CAPÍTULO 12 As perniciosas notícias inventadas
De repente, diversas celebridades do mundo inteiro diagnosticadas com o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) começaram a tornar público detalhes sobre suas vidas e experiências com o Transtorno. Entre os famosos, Steve Jobs, Bill Gates, Steven Spielberg, Tom Cruise, Jim Carrey, Will Smith, Danny Glover, Sylvester Stallone, Michael Jordan, Michael Phelps, Simone Biles, etc. Consequentemente, o TDAH começava a simbolizar uma condição bem menos depreciativa que aquelas primitivas ideias atreladas a limitações, e/ou incapacidades. Ao passo em que possuir o Transtorno, adquiria até mesmo um certo “status” de inteligência, de prodigiosidade. Como sendo uma condição mais frequente entre pessoas diferenciadas, talentosas, criativas, atletas extraordinários, etc. Contudo, se o então relógio que jamais havia aferido o meu tempo em conformidade com a cronologia ordinária dos outros homens estava finalmente sincronizado, se justamente naquele momento, talvez pela primeira vez na minha vida inteira, eu estava na mais perfeita concordância com os eventos do mundo contemporâneo, pouco tempo pude desfrutar daquela minha despretensiosa pontualidade. Pois, quase que simultaneamente, começavam a surgir inúmeras matérias tentando me desenquadrar, me deixar de fora da única situação na qual eu não havia me atrasado. Como se quisessem me colocar novamente no posto de retardatário, diversos factoides passavam a divulgar que aquele transtorno que eu possuía, já diagnosticado há onze anos, porém agora em plena moda, na mais propícia ocasião, simplesmente não existiria. Todavia, dentre as mais variadas notícias fabuladas, algumas merecem – até mesmo por reciprocidade desmerecimento – certo destaque. Durante o primeiro semestre de 2013, por exemplo, uma manchete replicada por diversos veículos de comunicação, questionava e respondia ao mesmo tempo: “Por que as crianças francesas não possuíam déficit de atenção?” Em seu conteúdo descritivo, as reportagens alegavam – com a propriedade de quem poderia no máximo pressupor que – a filosofia educacional, juntamente com uma abordagem psicossocial holística dos especialistas em saúde mental francesa – faziam o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade