morada de Lava: Las Colecciones Fotograficas del Pedregal de San Ángel y La Ciudad Universitaria. México: UNAM, 2006 in CANHADAS, 2018.

Em paralelo ao projeto de “Jardines de El Pedregal de San Ángel”, Barragán compra alguns terrenos no bairro Tacubaya, e desenvolve jardins privados em menor escala. Barragán desenvolve livremente o desenho desses jardins entre o centro histórico da Cidade do México e o Parque Chapultepec. “Hay que buscar que las casa sean jardines, y los jardines sean casas” (BARRAGÁN, 1931, p. 15 in CANHADAS, 2018, p.114). Esse período faz Barragán ganhar o reconhecimento como arquiteto paisagista e como urbanista, pelos projetos de loteamentos, passando de uma escala íntima, para uma escala urbana. O primeiro projeto nesse conjunto de construções que Barragán realiza no bairro de Tacubaya


é a sua primeira casa, localizada na Rua General Francisco Ramírez, nos números 20 e 22, conhecida atualmente como Casa Ortega (1941-1943) (CANHADAS, 2018, p.114). O segundo projeto é a Casa Estúdio, da qual falaremos posteriormente.

Este conjunto de construções em Tacubaya mantêm um forte vínculo com a natureza: a Casa Ortega, é quase absorvida pela vegetação; a Casa Estúdio, com um jardim selvagem possível de ser visto de diversos ambientes de dentro da casa, ocorre como paisagem central; e o anexo do

ateliê, do outro lado da rua, localizado ao fundo do lote, com acesso através do jardim. Nos anos seguintes, Barragán realiza mais algumas casas muito parecidas com os preceitos destes projetos e também faz uso de ambientes de transição; de pátios; de fontes; de vigamentos de madeira; de grandes aberturas de vidro nas salas voltadas para um jardim interno; de objetos vernaculares; de cor; de mobiliário de madeira; de biombos; entre outros. (Casa Gálvez, 1955; Casa Egerstrom, 1966-1968; Casa Gilardi, 1975-1977 e Casa Meyer, 1978; todas na Cidade do México). (CANHADAS, 2018, pp.116-117).

Postais de viagem Luis Barragán. Disponível em: Arquivo Fundação Barragán in: CANHADAS, 2018

VIAGEM AO NORTE DA ÁFRICA

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Outro momento chave na vida de Luis Barragán é a viagem para o Norte da África que Barragán realizou entre 1952 e 1953. Iniciando a viagem pela Europa, Barragán vai para o Marrocos.

Un viaje que hice al África ha sido el viaje que más me ha impresionado en mi vida, es donde vi las construcciones que se llaman “casbahs”, en el norte del desierto del Sahara, al sur de Marruecos. Es lo que encontré plásticamente más ligado al paisaje, más ligado a la gente que lo vive, a su ropa, al ambiente de la atmósfera, inclusive más ligado a sus propias danzas, a su familia; es decir encontré ahí la integración perfecta de su religión con todo el ambiente en que viven y las cosas físicas que tocan (UGARTE, 2017, p.47)¹ ⁸.

18-Tradução dos autores: Uma viagem que fiz à África foi a que mais me impressionou em minha vida, foi onde vi as construções chamadas “casbahs”, no norte do deserto do Saara, ao sul de Marrocos. É o que encontrei plasticamente mais ligado à paisagem, mais ligado às pessoas que a vivem, às suas roupas, ao clima da atmosfera, ainda mais ligado às suas próprias danças, à sua família; em outras palavras, encontrei a integração perfeita de sua religião com todo o ambiente em que vivem e as coisas físicas que tocam.


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PRÊMIO PRITZKER Barragán foi agraciado com o Prêmio Pritzker em 1980. Destacou-se como o segundo laureado pela premiação, iniciada em 1979, sendo o primeiro latinoamericano. Na cerimônia, Jay Pritzker atribuiu à sua produção arquitetônica o virtuosismo de um “ato sublime de imaginação poética” (BARRAGÁN, 2009). Em seu discurso de agradecimento, o arquiteto resgatou palavras e significados que, segundo ele, estariam ausentes há tempos dos livros (e da produção) de arquitetura. Ainda discorreu acerca do caráter “autobiográfico” e nostálgico de sua obra, com profundas raízes na arquitetura popular-tradicional mexicana. Destacam-se a seguir alguns desses pontos ou elementos sugeridos por Barragán que elucidam sua obra. Sobre a relevância da Religião e do Mito nas manifestações artísticas, sugere a conexão entre ambas, o papel da religião e da espiritualidade na criação humana, desde as pirâmides e templos, fontes e praças, até as danças e a arte popular. A Beleza e a Emoção como guias da vida humana. Nesse sentido, acreditava e buscava criar uma arquitetura movida pelo senso de beleza e que provocasse emoção. O Silêncio e a Solitude, presentes em suas casas e jardins, proporcionam contemplação e permitem a reflexão, cuja serenidade serve de antídoto à agonia, ao temor e à certeza da finitude da vida. Os Jardins, na concepção do arquiteto, seriam a natureza reduzida à proporção humana e,

assim, à serviço e prazer dos homens. São locais fundamentais para a meditação (silêncio e solitude), servindo de refúgio contra a “agressividade do mundo contemporâneo” (BARRAGÁN, 2009), onde o homem desenvolve o senso de beleza, os valores espirituais e o apreço às artes (AMBASZ, 1996). Ademais, o jardim e a casa são compreendidos como espaços inseparáveis, contínuos. As fontes e a água também compõem esse local, remetendo aos pátios, espelhos d’água e aquedutos das fazendas coloniais e conventos mexicanos. Nesse aspecto, “(...) constitui forte relação com a topografia e o desenho dos jardins que o devolve à memória de infância, à experiência da paisagem original, ao vínculo com a natureza” (CANHADAS, 2018, p.160). A Cor é elemento fundamental em sua obra tendo as grandes superfícies dos muros como suporte de experimentação cromática (ALONSO, 2002). O uso das cores dialoga com a Luz e com as águas, ordena o espaço, traz dinamismo e emoção, criando contrastes e composições visuais (VISO; CRUZ LÓPEZ, 2010). Assim,

Fotografia do arquiteto. Disponível em: <http://www.casaluisbarragan.org>. Acesso em: 05 jan 2021.


45 Barragán buscou configurar atmosferas interiores, lugares de serenidade, às vezes, de introspecção, nos quais o jogo de luz e o posicionamento das aberturas, por exemplo, fossem sempre imprescindíveis. Realizou um trabalho persistente com a luz, configurando uma singular luminosidade através das janelas e aberturas que aparecem desde suas obras iniciais em Guadalajara (CANHADAS, 2018, p. 160).

Cuadra San Cristóbal. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br>. Acesso em: 05 jan 2021.


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O uso e escolha das cores certamente foram influenciados por seu colega e artista Jesús “Chucho” Reyes e pela tradição ou “imaginário” popular mexicano, com as humildes casas caiadas nos povoados (pueblos). Alonso ressalta ainda: Su método como arquitecto era el de un pintor que, sentado durante horas frente a la obra, percibía los efectos cromáticos según la variación del sol a lo largo del día y en diferentes estados del clima (...) Así llegó a alterar las dimensiones y colores de los muros de sus casas y jardines en relación a la variación del lugar, o a cambiar los tonos en busca de la mejor sensación cromática (ALONSO, 2002, p. 21). ¹ ⁹

Obra “Caballo Rosa”, de “Chucho” Reyes. Disponível em: ROSENBERG, Juan Pablo. A construção do território. Abstração e natureza nas obras de Luis Barragán, Álvaro Siza e Tadao Ando, 2016.

