Revista Gestão de Desporto, Ano 2016, APOGESD

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REVISTA GESTÃO DE

DESPORTO Distribuição Gratuita // ANO 2016

FERNANDO GOMES GESTOR DESPORTIVO DO ANO 2016


REVISTA GESTÃO DE DESPORTO

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ÍNDICE

4 EDITORIAL 8 MENSAGEM

Secretário de Estado da Juventude e do Desporto

10 MUNICÍPIOS AMIGOS DO DESPORTO 2016

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Ficha Técnica Direção Amadeu Portilha Carlos Resende Dimas Pinto Margarida Mascarenhas Paulo Costa Ricardo Freitas Tiago Freitas

Coordenação de conteúdos Helder Leite, Luís Rodrigues, Miguel Maia, Rui Lopes e Sérgio Abreu

Impressão Selecor - Artes Gráficas, Lda Rua do Sistelo, 666 / 4435-452 Rio Tinto Tel: 224 854 290 www.selecor.pt

Design e Composição Comunica Digital

Pedro Mortágua Soares

16 ERASMUS + NA APOGESD

OPORTUNIDADES DE MOBILIDADE E FINANCIAMENTO Miguel Maia

20 SETÚBAL CIDADE EUROPEIA DO DESPORTO 2016 Pedro Fernandes Pina

26 LOULÉ 2015

Loulé lidera projecto Europeu "Vital Cities"

34 AVALIAR RIO 2016 PREPARAR TÓQUIO 2020

8

Comité Olímpico de Portugal

40 BALANÇO DA PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA NO JOGOS PARALÍMPICOS RIO 2016 Comité Paralímpico de Portugal

46 FERNANDO GOMES

Gestor Desportivo do Ano 2016

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52 NOVAS FUNÇÕES DAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS Paula Teles

56 O DESPORTO, A NATUREZA, O TURISMO ATIVO E OS DESAFIOS DA MADEIRA Jorge Soares, António Alves, Avelino Silva

APOGESD Associação Portuguesa de Gestão de Desporto Multiusos de Guimarães - Alameda Cidade de Lisboa 4835-037 Guimarães

66 VISEU ATIVIDADE SÉNIOR 2007-2016

UM COMPROMISSO COM A VIDA Tiago Freitas, Abel Figueiredo, Ermelinda Afonso

T: 926 900 200 apogesd@apogesd.pt www.apogesd.pt

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72 I-GESP XXI CARTA DESPORTIVA

E PROGRAMAS DE APOIO AO ASSOCIATIVISMO Fernando Ferreira

80 PROPOSTAS DE VALOR PARA AS MARCAS Marcos Castro

82 CARTA DESPORTIVA NACIONAL Dimas Pinto

86 GOVERNANÇA Os textos incluídos nesta Revista expressam a opinião dos seus autores e não necessariamente a opinião da APOGESD.

É interdita a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, de textos, fotos e ilustrações sem a expressa autorização da APOGESD.

E POLÍTICAS DESPORTIVAS MUNICIPAIS Isilda Dias

92 OS DOIS CLUBES DO DIREITO DESPORTIVO Rui Jesus

96 DESTAQUES 2016


REVISTA GESTÃO DE DESPORTO

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GESTÃO DE DESPORTO

EDITORIAL 1

. Na cidade onde o mar, o rio e a montanha vivem numa harmonia quase perfeita, com uma atividade desportiva vibrante e que justifica o estatuto de Cidade Europeia do Desporto 2016, a Associação Portuguesa de Gestão do Desporto sente-se grata e honrada por realizar em Setúbal o seu Congresso Nacional 2016, desta vez escolhendo o tema do Desporto e a Saúde como mote para a reflexão e partilha de conhecimento. Vivemos num tempo de paradoxos. Num país pejado de excelentes infraestruturas para a prática desportiva, com profissionais cada vez mais qualificados e com um investimento significativo, quer público quer privado, no desporto e nas suas dimensões correlacionadas, continuamos distantes dos índices de prática desportiva e de atividade física que caraterizam os nossos principais parceiros europeus, assistimos a um aumento dramático das doenças do sedentarismo e não conseguimos articular uma estratégia coletiva que ligue, com coerência e eficiência, o desporto, a saúde e o bem-estar.

AMADEU PORTILHA Presidente da APOGESD

Neste tempo de contradições, parece-nos adequado e atual a discussão do tema que marca este congresso, conferindo-lhe a dimensão nacional que lhe é intrínseca, na medida em que a relação do desporto com a saúde, e o seu contrário, é manifesta e objetivamente uma questão de estado, que exige iniciativa e decisão das entidades tutelares, colaboração e empenhamento da

administração pública local e envolvimento generalizado dos vários agentes desportivos. Vivemos hoje num país que tem mais de um milhão de obesos e cerca de 3,5 milhões de pré-obesos, onde a obesidade afeta uma de cada duas crianças, que tem dos índices mais baixos de prática desportiva de toda a Europa e onde a diabetes e as doenças cardiovasculares impressionam pela sua dimensão e morbilidade. Um quadro destes exigiria atenção especial, concertação entre vários setores e investimento visível, num quadro de resposta ao problema que verdadeiramente fosse eficaz. Conhecem-se algumas respostas, que surgem aparentemente isoladas e desfasadas da realidade, mas que são de todo insuficientes, do nosso ponto de vista, para combater e reverter a realidade atual. A possiblidade de juntar em Setúbal especialistas nacionais e internacionais, com informação privilegiada sobre o trabalho em curso ou em perspectiva, as novas tendências do setor e as boas práticas que, felizmente, grassam pelo país, são o contributo que a APOGESD oferece aos profissionais do desporto e da gestão do desporto durante este congresso, na convição que dessa forma contribuímos para a construção de um país desportivo mais consistente e empenhado em enfrentar os constrangimentos e debilidades que nos caraterizam e condicionam.


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VIVEMOS HOJE NUM PAÍS QUE TEM MAIS DE 1 MILHÃO DE OBESOS E CERCA DE 3,5 MILHÕES DE PRÉ- OBESOS

2. O Congresso de Setúbal marca, também, a comemoração do 20º aniversário da APOGESD, momento ímpar da nossa vida, ao qual chegamos pelo esforço, dedicação e disponibilidade de muitos, pelo que é também o momento de publicamente agradecer a todos os que me antecederam nesta caminhada. A Olavo Malveiro, Gustavo Pires, Pedro Sarmento Lopes, Gastão Sousa e António Serôdio, a APOGESD agradece o seu inestimável contributo, que permitiram manter viva e atuante a nossa associação, fiel aos seus princípios fundadores e ousada nos novos objetivos que desenhou para o seu futuro. 3. Neste congresso igualmente disponibilizamos gratuitamente a segunda edição da nossa Revista, que mais uma vez contem um conjunto de artigos de grande valia e qualidade, que enriquecem e atualizam o conhecimento indispensável ao trabalho dos gestores do desporto nacional. A todos os que aceitaram participar nesta revista, o meu mais profundo agradecimento. Os vossos a r t i g o s , a vo s s a o p i n i ã o e o vo s s o conhecimemto especializado constituem ferramentas de enorme utilidade para o nosso trabalho diário e ajudam-nos a olhar

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o mundo e a realidade desportiva de uma forma mais profunda. Igualmente agradeço aos nossos patrocinadores e parceiros comerciais, sem os quais não seria possível disponibilizar uma revista de qualidade como a que hoje vos oferecemos. GLOBAL MARKETING

4. Após este congresso, resta um ano de trabalho à atual direcção da APOGESD, cumprindo a parte final do seu segundo e último mandato. Foram cinco anos intensos, colocando o nosso esforço e disponibilidade na reorganização interna da associação, na criação de melhores condições para os nossos associados e na concretização de vários projetos de consolidação da associação como um parceiro estratégico do sistema desportivo nacional. O balanço definitivo da nossa ação nestes últimos anos será feito, com detalhe e pormenor, no próximo congresso, que será eletivo e do qual sairá uma nova liderança para a APOGESD, mas fica o antecipado registo do agradecimento sincero e profundo aos que me acompanham nos vários orgãos sociais da associação e a todos quantos nos encorajaram e incentivaram no decurso desta longa caminhada.


REVISTA GESTÃO DE DESPORTO

08I09

E

m nome do XXI Governo Constitucional, começo por agradecer o convite que me f o i e n d e re ç a d o p a r a e s c reve r o presente texto. É com grande honra que presto o meu singelo contributo à revista Gestão de Desporto, que considero ser um projeto interessantíssimo e com uma enorme margem de progressão. Por motivos de natureza social, económica, cultural e de saúde, física e mental, é indiscutível que o desporto tem cada vez mais relevância na sociedade. Não existe melhor veículo para promover, conjuntamente, os valores da inclusão social, do pensamento coletivo, do estilo de vida saudável, da autoconfiança, da competição, da ética, da superação, do espírito de sacrifício, da união, da amizade, entre muitos outros. Como dizia o saudoso Nelson Mandela, “O desporto tem o poder de mudar o mundo. Ele tem o poder de inspirar e unir os povos de uma forma como poucas outras coisas conseguem. O desporto pode criar esperança onde antes havia apenas desespero.”

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É INDISCUTÍVEL QUE O DESPORTO TEM CADA VEZ MAIS RELEVÂNCIA NA SOCIEDADE

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Mas se é um facto que o desporto tem hoje uma influência absolutamente vital no nosso mundo, não é menos verdade que é também muito mais exigente do que era antigamente, sob todos os pontos de vista. Já não interessa unicamente ser o mais rápido, ágil, forte, resistente, esperto, voluntarioso ou habilidoso. Salvo o devido respeito, desatualizado está aquele que pensa que se alcança o sucesso desportivo sem haver estrutura, pensamento, preparação, estudo e acompanhamento devido. Num momento em que a exigência é maior e os recursos são parcos, já não há desporto sem organização, sendo que é impossível haver organização sem existir uma boa gestão.

SECRETÁRIO DE ESTADO

DA JUVENTUDE E DO DESPORTO

MENSAGEM

JOÃO PAULO REBELO Secretário de Estado da Juventude e do Desporto

Aq u i c h e g a d o s , i m p o r t a l e m b r a r q u e Associação Portuguesa de Gestão de Desporto, conforme se pode retirar da leitura dos seus estatutos e do primeiro número desta

revista, visa fomentar e desenvolver uma cultura de eficácia, qualidade e responsabilidade na gestão das organizações desportivas, assim como contribuir para a promoção e qualificação do gestor desportivo. Na verdade, dado o atual contexto desportivo (e não só), é realmente obrigatório que todos os recursos humanos, materiais e financeiros sejam geridos com o máximo critério, com base nas necessidades efetivas e nos objetivos reais de cada organização. É, portanto, fundamental que estas organizações tenham nos seus quadros gestores desportivos com formação adequada, bem preparados e capazes de as gerir com os recursos disponíveis, que são limitados, de forma eficaz e planeada, produzindo mais e melhor e contribuindo para a melhoria/crescimento daquelas, em particular, e do desporto, em geral. Atualmente, tendo em consideração a sua extrema complexidade, há que interpretar necessariamente o desporto de outra forma. É, de facto, importantíssimo valorizar o papel do gestor desportivo qualificado e é igualmente fulcral melhorar a qualidade da gestão das organizações desportivas. “Mais e melhor desporto” é um dos objetivos primordiais do programa deste Governo. É precisamente por essa razão que, em nome do XXI Governo Constitucional e com base em todo o exposto, não posso deixar de enaltecer a importância do trabalho que a Apogesd tem levado a cabo, que, refira-se, não se esgota no âmbito dos exemplos anteriormente aludidos. É imprescindível que esta dê seguimento à luta que arduamente tem travado e continue a contribuir para a melhoria do sistema desportivo português. Sublinho, quanto mais qualificados forem os agentes desportivos, principalmente aqueles que ocupam cargos de decisão, melhor e mais credível será o desporto nacional. Para terminar, por ocasião do seu 20º aniversário, cumpre-me congratular a Apogesd e desejar que as próximas duas décadas de atividade desta cada vez mais relevante associação sejam, no mínimo, tão profícuas como aquelas que estão agora prestes a findar. Honestamente, estou plenamente convicto que as melhores expetativas serão superadas.


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MUNICÍPIOS AMIGOS DO

DESPORTO 2016

MUNICÍPIO AMIGO DO

DESPORTO 2016

RECONHECER I DISTINGUIR I PROMOVER I PREMIAR

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O DESPORTO É UM FATOR DE DESENVOLVIMENTO DO TERRITÓRIO

O

que é? Reconhecimento, pela APOGESD, do modelo de intervenção no desenvolvolvimento desportivo e dos resultados obtidos por entidades ligadas à gestão e desenvolvimento do desporto. Trata-se, pois, de um sistema de reconhecimento público de boas práticas na gestão e desenvolvimento do Desporto, através da a t r i b u i ç ã o d o G a l a r d ã o “A M I G O D O DESPORTO”. Visão O desporto é um fator de desenvolvimento do território e melhorar a qualidade de vida da sua população, devendo ser reconhecidas as boas p r á t i c a s , n o s e n t i d o d e a s p a r t i l h a r, potenciando o desenvolvimento desportivo português. Com este programa pretende-se criar e dinamizar um observatório do desporto municipal. Missão Monitorizar, reconhecer e divulgar as boas práticas de intervenção no âmbito municipal do desenvolvimento desportivo português, partindo das práticas implementadas em cada concelho aderente ao programa.

PEDRO MORTÁGUA SOARES Sócio-gerente da empresa Cidade Social

Entidades que podem aderir Câmaras Municipais que entendam que têm uma intervenção adequada ao nível do desenvolvimento desportivo, ou ainda aquelas que pretendem autoavaliar e obter

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uma avaliação externa do estado de gestão e dinamização do desporto no seu território com vista a estabelecerem um plano de melhoria. Áreas a analisar 1. Organização desportiva Um MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO estabelece e implementa abordagens com o intuito de aumentar o desempenho organizacional das estruturas de planeamento e operacionalização desportiva, com vista à obtenção de excelentes resultados ao nível do desenvolvimento desportivo. São analisados os seguintes itens: Organograma | Plano estratégico para o Desporto |Orientações estratégicas para o desporto: visão, missão, valores, objetivos e estratégia |Plano anual das atividades |Conselho municipal do desporto ou estrutura equivalente |Programas de benchmarking |Manual de acolhimento |Orçamento | Certificação da Qualidade. 2.Instalações desportivas Um MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO possui um conjunto de instalações d e s p o r t i va s n a t u r a i s e a r t i fi c i a i s q u e potenciam o desenvolvimento desportivo, sendo as mesmas utilizadas de forma regular, com elevados parâmetros de higiene e segurança. São analisados os seguintes itens: Área útil desportiva | Instalações desportivas


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São analisados os seguintes itens: Programas de sensibilização para as pessoas com deficiência | Prática regular de desporto por parte de pessoas com deficiência |Atividades, programas e eventos para pessoas com deficiência | Bolsa de voluntários.

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EVENTOS DESPORTIVOS QUE PROMOVEM A PRÁTICA DESPORTIVA REGULAR

naturais | Instalações desportivas artificiais | Utilização das instalações desportivas | Plano de manutenção das instalações desportivas | Apetrechamento das instalações desportivas. 3. Eventos desportivos Um MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO implementa, em conjunto com parceiros estratégicos, um conjunto de eventos d e s p o r t i vo s q u e p ro m ove m a p rá t i c a desportiva regular e os diferentes níveis de rendimento desportivo. São analisados os seguintes itens: Eventos de Desporto para Todos | Eventos desportivos federados | Eventos desportivos para gerontes | Eventos desportivos intermunicipais |Eventos que promovem o turismo desportivo. 4. Programas desportivos Um MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO implementa, em conjunto com parceiros estratégicos, um conjunto de programas d e s p o r t i vo s q u e p ro m ove m a p rá t i c a desportiva regular e os diferentes níveis de rendimento desportivo. São analisados os seguintes itens: Programas desportivos de Desporto para Todos | Programas de ocupação de tempos

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livres | Programas de iniciação desportiva | Programas desportivos com inclusão de p e s s o a s c o m d e fi c i ê n c i a | Pro g ra m a s desportivos intermunicipais | Avaliações físicas e antropométricas | Programas de orientação nutricional e de prática de atividade física | Programas de combate ao stress | Formações da área da gestão do desporto. 5 .Estratégias de sustentabilidade ecológica Um MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO, na sua intervenção ao nível do desenvolvimento desportivo, implementa estratégias e práticas que promovem a sustentabilidade ecológica, c o m o fo r m a d e p ro m ove r p rá t i c a s d e desenvolvimento sustentável.

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CONFIANÇA COM DIVERSOS PARCEIROS PARA ASSEGURAR O SUCESSO MÚTUO

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7. Parcerias Um MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO estabelece e desenvolve e mantém relações de confiança com diversos parceiros para assegurar o sucesso mútuo, no sentido de promover o desenvolvimento desportivo. São analisados os seguintes itens: Parcerias (contratos-programa de desenvolvimento desportivo) com o sistema desportivo | Parcerias com o sistema de ensino | Parcerias com o mundo empresarial | Apoios financeiros | Ligação entre organizações desportivas.

São analisados os seguintes itens: Práticas de sustentabilidade ecológica nas atividades, eventos e programas | Programas de sensibilização ambiental | Comportamentos de sustentabilidade ambiental | Gestão energética e ambiental.

8 . Realidade Desportiva Um MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO tem instrumentos que monitorizam os resultados da sua estratégia de desenvolvimento desportivo, obtendo resultados adequados, quer ao nível da prática regular de atividade física, quer ao nível da prática federada.

6 .Desporto solidário Um MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO, na sua intervenção ao nível do desenvolvimento desportivo, implementa estratégias e práticas que promovem a inclusão e a responsabilidade social.

São analisados os seguintes itens: Carta desportiva | Monitorização do índice de prática desportiva | Estudos da oferta e da procura desportiva | Prática regular de atividade física | Sistema de registo de clubes e associações desportivas | Realidade desportiva.


9 . Legislação Um MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO implementa os procedimentos com vista ao cumprimento da legislação desportiva e associada, em vigor. São analisados os seguintes itens: Condições Técnicas e de Segurança | Campos de férias | Contratos-programa de desenvolvimento desportivo | Espaços de jogo e recreio destinados a crianças | Seguro desportivo | Licenciamento de instalações desportivas | Diretor técnico das instalações desportivas | Divulgação da legislação desportiva em vigor. 10 . Marketing e Inovação Um MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO implementa estratégias de marketing e inovação de forma a criar, planear e desenvolver serviços de desporto que satisfaçam as necessidades da população, assim como estratégias de comunicação e vendas que permitam aumentar a sua implantação e melhorar os índices de desenvolvimento desportivo. São analisados os seguintes itens: Divulgação digital | Redes sociais | Plano de marketing | Divulgação não digital | Serviços, parcerias, atividades ou programas inovadores | Reconhecimento dos resultados desportivos | Divulgação pública da sua intervenção | Divulgação entidades que prestam serviços desportivos | Edição de documentação. Atribuição do Galardão Serão atribuídos galardões aos municípios que atingirem mais de 50% dos pontos que são possíveis de atribuir.

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UMA CIDADE AMIGA DO DESPORTO IMPLEMENTA ESTRATÉGIAS DE MARKETING E INOVAÇÃO

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Benefícios As entidades que aderem ao sistema “MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO” usufruem dos seguintes benefícios: 1. Mecanismo de autoavaliação do modelo de funcionamento da entidade ao nível da gestão e desenvolvimento do desporto. 2. Auditoria documental e/ou presencial ao modelo de funcionamento da entidade ao nível da gestão do desporto. 3. Relatório da auditoria com análise SWOT e elaboração de plano de melhoria. 4. Participação no congresso da APOGESD com preços reduzidos. 5. Acesso a uma das linhas da plataforma de partilha de boas práticas (www.cidadesocial.org). 6. Acesso a banco de indicadores de benchmarking de gestão do desporto. 7. Ser incluído no anuário digital das Entidades Amigas do Desporto APOGESD. 8. Insígnias para divulgação do galardão. 9. Ver reconhecido por uma entidade externa o seu modelo de intervenção na área da gestão do desporto. 10. Plano de formação gratuito na área da gestão do desporto em regime de e-learning.


ERAMUS + NA APOGESD

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O PROJETO TERMINOU COM UM SEMINÁRIO DEDICADO AO EMPREENDORISMO

OPORTUNIDADES

DE MOBILIDADE E FINANCIAMENTO

A

APOGESD – Associação Portuguesa de Gestão de Desporto tem como objetivo estratégico, a promoção do desporto e da gestão do desporto nas suas diversas vertentes e âmbitos de intervenção. Duas das mais recentes linhas estratégicas que assumiu foi a promoção do empreendedorismo desportivo e a inclusão social através do desporto e da atividade física. Como sequência natural destas linhas estratégicas concebeu um primeiro projeto que denominou “Entreprenership4Sport” e um segundo projeto “SIYS – Social Inclusion through Youth and Sport”. Ambos os projetos tiveram apoio financeiro do Programa ERASMUS+ Juventude em Ação, no valor total de 80.770,00€. Recentemente, através da saudável relação estabelecida com a AGAXEDE - Asociación Galega de Xestores Deportivos, parceiro de Espanha no projeto “Entreprenership4Sport”, decorre o projeto “E4SPORT2.0” aprovado pela Agência Nacional Espanhola com o apoio financeiro do programa ERASMUS+, no valor total de 59 500,00€, ao qual a APOGESD se assume como parceiro estratégico do projeto.

MIGUEL MAIA Gestor de Projeto

Com inicio a 1 de abril de 2015 e término a 31 de j u l h o d e 2 0 1 6 , o p r o j e t o «Entreprenership4Sport» apresentava como objetivos estratégicos a aceleração de ideias na área do desporto, a promoção e capacitação dos jovens para o empreendedorismo e a criação de projetos empresariais na área desportiva. Na primeira fase do projeto, foram realizados sete ateliers de capacitação e um technical pitch no IESF – Instituto de Estudos Superiores de Fafe. Os ateliers de capacitação revelaram-se uma mais-valia para o desenvolvimento das ideias de negócio dos participantes, além de cativar os jovens para o conhecimento da prática empreendedora. Os j ovens ti veram a oportunidade de desenvolver conhecimentos

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necessários à execução do projeto e à gestão do mesmo, coincidindo com o testemunho profissional de diversos empreendedores em atividade. A segunda fase do projeto uniu os participantes de Portugal e Espanha num intercâmbio de sete dias, onde foram aplicadas diversas atividades, seguindo uma metodologia de educação não-formal, no âmbito do empreendedorismo no desporto. Entre as atividades realizadas destacam-se tópicos como a inovação, o planeamento, o financiamento e questões legais, o potencial humano e o marketing. O projeto terminou com um seminário dedicado ao empreendedorismo no desporto e à partilha de vivências e aprendizagens absorvidas durante a primeira e a segunda fases do projeto. Além da participação dos jovens, o seminário reuniu um conjunto de projetos bem-sucedidos no setor do desporto, apresentados pelos respetivos empreendedores de sucesso. O projeto encontra-se disponível para consulta em http://projetosapogesd.wixsite.com/ erasmusplus. Após o sucesso alcançado com o primeiro projeto “Entrepeunership4Sport”, a vertente da inclusão social através da juventude e do desporto tornou possível a realização de outro projeto Erasmus+ | Juventude em Ação. O “SIYS” apresentava como proposta o foco na problemática da exclusão social e da necessidade de potenciar os comportamentos inclusivos através da juventude e da atividade física e desportiva. Passou pela confrontação da sua resolução através do contributo da juventude e da atividade física e desportiva, atuando diretamente no setor juvenil. Através da capacitação dos animadores de juventude na intervenção para a inclusão social junto dos mais jovens, foi possível agir preventivamente sobre uma “doença” que depois de instalada pode tornar-se incurável. O projeto abriu a oportunidade para animadores de juventude


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PARTICIPARAM 42 ANIMADORES DE JUVENTUDE PROVENIENTES DE 9 PAÍSES que demonstrassem interesse e vontade em participar ativamente nas atividades e que tivessem pouca vivência multicultural, com idade igual ou superior a 18 anos. Participaram 42 animadores de juventude provenientes de 9 países (Bulgária, Estónia, Itália, Lituânia, Macedónia, Polónia, Portugal, Eslováquia e Espanha), sendo que 30 desses participantes eram detentores de menos oportunidades e foi respeitada a igualdade de géneros. A atividade principal do projeto, o Training C o u rs e , a s s e n t o u n a m e t o d o l o g i a d a educação não-formal e foi promovida a reflexão sobre a problemática do projeto, a análise do estado da sua situação atual, a partilha de experiências e vivências, a discussão sobre o potencial de aprendizagem, resultados e impactos e o debate multicultural europeu. Resultou daqui uma construção partilhada do conceito de intervenção social e juvenil para a inclusão social através do desporto. Dinâmicas de grupo, jogos de construção, quebra-gelos, cooperação e divisão de tarefas, discussão e debate, partilha de elementos culturais e boas práticas na juventude e desporto, resolução de desafios, interação com a comunidade e reflexão sobre as aprendizagens. A atividade realizou-se em Guimarães e decorreu durante os dias 5 e 9 de setembro de 2016. O apoio de algumas estruturas da cidade de Guimarães, entre elas a escola secundária Martins Sarmento e o posto de turismo de Guimarães, foram fundamentais para o sucesso deste training course. De igual forma, o projeto encontra-se disponível para consulta em http://projetosapogesd.wixsite.com/erasmus plus. Recentemente, fruto das constantes relações criadas ao longo dos projetos e do know-how adquirido pelos técnicos da APOGESD, foi aprovado em Espanha um projeto de disseminação de boas práticas co-construido pela APOGESD e pela AGAXEDE. A saudável relação entre estas duas associações permitiu

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PROMOVER A CAPACITAÇÃO DOS JOVENS NA PRÁTICA EMPREENDEDORA

desenvolver o projeto “E4SPORT2.0” que se centra na problemática do empreendedorismo desportivo jovem e pretende ser a disseminação e partilha de boas práticas r e s u l t a n t e s d o p r o j e t o “Entrepeneurship4Sport”. Com este projeto, objetivamos promover a capacitação dos jovens na prática empreendedora, promover a capacitação para o diálogo intercultural, a cidadania ativa e a inclusão social, promover o desenvolvimento de competências culturais e sociais nos jovens que lhes permitam participar no futuro em contextos educacionais e profissionais multiculturais, promover a adequação da aprendizagem dos jovens com as reais necessidades do mercado de trabalho, promover a criação de novos negócios/projetos com impacto na empregabilidade jovem, promover a capacitação dos youth workers enquanto atores de intervenção e de mudança na consecução dos objetivos da Europa 2020, promover a discussão e partilha de ideias, experiências e vivências entre youth workers de diferentes países (Espanha e Portugal), promover o desenvolvimento de uma cultura de eficácia, qualidade e responsabilidade na área do desporto, promover a equidade e inclusão social através da participação de jovens com menos oportunidades e promover a educação não-formal enquanto metodologia

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de educação/formação de jovens e o Youthpass enquanto reconhecimento e validação de competências. É um projeto inovador na medida em que recorremos a conhecimentos de base relativamente maduros, testados e implementados noutros sectores como a economia, a engenharia e o sector biomédico e os adaptamos ao setor do desporto, que tem sido avesso a estas lógicas. Paralelamente introduzimos uma forte componente de educação não-formal, o que lhe confere uma vertente bastante diferente das habituais sessões formativas formais, a que nos habituamos e formatámos. O projeto teve inicio a 1 de setembro de 2016 e terminará oficialmente a 30 de setembro de 2017. O “E4SPORT2.0” pode ser acompanhado em http://projetosapogesd.wixsite.com/erasmus plus. A APOGESD tem vindo a incrementar a sua dimensão europeia, estabelecendo contactos com entidades no setor do desporto e da juventude através de candidaturas e implementação de projetos financiados pelo programa Erasmus+. Novos projetos estão a ser desenvolvidos no âmbito do programa Erasmus+, com o intuito de continuidade do bom trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela associação.


SETÚBAL

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CIDADE EUROPEIA

DO DESPORTO 2016

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É INDISCUTÍVEL QUE O DESPORTO TEM CADA VEZ MAIS RELEVÂNCIA NA SOCIEDADE

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Associação de Cidades e Capitais Europeias do Desporto, atribuiu a Setúbal, em 19 de Novembro de 2015, numa Cerimónia Oficial no Parlamento Europeu, em Bruxelas, o estatuto de Cidade Europeia do Desporto, realidade recente em Portugal atribuído pela 4.ª vez a uma cidade Portuguesa, após o reconhecimento de Guimarães (2013), Maia (2014) e Loulé (2015). Pela primeira vez na sua recente história, o estatuto foi atribuído num ano em que se realiza em simultâneo os Jogos Olímpicos e os Jogos Paralímpicos, oportunidade única, que só se repetirá em 2020 e que a organização de Setúbal Cidade Europeia do Desporto 2016, claramente aproveitou e potenciou no âmbito das relações protocolares e no âmbito do seu desenvolvimento programático.

PEDRO FERNANDES PINA Câmara Municipal de Setúbal Vereador do pelouro da Cultura, Educação, Desporto, Juventude e Inclusão Social

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Resultado dos tempos de crise nem todo o movimento associativo vive os seus melhores tempos, mas mesmo assim uma larga maioria aceitou o repto do Município aproveitando esta grande oportunidade para ganhar dimensão, protagonismo e reconhecimento para as suas organizações. Se o movimento associativo aderiu de forma generalizada aos desafios do projeto Cidade Europeia do Desporto, cerca de 45 dos seus membros evidenciaram um protagonismo único no desenvolvimento do projeto, renovando e melhorando infraestruturas e instalações, lançando eventos e ações nas 4 áreas programáticas, reforçando programas desportivos para os mais jovens, promovendo a inclusão e a generalização da prática, melhorando a sua organização e a sua oferta desportiva, iniciando parcerias com organizações desportivas locais, nacionais e internacionais, etc.

A forma como as cidades Portuguesas aproveitarem este projeto para promoverem a sua cultura, as suas tradições, o seu desporto, o reconhecimento nacional e internacional e o aumento da qualidade de vida através do desporto e da saúde têm sido exemplares. Setúbal não foi exceção.

Para o Concelho de Setúbal e para todos os agentes sociais e desportivos, nada será como antes de 2016 e da organização deste grande ano europeu do desporto, que despertou em todos uma maior consciência para novas realidades e oportunidades.

O ano de 2016 tem sido um ano de sucesso face aos objetivos delineados por ocasião da apresentação da candidatura europeia. A adesão das diversas organizações locais, regionais e nacionais e a adesão dos cidadãos ultrapassou as melhores expetativas.

Objetivos gerais Enaltecendo os valores fundamentais protagonizados pela ACES Europe, Setúbal, como Cidade Europeia do Desporto 2016, apresentou-se determinada a prosseguir o desenvolvimento de projetos de cariz


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FOMENTAR O DESPORTO COMO FATOR DE INCLUSÃO SOCIAL

desportivo com elevado valor, adequando-os à realidade e às necessidades da população, na tentativa de promover a organização de um quadro de atividades físicas e desportivas nas vertentes de lazer, formação e competição. Foram definidos como objetivos gerais: . Fomentar o Desporto para todos .Estimular a produção do conhecimento, a qualificação e a formação profissional em desporto . Promover hábitos de vida saudável . Incentivar a prática de novas modalidades

. Fomentar o desporto como fator de inclusão social, promovendo os valores da ética desportiva . Reforçar o nível de atratividade regional, desenvolvendo a economia . Rentabilizar os espaços desportivos e culturais do concelho

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JANEIRO

FEVEREIRO

MARÇO

Segmentação programática No contexto criado pela Missão e os Objetivos do projeto, foram definidas quatro áreas programáticas de intervenção.

Quadro 1. Identificação das Áreas Programáticas

EVENTOS DESPORTIVOS # Transpira O Desporto na dimensão do alto-rendimento, da competição e do espetáculo DESPORTO PARA TODOS # Inclui O desporto assente em valores sociais, educativos e culturais, visto como um importante fator de inserção, de tolerância, de aceitação das diferenças e de respeito pelas regras. CONHECIMENTO E QUALIFICAÇÃO # Ensina Ensinar, conhecer e qualificar para melhor desenvolver o Desporto DESPORTO E CULTURA # Inspira Com o Desporto inspirar a criação e a manifestação cultural e artística

O quadro 2 expressa bem a dimensão dos projetos realizados e a sua duração pontual e regular, no âmbito das quatro áreas programáticas.

EVENTOS / AÇÕES POR ÁREAS PROGRAMÁTICAS Total de eventos / ações

Eventos Desportivos

Desporto para Todos

Qualificação e Conhecimento

Desporto e Cultura

270

127

82

35

26

Pontuais

127

71

27

24

Regulares

0

11

8

2

Quadro 2. Total de eventos/ações por área programática - previsão

Quadro 3. Iindicadores de Controlo Geral


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Comunicação e Marketing A comunicação e a promoção do projeto foi considerado um aspeto fundamental, para se conseguir atingir os objetivos definidos. Estabelecidos dois meios privilegiados de comunicação, um através da criação da página eletrónica da Cidade Europeia do Desporto e o outro, através de uma conta na rede social facebook. ( h t t p : // w w w . s e t u b a l 2 0 1 6 . p t / ; https://www.facebook.com/setubal2016/) A produção mensal de agenda programática, a elaboração de agenda digital semanal, a criação de imagem comum para todas as iniciativas CED, a produção do jornal semestral com resumo de todas as iniciativas são alguns exemplos das diversas intervenções na área da comunicação.

Participação desportiva Como pode ser observado no quadro 3, até ao final do 3º trimestre do projeto, participaram aproximadamente 55.000 pessoas na prática desportiva direta, e o número de pessoas que nos locais assistiram a esses mesmos eventos foi de 140.000. Outros dados relevantes e relativos à organização das ações e respetiva participação podem ser observados. Após identificarmos o número de eventos realizados, importa perceber de que forma estão distribuídos pelas respetivas áreas programáticas. Deste modo, do número total de eventos realizados (168), podemos constatar que a área programática dos “Eventos Desportivos” foi a que registou maior número de ações realizadas, totalizando 79. Segue-se a área programática do “Desporto Para Todos” com 56 eventos. Muito idêntico foi o número de eventos realizados nas áreas do “Conhecimento e Qualificação” e “Desporto e Cultura” com 17 e 16 eventos realizados respetivamente.

139

140 120

101

100 80

82 66

95 79

62

60

66

40 20

Identificação das Instituições Por Setores Desportivos O Setor Associativo com 32%, o Federativo com 27% e o Privado com 25% tiveram uma intervenção significativa na implementação dos eventos. Enquanto os setores associativos e federativos registam valores esperados, queremos salientar a participação que o setor privado teve, o que revela uma aposta no mercado privado criando oportunidades de crescimento económico neste setor. Com valores muito semelhantes, temos o setor Autárquico com 7%, o setor Escolar com 4% e Outros com 5%.

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0 Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Quadro 4.Notícias na comunicação social escrita

É INDISCUTÍVEL QUE O DESPORTO TEM CADA VEZ MAIS RELEVÂNCIA NA SOCIEDADE

’’

O quadro 4 expressa o número de aproximadamente 600 peças saídas na comunicação social escrita, local e nacional, sobre Setúbal Cidade Europeia do Desporto 2016. O elevado número de 139 notícias em Março tem sobretudo fundamento na saída de 60 notícias relativas ao Fórum de Futebol e Futsal. A Volta a Portugal em Bicicleta, realizada em Agosto, com 40 noticias saídas ocupa o segundo lugar, seguido de 38 noticias relativas à Qualificação Olímpica de Águas Abertas realizada em Junho. As noticias e a passagem direta de eventos da CED 2016 na televisão foi uma realidade, com mais de 45 horas em diretos televisivos na RTP1, RTP2, Sport TV, Bola TV e CMTV.


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LOULÉ LIDERA

PROJETO EUROPEU

’’VITAL CITIES’’ E

ntre os dias 18 e 21 de julho, foi dado, na cidade inglesa de Birmingham, o pontapé-de-saída da segunda fase do projeto europeu “Vital Cities”, do qual o Município de Loulé é parceiro líder. Dez municípios da Europa reuniram-se para marcar o arranque deste projeto, com uma série de atividades, entre as quais workshops, apresentações por parte dos gestores do projeto, visitas ao terreno e partilha de experiências entre os envolvidos. Para além de Loulé, representantes de Burgas (Bulgária), Cracóvia (Polónia), Budapeste (Hungria), Birmingham (Inglaterra), Vestfold County (Noruega), Rieti (Itália), Usti Nad Labem (República Checa), Liepaja (Letónia) e Sibenik (Croácia) marcaram presença no arranque desta segunda fase (implementação) de um projeto que irá estender-se durante dois anos.

HUGO NUNES Vice-Presidente da Câmara Municipal de Loulé

Financiado pelo URBACT, um programa europeu de aprendizagem e troca de experiências na promoção do

desenvolvimento urbano sustentável, “Vital Cities” é um projeto que procura combater a exclusão social através da requalificação dos espaços em áreas residenciais, utilizando o poder e a linguagem comum do desporto por meio de ações urbanas inovadoras, equipamentos físicos diversos e prestação de serviços melhor organizados e pensados para responder às necessidades da comunidade. Um estilo de vida ativo contribui positivamente para a coesão social, bem-estar geral e prosperidade económica das cidades e da sua comunidade. No entanto, nos dias que correm, as cidades vivem perante um grande desafio com graves consequências ao nível económico, social e de saúde pública: dramático aumento da frequência de doenças como resultado do estilo de vida sedentário e da exclusão social. Para enfrentar estes desafios, as cidades a nível europeu têm investido milhares de euros nas últimas décadas, na construção e manutenção de grandes instalações


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É VITAL CRIAR OPORTUNIDADES FACILITADORAS PARA A ATIVIDADE FÍSICA

desportivas. Estas estratégias têm sucesso limitado, para além dos elevados encargos financeiros no que concerne à manutenção destas infraestruturas. Tendo em conta este contexto, é necessária uma nova abordagem, no fundo, uma mudança do paradigma vigente: em vez de os cidadãos inativos se deslocarem para as instalações desportivas, o próprio espaço deve ser transformado num local que coincide e permite a atividade física sem barreiras que limitem e inibam as pessoas. É vital criar oportunidades facilitadoras para a atividade física, oportunidades estas perto do local onde as pessoas vivem, ambientes seguros, limpos, ecológicos e sem barreiras, como por exemplo o horário de abertura e encerramento. Os esforços para permitir e incentivar a atividade física exigem a participação e a cooperação de diversas partes interessadas. Nesse sentido, a grande expetativa é tornar o

desporto acessível a toda a população, através da realização de eventos desportivos e culturais, da promoção de espaços informais na cidade, do investimento em novas tecnologias, a fim de facilitar a comunicação com a população, ou do aumento do número de espaços públicos com acesso gratuito à internet. O envolvimento dos moradores de áreas deprimidas em atividades desportivas é, igualmente, um desafio para Loulé, abrindo “as portas” das referidas áreas à comunidade através da criação de espaços públicos e instalações desportivas (espaços abertos, seguros e sem restrições de horários). Durante o mês de Agosto, Loulé, Almancil e Quarteira receberam quase 60 horas de actividade desportiva, dirigidas a toda a população. Diariamente, no âmbito de “Agosto A t i v o ”, d e z e n a s d e p e s s o a s t i v e r a m oportunidade de fazer gratuitamente aulas, em locais diferentes do habitual, de Zumba,

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’’

A GRANDE EXPECTATIVA É TORNAR O DESPORTO ACESSÍVEL A TODA A POPULAÇÃO

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Pilates, Yoga, Tai Chi, Boxe, Piloxing, Marcha/Corrida e Circuito Geriátrico. A Unidade de Cuidados na Comunidade Gentes de Loulé realizou, igualmente, em Loulé, Almancil e Quarteira acções de Prevenção de Quedas e Higiene Laboral. “Agosto Ativo” foi um projecto da Câmara Municipal de Loulé que contou com a colaboração de parceiros locais e, surgiu no âmbito do projecto europeu “Vital Cities – Make You Active”. Ao nível das boas práticas locais, Loulé tem destacado dois projectos a nível europeu – “Individualidades na escola” e os Centros de Marcha Corrida. “Individualidades na Escola” é um projeto de cariz teórico-prático que tem tido um enorme impacto nas escolas, com destaques na imprensa nacional e internacional. Um projecto pensado numa perspectiva de âmbito


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30I31 desenvolvido por ano escolar, trabalhando-se de acordo com o mesmo. Para além das actividades semanais habituais do calendário regional, que contam com o apoio das cidades locais, pretende-se aumentar a realização do desporto para todos os cidadãos nos seus locais de residência.

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ESTE PROGRAMA DESTINA-SE A TODA A POPULAÇÃO

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Os Centros Municipais de Marcha Corrida Loulé e Quarteira oferecem aos seus utentes um quadro técnico, composto por técnicos com formação específica que garantem uma intervenção qualificada.

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UMA FORTE PREOCUPAÇÃO EM PROMOVER HÁBITOS DE VIDA SAUDÁVEIS

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alargado, que não se esgote num calendário de acções mas possibilite a consolidação de laços duradouros que permitam potenciar sinergias, promovendo a criação de valor junto da comunidade escolar do concelho numa ótica de valorização social do desporto. Iniciativa que tem servido de exemplo a outros países que replicaram o mesmo nas suas escolas. O objectivo principal de “Individualidades na Escola” é levar às escolas do concelho de Loulé personalidades de referência ao nível desportivo, dando oportunidade de toda a comunidade escolar d e i n t e ra g i r c o m p re s t i g i a d o s a t l e t a s desportivos nacionais e internacionais. São também objectivos do projecto, a promoção do desporto, da cidadania desportiva, dos hábitos saudáveis e, realçar a importância da relação escola/desporto no presente e futuro das crianças e adolescentes. Ricardo Pereira (Futebol), Ruben Faria (Enduro), João Neto (Judo), Ana Cabecinha (Marcha atlética), Ricardo Santos (Golf), Dario Andrade

(Andebol), Carlos Andrade (Basquetebol), Rui Machado (Ténis), Marco Fortes (Lançamento do Peso), João Cordeiro (Pesca Desportiva), Tomaz Morais (Rugby), Vanessa Fernandes (triatlo/atletismo), Dulce Félix (atletismo) e Ricardo Ribas (atletismo) foram algumas das “estrelas” que aceitaram o repto lançado pela autarquia de Loulé e deslocaram-se às escolas do concelho de Loulé deixando a sua mensagem, o seu exemplo e interagindo com os mais novos. Os Centros Municipais de Marcha Corrida Loulé e Quarteira são locais credenciados para a actividade prática, estão a ser implementados em todo o país, com forte adesão na região do Algarve. Resultado do Programa Nacional de Marcha e Corrida, lançado em 2009 através de uma parceria entre o Instituto do Desporto de Portugal, IP, a Federação Portuguesa de Atletismo e a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. O projeto teve início em 2011, é

Promover a prática de caminhar e correr, com uma forte preocupação em promover hábitos de vida saudáveis, com um quadro técnico adequado. Este programa destina-se a toda a população, desde aqueles que têm boa condição física até aqueles que nunca fizeram qualquer tipo de actividade desportiva. A


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grande diferença centra-se nos objectivos. Os principais objectivos destes centros são: - Promover e incentivar a prática regular de caminhada e corrida; - Combater o estilo de vida sedentário; - Promoção de estilos de vida saudáveis; - Prescrição de exercício; -Praticar uma atividade acessível a todos (obesos, coração, hipertensão, asma, etc) e para todas as idades. São desenvolvidas sessões gratuitas e com acompanhamento técnico, que se realizam nas seguintes dias e nos seguintes locais: CMMC de Loulé Às segundas e quartas-feiras, das 18h30 às 20h30 Ponto de encontro: Piscinas Municipais de Loulé CMMC de Quarteira / Vilamoura Às segundas e sextas-feiras, das 9h00 às 11h00 (Terça-feira - Ginásio) Ponto de encontro: Piscinas Municipais de Quarteira Recorde-se que este projeto começou a desenvolver-se em novembro de 2015, aquando de uma reunião, em Loulé, com o núcleo inicial de parceiros das “Vital Cities”, e encontra-se agora numa fase determinante da sua implementação.

Experiência da Cidade Europeia do Desporto 2015 Hugo Nunes, vice-presidente da Câmara Municipal de Loulé e coordenador do projeto, considera que esta é “uma oportunidade para perceber e acompanhar o que é feito a nível europeu, aprender e partilhar informação, conhecimento, experiências e boas práticas ao nível desportivo.” De acordo com este responsável, “o desporto tem estado desde sempre no topo da agenda política de Loulé, sendo um dos mais poderosos meios de democratização e inclusão social”. Nesse sentido, para Hugo Nunes, o título de “Loulé Cidade Europeu do Desporto 2015” constitui uma mais-valia para que Loulé tomasse a dianteira deste projeto. “O conhecimento adquirido durante essa organização poderá ser uma das várias experiências partilhadas com os restantes parceiros”, sublinhou o vice-presidente do único município ibérico a integrar as “Vital Cities” e que assumiu um “Compromisso com o Desporto”.

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AVALIAR RIO 2016

PREPARAR TÓQUIO 2020 O

s fatores críticos de sucesso no alto rendimento desportivo, e em particular nas políticas e estratégias de preparação olímpica, configuram o núcleo essencial no diagnóstico da competitividade desportiva de um país. Identificá-los, avaliar a sua preponderância e potencial de desenvolvimento; aprofundar a sua interdependência, ou como se configuram na especificidade de cada modalidade e se articulam a montante com outras políticas públicas e associativas, constituem critérios determinantes para gizar, com rigor e eficiência, orientações programáticas e medidas corretivas para uma terapêutica eficaz. Os condicionalismos estruturais no d e s e n v o lv i m e n t o d e s p o r t i v o d o p a í s comprometem um rigoroso escrutínio social dos resultados dos programas de preparação olímpica pelos órgãos de comunicação social, mais ou menos especializados, mas também pela comunidade científica e pelas organizações desportivas. Estamos, por isso, mediaticamente sujeitos e condicionados à ditadura das medalhas. Avalia-se a participação olímpica quase exclusivamente pelo que é mediaticamente relevante: as posições de pódio. Podemos concordar ou discordar. Mas não temos como evitar. Este exercício é comum à generalidade dos países. E o tema, como é próprio dos assuntos de elevado grau de mediatização, suscita a escrita e o debate de imensas pessoas. Umas preparadas, outras menos preparadas e outras claramente impreparadas. Portugal não escapa a este afã e todos quantos

estão ligados ao desporto são sensíveis aos resultados que os atletas nacionais alcançam. E aos debates e polémicas suscitadas a esse propósito. É natural que sobre o ocorrido surjam várias leituras. Uma dessas leituras remete até para um simplismo explicativo: qualquer êxito alcançado seria mérito dos atletas e qualquer insucesso culpa da política desportiva, do Governo, dos dirigentes desportivos ou de qualquer outra causa que prejudica o trabalho de participação e representação desportiva dos atletas. O desporto de alto rendimento (e por arrasto uma preparação olímpica) são atividades de custos muitos elevados. Operando num contexto internacional a competitividade atingida pelo alto rendimento é muito determinada pelas economias dos respetivos países e o que elas libertam (de forma publica e privada) para a respetiva preparação desportiva. É verdade que não existe determinismo entre o valor da competitividade desportiva das nações e a sua riqueza ou poderio económico, mas é um fator condicionante. A consulta a qualquer relatório sobre as despesas dos Estados (publicas e/ou privadas) comprova-o. E permite verificar que há países que gastam com uma modalidade o que outros gastam com toda a preparação olímpica. O que Portugal gasta é, comparativamente a uns países pouco, a outros muito. Mas é o que a economia e a riqueza do país e as opções políticas possibilitam. Pelo que o centro da reflexão se deverá centrar mais em saber se pode ou não o desporto português progredir e alcançar um outro plano de excelêncianacional e internacional- compatível com os

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O QUE O SISTEMA DESPORTIVO PRECISA É DE SER DISCUTIDO PUBLICAMENTE

recursos que o país pode dispensar. Dito de outro modo: saber se as limitações existentes esgotaram o potencial de crescimento desportivo do país ou, pelo contrário, ainda é possível, com o mesmo nível de recursos, fazer melhor. Sem rigor e profundidade no diagnóstico reduz-se a eficácia da terapêutica, mais exposta ao experimentalismo da tentativaerro ou ao inevitável tropismo de repetir opções de sucesso num passado distante do contexto atual, limitando assim o potencial de criação de valor desportivo olímpico por unidade de investimento. Ora, quando esse investimento provém maioritariamente de recursos públicos a prestação de contas atende mais à conformidade com o cumprimento da norma e a justificação da despesa do que à explanação das opções tomadas para rentabilizar os recursos, naturalmente escassos, numa ótica de ganhos de eficiência e criação de valor desportivo. Quer isto dizer que estamos perante uma fatalidade irresolúvel? Não necessariamente. Mas às organizações desportivas, a começar pelo Comité Olímpico de Portugal (COP), cabe um papel irrenunciável para alterar este panorama. Cabe-nos transformar a prestação de contas mais do que numa formalidade contabilística, num contributo imprescindível para diagnosticar os aspetos críticos e as variáveis determinantes no desempenho desportivo das missões olímpicas. E para que perante a comunidade que servimos, e que nos vai avaliando, sejamos

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credores de confiança. Só o seremos se formos exemplares nas avaliações que fazemos. Subsistir, ciclo após ciclo olímpico, em invocar variáveis estruturais e sistémicas como p r i n c i p a i s f a t o r e s ex p l i c a t i v o s d e t a l desempenho é o melhor contributo que podemos dar para perpetuar debilidades que tantas vezes criticamos, mantendo-as submersas e ausentes do espaço de discussão e reflexão. O que o sistema desportivo precisa é de ser discutido publicamente de uma maneira que se não resuma ao mero ruído de circunstância em que a maledicência se transforma em regra. Que nada acrescenta a uma situação que está para além das pessoas e dos lugares que ocupam. O que o sistema desportivo precisa é de um discurso que tenha alguma ambição teórica e analítica e que não recorra às questões sistémicas para explicar debilidades de âmbito técnico-desportivo. Por maiores que sejam as limitações a um diagnóstico profundo, baseado em informações e indicadores de análise sistematizados basta um pouco de bom senso para, no mínimo, duvidar que as variáveis sistémicas sejam preponderantes para explicar porque um atleta que ao longo de um c i c l o o l í m p i c o d e q u a t ro a n o s o b t eve regularmente classificações, marcas e resultados num determinado nível fique aquém dessas referências quando compete nos Jogos Olímpicos. Estamos de acordo que os indicadores de participação desportiva da população; do desporto escolar; do consumo de bens e

serviços desportivos; de literacia desportiva; do financiamento ao desporto; do parque desportivo nacional; dos recursos qualificados para o alto rendimento desportivo; da oferta logística qualificada para o alto rendimento são fatores estruturantes que debilitam o desenvolvimento desportivo do país e limitam a nossa capacidade competitiva.

