Revista Tá Na Rua #1

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nº 01 || 2008

com os argumentos tão bons quanto o do outro. Ricardo Pavão – E com o saque teatral de chegar assim pro patrão e dizer: “põe um dinheiro ai no meu bolso”. Entendeu? Ele defendia o patrão: “Porque ele é um homem muito bom!” E o patrão enfiava o dinheiro no bolso dele assim, com todo mundo vendo. Aquele negócio teatral mesmo. Tacava dinheiro no bolso dele. Quanto mais ele defendia o patrão, mais o patrão dava dinheiro pra ele. Artur Faria – Numa cena que ele criou. Ele entrou já pra fazer a cena do advogado corrupto que defende com todos os argumentos, brilhantemente o patrão. Ricardo Pavão – Falava que o patrão dava emprego! Lucy Mafra – Falava bem dele, que ele era um homem bom. Perguntava: “O que seria dela sem o patrão? Ela não teria emprego”. Artur Faria – A gente vive dentro da realidade de um sistema e a gente nunca rompe com isso, a gente nunca faz com que o teatro se transforme na realidade. O teatro é sempre uma discussão da realidade que é a realidade. E isso é mágico. A magia não é transformar o teatro em realidade. A mágica é transformar o teatro no meio de buscar instrumentos para transformar a realidade. Mas buscar instrumentos lá na realidade. Senão fica milagre. Então, como você tá ali balizado pela ideologia do sistema, da realidade que todo mundo vive, a discussão vai sempre muito longe. E não tá resolvida nunca, por que não tá resolvida isso na realidade. A gente nunca deixa que o teatro resolva os problemas da realidade. O patrão, até hoje, levou a melhor sempre, levou a melhor sobre o empregado, então no teatro da gente o patrão tem a força dele, que a realidade endossa. Não é mágico. Então, a figura do patrão não é nunca uma figura fraca, entende? Porque não existe essa figura do patrão fraca, em nível da discussão coletiva. Não existe. É um sistema que o patrão tem uma figura forte, mesmo que tenha um patrão que seja uma figura fraca. Mas nunca nada é particularizado a ponto de virar um caso específico.

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Lucy Mafra – Ele pode mostrar toda a fragilidade dele, agora, ele não perde a força. O poder é o poder. Artur Faria – Ele é um ser humano, vivo, chora. Ele tem lá suas contradições, agora tem lá a realidade: é o patrão. E a empregada, também a gente nunca deixa aflorar a sua heroína. Não, ela tem lá as suas contradições também. Lucy Mafra – Roubou mesmo. Artur Faria – Em São Paulo, ela acabou fazendo um acordo com ele. Marilena Bibas – Tem um negócio que eu queria falar sobre esse trabalho da bandida. Algum tempo antes, a gente fez uma apresentação no Parque Lage, pra uma platéia de estudante. E eles, no final, tornaram a bandida numa heroína. Fizeram a revolução invadiram

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