Alonso (2002, p. 22-24) sugere a possibilidade de leitura do uso das cores na obra de Barragán junto das influências neoplasticistas (Rietveld e Van Doesburg) e puristas (Le Corbusier), marcadas pela composição de planos e superfícies ortogonais coloridas. No entanto, também aponta para diferenças substanciais entre eles, a começar pela concepção espacial “dinâmica” dos holandeses em oposição à “estática” de Barragán, mais preocupado com a contemplação. O segundo aspecto trata da aproximação e incorporação da a natureza por parte de Barragán (“reduzida à proporção humana”) enquanto parte da obra arquitetônica, por meio dos jardins.

19-Tradução dos autores: O seu método de arquiteto era o de um pintor que, sentado horas à frente da obra, percebia os efeitos cromáticos de acordo com a variação do sol ao longo do dia e nos diferentes estados do tempo (...) Assim veio a alterar as dimensões e cores das paredes de suas casas e jardins em relação à variação do local, ou ao mudar os tons em busca da melhor sensação cromática.

Casa Gilardi. Disponível em: ALONSO, Daniel Villalobos. El Color de Luis Barragán, 2002.


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Convento das Capuchinhas. Disponível em: ROSENBERG, Juan Pablo. A construção do território. Abstração e natureza nas obras de Luis Barragán, Álvaro Siza e Tadao Ando, 2016.

Casa Gálvez. Disponível em: ROSENBERG, Juan Pablo. A construção do território. Abstração e natureza nas obras de Luis Barragán, Álvaro Siza e Tadao Ando, 2016.


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FALECIMENTO

Luis Barragán falece em 22 de novembro de 1988 na Cidade do México e é enterrado em Guadalajara. Vítima do Mal de Parkinson na década de 1970, teve a saúde debilitada, perdendo a voz e necessitando de cadeira de rodas. O arquiteto nunca se casou ou teve filhos. As cinzas de Barragán estavam depositadas em um monumento na cidade de Guadalajara até que em 2017 foram retiradas, com autorização de 18 parentes do arquiteto, pela artista americana Jill Magid. A artista transformou as cinzas do arquiteto em um diamante não lapidado de 2,02 quilates, compondo um anel “de noivado”. Denominado de “A Proposta”. A peça faz parte de uma campanha que “levanta perguntas essenciais sobre as consequências e implicações de que um legado cultural se converta em propriedade privada corporativa”, pedindo assim que o acervo de Barragán,

comprado em 1995 por Rolf Fehlbaum, presidente da empresa suíça de móveis Vitra, e sua então namorada, Federica Zanco, uma historiadora e colecionadora italiana, volte da Basiléia para o México. Segundo os pesquisadores, o acesso aos arquivos estava sendo dificultado pela instituição. A italiana não aceitou a proposta de trocar o acervo, que dizem ter sido seu presente de noivado, pelo anel. A ideia da artista foi vista negativamente, como mórbida e por ter mexido com um importante símbolo cultural mexicana, além do fato de Jill ser americana e o fato de poder ser colocado como mais um abuso dos Estados Unidos sobre o país latino-americano. Outros, como Karina Zatarin, consideram mais importante que a obra de Barragán volte ao México do que a preservação de suas cinzas, que a indignação deveria ser maior pelo primeiro fato.

Obras expostas na exposição Una carta siempre llega a su destino. no Museu Universitário de Arte Contemporânea da UNAM, que tratou sobre a transformação de legados culturais em propriedade privada e discutiu o destino do acervo de Barragán. Disponível em : < https://www.archdaily.com.br/br/872378/as-cinzas-de-luis-barragan-nao-sao-mais-importantes-que-sua-obra-e-arquivo> Acesso: 06 jan 2021


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CASA ESTÚDIO (1947-1948) A Casa Estúdio, localizada na Cidade do México (Rua General Francisco Ramírez, 14) é a segunda residência de Barragán, onde viveu até a sua morte, em 1988. É considerada pela historiografia mexicana sua principal obra. A casa foi construída no terreno vizinho à casa Ortega, e no lote vizinho à ela (Rua General Francisco Ramírez, 12), Barragán mantinha seu estúdio. Os lotes, com acessos distintos pela rua, compartilham ao fundo do terreno o mesmo jardim. A casa foi o laboratório de experimentações do arquiteto, que mudou os muros na cobertura, por exemplo, algumas vezes ao longo de sua vida.

Buscando como arquitecto una fórmula para reponerse de las agresiones de la vida citadina, Barragán construyó y rehízo la casa de Tacubaya a su conveniencia. Ésta le sirvió también como laboratorio arquitectural sometido - como señala Víctor Alcérreca - “a la duda y la corrección”, como obra siempre perfectible, utilitaria desde luego pero también concebida para la contemplación, la soledad y el recogimiento espiritual (VIDARGAS, LÓPEZ MORALES, 2009, p. 291). 20 Atualmente ambas as construções encontram-se em excelente estado de preservação, e o conjunto é aberto para a visitação como “Fundação Luis Barragán”, que usa como sede a casa, tornando-a um museu (CANHADAS, 2018, p.115).

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Entonces realicé, en el año de 48, la casa en que vivo; francamente, como no tenía yo deseos ni buscaba clientela alguna, la hice para mi gusto expresamente, y la nostalgia de los ranchos, la nostalgia de los pueblos, con las ideas que yo tenía del confort de la vida moderna, produjeron mi casa, que es la que más me ha dado a conocer aqui y el extranjero. (...) Esta casa representó entonces para mí, una cosa espontánea, porque no la hice buscando, sino la hice para mi gusto de arquitectura popular; que se sienta que se está en México y en una residencia. Además tuve otra idea: fue una reacción contra toda lá ostentación sobredecorada de Francia; lo francés es lo que imperaba y ha imperado mucho en México, lo que a mi modo de ver es un complejo de inferioridad (...)

(UGARTE, 2017, p.29-30). ²¹

Implantação construções em Tacubaya. Ilustração elaborada pela autora. Arquivo pessoal. Disponível em: CANHADAS, Marina Panzoldo. Barragán em três tempos, 2018.

Casa Estúdio. Disponível em: <http://www.casaluisbarragan.org>. Acesso em: 05 jan 2021.

²⁰ Tradução dos autores: Buscando como arquiteto uma fórmula para se recuperar das agressões da vida citadina, Barragán construiu e reconstruiu a casa em Tacubaya conforme sua conveniência. Esta também lhe serviu de laboratório de arquitetura sujeito - como assinala Víctor Alcérreca - “à dúvida e à correção”, como uma obra sempre perfectível, utilitária claro, mas também concebida para a contemplação, a solitude e o recolhimento espiritual. ²¹ Tradução dos autores: Então eu construí, no ano 48, a casa onde moro; francamente, como eu não tinha desejos nem procurava clientela, fiz ao meu gosto, e a saudade das fazendas, a saudade dos pueblos, junto às ideias que tinha de conforto da vida moderna, produziram a minha casa, que foi o que me tornou conhecido aqui e no estrangeiro. (...) Essa casa representou para mim então, uma coisa espontânea, porque não a fiz buscando, senão meu gosto da arquitetura popular; que você sente que está no México e em uma residência. Além disso, tive outra ideia: foi uma reação contra toda a ostentação exageradamente decorada da França; o francês é o que prevalecia e tem prevalecido muito no México, que a meu ver é um complexo de inferioridade.