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A TAXA DE INSUCESSO ENTRE ATLETAS APOIADOS E ATLETAS APURADOS MELHOROU

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Olhemos para os resultados nos Jogos do Rio d e J a n e i r o . Te r ã o a q u e l a s v a r i á v e i s sistémicas, a que frequentemente lançamos mão nestes momentos de rescaldo, a maior intensidade de relação com o desempenho de atletas nos Jogos abaixo daquele com que se qualificaram - e que confirmaram ao longo de quatro anos? Haverá sequer uma linearidade nessa relação? Serão estas variáveis aquelas que apresentam mais forte correlação para a tendência de um número significativo de atletas obterem resultados no Rio de Janeiro aquém daqueles com que se qualificaram? Ou de atletas não conseguirem resultados de acordo com o seu nível de integração no Plano de Preparação Olímpica (PPO)? Vivemos anos de forte constrangimento financeiro às nossas federações desportivas designadamente no domínio dos Projetos de Alto Rendimento. Mas é solução procurarmos no PPO a resposta para os problemas dos Projetos do Alto Rendimento das Federações e para os Atletas que não garantem a qualificação para os Jogos Olímpicos? A taxa de insucesso entre atletas apoiados e atletas apurados melhorou, mas mantém ainda níveis de insucesso preocupantes. Se queremos implementar medidas corretivas e fatores geradores de eficiência no PPO não podemos omitir esta discussão, que é a mais relevante e determinante que agora podemos fazer.


Se acreditamos nos méritos da gestão do PPO pelo COP em coordenação com as federações como a melhor via para esse fim, o qual se projeta muito para além da agilização de compromissos financeiros tendo em vista melhorar a competitividade das nossas missões, não podemos abdicar de uma visão critica sobre as nossas organizações, bem como sobre o papel do COP e das federações desportivas, pois aí reside o maior valor heurístico para resolver esta equação. Reforçando sinergias e ganhos de escala com o COP, cada Federação olímpica tem de investir fortemente na coesão entre direções, responsáveis técnicos, treinadores, equipas multidisciplinares e atletas, com base num programa comum, tendo os Jogos como horizonte. Importa, pois, analisar, na realidade de cada modalidade e na sua articulação com o PPO, bem como na coordenação do COP, que tipo de recursos potenciam esse investimento e como se articulam para alcançar tais ganhos, pois os recursos financeiros, por si só, estão longe de alavancarem estratégias de mudança sem a eficaz complementaridade de recursos técnicos, materiais, científicos, organizacionais, jurídicos, políticos e estratégicos. Cumpre-nos, em primeira instância, e perante a complexidade do desempenho desportivo de alto rendimento, contribuir para clarificar a diversidade de fatores críticos que concorrem para explicar o seu sucesso, rompendo com um escrutínio mediático superficial que circunscreve os resultados dos atletas no Rio a uma mera análise unipolar de custo-benefício, ou fundada apenas em variáveis sistémicas. Não duvidamos que todos os atletas tenham dado o seu melhor no Rio. Mas o seu melhor naquele momento foi inferior ao seu melhor em outros atos competitivos. Porque o contexto competitivo foi determinante?

Porque alguns dos atletas não estavam no seu melhor momento de forma? Porque abordagem ao ato competitivo não foi a melhor? Os fatores conjunturais prevalecem sobre os fatores estruturais? Os elementos sincrónicos impõem-se aos elementos diacrónicos? Se não soubermos responder a estas interrogações dificilmente poderemos alterar esta situação em futuras edições dos Jogos. Precisamos de nos focar no desempenho específico nos Jogos face ao referencial de apuramento e integração de cada atleta. Precisamos de avaliar numa escala temporal alargada as limitações em apurar mais atletas, em mais modalidades e com maior potencial de alcançar resultados de topo. P e r a n t e a s p re c a r i e d a d e s s i s t é m i c a s conseguimos potenciar os recursos investidos? Quais os fatores conjunturais a melhorar? Em cada federação? Na coordenação com o COP? Na relação com o Estado? Como suprir condicionalismos hierárquicos e rentabilizar parcerias colaborativas em rede gerando maior eficiência no compromisso com objetivos, m e t a s e i n d i c a d o re s d e d e s e m p e n h o desportivo numa estratégia com horizonte temporal de três ciclos olímpicos? Se não soubermos responder a estas interrogações dificilmente poderemos alterar esta situação em futuras edições dos Jogos. Dispensarmo-nos deste exercício, na nossa esfera direta de intervenção, torna-nos complacentes com determinações externas desadequadas que amiúde denunciamos, mas cuja omissão é cúmplice, retirando-nos credibilidade para reclamarmos mudança, mormente em políticas e estratégicas vitais para a competitividade desportiva do país.

JOSÉ MANUEL CONSTANTINO Presidente do Comité Olímpico de Portugal


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BALANÇO DA PARTICIPAÇÃO

PORTUGUESA NOS

JOGOS PARALÍMPICOS

RIO 2016

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PORTUGAL CONQUISTOU QUATRO MEDALHAS DE BRONZE NOS JOGOS PARALÍMPICOS

A

missão portuguesa à XVª edição dos Jogos Paralímpicos foi composta por trinta e sete atletas, destes, vinte e nove foram selecionados através da quota atribuída a cada país pelos resultados alcançados ao longo do período de qualificação paralímpica. Os restantes oito atletas (1 natação e 7 atletismo) foram selecionados após o processo de exclusão de participação aplicado à Rússia. Estes trinta e sete atletas participaram em sete modalidades, significando assim a participação paralímpica mais abrangente em termos de modalidades a par das edições de Sidney e Pequim. Destas sete modalidades Atletismo, Boccia, Ciclismo, Equitação, Judo, Natação e Tiro, duas fizeram a sua estreia com atletas portugueses em jogos paralímpicos, designadamente o Judo e o Tiro.

A Missão portuguesa contou com dezassete estreias em Jogos Paralímpicos, ou seja, quarenta e seis por cento dos atletas lusos participaram pela primeira vez neste tipo de evento desportivo.

HUMBERTO SANTOS Presidente do Comité Paralímpico de Portugal

Relativamente à dimensão de género, a Missão de Portugal contou com vinte e cinco atletas do género masculino e doze do género feminino. Em termos percentuais, Portugal apresentou-se com sessenta e oito por cento

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de atletas masculinos e trinta e dois por cento de atletas femininos. Esta, a par da de Pequim 2008, foi a edição com mais atletas do género feminino (12). Em matéria de idades, a comitiva portuguesa caracterizou-se por uma grande amplitude. O atleta mais novo tinha apenas quinze anos (atletismo), o mais velho apresentou-se com cinquenta e dois anos (boccia). O envelhecimento dos atletas paralímpicos continua a ser uma grande preocupação para o Comité Paralímpico de Portugal. A idade média dos atletas que incorporaram as Missões continua a elevar-se, tendo o Rio 2016 aumentado a média em 2 anos, concretamente para os 34,7, quando em Londres 2012 tinha sido de 32,7 anos. Um dado não menos relevante será perceberse de que forma estava estruturado o Programa de Preparação Paralímpico (PPP), aquilatando-se quanto ao seu grau de admissibilidade de atletas e modalidades ao longo dos quatro anos considerando por oposição a composição final da Missão. O PPP Rio 2016 integrou no total sessenta e cinco atletas e destes, 37 conseguiram o apuramento para participar nos Jogos Paralímpicos. As modalidades que integraram o programa ao longo do ciclo foram oito, das quais apenas a Canoagem não conseguiu a qualificação para os Jogos.


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RESULTADOS DESPORTIVOS MUITO INTERESSANTES

Em termos de resultados desportivos, poderemos afirmar que foram de facto muito interessantes. Portugal conquistou quatro medalhas de bronze nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, designadamente: - No atletismo Luís Gonçalves, nos 400m T12 (classe visual), alcançou o 3º lugar entre quinze adversários; - Manuel Mendes, na maratona T46 (classe motora), terminou a prova também em 3º conseguindo o lugar no pódio entre um total de onze adversários; - No Boccia, José Macedo na classe BC3 individual, chegou ao 3º lugar numa competição que integrou vinte e quatro adversários; - A Equipa BC1/BC2 (boccia) obteve a 4ª medalha de bronze na competição coletiva que totalizava doze equipas. Para além das quatro medalhas alcançadas, Portugal conquistou ainda vinte cinco diplomas, o que se traduz em lugares entre a 4ª e a 8ª posição. Os resultados obtidos permitiram melhorar os índices de eficácia no que diz respeito ao rácio atletas/ medalha, tendo a participação nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016 apresentado uma média de 9,25

atletas por cada medalha conquistada, superando a edição de Londres 2012 que exibiu um rácio de 10 atletas por medalha. Nenhuma edição contou com mais de 7 modalidades, sendo que no Rio se verificou a estreia de duas modalidades, Judo e Tiro. I g u a l m e n t e re l eva n t e s e rá a n a l i s a r a participação portuguesa quanto à taxa de execução dos objetivos estabelecidos no Contrato Programa de Preparação Paralímpica Rio 2016 Os objetivos desportivos estabelecidos para os Jogos do Rio 2016 foram os seguintes: • A) 25% dos atletas integrados no nível I deveriam obter classificação de pódio; • B) 50% dos atletas integrados no nível II deveriam obter diploma paralímpico (classificação até 8º lugar); • C) 75% dos atletas integrados no nível III deveriam obter marcas até 10º lugar. Portugal conseguiu uma taxa de execução superior a 100%, excedendo assim os objetivos contratualizados com a administração pública. A saber,

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A MISSÃO PORTUGUESA CONTOU COM DEZASSETE ESTREIAS EM JOGOS PARALÍMPICOS

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Quanto ao objetivo A: - Relativamente aos lugares de pódio foram alcançados quatro, sendo que um dos medalhados se encontrava no nível I, num total de quatro atletas que estavam integrados neste nível. Deste modo, atingiu-se a taxa de 25% que era o desiderato contratualizado. Quanto ao objetivo B: - Este segundo objetivo foi inequivocamente alcançado, uma vez que dos oito atletas integrados no nível II, 7 alcançaram diploma, sendo um deles medalha de bronze. Deste modo, 87,5% dos atletas em análise obtiveram diploma. Quanto ao objetivo C: - Entre os vinte cinco atletas em causa, foram obtidas vinte e uma classificações até ao 10º l u g a r, re p re s e n t a n d o d e z a s s e i s d e l a s diplomas. Entre estes diplomas, uma medalha de bronze individual e mais 4 atletas medalhados na vertente equipa. Deste modo,


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obteve-se uma taxa de 84% face aos 75% contratualizados. Uma dimensão onde também foram batidos recordes, foi a cobertura pela comunicação social dos Jogos Paralímpicos. Estiveram a acompanhar os Jogos Paralímpicos in loco quatro órgãos de comunicação social. Pela primeira vez a RTP transmitiu em direto competições de atletas portugueses, neste caso em concreto de atletismo, e tal facto permitiu que em Portugal fosse acompanhado em direto a conquista da primeira medalha portuguesa nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Durante o período dos Jogos foram registadas 1.428 notícias. Estes registos superam em cerca de 60% o assinalado em Londres 2012 (891 notícias). Por fim, importará refletir sobre alguns dados q u e s e a s s u m e m c o m o re l e v a n t e s e expressam de forma tangível o que tem vindo a ser assumido pelo Comité Paralímpico de Portugal quando afirma que a cada edição dos Jogos Paralímpicos o grau de competitividade aumenta de forma acentuada, não somente

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DURANTE O PERÍODO DOS JOGOS OLÍMPICOS FORAM REGISTADAS 1.428 NOTÍCIAS

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Comparação entre Jogos Paralímpicos Londres 2012 e Rio 2016, quanto a recordes paralímpicos e do mundo Londres 2012

Rio 2016

341

432

251

220

503

528

20

22

pelo aumento do número de atletas e de países participantes, mas sobretudo porque se tem ve r i fi c a d o u m e l eva d o c re s c i m e n t o e desenvolvimento ao nível das performances desportivas. A edição do Rio conseguiu bater a de Londres no que aos recordes paralímpicos diz respeito, com mais 91 recordes alcançados comparativamente à edição anterior.

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A EDIÇÃO DO RIO CONSEGUIU BATER A DE LONDRES

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Os números dos recordes paralímpicos e do mundo verificados nestas duas edições são vertiginosos e manifestam claramente uma realidade desportiva em pleno desenvolvimento.

O desenvolvimento do processo de contratualização e respetiva regulamentação para o ciclo de Tóquio deve merecer de todas as partes envolvidas uma acuidade muito particular, de forma a potenciar e criar um quadro de sustentabilidade dos resultados obtidos nos Jogos Paralímpicos do Rio. Convirá exaltar o facto que desde os Jogos de Sydney que as participações portuguesas vinham a decrescer em matéria de performance desportiva, o que só agora se conseguiu inverter, o que remete para a absoluta necessidade de serem adotadas medidas que permitam potenciar o trabalho feito no último ciclo. O Comité Paralímpico de Portugal assume-se como uma entidade totalmente disponível para ajudar a dinamizar um processo de construção partilhada onde os diferentes agentes desportivos se sintam devidamente considerados e como parte integrante.


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MUITAS VEZES EXISTE UMA PERCEÇÃO ERRADA DOS PRÓPIOS OBJETIVOS DA F.P.F

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FERNANDO GOMES GESTOR DESPORTIVO DO ANO 2016

lguma vez pensou que o sonho de Portugal se sagrar Campeão Europeu de futebol se concretizasse sob a sua presidência na Federação Portuguesa de Futebol? O que nós sempre acreditámos foi que o trabalho realizado nos colocaria mais perto da conquista de um grande título. Somos vicecampeões europeus de sub-21, semifinalistas do Euro sub-19, campeões europeus em título de sub-17, campeões mundiais e vice-campeões europeus de futebol de praia ou semi-finalistas do Mundial de futsal. Nos últimos cinco anos estivemos presentes em quase todas as grandes competições internacionais e jogámos cinco finais no escalão futebol masculino. Perdemos três e ganhámos duas. Acreditamos que mais do que um sonho a conquista do título europeu pela Seleção Nacional representa o culminar de um trajeto consistente da equipa que lidero. Em dezembro de 2014 definimos os objetivos p a r a o f u t u ro p róx i m o e g a n h a r u m a competição internacional foi um deles. Aliás, tivemos oportunidade de colocar esse objetivo nos nossos compromissos para 2016-2020. Qual a importância para o país desportivo da conquista deste título? A importância da conquista do título foi por demais evidente nos festejos que todos testemunhámos quer no nosso país quer junto

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das comunidades portuguesas no estrangeiro. O futebol e a FPF têm procurado sempre ser uma referência, quer para outras federações quer para o próprio país. Considero, sem falsas modéstias, que os portugueses reveem nos valores que transmitimos de uma forma coerente: espírito de união, competência, transparência e também muito orgulho e amor próprio na defesa do nosso país. Acho que a ambição e a alegria que demonstramos também podem ajudar a desenvolver o país. A Seleção demonstrou que Portugal pode ganhar. Desde que nos preparemos, que estejamos unidos e focados e que nos empenhemos, não somos piores do que os outros. Isto é válido para o futebol, mas também para outras atividades. 3 – Já é possível ter dados objetivos sobre o efetivo retorno, a vários níveis (para o país, para a modalidade e para os sistema desportivo nacional) pela conquista deste título? A vitória acaba por ter um efeito virtuoso para a nossa modalidade e, em última análise, todo o sistema desportivo. Não escondemos que muitas vezes existe uma perceção errada dos próprios objetivos da FPF. Nós somos uma entidade que reinveste no desenvolvimento da sua modalidade todos os lucros da sua atividade. Temos, em função desses objetivos mais gerais, mais praticantes federados, mais


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6 - A seleção portuguesa feminina conseguiu pela primeira vez o acesso à fase final de um Campeonato da Europa. Considera este facto relevante para alterar o paradigma do desporto feminino em Portugal? A qualificação de Portugal para a Fase Final do Campeonato da Europa, além de ser um facto inédito na história da FPF, representa uma verdadeira oportunidade de desenvolvimento do futebol feminino. Estes resultado já premeia a aposta dos clubes, das associações distritais e da FPF nesta vertente. Procurámos, sempre em diálogo, aumentar o investimento, profissionalizar as nossas estruturas, generalizar a prática desportiva, atrair parceiros comerciais e comunicação social na defesa de uma sociedade mais desenvolvida e mais paritária. Estamos no início de um trajeto que considero, no entanto, irreversível. Ter uma seleção feminina numa grande prova internacional era um dos compromissos para 2016/2020 e felizmente foi possível alcançalo já no início deste novo trajeto.