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Voltadas para o interior do lote, as construções, que somadas alcançam cerca de 1.160 m², passam despercebidas, mantendo o alinhamento da calçada contínuo à Casa Ortega. Nesse aspecto, uma grande e saliente janela quadrada é um dos poucos elementos que difere do enclausuramento e sobriedade presentes em sua face voltada à rua (VIDARGAS; LÓPEZ MORALES, 2009, p. 291). A casa ainda preserva os elementos originais do projeto, inclusive na disposição do mobiliário em madeira, desenhado por Barragán e pela designer cubana Clara Porset (1895-1981), em especial as cadeiras Butacas e o Facistol (tradicionalmente religioso, mas usado pelo arquiteto para livros, imagens e pinturas que serviriam de inspiração). Além de seus objetos pessoais, como pinturas de Jesús “Chucho” Reyes, Miguel Covarrubias e Mathias Goeritz; reproduções de obras de arte de Picasso, Josef Albers, Modigliani, por exemplo; fotografias; objetos religiosos; artesanatos da cultura popular; objetos africanos; cerâmicas de Jalisco e Puebla; esferas de vidro; entre outros) (ZANCO, 2010, p. 102 in CANHADAS, 2018, p.115).

Cadeiras Butacas, de Clara Porset. Disponível em: VIDARGAS; LÓPEZ MORALES. Casa Estudio Luis Barragán, 2009.

Sala de jantar. Disponível em: <https://www.barragan-foundation.org>. Acesso em: 08 jan 2021.

A casa conforma-se entre espaços íntimos, e assimila-se a um labirinto. Barragán desenha precisamente as circulações, escadas e altura dos ambientes, utilizando em muitos momentos fechamentos leves, como biombos, entre um cômodo e outro. Espacialmente complexa, ora com ambientes intimistas, ora com ambientes amplos. As aberturas são estrategicamente posicionadas e a entrada de luz natural é sempre controlada. Nos dormitórios, por exemplo, Barragán desenhou um fechamento em madeira, com quatro aberturas, muito semelhantes às janelas de Alhambra. Nos panos de vidro voltados ao jardim, tanto na sala, quanto nos quartos, fez uso de cortinas (CANHADAS, 2018, p.115).


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PLANTAS

Plantas Casa Estúdio. Disponível em: <https://www.barragan-foundation.org>. Acesso em: 22 out 2020. Tradução do nome dos ambientes pelos autores.


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CORTES

Cortes Casa Estúdio. Disponível em: <https://www.barragan-foundation.org>. Acesso em: 22 out 2020. Tradução do nome dos ambientes pelos autores.


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ELEVAÇÕES

Elevações Casa Estúdio. Disponível em: <https://www.barragan-foundation.org>. Acesso em: 22 out 2020. Tradução do nome dos ambientes pelos autores.


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A casa possui três pavimentos distribuídos em distintos níveis, sendo que áreas sociais e de serviços se localizam no térreo e áreas íntimas no segundo pavimento, sempre com ambientes de transição entre um cômodo e outro. O acesso à casa se dá por um vestíbulo, uma espécie de filtro no limite entre a rua e o espaço íntimo. Com piso de pedra vulcânica e revestimento de madeira em uma das paredes, a presença de um vidro na cor âmbar posicionado na porta de entrada já deixa esse primeiro espaço da casa em tons amarelados. Um banco de madeira e uma luminária completam o ambiente. O teto é baixo e sugere uma sensação de confinamento (CANHADAS, 2018, p.115).

Observando el conjunto habitacional, las cualidades de la Casa Estudio de Luis Barragán se muestran en el tratamiento de los espacios interiores, dónde juega sobre esquemas de colores no precisamente armónicos, como en la “poética” secuencia de la entrada, plena en elementos de “magia, serenidad, embrujo y misterio”

(BARRAGÁN, 1981 in VIDARGAS; LOPÉZ MORALES, 2009, p. 295). ²² ²² Tradução dos autores: Observando o conjunto habitacional, as qualidades da Casa Estúdio de Luis Barragán se manifestam no tratamento dos espaços internos, onde joga com esquemas de cores não propriamente harmônicos, como na sequência “poética” da entrada, repleta de elementos de “magia, serenidade, encantamento e mistério”.


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No percurso pelo interior da residência, há um hall reservado aos cômodos da casa, marcado pela altura significativa e parede rosada. Em sequência, na escada que leva ao patamar superior, a obra dourada de Goeritz é iluminada por uma grande abertura. O escuro piso de pedras de origem vulcânica soma-se ao jogo de luz e cor dos planos ortogonais. O jardim, elemento fundamental nas obras do arquiteto enquanto espaço de contemplação e beleza, recebe aqui destaque na sala de estar em pé-direito duplo, onde as barreiras entre o interior e exterior da casa são dissolvidas através de uma ampla janela, ocupando todo o espaço com luz natural (CANHADAS, 2018, p. 115). Como também sugerem Vidargas e López Morales:

El singular jardín “opulento y semisalvaje” conserva dentro de su vastedad natural las huellas de innumerables intervenciones experimentales y adecuaciones del inmueble, además de que está concebido como “un oasis en medio del desierto” de asfalto de la Ciudad de México, donde priva “el plácido murmullo del silencio, y que... cante el silencio”

(VIDARGAS, LÓPEZ MORALES, 2009, p. 292). ²³

²³ Tradução dos autores: O único jardim “opulento e semi-selvagem” preserva em sua imensidão natural os vestígios de inúmeras intervenções experimentais e adaptações da propriedade, além de ser concebido como “um oásis no meio do deserto” de asfalto da Cidade do México, onde prevalece “o plácido murmúrio do silêncio, e deixe ... o silêncio cantar”.


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Jardim. Disponível em: <https://nataliabencheci. com/2018/11/17/modernismo-vernacular-para-uma-arquitectura-emocional-em-luis-barragan/>. Acesso em: 08 jan 2021.

Jardim. Disponível em: <https://www.archdaily.com/102599/ad-classics-casa-barragan-luis-barragan/5037f63528ba0d599b0006b2-ad-classics-casa-barragan-luis-barragan-photo>. Acesso em: 08 jan 2021.

Jardim. Disponível em: <https://essenziale-hd.com/2018/04/25/house-tour-casa-luis-barragan-in-mexico/>. Acesso em: 08 jan 2021.


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Casa Estúdio. Disponível em: <https://www.archdaily.mx>. Acesso em: 07 jan 2021.


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Hall da Casa Estúdio. Disponível em: <https://www.barragan-foundation.org>. Acesso em: 08 jan 2021.


61

Casa Estúdio. Disponível em: <https://www.barragan-foundation.org>. Acesso em: 08 jan 2021.


62

Biblioteca. Disponível em: <https://www.barragan-foundation.org>. Acesso em: 08 jan 2021.


63

Estúdio. Disponível em: <https://www.archdaily.mx>. Acesso em: 07 jan 2021.


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Quarto do Arquiteto. Disponível em: <https://www.barragan-foundation.org>. Acesso em: 08 jan 2021.