DE NENHUMA FORMA VAMOS ALTERAR OS NOSSOS PRINCÍPIOS DE GESTÃO

mulheres federadas, mais jogadores de futsal e de futebol federado. Temos mais jovens a praticar futebol e temos uma maior proximidade com as outras federações. Em relação aos retornos para o país, os estudos que existem também são demonstrativos daquilo que devolvemos a uma sociedade que nos acarinha e apoia. O IPAM calculou que só a nossa vitória na Final do Euro trouxe um valor acumulado bruto à economia de mais 600 milhões de euros. Por outro lado, e o próprio INE fez essa estimativa entre 2010 e 2012, o desporto, na sua globalidade representa um valor acrescentado bruto de 1.794 milhões, cerca de 1,2% do VAB bruto, e é responsável por 1,4 (62.814) do emprego do País. São n ú m e ro s q u e n o s f a z e m p e n s a r q u e contribuímos para um país mais desenvolvido.

4 – Em que medida a circunstância de Portugal ser campeão europeu vai alterar ou condicionar o seu projeto de gestão para a Federação? De nenhuma forma vamos alterar os nossos princípios de gestão. Acreditamos numa gestão rigorosa, na transparência total, no investimento dirigido ao desenvolvimento e no crescimento sustentado. Esses são princípios que não estão dependentes de conquistas

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exteriores ou de vitórias por muito expressivas que sejam. O facto de termos vencido o Euro não significa que o trabalho acabou. Eu não penso assim e tenho a certeza de que ninguém na FPF olha para o troféu de campeão europeu dessa forma. 5 - A aposta na formação é fundamental para que novos valores possam emergir. Acha que se trabalha bem em Portugal a este nível? Não considera que há muitos estrangeiros a atuar nos principais clubes? O que pode (ou deve) ser alterado? O que nós consideramos é que tem havido um enorme investimento dos clubes nas camadas de formação e que os próprios clubes, como a recente certificação da formação nacional atesta, estão cientes da importância desta aposta para o seu desenvolvimento sustentado. O surgimento das equipas B, os grandes resultados das nossas equipas da formação - Portugal lidera o prémio Maurice Burlaz que premeia as seleções jovens com melhores resultados na Europa - ou a própria qualificação a Seleção Nacional feminina para o Campeonato da Europa são também reflexo de um enorme esforço e contributo dos clubes portugueses. Podemos sempre ver o copo meio vazio ou meio cheio. Nós escolhemos ver a evolução positiva.

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DESENHAMOS UM PLANO ESTRATÉGICO PARA ESTE SETOR E ESTAMOS A CUMPRÍ-LO

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7 - Há alguma iniciativa que a FPF possa tomar para incentivar a que mais clubes apostem na vertente feminina? Desenhámos um plano estratégico para este setor e estamos a cumprí-lo. Esse plano passa por maior divulgação nas redes sociais e media, apoio aos clubes, capacidade para atrair mais jogadoras e novos clubes, parceira com o desporto escolar e incentivo aos centros regionais de treino. Diria que este é um dos p r o j e t o s m a i s e m p o l g a n t e s d a F P F. Estudámos, ouvimos as associações e demais sócios da FPF, os clubes, os treinadores e depois planeámos e estamos a conseguir executar esse plano. Não poderia deixar de elogiar a visão de um parceiro fundamental neste caminho, a Allianz que se juntou a nós para criar a nova Liga de Futebol Feminino.


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FERNANDO GOMES CURRICULUM

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PROCURAMOS, SEMPRE EM DIÁLOGO, AUMENTAR O INVESTIMENTO

8 - As equipas de futsal e de futebol de praia também colocam Portugal no topo mundial. Qual é o segredo para um país tão pequeno ter tanto talento? Somos campeões do Mundo e vice campeões da Europa de futebol de praia. O nosso Selecionador Nacional, Mário Narciso, venceu o troféu de melhor treinador mundial do ano assim como vencemos os troféus de melhor guarda-redes, Elington Andrade, e melhor jogador do Mundo, Madjer. No futsal fomos às meias finais do Campeonato do Mundo e temos no Ricardinho o maior embaixador mundial da modalidade. Acho sinceramente que estes resultados devem muito à paixão que os portugueses têm pelo futebol, pelo esforço individual dos atletas e por uma excelente organização da modalidade em todas as suas vertentes. Essa organização potencia e faz frutificar o talento. Outro fator muito importante no sucesso dos nossos jogadores é qualidade dos treinadores portugueses. A formação de treinadores é uma área a que a FPF dedica particular atenção.

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9 - Qual a importância que atribui à gestão desportiva para os resultados que a FPF tem alcançado nos últimos anos? A gestão desportiva da FPF obedece ela própria aos princípios que procuramos implementar noutras áreas. Coerência, competência, criatividade, ambição e coragem. Acho que os resultados da gestão desportiva da FPF falam por si próprios. 10 - Está no horizonte da FPF a candidatura à organização de algum grande evento de futebol num futuro próximo? Dentro de uma política de investimentos racional e ponderada, estaremos sempre disponíveis para o fazer. Mas também é bom sublinhar que ainda em 2014 organizámos a Liga dos Campeões que é a maior competição mundial de clubes e em 2015 recebemos o Mundial de Futebol de Praia, em Espinho. A FPF não deixará de se candidatar à organização de eventos UEFA e FIFA desde que estes se enquadrem nos objetivos estratégicos definidos.

Fernando Gomes tem uma história de mais de 40 anos de ligação ao desporto e mais de 20 como dirigente de topo. Depois de uma curta experiência no basquetebol, assumiu a vicepresidência do FC Porto, onde desempenhou funções ligadas ao futebol, ao marketing e à gestão financeira. A experiência de dirigente foi reforçada pela sua participação intensiva em organismos internacionais como o Comité de Competições da UEFA e da FIFA, o Comité de Gestão do Fórum Europeu de Clubes e da Associação Europeia de Clubes (ECA), onde ocupou diferentes cargos ao longo dos últimos dez anos. Em Portugal, foi Presidente da Liga de Clubes de Futebol Profissional e Vice-Presidente da FPF, antes de ser eleito Presidente da Federação Portuguesa de Futebol em Dezembro de 2011. Em 2012, foi nomeado Membro do Comité Organizador do Campeonato do Mundo de Sub-20 da FIFA. Em Maio de 2013, Fernando Gomes foi nomeado membro do Comité Executivo da UEFA, na qualidade de “conselheiro especial” do presidente Michel Platini, bem como VicePresidente do Comité das Federações Nacionais. Também integrou, na UEFA, a Comissão de Acompanhamento do Campeonato da Europa de Futebol de 2016 a realizar em França. Em 2015, foi eleito Membro do Comité Executivo da UEFA e nomeado Presidente do Comité das Competições de Clubes da UEFA e Presidente-Adjunto do Comité das Federação Nacionais da UEFA.


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NOVAS FUNÇÕES

DAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS AS CIDADES COM GINÁSIOS AO AR LIVRE

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cidade é por excelência, o lugar onde o homem pode encontrar a sua mais expressiva dimensão. É o lugar de exponenciais fontes de informação, múltiplas formas de comunicação, absoluta mobilidade, diversidade de culturas e formações, oportunidade de ofertas, infinitas possibilidades de relações sociais. Lugar de encontros, culturas, religiões, mas também memórias, ideias, atitudes, aprendizagens. Em síntese, a cidade que é a polis é o lugar, de excelência, da própria democracia.

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A AGRESSIVIDADE URBANA QUE SE TEM VIVIDO NOS ÚLTIMOS TEMPOS DESPOLETOU A DESORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO

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Contudo, estes territórios urbanos de diversidade ilimitada pela complexidade de espaços, edifícios, transportes e movimentos de pessoas a que lhe associam variados e heterogéneos ritmos de vida, nem sempre permitem a participação ativa de todas as pessoas. Como refere Borja (2003), “a população suburbana é o dobro ou o triplo da população urbana, isto é, da que vive em periferias e não em cidades”. Para este facto, ocorrido nos últimos anos, em muito contribuiu a transferência da residência para os subúrbios, em áreas cada vez mais afastadas do centro, devido à descentralização dos postos de trabalho e ao elevado preço do solo aqui praticado. Por vezes, este último motivo tem sido o fator decisivo na opção das famílias em adquirirem a habitação nos subúrbios em detrimento do centro. PAULA CRISTINA RIBEIRO DA SILVA TELES Mobilidade e Planeamento do Território CEO- Engenharia Civil

Por outro lado, também devido à dispersão da residência, dos serviços e dos postos de

trabalho, houve um forte investimento na infra estruturação dos territórios, nomeadamente fruto da construção de novas e melhores vias de comunicação, possibilitando um aumento significativo dos fluxos de pessoas e bens e propiciando uma utilização cada vez mais extensiva do território. Como corolário deste forte investimento nas infra estruturas viárias de grande capacidade, que possibilitem proporcionar tempos aceitáveis de deslocação destas populações nos constantes trajetos diários, tentando reduzir, ao máximo possível, o impacto que a duração das deslocações têm no quotidiano dos cidadãos, foi-se perdendo a noção de outras necessidades das cidades. Este culto da velocidade de acesso em detrimento do tempo de permanência, foi, efetivamente, um dos motores que acelerou a degradação dos espaços públicos e a sua quase exclusiva orientação para o automóvel, menosprezando as outras utilizações, não menos importantes e que a cidade deve proporcionar. A agressividade urbana que se tem vivido nos últimos tempos despoletou a desorganização do espaço público, a falta de imagem e qualidade do espaço urbano, com consequências imediatas no aumento das barreiras urbanísticas e arquitetónicas, que foram expulsando ospeões destes espaços e impedindo o igual acesso de todos os cidadãos. Estes novos paradigmas, resultantes das sociedades contemporâneas em emergência, colocam-nos novos desafios, quer do ponto de vista social, quer do planeamento urbanístico, dos transportes e da comunicação, na construção de uma cidade segura e acessível a Todos, suscetível ser de novo a pólis de todas as atividades recreativas do cidadão. Assim, a cidade, que cresce todos os dias, tem


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O RUNNING, TEM VINDO A GANHAR ADEPTOS A NÍVEL MUNDIAL que ser projetada a diversas velocidades: se por um lado, tem de se adaptar a novos conceitos e estilos de vida, cada vez mais flexíveis e democráticos, através de medidas meramente curativas (como a eliminação de uma simples barreira para permitir um sistema de continuidade), por outro, tem de agilizar os mecanismos de índole preventiva, planeando e projetando a cidade, para que, a nova cidade que se constrói todos os dias, já seja para Todos, e que incida nas diversas necessidades da pessoa.

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Os ambientes sobrelotados dos ginásios, o seu preço mensal, bem como a incapacidade de conciliar os horários pessoais, com os horários do seu funcionamento, têm levado à escolha do espaço público das cidades para a prática de atividades desportivas. As vantagens são diversas, não apenas na vertente económica, onde o exercício é gratuito, mas sobretudo pela possibilidade de contactar com a cidade, as suas paisagens, os seus edifícios, as suas rotinas e pessoas, algo que os ginásios não conseguem assegurar.

A prática de atividades desportivas, nomeadamente o running, tem vindo a ganhar adeptos a nível mundial, sendo cada vez mais frequente a frequência de ginásios e a prática de desportos, que permita ao cidadão abstrairse da rotina e dos problemas associados. Reforçando esta tendência são, cada vez mais, as recomendações médicas para a prática de atividades que contrariem o elevado sedentarismo da população mundial, sendo um meio para evitar doenças, nomeadamente, cardiovasculares decorrente d o s n ovo s e s t i l o s d e v i d a a l t a m e n t e stressantes. Fortalecendo ainda esta ideia, grande parte da população mundial é carece de vitamina D e a cada dia que passa vamos percebendo a sua importância na melhoria da saúde e na prevenção de várias doenças. Tendo em conta que baixos níveis de vitamina D estão associados a: baixa imunidade, aumento do risco de vários tipos de cancro (e a aumentar), aumento do risco de doenças c a rd í a c a s , d i s t ú r b i o s n e u r o l ó g i c o s e psicológicos (incluindo depressão), diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral, perda de tecido ósseo, perda de massa e força muscular; e que a melhor maneira de sintetizar vitamina D é através da exposição solar, treinar ao ar livre posiciona-se como uma opção para aumentar os níveis Vitamina D e melhorar a composição corporal.

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A CIDADE BEM PLANEADA AINDA PODERÁ SER UM GINÁSIO AO AR LIVRE

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Assim, o número de pessoas que recorrem à cidade para a prática do seu desporto, como um ginásio ao ar livre, tem aumentado para índices incomparáveis no passado recente. A imagem da pessoa a correr, a andar de bicicleta ou a praticar uma caminhada é, atualmente, indissociável da imagem geral da cidade, dado o número de praticantes. Face a esta emergência da sociedade, as Cidades têm vindo a implementar soluções para apoiar estas práticas, de forma segura e confortável, integrando percursos dedicados para caminhadas e corridas, ciclovias e equipamento que permita exercitar os músculos. Espaços predominantemente inseridos em ambientes agradáveis, como

parques naturais, jardins municipais, praias, e mais recentemente parques intergeracionais que agregam diversos equipamentos destinados às várias faixas etárias, as cidades têm vindo a promover intervenções que visem o conforto do cidadão. Contudo, a democratização da cidade ainda não é para Todos. Verifica-se, em muitas cidades, a presença de diversas barreiras urbanísticas e arquitetónicas que dificultam os percursos, tornando-as inseguras. A falta de planeamento do território, e a introdução deste tipo de soluções não considerando o ambiente envolvente, expõem as cidades e as pessoas para situações de perigo, refletindo a necessidade urgente das cidades assumirem atitudes mais preventivas e planeadas, acessíveis para pessoas com necessidades de mobilidade especiais – pessoas com deficiência, idosos, crianças, famílias com carrinhos de bebé, entre outros - e sobretudo pensadas para a segurança das pessoas durante as suas atividades desportivas ao ar livre. Em suma assumir este paradigma no planeamento da cidade, integrará diversas vantagens para o território, entregando, de novo, as cidades às pessoas e às suas rotinas, tornando-as mais amigáveis, inclusivas, ecológicas e sustentáveis. Afinal, a cidade bem planeada e desenhada ainda poderá ser um ginásio ao ar livre.