Enquanto a escada do hall poderia ser comparada com a escada típica da construção popular no México, como a da imagem fotografada no sítio da família do arquiteto, na biblioteca, também com pé-direito duplo, a escada de madeira embutida na parede, remete à escada do Apartamento de Beistegui em Champs Elisèes em 1931, de Le Corbusier (CANHADAS, 2018, p.115). Nessa cobertura, Le Corbusier utiliza uma escada em cascata sem guarda- corpo que acessa um vão entre muros ortogonais, técnica absorvida por Barragán e executada com tábuas de madeira engastadas à parede (ROSENBERG, 2016 p.52). Outra interpretação possível da semelhança com o apartamento de Corbusier em questão é a atitude de um certo isolamento com relação à cidade. Quando se está no terraço de ambas as obras, só o que se vê é o céu, ou no caso da obra de Corbusier, um trecho do arco do triunfo e da torre Eiffel, nada mais. Além disso, a Casa Estúdio se utiliza do princípio corbusiano do terraço ativo e de grandes janelas, como no Pavilhão de l’Esprit Nouveau, visitado por Barragán.

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Este excéntrico apartamento “es uno de los trabajos más paradójicos de Le Corbusier y refleja muchas de las preocupaciones del arquitecto tapatio, como son la luz y el recorrido interior”. Desde el ático, Le Corbusier selecciona lo que le interesaba ver, cerrando el resto, y tratando la azotea “como un interior sobre la contradicción de ser un exterior”. Igualmente Barragán controla las vistas, hasta el punto de comprar el terreno de delante de su casa y evitar así cualquier alteración de su cielo (ADRIÁ, 2013, p.8). ²4

Casa Estúdio. Disponível em: VIDARGAS; LÓPEZ MORALES. Casa Estúdio Luis Barragán, 2009.

Ruínas do sítio da família Barragán. Fotografia de Marina Canhadas, 2017. Disponível em: CANHADAS, Marina Panzoldo. Barragán em três tempos, 2018.

Apartamento Beistegui de Le Corbusier, em 1929. Disponível em: <ttp://www.fondationlecorbusier.fr>. Acesso em: 10 dez 2020.

²⁴Tradução dos autores: Este apartamento excêntrico é uma das obras mais paradoxais de Le Corbusier e reflete muitas das preocupações do arquiteto de Guadalajara, como a luz e o caminho interior.” Do sótão, Le Corbusier seleciona o que lhe interessa ver, fechando o resto e tratando o terraço “como um interior sobre a contradição de ser um exterior”. Da mesma forma, Barragán controla as vistas, a ponto de comprar o terreno em frente sua casa, evitando assim qualquer alteração em seu céu.


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Casa Estúdio. Disponível em: <https://www.barragan-foundation.org>. Acesso em: 08 jan 2021.


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Terraço da Casa Estúdio. Disponível em: VIDARGAS; LÓPEZ MORALES. Casa Estúdio Luis Barragán, 2009.


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Na sala de jantar, há na parede atrás da mesa a obra “Homenagem ao quadrado” de Josef Albers deslocado em relação ao eixo da mesa, no sentido oposto à porta. Isso pode revelar a preferência do arquiteto pelo efeito à regra, pois gera a impressão, na perspectiva de quem entra no ambiente, de um perfeito alinhamento entre os dois, como se vê na emblemática fotografia de Armando Salas Portugal (ROSEMBERG, 2016, p.44). Segundo Comas (2000), a Casa Barragán é uma arquitetura de planos, mas que se distingue daquela do neoplasticismo e da “planta livre”. O arquiteto manipula as alturas visando conseguir um volume adequado à natureza funcional da casa. A “montagem”, como que com peças de diferentes tamanhos, se assemelha ao Raumplan de Loos, uma forma de projetar a partir do espaço tridimensional, pensando de que forma os variados níveis, bem como as diferentes alturas dos ambientes, podem dialogar para criar atmosferas diversas, que não são ensimesmadas, mas sim inter-relacionadas.

“Homenagem ao quadro”, de Josef Albers. Disponível em: ROSENBERG, Juan Pablo. A construção do território. Abstração e natureza nas obras de Luis Barragán, Álvaro Siza e Tadao Ando, 2016.

A ausência de corredores e a multiplicidade de portas permitem simultaneamente uma fluidez espacial com uma autonomia de recintos. Desse modo,

O resultado é uma proposta alternativa de síntese entre o pintoresco e a racionalidade construtiva, que se vale apenas da pureza dos elementos arquitetônicos para provocar uma sensação de modernidade e ao mesmo tempo de atemporalidade. Não se trata da integração do pintoresco e do clássico que pretendia Le Corbusier, nem o sistema é facilmente transponível para a edificação em altura, pois esta requer a presença estrutural da coluna, e a coluna está fora do sistema estrutural de Don Luís (COMAS, 2000).

Terraço da Casa Estúdio. Disponível em: VIDARGAS; LÓPEZ MORALES. Casa Estúdio Luis Barragán, 2009.


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Ainda com relação à forma da casa, Comas (2000) aponta a regularidade da planta que se subdivide em três faixas paralelas à rua e ao jardim, ou em três perpendiculares a elas, refletindo o velho problema dos nove quadrados.

Na faixa horizontal intermediária, estão a escada de serviço e seus patamares, as ante-salas, cujos lados ascendem os sucessivos degraus da escada principal e o corredor virtual que leva ao estúdio; em frente ao jardim, os conjuntos de quartos e banheiros se sobrepõem à seqüência de cozinha, copa, jantar e estar, incluindo o acesso ao estúdio; frente à rua, se encontram a garagem, o vestíbulo, banho e biblioteca. As faixas perpendiculares incluem as seqüências de garagem, corredor e cozinha; a de vestíbulo, ante-sala e jantar, servida pela copa; a de estar e biblioteca, com pé direito duplo e uma continuidade marcada pela ausência de portas na parede que os separa. Estar e biblioteca configuram um espaço em L, alguns degraus separam o vestíbulo da ante-sala do andar térreo, interceptado em sua seção média. Dormitório e banheiro constituem um conjunto integrado em termos de comunicação com as ante-salas. Desta forma, a centralidade e a continuidade vertical são reforçadas graças à variação de percurso da escada e à iluminação zenital. A casa praticamente dispensa corredores e aparece compacta em torno de um pátio de roupagem nova (...) (COMAS, 2000).

Raumplan. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br>. Acesso em: 07 jan 2021.


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Em termos de influências, é evidente encontrar em sua obra elementos presentes na arquitetura vernacular mexicana, andaluza, mediterrânea e árabe. Somam-se, no campo das artes plásticas, a arte popular, o muralismo de José Clemente Orozco e o cromatismo de seu colega Chucho Reyes. Ademais, Vidargas e López Morales acrescentam outros cânones e vanguardas que dialogam com sua arquitetura:

Humanista excepcional, asimiló lo mismo los lenguajes arquitectónicos y artísticos manieristas de Andrea Palladio (su biblioteca guarda la edición primera de sus I quattro libri dell’architettura, Venecia, 1570), que de Ferdinand Bac (Jardins enchantés y Les Colombières), Le Corbusier (arquitectura como belleza), Adolf Loos (arquitectura funcional), Frederick Kiesler, Richard Neutra, los empiristas nórdicos (afán de recuperación de los métodos y materiales tradicionales); el movimiento De Stijl (arquitectura como unidad plástica), Giorgio de Chirico (sus imágenes de paisajes urbanos mediterráneos), la Staatliches Bauhaus (nueva estética arquitectónica) con Ludwig Mies van der Rohe (simplicidade de elementos y composición) y, finalmente, Mathias Goeritz (arquitectura emocional)²⁵ (VIDARGAS, LÓPEZ MORALES, 2009, p. 288).

²⁵Tradução dos autores: Humanista excepcional, assimilou as mesmas linguagens arquitetônicas e artísticas maneiristas de Andrea Palladio (sua biblioteca guarda a primeira edição de seu I quattro libri dell’architettura, Veneza, 1570), como de Ferdinand Bac (Jardins enchantés e Les Colombières), Le Corbusier (arquitetura como beleza), Adolf Loos (arquitetura funcional), Frederick Kiesler, Richard Neutra, os empiristas nórdicos (desejo de recuperar métodos e materiais tradicionais); o movimento De Stijl (arquitetura como unidade plástica), Giorgio de Chirico (suas imagens de paisagens urbanas mediterrâneas), o Staatliches Bauhaus (nova estética arquitetônica) com Ludwig Mies van der Rohe (simplicidade de elementos e composição) e, por último, Mathias Goeritz (arquitetura emocional).


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Dancing about Architecture: Ecos. Disponível em: <https://www.nowness.com/series/dancing-about-architecture/ecos-andres-arochi>. Acesso em: 08 jan 2021.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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APROXIMAÇÕES ENTRE AS OBRAS DE BARRAGÁN, O MÉXICO E A CIDADE DO MÉXICO Durante nossa pesquisa procuramos constantemente traçar paralelos entre a vida de Barragán, sua obra, a tradição mexicana e em específico o local que será palco de alguns de seus projetos mais icônicos: a Cidade do México. Arriscaremos, portanto, algumas dessas aproximações, ainda mais levando-se em conta sua personalidade reservada e o fato que, diferente de outros arquitetos premiados, Barragán, não escreveu extensos excertos sobre suas obras. Barragán enfrentou diretamente o desafio de produzir uma arquitetura diferente daquela que era produzida no centro do capitalismo global (Europa e Estados Unidos), que estivesse de acordo com as características, necessidades e materiais de sua terra natal. Próximo, em partes, do desafio imposto aos mexicanos após a independência e a sua consequente necessidade de construir uma identidade nacional; mesmo desafio reivindicado durante a Revolução Mexicana, de se afastar das amarras internacionais e produzir coletivamente algo verdadeiramente popular e mexicano. O arquiteto encontrou o subsídio para tal nas memórias de sua infância e na tradição rural, se apoiando nos ranchos, haciendas, pueblos e pátios para projetar suas obras, conseguindo assim produzir uma arquitetura única e que se apoia nos saberes e construções populares. Essa influência se materializa na grande importância dada aos pátios e à natureza, nas cores fortes e marcantes, no misticismo, assim como na forte relação com a água que está sempre presente em seus projetos - todas características marcantes da arquitetura popular dos povos originários mexica.

Las Torres de Satélite, 1957. Disponível em: <https://unavidamoderna.tumblr.com/post/143182218168/las-torres-de-sat%C3%A9lite-ciudad-sat%C3%A9lite-naucalpan>. Acesso em: 08 jan 2021.


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O exterior e a natureza: o povo Asteca se autodenominava o Povo do Sol, devido a sua crença em diversos deuses, mas em específico em Huitzilopochtli (deus da guerra e que simboliza o Sol). Por esse e outros fatores valorizavam muito a vida diurna e usavam muito menos os locais cobertos em detrimento dos espaços abertos; devido a isso, desenvolveram muito sua vida em pátios descobertos, onde podiam ter maior contato com a natureza e ter vidas coletivas. Características essas também de diversos outros povos e que Barragán incorporou em seus projetos ao considerar que o jardim é a alma e principal cômodo da casa - os quartos seriam apenas para dormir, guardar pertences e se proteger de algum tempo hostil (AMBASZ, 1976). As cores: durante o período colonial, a Cidade do México foi conhecida como Cidade Branca e Vermelha, devido às pedras de sua região que tinham essa coloração e que, por consequência,

deram forma a diversos edifícios com essas duas cores. A arquitetura popular mexicana também sempre utilizou dessas pedras que existiam em abundância, ficando mundialmente conhecida por conta dessa explosão de cores que marcavam as paredes robustas. Barragán retoma essa tradição ao propor um diálogo entre as cores e a luz em suas obras, utilizando-as de modo a ordenar as esferas interior e exterior das construções, por meio dos contrastes e composições visuais (VISO; CRUZ LÓPEZ, 2010). A água: México-Tenochtitlan (mais tarde chamada de Cidade do México) foi construída sobre uma ilha, entre dois grandes rios e cortada por aquedutos e fluxos de água; o povo asteca, e posteriormente os espanhóis e mexicanos, conviveram com a água. Barragán encontra na água uma relação forte com as diferentes materialidades, as formas e a natureza, através do reflexo e da contemplação se aproxima da solitude, emoção e beleza que queria transmitir com suas obras.

Fonte dos Amantes. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-68137/classicos-da-arquitetura-quadra-san-cristobal-e-fonte-dos-amantes-luis-barragan?ad_source=search&ad_medium=search_result_all. Acesso em: 08 jan 2021.

A partir de um paralelo entre a história do México e a biografia do arquiteto podemos apontar alguns fatos marcantes. Durante a Revolução Mexicana, muitas propriedades rurais foram expropriadas para serem redistribuídas no processo da reforma agrária; assim, a família de Barragan é afetada e perde terras na região de Jalisco, o que colaborou com a sua mudança para a Cidade do México. Do contexto desse período, destaca-se também as migrações em direção às cidades, gerando um intercâmbio de sociabilidades, que também pode ser aproximado ao trabalho do arquiteto e as referências ao contexto rural e a tradição mexicana, presentes em suas construções, inserindo esses conceitos no espaço urbano. Ainda assim, dado o fato de que o foco de sua carreira não foi o desenvolvimento de projetos urbanos, a relação com a Cidade do México - a principal cidade sede de suas obras - não fica tão evidente. Seus projetos representavam uma tentativa de encontrar um local de solitude e silêncio, e de certo modo buscavam se isolar do mundo exterior, criando uma ambiência à parte do entorno. No entanto, não é possível considerar que ele constituiu sua arquitetura deixando de lado o contexto urbano das cidades e o contexto político em que estava inserido: os séculos de história sobrepostos em complexas camadas, sua experiência como mexicano vivendo naquele momento histórico revolucionário, a efervescência cultural e a busca por uma identidade estética e nacional e sua ligação ao contexto rural e a tradição construtiva. Em vista disso, assim como a Cidade do México, a arquitetura de Barragán é uma síntese de todas essas relações e lutas que permeiam a história mexicana: tradicional e internacional, popular e elitista, racional e sensível; ressaltando ainda mais a sua relevância arquitetônica para a história da arquitetura, não só mexicana, mas mundial.