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UM CLIMA SUBTROPICAL, CARACTERIZADO POR TEMPERATURAS AMENAS

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O DESPORTO, A NATUREZA,

O TURISMO ATIVO E OS DESAFIOS DA MADEIRA

ANTÓNIO ALVES Associação de Ciclismo da Madeira

AVELINO SILVA Associação de Natação da Madeira

JORGE SOARES Universidade da madeira

Ilha da Madeira situa-se a 978 km a sudoeste de Lisboa e a cerca de 500 km da costa africana, e preenche uma área de 741 km2. A sua localização, o relevo e orientação permite-lhe gozar de um clima subtropical, caracterizado por temperaturas amenas durante todo o ano e representa um p o t e n c i a l d e d e s e n v o lv i m e n t o m u i t o interessante do ponto de vista do aproveitamento das atividades físicas e desportivas em meio natural. A conquista (1976) e o desenvolvimento da autonomia através do estatuto político-administrativo da Região Autónoma da Madeira (RAM) (ilhas da Madeira, Porto Santo, Selvagens e Desertas), bem como o aproveitamento dos diversos fundos da União Europeia (com maior incidência na década dos anos noventa) foram determinantes para a construção das infraestruturas desportivas e permitiram colocar a Madeira numa das regiões com maior índice de instalação desportiva por habitante da Europa. Exemplos como os campos de futebol, os campos de Golfe, as Pistas de Motocross, o Kartódromo, o Centro Hípico, a Pista de Automodelismo, os campos de Ténis e de Padel, as pistas de atletismo, os pavilhões polidesportivos, as Piscinas de 25m e o Complexo de Piscinas Olímpicas do Funchal, que recentemente recebeu o Campeonato da Europa de Natação Adaptada, revelam infraestruturas desportivas de

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suporte ao desporto federado e de competição. Para além da construção das infraestruturas desportivas públicas, a política d e s p o r t i va d e s e nvo lv i d a n a R A M, fo i alicerçada num conjunto de medidas de carácter financeiro que se materializou nos subsídios à competição nacional, à competição regional, ao apetrechamento e à organização de eventos desportivos nacionais e internacionais, bem como aos programas de apoio à formação e desenvolvimento de ações de qualificação dos agentes (Fernandes, 2015). Contudo, entre 2011 e 2015, houve necessidade de adotar um Plano de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF), destinado a atingir a estabilidade e sustentabilidade das finanças públicas regionais, obrigando assim a vários ajustamentos na estrutura organizacional que tutela o desporto e nas regras de apoio aos clubes e associações desportivas. Atualmente, a política desportiva materializase pelo conjunto de apoios financeiros regulados pelo Plano Regional de Apoio ao Desporto (Resolução n.º 810/2012), nomeadamente: as atividades dos clubes e sociedades anónimas desportivas em competições profissionais e não profissionais, modalidades coletivas e individuais com representação nacional, competição regional, atividades das associações regionais de modalidade e multidesportivas, atividades denominadas de desporto para todos e,


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Quadro 1: valores de apoio ao desporto – época 2015/2016

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POLÍTICA DESPORTIVA ORIENTADA PARA O DESPORTO

finalmente, o apoio aos eventos desportivos. Tendo por referência a época 2015/2016, o Governo Regional atribuiu ao Desporto um total de 11.536.500,00 euros (DRJD, 2016) (quadro 1), cerca de 1% do total do orçamento de 2015 para a RAM. Para além deste tipo de apoio é de registar uma outra forma de incentivo ao movimento desportivo associativo que é a mobilidade dos professores de educação física das escolas públicas para as organizações desportivas, geralmente para apoiar o desporto federado e de competição nacional. Este processo é regulamentado através de um programa próprio e tem uma validade de um ano (DRJD, 2014). Os professores em mobilidade poderão exercer a sua atividade em entidades operantes no sistema desportivo regional, c o m o a s s o c i a ç õ e s , c l u b e s e s c o l a re s , sociedades anónimas desportivas e associações promotoras do desporto para todos. Nos últimos dez anos, por cada época, cerca de uma centena de professores de educação física têm sido destacados das escolas para o movimento desportivo associativo, proporcionando uma mais valia aos recursos humanos destas organizações.

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Numa primeira análise ao quadro 1, permitenos constatar que 45% (5.222.740,01€) do valor atribuído ao desporto na RAM é destinado aos clubes e SADs em competições profissionais e para profissionais, onde estão i n c l u í d a s a s m o d a l i d a d e s d e Fu t e b o l Profissional, o Andebol e o Basquebol. Deste total, verificamos que o Futebol recebe 4.354.343,79 € o que corresponde a 38% do valor atribuído. Numa segunda análise, o desporto de competição regional, onde integram uma maior taxa de participação desportiva e de jovens, beneficia de 17% do total destinado ao desporto.

No que se refere ao setor de desporto para todos onde se enquadram as atividades de manutenção da condição física e da recreação, curiosamente o setor que apresenta um índice elevado de participação desportiva e de atividade física na RAM (88%) (Colaço, 2009), o contributo do erário público é bastante baixo (1,7%). Por outro lado, o setor federado, segundo os dados da demografia federada 2012-2013 (DRJD, 2014), cruzando com os dados da população madeiranse (DRE, 2014) entre os 5 e os 74 anos de idade, a estimativa mais

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PRECISAMOS DE ALARGAR A BASE DE PARTICIPAÇÃO E DE FORMAÇÃO

otimista do setor federado representará cerca de 6% da população madeirense. Sendo os setores da competição desportiva federada de âmbito nacional e de natureza profissional e para profissional, mais seletivos e orientados para os resultados ao mais alto nível competitivo, e por isso envolvendo maiores recursos financeiros e materiais, e uma taxa de participação mais reduzida, até que ponto valerá a pena continuar a apoiar financeiramente o desporto profissional e o de alta competição? Qual o retorno social e desportivo que este investimento concentrado tem proporcionado? E qual será o contributo deste para o desenvolvimento do desporto juvenil e regional? E qual será a relação que existe entre este investimento público e a participação generalizada da população madeirense e porto-santense na prática da

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atividade física e desportiva? Será que ao concentrar e valorizar o desporto de um certo nível de competição, não estaremos a perder a oportunidade de valorizar outras faixas da população madeirense? Porque não criar medidas de incentivos aos clubes desportivos que promovem práticas de atividade física e desportiva mais inclusivas e generalistas, aproveitando-se o potencial de organização dos clubes e associações que apresentam projetos de desenvolvimento desportivo? Existem inúmeros exemplos que refletem uma política desportiva orientada para o desporto de competição nacional discriminando outros setores da prática desportiva. Uma das situações mais evidentes é a discrepância que existe na regulamentação da utilização das instalações desportivas públicas pelo setor federado e pelo setor de lazer. Um praticante que precisa


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de realizar exercício físico regular sem estar federado (algumas vezes por motivos de saúde, outras por gosto e recreação) terá de pagar entre 25 a 45€ por mês para o uso de instalação desportiva (3x por semana) no âmbito de um clube, enquanto os atletas federados não precisam contribuir com qualquer pagamento pelo uso da instalação, para além de os federados receberem subsídios para a competição desportiva. Estas são algumas questões que deveriam merecer uma análise e uma resposta sustentada no processo de avaliação dos resultados das políticas públicas desportivas. Mais do que d i s p o r d e i n fr a e s t r u t u r a s d e s p o r t i va s adequada, mais do que haver programas de apoio ao desporto federado, é necessário saber qual o impacto social positivo que as medidas de apoio ao desporto têm trazido para a população madeirense. Se pretendemos dispor de atletas ao mais alto nível de competição desportiva em determinadas modalidades desportivas que apresentam talentos e potencialidades para o alto rendimento, então precisamos de alargar a base de participação e de formação dos jovens atletas, criando e apoiando o desporto escolar, o desporto juvenil e os talentos desportivos. É na competição escolar de qualidade e na competição regional dos jovens atletas que se deve focar o apoio ao desporto de forma a alimentar uma base sustentada na qualidade da formação do praticante. Geralmente, ao apostarmos em programas mais orientados para a alta competição e seleção dos atletas mais habilitados sem haver uma análise mais coerente e consistente das várias etapas de formação dos atletas, desde a iniciação ao mais alto nível de competição, estamos a

descurar o desenvolvimento desportivo sustentado. E, por outro lado, estamos a perder a oportunidade de alargar o desporto a uma faixa mais alargada da população, especialmente ao nível dos setores do desporto escolar, do autárquico, do desporto para todos e do desporto turístico. Se apostarmos em políticas públicas desportivas vocacionadas para a participação e responsabilização das pessoas na adoção de estilos de vida mais saudáveis e mais comprometidos com o exercício físico e com o desporto regular e sociocultural, certamente teríamos uma população mais ativa, com outra qualidade de vida e autoestima e, muito provavelmente, reduziríamos os encargos ligados ao tratamento de doenças associadas ao sedentarismo. Este é o desafio, é dispormos de mais pessoas a praticar atividade física e desportiva, com muito menos recursos financeiros envolvidos, através de uma estratégia de responsabilização das pessoas e de incentivo aos clubes que apostam em programas de generalização da prática desportiva.

Desporto e Natureza Características ímpares da madeira - Clima ameno e subtropical - Relevo e montanha - Vegetação densa e Laurissilva - Piscinas naturais - Segurança - Acessibilidade e proximidade (mar-serra; norte-sul) - Hospitalidade e cordialidade - Cultura tradicional baseada no Vinho Madeira, no artesanato e nas flores - Miradouros naturais Atividades físicas e desportivas turísticas: - Caminhadas em levadas e veredas - Surf e Bodyboard - Canyoning - Golfe - Parapente - Trail e Montanhismo - BTT e Cicloturismo - Mergulho - Passeios para conhecer a cultura e a tradição local

Figura 1 – Articulação das características ímpares da Madeira com as atividades físicas e desportivas turísticas (Fonte: Soares & Faria, 2014)

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A NATUREZA É ASSIM A PRINCIPAL PARTICULARIDADE DA MARCA MADEIRA

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Não obstante o forte investimento que houve em infraestruturas desportivas públicas, é na natureza que a RAM tem as suas maiores riquezas: mar, levadas, trilhos e veredas, ribeiras, montanhas, picos, vegetação diversa, sol, clima ameno, oferecendo um conjunto de características singulares que lhe oferece um verdadeiro tesouro por explorar junto de certos nichos de turismo ativo e desportivo. A título de exemplo, as montanhas da Madeira são percorridas por mais de 200 levadas – principal produto turístico (cursos/canais de água, que canalizam grandes quantidades de água da costa norte para o sul, a fim de servir a rega na agricultura), com uma extensão de cerca de 2150 km (Soares & Faria, 2014). Estas levadas são passíveis de serem percorridas a


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62I63 pé, através de percursos de vários quilómetros, com um grau de dificuldade e um risco variável no plano horizontal. As levadas combinam a contemplação da paisagem com atividade desportiva e recreação (Almeida, Soares, & Alves, 2013). Os atributos mais valorizados pelos turistas que frequentam as levadas são: paisagens extraordinárias, predominância da água e da irrigação de zonas de difícil acesso ao homem, oferecendo imagens vivas e cristalinas, uma floresta densa com plantas, flores e aves num equilíbrio ecológico, um ar puro e um piso horizontal que oferece condições ótimas para realizar caminhadas. A natureza é assim a principal particularidade da marca Madeira – o que é corroborado pelo estudo realizado pela Secretaria Regional do Turismo da Madeira sobre o gasto turístico (2010). O estudo aponta que 42% dos turistas que visitam a região consideram a natureza como a sua mais valia, referindo-se aos seguintes aspetos: flores e suas cores, beleza da paisagem, diversidade de plantas e de árvores, levadas e veredas, jardins, montanhas, mar e a sua cor cristalina com temperaturas amenas e as piscinas naturais.

Para os turistas mais ousados, com uma maior dose de risco e desafio, as cascatas de água viradas a norte da Madeira, integradas em florestas de difícil acesso, providenciam experiências únicas de aventura e de superação. Por exemplo, o produto turístico canyoning, tem sido cada vez mais explorado por empresas de animação e de turismo de aventura, devido à procura de turistas que procuram experienciar atividades de risco e de superação num contexto hídrico natural único e imprevisível (Soares, Miragaia, & Almeida, 2014). Outro produto, a ganhar cada vez mais espaço, na oferta turística desportiva na RAM, é o mountain bike (MTB). A Região apresentase como um dos destinos mais reconhecidos

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É NO MAR QUE SE ENCONTRAM INÚMERAS E DIVERSIFICADAS OPORTUNIDADES

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INCENTIVAR AS ORGANIZAÇÕES LOCAIS A PRESTAREM SERVIÇOS DE QUALIDADE

no Mundo para a pratica do downhill e do enduro. Recentemente, uma das mais prestigiadas revistas da Modalidade (Enduro Magazine Mountain Bike - http://enduromtb.com/en/) elegeu a RAM como um dos 5 melhores destinos do Mundo para a pratica do enduro. As paisagens deslumbrantes, o clima, os trilhos desenhados nas idílicas montanhas, associam cada vez mais a modalidade à Madeira e vice-versa. Um dos aspectos diferenciadores do destino Madeira para o BT T, i d e n t i fi c a d o p e l o s a m a n t e s d a modalidade é o facto de poderem iniciar uma descida a 1800 metros de altitude e terminarem ao nível do mar. Não obstante todos os predicados mencionados até ao momento, é no mar que se encontram inúmeras e diversificadas oportunidades de exploração e de atividade física e desportiva. Apesar do elevado índice de construção que ocorreu junto da orla marítima (nos últimos 20 anos), o mar da Madeira é de fácil acesso para a realização de atividades desportivas marítimas. Vela, Windsurf, Mergulho, Pesca em alto mar, Surf,

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Bodyboard, observação de golfinhos e baleias com possibilidade de nadar próximo deles, são exemplos inequívocos de atividades turísticas de sucesso comprovado. Nestas atividades, os turistas são sujeitos ativos que procuram conhecer e vivenciar momentos únicos. Os recursos naturais que a Região apresenta, permitem que a mesma ofereça condições para Turismo de Natureza, Soft e Hard. Se é verdade que o principal produto turístico da Região, as levadas, se enquadram no Turismo de Natureza Soft também é verdade que durante muitos anos não se associava a Região a um destino de e para o Turismo Ativo. A oferta de novas atividades, como o BTT, o Surf, o parapente vieram afirmar a Região como um destino de excelencia para o Turismo Ativo. O plano estratégico do turismo (ITP, 2011) clarifica os produtos prioritários para a região, dividindo-os em produtos estratégicos e produtos em desenvolvimento. Os produtos estratégicos são o Touring - Turismo cultural e


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64I65 religioso e o Turismo de Natureza, o qual passou em 2006 de desenvolvimento para estratégico em 2011. Os produtos em desenvolvimento são o “Sol & Mar”. A associação de eventos desportivos aos recursos naturais é algo que inevitavelmente acontece, por exemplo a organização do Madeira Madeira Island Ultra Trail - MIUT, organização com reconhecido méritos, prova integra o calendário 2016 do UTWT - ULTRA TRAIL WORLD TOUR, prova pontuável para o C a m p e o n a t o N a c i o n a l d e Tr a i l U l t r a Endurance 2016 e prova que atribui 5 pontos para a participação no "Ultra-Trail du MontBlanc®" 2017. Entre as mais variadas actividades de lazer, o desporto é precisamente a que tem conquistado um maior número de participantes. O desporto constitui, assim, um factor acrescido quando falamos de oferta turística, por conferir qualidade e diversidade a essa oferta, ou, pensando concretamente nas necessidades e mas motivações dos turistas, por possibilitar captar ou fidelizar os seus aderentes. Quanto mais recursos desportivos dispuser uma região, mais oportunidades terá de atrair o turismo. Ao eleger o seu destino de férias, o turista solicita cada vez mais informações sobre quais as atividades desportivas que tem possibilidade de usufruir e de experienciar (Gibson, 2005). Ao mesmo

tempo e em consequência, várias regiões passam a procurar identificar-se com uma determinada actividade desportiva e a transmitir essa imagem com o objectivo de atrair quer os adeptos dessa modalidade, quer os potenciais praticantes que a desejam experimentar enquanto visitam a região. Um dos grandes desafios das políticas públicas ativas que visam o desenvolvimento desportivo e social é o de incentivar as organizações locais com e sem fins lucrativos a prestarem serviços de qualidade e de diversa oferta de serviços. A diferenciação dos produtos a partir de serviços de excelência e de experiências únicas, é uma das principais estratégicas. Pela diversidade cultural, pelas suas tradições e festas religiosas, pela sua Laurissilva e diversidade de microclimas, pode

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QUANTO MAIS RECURSOS DESPORTIVOS DISPUSER UMA REGIÃO, MAIS OPORTUNIDADES TERÁ DE ATRAIR O TURISMO.

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O DESPORTO DEVE CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

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e deve continuar a apostar nos serviços ímpares. O plano de ação para o desenvolvimento do turismo em Portugal aponta para o desenvolvimento dos pontos fortes da Madeira associados à natureza e à cultura. Contudo será necessário salvaguardar os impactos sociais e naturais negativos que uma oferta excessiva e desordenada pode proporcionar em meio pequeno. Para concluir, o desporto deve contribuir para o desenvolvimento do turismo assim como o turismo deve associar-se ao desenvolvimento do desporto, em particular o de eventos desportivos que animam a economia local. Sendo de admitir que o desporto promove o crescimento do turismo, o turismo parece estar cada vez mais associado ao desporto, em especial ao desporto de natureza, de aventura e de recreação. Além das tradicionais atividades, os vários tipos de entidades que recebem os turistas esforçam-se por diversificar as atividades desportivas oferecidas, contribuindo assim para o progresso do desporto. Neste contexto, só será possível um desenvolvimento baseado numa estratégia consistente quando houver uma cooperação acertada entre as diversas entidades públicas e privadas da RAM no sentido de otimizar os recursos naturais das ilhas da Madeira e do Porto Santo.


VISEU ATIVIDADE SÉNIOR

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2007-2016

UM COMPROMISSO COM A VIDA

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SEGUNDO A OMS EXISTE UMA CLARA TENDÊNCIA PARA A DIMINUIÇÃO DOS NÍVEIS DE PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA DIÁRIA

A

- FUNDAMENTAÇÃO

Os benefícios da atividade física, entendidos sob o paradigma biológico, psicológico e social, são hoje unanimemente reconhecidos, ainda que não totalmente valorizados a nível central, tendo sido amplamente reforçados em 2016 com a publicação, por parte da Organização Mundial de Saúde, da Estratégia Europeia para a Promoção da Atividade Física 2016-2025, a que se seguiu a Estratégia Nacional para a Promoção da Atividade Física, da Saúde e do Bem-Estar pela Direção Geral de Saúde. ABEL FIGUEIREDO Professor e Investigador IPV/ESEV-CI&DETS

ERMELINDA AFONSO Técnica de Exercício Físico no Programa Atividade Sénior

TIAGO FREITAS Técnico Superior de DesportoMunicípio de Viseu

Segundo a OMS existe uma clara tendência para a diminuição dos níveis de prática de atividade física diária, estimando-se mesmo que 1/3 da população europeia é insuficientemente ativa, sendo que 6 em cada 10 pessoas com mais de 15 anos nunca, ou raramente, praticam uma atividade física ou desportiva, sendo que uma elevada percentagem passa 4 horas por dia sentados. Como consequência, a inatividade física assume-se hoje como um dos principais fatores de risco de doença e morte, com 1 milhão de mortes e 8,3 milhões de incapacitados por ano atribuídos à inatividade física (WHO Region). Este mesmo documento aborda ainda a questão económica e os custos do

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sedentarismo, estimando que, em países de 10 milhões de habitantes, com 50% da população a não atingir os níveis recomendados de AF, o impacto no orçamento do Sistema Nacional de Saúde rondará os 910 milhões de euros e que se a estes efeitos da inatividade física somarmos os efeitos da obesidade, os custos com despesas de saúde duplicam. Neste contexto e tendo por base as recentes projeções demográficas que, fruto do aumento da esperança média de vida, da diminuição dos níveis de mortalidade infantil e da diminuição das taxas de natalidade, preveem um envelhecimento significativo da população nas próximas décadas, percebemos o desafio que a sociedade tem pela frente, e na necessidade, por parte das instituições do poder público, em encontrar estratégias que permitam que as suas populações envelheçam de uma forma ativa, evitando ou retardando a institucionalização e a dependência. B – O PRIMEIRO PASSO Em 2007, o Município de Viseu deu início a um programa de promoção do exercício físico para a sua população sénior, denominado de ATIVIDADE SÉNIOR. Um primeiro passo experimental, apenas com uma duração de aproximadamente 3 meses e que mobilizou 517 participantes em 17 grupos de atividade, mas importante na definição da estratégia e na materialização de alguns princípios que viriam


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COM 41 SEMANAS DE ATIVIDADE AO LONGO DO ANO E MAIS DE 10.000 HORAS DE AULAS

a revelar-se fundamentais no crescimento do projeto, designadamente no envolvimento das instituições locais, na abrangência territorial e na valorização da formação específica e contínua dos técnicos. Nas edições seguintes o programa AT I V I D A D E S É N I O R m a n t e v e u m crescimento muito significativo, atingindo os 1500 participantes na 3ª edição de 2008/2009, nessa fase já com cerca de 9 meses de atividade regular por ano. Nas 9 edições anteriores o programa, além do c re s c i m e n t o re g i s t a d o n o n ú m e ro d e participantes, grupos, parceiros e abrangência territorial, sofreu algumas melhorias do ponto de vista qualitativo. Em 2014 foi estabelecido um protocolo de colaboração com o Instituto Politécnico de Viseu / ESEV que visava a realização de um estudo de avaliação multidimensional a todos os participantes, assim como a definição e concretização de um plano de formação mensal dirigido aos técnicos envolvidos no programa, a avaliação desses mesmos técnicos e, por fim, a avaliação do grau de satisfação dos participantes no programa, que passaremos a descrever no ponto C deste artigo. Ainda em 2014 propusemo-nos criar as condições adequadas para que todos os utentes pudessem usufruir de 3 aulas semanais, em vez das duas inicialmente estabelecidas. C – A 10ª EDIÇÃO | 2016 O ano de 2016, onde celebramos a 10ª edição, tem sido um ano de alterações profundas na estruturação do programa e na materialização de algum do trabalho desenvolvido nos anos mais recentes. Com 41 semanas de atividade ao longo do ano, mais de 10.000 horas de aulas quase 2300 participantes inscritos em 114 grupos, distribuídos pelas 25 freguesias do concelho e 93 instituições envolvidas na sua

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organização, fazem do programa ATIVIDADE S É N I O R u m exc e l e n t e exe m p l o d o s resultados que conseguimos alcançar quando nos propomos trabalhar em rede. Hoje o programa ATIVIDADE SÉNIOR é também um projeto de responsabilidade social, organizado pela Comunidade e não apenas pelo Município de Viseu. Em termos de organização financeira, o Município de Viseu assume a totalidade das despesas, com os participantes a suportar uma taxa única de inscrição, que varia entre os 30 e 40€, em função de se inscrever num grupo com duas ou três aulas semanais, sendo que o programa permite ainda a isenção deste valor quando invocada e comprovada insuficiência económica, que nesta edição corresponde a cerca de 37% dos inscritos.

Atualmente o programa está organizado em 6 blocos distintos: BLOCO A – ATIVIDADES REGULARES Este bloco é o “core” do programa e visa a participação dos utentes em aulas orientadas por técnicos de exercício físico, com uma periodicidade de 2 a 3x por semana (perto de 500 participantes inscritos em grupos com 3 aulas/semana), permitindo que uma dessas aulas semanais possa ser de hidroginástica. Os 114 grupos em atividade encontram-se organizados, pela 1ª vez, em função dos níveis de aptidão física-funcional dos participantes, sendo que no ato de inscrição podem optar por inserir-se num grupo de MUITO ATIVOS, AT I V O S o u F R Á G E I S , e s t e ú l t i m o normalmente para grupos de pessoas já institucionalizadas e com grandes dificuldades de mobilidade. Esta distribuição e organização dos grupos vem no sentido de uma maior homogeneização dos participantes, potenciando os efeitos da aula e permitindo uma mais adequação no ato de planificação pelos técnicos.

Numa parceria com o ACES Dão Lafões, designadamente pela sua Unidade Coordenadora Funcional da Diabetes, foi ainda criado um grupo específico para pessoas com Diabetes (tipo II), que além de todo o acompanhamento de uma técnica com formação específica nesta área, tem ainda o acompanhamento regular dos profissionais de saúde. B L O C O B – A T I V I D A D E S COMPLEMENTARES Este bloco, também criado em 2016, visa aumentar a diversidade de oferta de atividades do programa, procurando captar novos públicos, com especial enfoque no género masculino que atualmente representa apenas 27% dos inscritos, permitir o aumento dos níveis de prática semanal a todos os interessados e aumentar o número de interações sociais numa perspetiva de ocupação “saudável” dos tempos livres. Desta forma temos organizadas aulas de Yoga e Atletismo, atividades em que valorizamos o contacto com o exterior, perspetivando a criação de novas “modalidades” num futuro próximo. BLOCO C – ATIVIDADES PONTUAIS Sendo um programa onde a dimensão física do exercício está muito presente, temos constatado uma valorização muito forte pelos nossos utentes da dimensão social. Reconhecendo essa mesma importância organizamos durante o ano um conjunto de eventos, nas mais variadas áreas, que além de cumprirem os objetivos juntos dos participantes, permitem ainda melhorar os níveis de notoriedade e reforçando os valores positivos do programa junto dos parceiros, familiares e opinião pública. BLOCO D – AÇÕES DE FORMAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO Fruto das parcerias com o ACES Dão Lafões e a Associação Beira Amiga, são organizadas dezenas e ações de formação/sensibilização descentralizadas ao longo dos 11 meses do


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O PROGRAMA PROMOVEU MELHORIAS SIGNIFICATIVAS NA VARIÀVEL BEM-ESTAR

programa, nas áreas da Educação para a Saúde e Defesa do Consumidor. BLOCO E – FORMAÇÃO, AVALIAÇÃO E INVESTIGAÇÃO O Município de Viseu estabeleceu com o IPV / Escola Superior de Educação de Viseu um protocolo que, no seu articulado atual, prevê: 1. A organização de um Plano de Formação Regular dirigido aos Técnicos de Exercício Físico afetos ao programa, onde inserimos já este ano o 1º Congresso de Envelhecimento Ativo: Exercício Físico e Saúde, que pretende assumir-se como mais um momento regular deste programa e que nos permitirá continuar a aprender, comparar estratégias de atuação em programas similares, contribuir para o aumento da formação nesta área e promover o ATIVIDADE SÉNIOR junto da comunidade científica. 2. A organização do processo de avaliação dos técnicos; 3. A avaliação final da satisfação dos participantes no programa; 4. A realização de um estudo de Avaliação Multidimensional constituído pela avaliação dos utentes do programa ao nível das suas Capacidades Funcionais e ao nível das Valorizações Atribuídas. Este estudo consiste na avaliação de variáveis Biofuncionais - da aptidão física-funcional; do equilíbrio; da mobilidade funcional e risco de queda; do perfil antropométrico; - e

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Multidimensionais - da perceção de saúde e das limitações físicas-funcionais na execução das atividades de vida diária; bem-estar sentido; e expectativas em relação ao exercício. A recolha dos dados Biofuncionais para avaliação da aptidão física-funcional, equilíbrio e risco de queda é utilizada a bateria Functional Fitness Test e para a avaliação do equilíbrio e mobilidade funcional relacionado ao risco de queda são aplicados, respetivamente, o Functional Reach Test (FRT) e o Timed Get-Up and Go Test (TUG). Para a análise antropomética utilizamos os indicadores peso (kg), altura (cm), índice de massa corporal (IMC - kg/m2) e perímetro da cintura (PC). Os resultados da última (9ª) edição, de uma forma geral, sugerem que o programa de treino desenvolvido: i) promoveu melhorias significativas na variável bem-estar e, apesar de forma não significativa, na auto-perceção de saúde e das limitações na execução das tarefas da vida diária e nas expetativas em relação ao exercício; ii) foi efetivo na melhoria dos parâmetros da aptidão física-funcional e equilíbrio e na diminuição do risco de queda; e em alguns parâmetros do perfil antropométrico dos utentes - peso e IMC -, reforçando assim a necessidade de influenciar de forma mais marcada a alteração dos

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2300 PARTICIPANTES É UM NÚMERO QUE CONSIDERAMOS MUITO POSITIVO

hábitos de vida. Este percurso de avaliação e monitorização dos participantes está sobejamente enriquecido com a rede de intervenção entre os parceiros do programa, nomeadamente com a área da Saúde. Desta forma, é também objetivo deste projeto avaliar o risco de desenvolvimento de Diabetes Mellitus Tipo 2 dos participantes. Por conseguinte, é aplicado a todos os participantes não diabéticos um questionário para determinar qual o risco nos próximos 10 anos: Finnish Diabetes Risk Score - FINDRISC. A importância desta estratificação do risco, em parceria com os Médicos de Família e Enfermeiros, permitir-nos-á a adoção e promoção de estratégias de prevenção primária comuns com o objetivo de reduzir o risco inerente aos fatores modificáveis, como o IMC, perímetro da cintura e a prática de atividade física diária. Paralelamente, e correspondendo ao desafio apresentado pela Universidade Católica – Pólo de Viseu, estamos a desenvolver um estudo que visa identificar marcadores inflamatórios presentes na saliva que estão relacionados com a diabetes, colesterol elevado, etc. e, numa fase posterior, relacionar o impacto do exercício físico nos mesmos, permitindo validar esta recolha como um método menos invasivo que poderá substituir

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outro tipo de análises, nomeadamente as sanguíneas. D – CONCLUSÃO O crescimento do programa tem trazido novos parceiros, em áreas e níveis de atuação diferenciados, e com eles novos desafios. O foco estará sempre nas pessoas e o objetivo, ano após ano, passa por conseguirmos responder de forma eficiente às necessidades de todos e de cada um.

2300 participantes é um número que consideramos muito positivo, mas estamos conscientes que representa apenas 7% da população do concelho de Viseu com mais de 55 anos. Sabemos dos inúmeros constrangimentos que este segmento tem no acesso a programas de exercício físico, pelo que temos que encontrar as melhores estratégias para, em primeiro lugar, fidelizar os atuais participantes e captar mais pessoas para integrar esta nossa ATIVIDADE SÉNIOR. Melhorar a qualidade de vida dos seniores em Viseu, promover a sua integração e participação na vida cívica, contribuir para o seu bem-estar nas dimensões físicas, cognitivas e sociais foi este o compromisso de vida que assumimos com os seniores em Viseu.


i-GESP XXI,

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CARTA DESPORTIVA E PROGRAMAS

DE APOIOS AO ASSOCIATIVISMO

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DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE CARTA DESPORTIVA O I-GESP XXI

A

vigente Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto — Lei n.º 5/2007, de 16 de janeiro — prevê, no n.º 1 do artigo 9.º, que Artigo 9.º Carta Desportiva Nacional 1 - A lei determina a elaboração da Carta Desportiva Nacional, a qual contém o cadastro e o registo de dados e de indicadores que permitam o conhecimento dos diversos fatores de desenvolvimento desportivo, tendo em vista o conhecimento da situação desportiva nacional, nomeadamente quanto a: a) Instalações desportivas; b) Espaços naturais de recreio e desporto; c) Associativismo desportivo; d) Hábitos desportivos; e) Condição física das pessoas; f) Enquadramento humano, incluindo a identificação da participação em função do género.

Fernando Ferreira Sócio-gerente da Cédis

A carta desportiva deve ser um instrumento de planeamento que permite detetar e estudar as carências e assimetrias das instalações desportivas existentes e, ao mesmo tempo efetua a sua otimização, monitorização, quer seja pelo lado da manutenção dos equipamentos, quer seja de adaptação as dinâmicas socio – económicas das populações, sempre com o objetivo de traçar linhas orientadoras para o futuro, indo em conformidade com as atribuições dos municípios na promoção e salvaguarda dos interesses próprios das respetivas populações com o disposto alínea f), do art.º 23.º, da Lei n.º

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75/2013, de 12 de setembro, sendo assim da sua competência/interesse a elaboração da carta desportiva do concelho. Para a sua elaboração, deve-se ter em conta a recolha sistematizada de informação, bem como a definição de indicadores de caracterização da rede de equipamentos. Nas cartas desportivas existentes, além de serem estáticas, o critério mais utilizado na elaboração das cartas desportivas é a mera enumeração das instalações existentes sendo o indicador mais utilizado nestas, a análise da superfície desportiva útil por habitante. Neste contexto a Cedis encetou em 2007 com o desafio lançado pelo Município de Almada o desenvolvimento de um sistema de Gestão de Carta Desportiva o i-GESP XXI com os seguintes intuitos: - Sistematização e normalização da caracterização de equipamentos desportivos quer artificiais quer naturais seguindo as diretrizes do IPDJ. - Sistematização e normalização da caracterização de todas as entidades que se re l a c i o n a m c o m a t i v i d a d e d e s p o r t i va organizada, clubes, associações, grupos organizados, ginásios, federações, etc. - Recenseamento de todos ao atores que se re l a c i o n a m c o m a t i v i d a d e d e s p o r t i va organizada desde dirigentes, atletas, técnicos, etc. - Integração automática de dados estatísticos do INE, censos, caracterização geográfica de acordo com a divisão administrativa do Pais. - Monitorização, dos equipamentos


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74I75 desportivos, da participação desportiva, estado de conservação dos equipamentos, fiscalizações, com o objetivo de detetar anomalias, antecipar tendências, dinamizar a prática de atividades, etc. - Uma ferramenta de análise onde se podem construir vários indicadores que não se limitem a caracterização física, quantitativa, mas também uma caracterização qualitativa, suportada em sistema de informação geográfica. Sendo importante a utilização de ferramentas que aliam a visão da temática do desporto no território à informação geográfica com dados da sua caracterização, permitindo assim operações de relações espaciais e facilitando o tratamento dos dados de forma mais eficiente, permitindo a realização de funções analíticas complexas, disponibilizamos no sistema a visualização de informação quantitativa e qualitativa numa base de Informação Geográfica, sobre Google Maps, sendo esta a base para as atividades de planeamento territorial, muito utilizada no

domínio autárquico, e essencial para o levantamento, reconhecimento, monitorização e construção de infraestruturas. Com este primeiro desenvolvimento chegamos a uma ferramenta para gestão da carta desportiva normalizada, centralizada de fácil acesso via browser. Tendo por base a informação referente a carta desportiva, com rastreamento de equipamentos e entidades, desenvolveu-se m a i s u m a va l ê n c i a a g re g a d a a e s t a s entidades, a gestão dos programas de apoio a prática desportiva. Este módulo revestiu-se da maior importância, indo de encontro ao requerido no decreto de Decreto-Lei nº 273/2009, de 1 de Outubro (Regime Jurídico dos Contratos-Programa de Desenvolvimento Desportivo) e como mais tarde se veio a revelar em conformidade com o disposto alínea k) e u), do art.º 33.º, da Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, como suporte a transparência e aplicação normalizada e centralizada dos regulamentos municipais de apoio ao associativismo desportivo.