DIÁLOGOS ENTRE O MURALISMO MODERNO MEXICANO E A OBRA DE BARRAGÁN A Revolução Mexicana, entre as modificações que promoveu e outras brechas que abriu, também alimentou fortemente o contexto cultural da época. E, ao falar sobre isso, é inevitável apontar a vanguarda artística que se transformou em uma potência estética e revolucionária: o muralismo moderno mexicano (1920-1960). Seus principais expoentes foram David Siqueiros, Diego Rivera e Clemente Orozco, e ele se insere no contexto dos nacionalismos e reivindicações populares que passaram a se expressar em vários movimentos de países da América Latina. Vinculado a isso, no contexto da colonização e a consequente supressão de povos, histórias e culturas,

O muralismo moderno mexicano refaz os sentidos, reconsidera os pontos de partida investigativos e reorienta o acadêmico para uma aprendizagem epistêmica de compreensão sobre o todo a partir da particularidade histórica territorial que nos tocou viver. As imagens murais modernas nos apresentam outras histórias, outras dimensões estéticas e uma compreensão do marxismo a partir da história das revoluções do nosso continente (TRASPADINI, 2019, p. 4).

Mural “O arsenal”, de Diego Rivera, 1928. Disponível em: <https://www.diegorivera.org>. Acesso em: 08 jan 2021.

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Apesar de Barragán não se vincular diretamente a esse movimento, pretende-se traçar um paralelo entre sua obra e o muralismo desenvolvido no período, dado que algumas aproximações são possíveis de se considerar. A primeira é o fato de que ambos buscavam uma nova linguagem artística, fortemente mexicana e que apontasse para uma identidade sólida. Nesse sentido, os caminhos para isso se mostraram diferentes, mas o impulso elementar e primário era compartilhado. Longe de buscar a narrativa de um Barragán que não existiu - revolucionário, marxista - o que se pretende é sugerir que tanto a arquitetura de Barragán, quanto o movimento muralista moderno mexicano, contribuíram, em aspectos e dissipações diferentes, para o semear de uma identidade mexicana e, dada a sua potência, internacionalizaram-se.

Ao passo que o muralismo evidenciava os sujeitos da revolução ali presentes e se propunha a alfabetizar a população mexicana acerca do socialismo, Barragán é muito mais sutil em colocar a cultura e identidade mexicana em cena, sem direcionar explicitamente para um “projeto de país”. Ambos partilhavam o interesse comum pelo surrealismo, sobretudo as obras do pintor italiano Giorgio De Chirico, entretanto, o arquiteto caminhou para a formação de uma estética peculiar, visto que ele “transcende o surrealismo, pois enquanto os pintores representam o que viram ou o que desejam ver em sonhos, o arquiteto organiza um espaço para a vida feito da matéria do sonho mesmo” (ALANIS, 1999, p. 120). Há outro ponto de contato muito forte entre o movimento dos muralistas e o trabalho de Barragán: os muros.

“Zapatistas”, de José Clemente Orozco, 1931. Disponível em: <https://www.moma.org>. Acesso em: 08 jan 2021. Obra “Melancolia e Mistério de uma rua”, de Giorgio De Chirico, 1914. Disponível em: ROSENBERG, Juan Pablo. A construção do território. Abstração e natureza nas obras de Luis Barragán, Álvaro Siza e Tadao Ando, 2016.

Eles escolhem técnicas e constroem regimes de visibilidades distintos, mas em ambas as obras os muros possuem grande relevância. De um lado, funcionavam sobretudo como plano de fundo para a materialização de uma história, colocando em cena personagens, cores e revoltas, embasados na conformação de um pensamento social crítico e de uma estética da resistência (TRASPADINI, 2019). De outro, emergiam “técnicas simples utilizadas com absoluto rigor, nos pesados muros emboçados que encontrou na tradição local” (ROSEMBERG, 2016, p.43). Nesse sentido, por mais que Barragán não reivindicasse explicitamente as questões políticas do seu país, ele conseguiu formular um conjunto de obras mexicanas a partir da síntese do que viu internacionalmente e nos solos de onde cresceu. E esse feito dialoga com o que Aravecchia (2018) condensa sobre algumas vanguardas da primeira metade do século XX, que constroem uma dimensão cultural e simbólica em busca de autonomia nacional:

Nesse processo, a América Latina foi deixando de significar a herança da tradição europeia sobre esse território (que estava na origem do termo), para se aproximar da ideia de mestiçagem, resultada da combinação daquela tradição com as manifestações autóctones (ARELLANO, 2014) (BOTAS, 2018, p. 77).


SOBRE A OBRA DO ARQUITETO E INSERÇÃO NO REGIONALISMO CRÍTICO Luis Barragán se manifestou em público pouquíssimas vezes, não exerceu a cátedra e escreveu, em maioria, cartas pessoais. Não formulou teorias que sistematizassem seu excepcional legado estético e reconhecia, quando questionado sobre seus conceitos de beleza e arquitetura: “eu mesmo não me perguntei...não o fiz em toda minha vida” (UGARTE, 2017). Mesmo não tendo um legado teórico consolidado como outros arquitetos que produziram diversos textos ao longo da vida, é possível compreender o quase instintivo processo projetual de Barragán através do estudo de sua biografia e da compreensão do contexto mexicano da época e mesmo anterior. São notáveis as influências regionais, vindas dos pueblos mexicanos e de seus locais de infância. Frampton (2015) chega a enquadrá-lo dentro do chamado regionalismo crítico. Segundo o teórico, seria uma categoria crítica voltada para certas características comuns, das quais Barragán se encaixaria por exemplo no entendimento de sua prática projetual que traz a força da cultura provinciana, condensando o potencial artístico e crítico da região, sem deixar de assimilar e interpretar as influências de fora, como é muito nítido no caso do arquiteto, indo de Corbusier à arquitetura árabe. Sem abandonar os aspectos emancipatórios e progressistas do legado arquitetônico moderno, se distancia da utopia ingênua dos primórdios do Movimento Moderno.

Talvez não tão fortemente como Álvaro Siza, Barragán adota outro preceito que o enquadra ao regionalismo crítico, de uma arquitetura que, em vez de enfatizar a construção como um objeto independente, faz a ênfase incidir sobre o território a ser estabelecido pela estrutura erguida no lugar. O limite físico de sua obra é visto como uma espécie de “limite temporal” - o ponto no qual se interrompe o ato de construir. Essa ligação tectônica é enfatizada pelo arquiteto quando diz “benditos sejam os acidentes geológicos”, quando da construção por exemplo de El Pedregal, uma arquitetura que se acopla ao terreno ao invés de apenas assentar-se com pilotis que dissociam a construção da topografia. Sendo tanto paisagista como arquiteto, Barragán sempre buscou uma arquitetura ligada à terra, composta por espaços fechados, jardins, fontes e córregos, uma arquitetura erguida sobre rocha vulcânica e vegetação, remetendo indiretamente à estância mexicana. (FRAMPTON, p. 386) O Regionalismo crítico em Barragán é regional na medida em que, como diz Frampton, “invariavelmente enfatiza certos fatores específicos do lugar, que variam desde a topografia, vista como uma matriz tridimensional à qual a estrutura se amolda até o jogo variado da luz local que sobre ela incide”. Na própria citação que Frampton utiliza de Barragán, ele comenta sobre a necessidade de uma luz adequada ao meio, se contrapondo aos grandes panos de vidro dos edifícios comerciais de então:

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A vida cotidiana está se tornando demasiadamente pública. O rádio, a televisão, o telefone, todos invadem a privacidade. Por isso, os jardins deveriam ser fechados, não abertos ao olhar do público. (...) Os arquitetos esquecem- se da necessidade da meia-luz que os seres humanos têm, aquela espécie de luz que propicia tranqüilidade, tanto em suas salas de visitas quanto em seus dormitórios. Mais ou menos a metade do vidro utilizado em tantos edifícios, sejam casas ou escritórios - precisaria ser removida para que se obtivesse a qualidade de luz que permite que se viva e trabalhe de uma maneira mais concentrada (...) Antes da era das máquinas, mesmo no meio das cidades, a Natureza era a companheira fiel de todos (...) Atualmente, a situação inverteu-se. O homem não se encontra com a Natureza, mesmo quando deixa a cidade para comungar com ela. Fechado em seu automóvel reluzente, com seu espírito selado com a marca do mundo desde o aparecimento do automóvel, o homem é, dentro da Natureza, um corpo estranho. Um cartaz de publicidade é suficiente para sufocar a voz da Natureza. A Natureza torna-se um refugo da Natureza, e o homem um refugo do homem (FRAMPTON, 2015, p. 387).


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A luz, dentro do Regionalismo crítico, é sempre entendida como o agente básico por intermédio do qual o volume e o valor tectônico da obra são revelados, articulando-se às condições climáticas locais, opondo-se, portanto, à tendência da “civilização universal” de privilegiar o uso de ar-condicionado (FRAMPTON, 2015, p.397).

Enquanto se opõe à simulação sentimental do vernáculo local, em certos momentos o Regionalismo crítico vai inserir elementos vernáculos reinterpretados como episódios disjuntivos dentro do todo. Além do mais, irá às vezes buscar tais elementos em fontes estrangeiras. Em outras palavras, vai empenhar-se em cultivar uma cultura contemporânea voltada para o lugar sem tornar-se, por isso, excessivamente hermético, tanto no nível da referência formal quanto no da tecnologia. A esse respeito, tende à criação paradoxal de uma “cultura mundial” de bases regionalistas, quase como se isto fosse uma precondição para a conquista de uma forma relevante de prática contemporânea (FRAMPTON, 2015, p.397).

Luís Ramiro Barragán Morfin. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/792238/a-historia-de-como-barragan-tornou-se-literalmente-um-diamante>. Acesso em: 10 jan 2021.

Portanto, assim como concluem Vidargas e López Morales, a arquitetura de Luis Barragán não foi concebida somente como “límpido espaço habitável”, mas também como obra artística para o deleite e contemplação humana. Nesse sentido, a Casa Estúdio contribuiu para o cumprimento da missão que o arquiteto pôs a si de construir uma arquitetura que dignifique a vida humana através da beleza “levantando um dique contra a onda de desumanização e vulgaridade”(BARRAGÁN, 1980 in VIDARGAS, LÓPEZ MORALES, 2009, p. 295).


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ANEXO 1: CRONOLOGIA DE OBRAS LUIS BARRAGÁN (CANHADAS, 2018) 1926

Reforma Casa Robles León Rua Madero, 607. Guadalajara

PRIMEIRA FASE (1927-1935)

É possível identificar no conjunto de obras nesta primeira fase a recorrência dos seguintes procedimentos: o desenho da luz, a presença da água, a dimensão cromática e o uso de elementos vernáculos nos projetos de Luis Barragán (CANHADAS, 2018, p.52).

1927 - 1928 Casa Robles Castillo I e Casa Robles Castillo II Av. Vallarta 1095 e Rua Argentina, 27. Guadalajara

1928 Casa Enrique Aguilar (demolida)

Rua Manuel López Cotilla, 1505. Guadalajara

Casas centro de Guadalajara (setor Hidalgo)

Rua Liceo, 331, Rua Pedro Loza, 517 e Rua Prosperidad, 74. Guadalajara

1928 - 1929 Casa González Luna

Rua José Guadalupe Zuno, 2083. Guadalajara


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1929 Duas casas para aluguel Efraín González Luna Rua Zaragoza, 265 e 267. Guadalajara

Casa Cristo

Rua Pedro Moreno, 1671. Guadalajara

Casas Franco

Av. de La Paz, 2207 e Rua Simón Bolívar, 224. Guadalajara

Duas casas para aluguel para Robles León Av. de La Paz. Guadalajara

1930 Cine Colón

Rua Colón, esquina Nueva Galicia. Guadalajara

Casa Dr. Medina

Av. de La Paz, 1877. Guadalajara

1931 Casa Cristo, Chapala

Rua Zaragoza, 307. Chapala, Jalisco


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1932

Reforma Casa da família Barragán Chapala Av. Madero. Chapala, Jalisco

1933 Duas Igrejas e suas respectivas praças frontais

Povoado próximo à Corrales. Jalisco. Localização exata desconhecida.

1934 Quiosque para a Praça de Chapala (demolido) Chapala, Jalisco

Casa para aluguel

Rua Rayón, 121. Guadalajara

Casa para aluguel Robles León

Rua Marcos Castellanos, 132. Guadalajara

Casa Harper de Garibi

Rua Rayón, 123. Guadalajara

Casa para Efraín González Luna (parcialmente demolida) Rua Marcos Castellanos, esquina Rua Manuel López Cotilla. Guadalajara Casa José Clemente Orozco

Rua Manuel López Cotilla, 846. Guadalajara

Cine Jalisco (transformado radicalmente) Localização desconhecida. Guadalajara


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Parque Revolución em colaboração com Juan José Barragán Av. Juárez, s/n, Centro. Guadalajara

1934 - 1935 Casa Carmen Orozco (demolida)

Rua Manuel López Cotilla, 1034. Guadalajara

SEGUNDA FASE (1936-1944)

É possível identificar neste conjunto de obras da segunda fase a recorrência dos seguintes procedimentos: o desenho da luz e traços de Le Corbusier nos projetos de Luis Barragán (CANHADAS, 2018, p.86).

1936 Casas para aluguel (modificada)

Av. Mississipi, 98 e 90, Cuauhtémoc. Cidade do México

Duas Casas Avenida México

Av. Parque México, 141 e 143, Hipódromo Condesa. Cidade do México

Casa para aluguel M. Pilar Uribe (modificada) Av. Mazatlán, 116, Condesa. Cidade do México

Duas casas para aluguel Raúl Ortega Amezcua (modificadas) Av. Mazatlán, 118, Condesa. Cidade do México


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1936 - 1940

Edifícios Río Elba

Río Elba, 38, 50, 52 e 56. Cuauhtémoc, Cidade do México (56 demolido)

Edifício José Mojica

Av. Parque Melchor Ocampo, 12. Cuauhtémoc, Cidade do México

Casa J. Chávez Peón de Ochoa

Av. Mississipi, 61. Cuauhtémoc, Cidade do México

Casa para aluguel

Rua Río Guadiana, 3. Cuauhtémoc, Cidade do México

Edifício Lorenzo Garza Av. Parque Melchor Ocampo, 40. Cuauhtémoc, Cidade do México

Edifício Concepción Ribot (demolido)

Av. Río Mississipi, esquina Río Atoyac. Cuauhtémoc, Cidade do México

Edifício Carmen R. G. De Cristo

Av. Río Mississipi, 65. Cuauhtémoc, Cidade do México


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Edifício M. de la Parra, Vda. De Verduzco Río Elba, 70. Cuauhtémoc, Cidade do México

Edifício (demolido)

Río Lerma e Río Guadiana, Cuauhtémoc, Cidade do México

Edifício Alfonso Barragán

Av. Río Mississipi. Cuauhtémoc, Cidade do México

Casa para aluguel Abraham Goldefer (modificada) Av. Mazatlán, 114, Hipódromo Condesa, Cidade do México

1937 - 1942

Remodelação da Igreja de Amatitán em colaboração com Ignácio Díaz Morales Amatitán, Jalisco

1937 Casa I. Pizarro Suárez

Lomas de Chapultepec, Cidade do México

Edifício de apartamentos

Estocolmo, 14. Juárez, Cidade do México

Casa para aluguel Sr. Corcuera, Vda. de Alcázar (modificada) Mazatlán, 130. Hipódromo Condesa, Cidade do México

1938 Casa Dr. David Kostovetsky (modificada)

Av. Nuevo León, 103. Hipódromo Condesa, Cidade do México


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1939 - 1941

Edifício para 4 pintores em colaboração com Max Cetto Av. Parque Melchor Ocampo, 38. Cuauhtémoc, Cidade do México

1940 - 1941

Remodelação da Igreja de El Arenal em colaboração com Ignacio Díaz Morales El Arenal, Jalisco

1940 Remodelação da casa e jardins de Alfredo Vázquez e Luz Barragán em colaboração com Alfredo Vázquez Chapala, Jalisco

Edifício Sullivan - conjunto de Edifício e casas para Arturo Figueroa Uriza Rua Sullivan, 55, 57, 61. San Rafael, Cidade do México

Casa Eduardo Villaseñor (demolida) San Ángel, Cidade do México

Quatro jardins privativos

Francisco Ramírez e Av. Constituyentes. Tacubaya, Cidade do México


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Casa Estúdio Orozco Calle Ignacio Mariscal, 132. Tabacalera, Cidade do México

1941 - 1943 Casa Ortega

Francisco Ramírez, 10. Tacubaya, Cidade do México

1944 Três jardins privativos “El Cabrío” (demolidos) Av. San Geronimo. San Ángel, Cidade do México

TERCEIRA FASE (1945-1988)

É possível identificar no conjunto de obras da terceira fase a recorrência dos seguintes procedimentos: o desenho da luz, a presença da água, traços de Le Corbusier, a dimensão cromática, o uso de elementos vernáculos, a relação com a topografia nos projetos de Luis Barragán (CANHADAS, 2018, p.149).


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1945-1950

Loteamento Parque Residencial Jardines del Pedregal San Ángel, Cidade do México

1940

Reforma na Vila Adriana Av. Hidalgo, Chapala

1947-1948

Casa Estúdio Luis Barragán Francisco Ramírez, 14. Tacubaya, Cidade do México

Anexo ateliê - sem data

Francisco Ramírez, 17. Tacubaya, Cidade do México

1948

Casa Pietro López

Av. de las Fuentes, 180. Pedregal de San Ángel, Cidade do México

Duas casas El Pedregal em colaboração com Max Cetto

Av. de las Fuentes, 10 y 12. Pedregal de San Angel, Cidade do México


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1949 Casa El Pedregal (demolida)

Rua Agua, 115. Pedregal de San Ángel, Cidade do México

1950

Casa em colaboração com Max Cetto

Av. de las Fuentes, 140. Pedregal de San Ángel, Cidade do México

Casa em colaboração com Max Cetto

Av. de las Fuentes, 130. Pedregal de San Ángel, Cidade do México

1952 Casa José Arriola Adame (demolida) Av. de las Rosas, 543. Guadalajara

1953

Áreas ajardinadas UNAM em colaboração com Max Cetto Cidade Universitária, UNAM. Cidade do México

Estudos para fontes e centro comercial Plaza Zócalo, Cidade do México

1953 - 1960 e 1979 - 1980

Capela de las Madres Capuchinas e Ampliação Convento de Tlalpan em colaboração com Jesús “Chucho” Reyes e Mathias Goeritz Rua Miguel Hidalgo, 43. Tlalpan, Cidade do México


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1954

Remodelação da Casa de Alfredo Vázquez e Luz Barragán de Vázquez em colaboração com Alfredo Vázquez Rua Robles Gil, esquina rua Madero. Guadalajara

Projeto Parque Azteca Cidade do México

1955

Jardins e áreas externas do Hotel Pierre Marquez Acapulco, Guerrero

Casa Gálvez

Rua Pimentel, 10. San Ángel, Cidade do México

Loteamento Jardines del Bosque Guadalajara, Jalisco

Capela del Calvario

Loteamento Jardines del Bosque, Guadalajara. Jalisco

1955 - 1957 Casa

Playa Majahua, Estado de Colima

1957-1958

Torres Satélite em colaboração com Mathias Goeritz Periférico Norte e autopista Querétaro, Estado de México


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1958 - 1961 Loteamento Las Arboledas

Avenida Arboledas de la Hacienda, autopista México-Querétaro, Atizapán de Zaragoza, Estado de México

Muro Rojo

Loteamento Las Arboledas

1959

Praça e fonte do Campanário Loteamento Las Arboledas

Praça e fonte bebedouro Loteamento Las Arboledas

1962

Projeto casa-tipo para Vila Olímpica em colaboração com Andrés Casillas Cidade do México

1963 - 1964

Loteamento Los Clubes

Acesso pela rua Verdín, San Mateo Tecoloapan, Atizapán de Zaragoza, Tlalnepantla, Estado de México

Fonte dos Amantes

Loteamento Los Clubes

1964

Consultoria áreas externas Salk Institute - projeto de Louis Kahn La Jolla, Califórnia

1964 - 1967

Estudos para Capela Aberta Lomas Verdes, Estado de México


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Projeto urbanístico Lomas Verdes em colaboração com Juan Sordo Madaleno Lomas Verdes, Estado de México

1968

Acesso Los Clubes Acesso pela rua Verdín, San Mateo Tecoloapan, Atizapán de Zaragoza, Tlalnepantla, Estado de México

1967 - 1968

Quadra San Cristóbal e Casa Folke Egerstrom em colaboração com Andrés Casillas Rua Manantial Oriente, 20. Loteamento Los Clubes

1969

Plano urbano Cano

Tepoztlán, Estado de México

1971

Projeto preliminar para clube e pista de corrida de cavalos Guadalajara

Plaza Oval

Jardines de Morelos, Cuernavaca

1972

Projeto Fonte Monumental Lomas Verdes em colaboração com Ricardo Legorretta Lomas Verdes, Estado de México

Projeto Capela para o Loteamento El Palomar Guadalajara

1973

Projeto Palomar - desenho preliminar para uma Torre Símbolo em colaboração com Raúl Ferreira Loteamento El Palomar, Guadalajara

Projeto para o acesso Loteamento El Palomar Guadalajara


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1976 Casa Gilardi

General León, 82.San Miguel de Chapultepec, Cidade do México

1977

Faro del Comércio

Macroplaza, Monterrey. Nuevo León

1981

Casa Meyer em colaboração com Alberto Chauvet Bosques de las Lomas, Cidade do México

1981 - 1983 Casa Váldes em colaboração com Raúl Ferreira Av. Alfonso Reyes, 298. Monterrey, Nuevo León


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