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UMA FERRAMENTA DE GESTÃO DA CARTA DESPORTIVA NORMALIZADA, CENTRALIZADA DE FÁCIL ACESSO VIA BROWSER

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AS FERRAMENTAS INFORMÁTICAS EXISTEM PARA AUTOMATIZAR PROCEDIMENTOS

Este módulo contempla uma serie de funcionalidades que vão desde: - Definição da Área, Medida e designação do Programa; - Caracterização do programa (prazos, valores, responsáveis, etc.); - Definição dos Requisitos e Critérios; o Definição da Documentação necessária. Gestão das Candidaturas: o Registo do Objetivo da Candidatura e do Montante Solicitado; - Avaliação das candidaturas tendo em conta os requisitos e critérios previamente definidos; - Registo e arquivo da documentação entregue. - Aprovação das Candidaturas: aprovação/recusa das candidaturas com registo do parecer do responsável; - Simulação Automática dos valores a atribuir tendo em conta os critérios definidos e a avaliação às diferentes candidaturas; - Ficha Resumo do Programa. Mapas e Estatísticas o Resumo de Programas por Área / Medida; - Resumo Homologo de Programas por Área /

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Medida; - Resumo de Financiamento de Entidades; - Resumo Homologo de Financiamento de Entidades.

Dado que as ferramentas informáticas existem para automatizar procedimentos, simplificar processos, e ajudar a normalizar, juntou-se mais uma funcionalidade que se revelou de grande importância, um portal que chamamos Plataforma de Benefícios Públicos, com o intuito de descentralizar e desmaterializar toda a informação trocada entre os municípios e as entidades que requerem apoios. As entidades que se enquadrem dentro dos programas de apoio disponibilizados pelo município, podem consultar os que se encontram em vigor e cadastrar-se. Recebem após aprovação do município uma credenciação prévia com acesso um Nome de Utilizador e Senha de Acesso. E a partir dai estabelece-se todo o processo de contacto com o município através duma ligação a internet, disponível 24x7.


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AO LONGO DOS ANOS TEMOS VINDO A INSTALAR EM VÁRIAS AUTARQUIAS O I-GESP XXI

Passando este a ser o canal de comunicação privilegiado com as associações e clubes, pois o associativismo é ainda na sua maioria uma atividade amadora por parte dos seus dirigentes, o que impossibilita muitas vezes a deslocação presencial aos municípios nas horas de seu normal funcionamento. O portal na sua área restrita disponibiliza as entidades as seguintes funcionalidades: - Manutenção de Dados da sua coletividade/associação; - Ver os programas de apoio do seu município; - Candidatar-se a um determinado programa; - Anexar/Atualizar documentos; - Ver estado de candidatura; - Possibilidade de troca de mensagens com responsável pelo programa, entre outras. Desenvolvemos para a parte administrativa do município um sistema para a gestão dos programas de apoio, com todo o processo de tratamento de candidaturas automatizado através da implementação dum sistema de Workflow. O sistema permite automatizar a receção de candidaturas, controlo de datas, prazos, relativamente a um programa. O iGESP XXI faz o controlo interno de fluxo de intervenientes, com prazos e registo de pareceres, disponibiliza informação do estado do processo de candidatura para as entidades externas, o chumbo ou aprovação do apoio e controlo de execução desse apoio.

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Ao longo destes anos temos vindo a instalar em várias Autarquias o i-GESP XXI, de norte a sul. Em 2016 iniciamos um projeto aliciante que envolve a instalação do sistema numa Comunidade Intermunicipal, a CIM do Tâmega e Sousa, onde o sistema está disponibilizado para os seus 11 municípios.

Para além de tirar partido dos dados de cada um dos municípios, tem esta comunidade acesso a uma análise da informação conjunta de todos os municípios que a integram, desde a oferta desportiva, á participação desportiva. Sendo mais fácil de coordenar políticas desportivas conjuntas no intuído de melhorar a oferta interna, para os munícipes da CIM, e a oferta externa, juntando as ofertas desportiva de cada um dos municípios, maximizando também a capacidade de candidatura a projetos conjuntos na área desportiva.

Está incluído neste projeto a existência dum portal onde qualquer visitante poderá aceder a: - Equipamentos desportivos por município/Atividade - Possibilidade de pesquisar por evento desportivo por município/Atividade/dia; - Visualização de instalações desportivas por município no Google Maps; - Reservar um determinado equipamento, entre outras.

O i-GESP XXI em termos futuros vai evoluir em duas vertentes. A primeira através do desenvolvimento da monitorização de toda a envolvente, no âmbito da carta desportiva, devido á dinâmica das populações, às novas ofertas desportivas e aos novos agentes desportivos, o que cria nos municípios a necessidade de se capacitarem para enfrentar e dar resposta a estes novos desafios. Existe a necessidade por parte dos municípios de aferir e reformular funcionamentos, traçar novas metas e sobretudo, definir novos objetivos centrados nas exigências da sociedade, que possibilitem a satisfação das necessidades coletivas. Isto vai passar pela integração do Sistema de Gestão da Carta Desportiva com os sistemas de gestão desportiva existentes nos diferentes equipamentos, a integração com sistemas inteligentes de monitorização da prática desportiva não organizada, cada vez mais presente nas nossas cidades, e com outras fontes de dados relevantes para esta temática, rumo às cidades inteligentes. A segunda está em parte contida na anterior e refere-se á interoperabilidade com outros sistemas, quer municipais, quer nacionais. Não se podem impor modelos únicos de organização e de sistemas de informação a todas as entidades da administração pública, porque as necessidades locais dos Municípios tendem a ter uma visão mais granular da

informação, enquanto que a nível nacional é necessária uma visão mais global. É fundamental tirar partido dos suportes tecnológicos que visem fomentar a utilização de um conjunto de regras, padrões e normas que permitam a eficaz e real utilização e reutilização de serviços eletrónicos pelos atuais sistemas de informação das Entidades da Administração Pública, ligando os sistemas locais aos sistemas centrais, implementando uma verdadeira Arquitetura Orientada a Serviços, permitindo assim uma colaboração, com o intuito de simplificar a integração entre o s v á r i o s p a r t i c i p a n t e s (http://www.iap.gov.pt/Guia_Adesao_iAP_v 3_0_2.pdf).Neste sentido, o i-GESP XXI encontra-se já num processo de desenvolvimento de interligação com a plataforma nacional de Informação Desportiva/Carta Desportiva Nacional (SNID/CDN - www.snid.pt). Tudo porque hoje em dia os sistemas de informação têm que ser dinâmicos, operativos, interligados e inteligentes, uma vez que estamos numa sociedade cada vez mais exigente, com poucos recursos, mas com novos desafios, que não se compadece com sistemas arcaicos, inoperativos, fechados e redundantes. As decisões têm que ser tomadas com a maior assertividade, menores custos e suportadas em informação atual e útil.


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A CONSTANTE EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA REQUER UMA ADAPTAÇÃO QUASE EM TEMPO REAL

O

digital veio alterar profundamente a forma como as organizações desportivas se relacionam com os seus stakeholders, quer na perspetiva do B2B, quer na ótica do BHoje o consumidor tem novas formas de aceder a conteúdos relacionados com o produto desportivo, em qualquer altura, lugar e dispositivo, gerando com isso mais interação e consumo de conteúdos relacionados com o jogo, a competição ou o evento em si. Isto significa mais pessoas conectadas à volta de um mesmo tema, isto é, mais buzz para as organizações desportivas (federações, associações, clubes e empresas privadas e públicas) envolvidas na produção de um produto, traduzidas sob a forma de likes, partilhas, comentários, páginas visualizadas, entre outros.

Neste sentido, cabe aos diversos agentes desportivos entenderem o funcionamento deste novo paradigma de marketing, de forma a poderem ser mais assertivos na definição e quantificação dos seus ativos na elaboração de propostas de patrocínio, fundamentais para a sustentabilidade da sua atividade a curto, médio e longo prazo. Para isso, é essencial desenvolverem mecanismos que lhes permitam conhecer a sua audiência (1), estabelecerem padrões de comportamento /consumo da mesma (2), quantificarem os seus ativos offline (linhas de publicidade digital, backdrops conferências de imprensa, etc.) e online (pegada digital) (3) e serem assertivos na hora de fazerem prospeção no mercado no sentido de abordarem marcas com uma proposta de valor que possa ter o fit com a respetiva audiência (4).

COMO O DIGITAL ALTEROU A FORMA COMO

AS ORGANIZAÇÕES DESPORTIVAS DEFINEM A SUA PROPOSTA DE VALOR

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audiência em torno do produto desportivo significa uma segmentação mais eficaz da sua mensagem e consequente comunicação com o respetivo público-alvo e/ou personas, conseguindo dessa forma maximizar o investimento realizado. Nesse sentido, quando as marcas escolhem como parceiros de negócios (B2B) determinadas organizações desportivas, avaliam (ou devem sempre avaliar) o know-how contextual das mesmas em virtude daquele que é o conhecimento tácito da sua audiência. Dito de outra forma, escolhem organizações que, muito mais do que ter informação sobre a sua audiência (como o nr. de sócios, receitas de bilheteira e merchandising, entre outros), sabem interpretar a informação disponível transformando-a em outputs de negócio a serem rentabilizados pelas marcas.

Marcos Castro Diretor e Business Developer da Categoria Futebol na Prozis, Docente Universitário no IPAM e ISCIA

Para as marcas que investem no desporto como forma de chegarem aos seus c o n s u m i d o re s , o d i g i t a l ve i o t ra z e r a possibilidade de serem mais assertivas na hora de decidir onde alocar os seus budgets de patrocínio, na medida em que o facto de conseguirem quantificar o comportamento da

As organizações que mais rapidamente se adaptarem ao atual contexto de darwinismo digital, onde a constante evolução tecnológica requer uma adaptação quase em tempo real às necessidades do mercado e dos respetivos consumidores, serão aquelas que estarão mais perto da vitória, dentro e fora do campo.


CARTA DESPORTIVA NACIONAL

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QUEM NOS INFORMA SOBRE OS SEUS DESENVOLVIMENTOS

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CARTA FUNCIONARÁ COMO UM INSTRUMENTO DE APOIO À GESTÃO

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cooperação interinstitucional e partilha de informação e recursos. (c) Fazer face à inexistência de recursos da administração central e local para o levantamento exaustivo e periódico sobre as suas instalações desportivas.

O Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), IP e o Instituto do Território (IT) tinham estabelecido um protocolo cujo objecto era a implementação, a administração e a gestão do SNID - Sistema Nacional de Informação Desportiva, até 31 de dezembro de 2015.

Segundo o mesmo desdobrável: Esta articulação permitiria a redução de custos de contexto e a simplificação do relacionamento cidadão-serviços prestados, numa lógica de desburocratização máxima das ações necessárias e de acessibilidade.

Segundo dados retirados da página do IPDJ, o financiamento para o efeito resultou de uma candidatura do IPDJ, para a elaboração da Carta Desportiva Nacional, no âmbito do Sistema de Apoios à Modernização Administrativa que obteve decisão favorável por despacho da Comissão Diretiva do Compete - Programa Operacional Fatores de Competitividade. A operação foi aprovada com um Investimento Elegível total de 706.369,42 €, contando com um valor FEDER de 592.243,66 €.

DIMAS PINTO Vice-presidente da Apogesd Professor Especialista, no IESFafe, Coordenador do Departamento de Ciências do Desporto Consultor na Prosport

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m 28 de Setembro de 2015, estive no Multiusos de Guimarães, em representação da Apogesd, na apresentação do Sistema Nacional de Informação Desportiva/Carta Desportiva Nacional (SNID/CDN).

Os objetivos principais da elaboração da Carta Desportiva nacional, segundo os panfletos distribuídos passavam por: (a) Aumentar a eficiência e eficácia da informação do sistema desportivo relativa às instalações desportivas, (b) Reduzir a desarticulação entre os seus agentes em matéria de informação,

Acrecentava-se também: Outro dos objetivos da Carta Desportiva é definir os critérios que vão nortear a edificação de novos equipamentos, através de regras que não serão impositivas, mas que terão de ser seguidas onde houver investimento público ou envolvendo apoios comunitários. Para a iniciativa privada este documento será apenas orientador de aceitação facultativa. A Carta funcionará como um instrumento de apoio à gestão, fornecendo informações sobre se um equipamento pode sobrepor-se a outro semelhante situado na mesma zona, ou se o projeto contempla as faculdades que deve compreender. E afirmava-se :Esta plataforma pretende ser autofinanciável, contando com as autarquias, federações desportivas, clubes, treinadores e praticantes para carregarem os dados no sistema e validarem as informações. (Na


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O PAÍS JÁ CONHECE VERDADEIRAMENTE O SEU PARQUE DESPORTIVO?

altura questionei esta intenção, muito pouco realista, de contar com um “voluntariado” de agentes daquelas instituições que até então, na maioria dos casos, nem conseguiam levantar e actualizar os dados das suas instituições).

Desde aquela apresentação não voltei a ouvir de nenhum dos seus responsáveis uma avaliação sobre a implementação da mesma. Fa c e a o d i a g n ó s t i c o a p re s e n t a d o n a introdução do documento Sistema Nacional de Informação Desportiva - Carta Desportiva Nacional – Formar e Sensibilizar para o serviço Nacional de Informação Desportiva (2015), será que Já temos mais informações sobre as estruturas desportivas? O país já conhece verdadeiramente o parque desportivo que tem, o seu estado de conservação, as suas potencialidades e ocupação habitual? O país já usufrui de mais informação sistematizada relativa a espaços naturais, associativismo, hábitos desportivos, condição física, e enquadramento humano nas organizações desportivas? Os políticos já decidem com base em informação credível e investem o dinheiro de todos de forma mais acertada? Os clubes, as associações as empresas já beneficiam de informação que

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possa identificar oportunidades e ameaças na sua área geográfica? As pessoas que querem praticar desporto já podem conhecer a oferta existente que possa responder às suas necessidades? Sempre que consultei a ww.snid.pt e por exemplo acedi ao campo “ D E S C U B R A O N D E P O D E P R AT I C A R ATIVIDADE FÍSICA OU DESPORTIVA!” Quer quando tentei futebol de 11, na Póvoa de Varzim, quer quando procurei Desporto para pessoas com deficiência, em Lisboa, a resposta foi “Não foram localizadas instalações para os critérios de pesquisa inseridos.” Sobre a importância do SNID/Carta Desportiva para o desenvolvimento desportivo do nosso país dispenso-me de elencar aquilo que todos nós sabemos e também a premência da sua concretização. Está na minha memória, e eu já cá ando há uns anos, que sempre que muda um governo e se apresenta um novo secretário de estado, ele vem a uma das nossas iniciativas, normalmente nos nossos Congressos e entre outras promessas sempre anunciam que fi n a l m e n t e s e va i c o n c re t i z a r a C a r t a Desportiva Nacional. Vou tentar perceber qual é o ponto da situação atual…


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GOVERNANÇA

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E POLÍTICAS DESPORTIVAS MUNICIPAIS A

ssiste-se a uma sociedade que procura as atividades desportivas com a finalidade de manter a forma e melhorar a saúde, ocupar os tempos livres, desafiar o risco e a aventura, de conviver com pares, atingir a performance desportiva, entre outros, o que demonstra que atualmente o desporto não é apenas para os mais aptos, mas é um serviço que deverá estar ao alcance de toda a sociedade.

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O ACESSO AO DESPORTO CONSTITUI UM DIREITO DE IGUALDADE SOCIAL

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No direito à prática desportiva (constitucional previsto), devem a sociedade e as diversas instituições que com ela se relacionam, de u m a f o r m a o rg a n i z a d a e c o n t ro l a d a , desenvolver condições económicas, sociais e políticas, tendentes ao exercício desse direito, devendo os municípios cooperar e integrar este processo.

ISILDA DIAS Docente no Agrupamento de Escolas Manoel de Oliveira, Docente do Instituto Universitários da Maia, Investigadora do CIDESD

A satisfação das necessidades, interesses e m o t i va ç õ e s d e s p o r t i va s d a s d i ve rs a s populações, obriga a uma visão mais abrangente dos municípios, de forma a contemplar cada uma destas, numa política de Desporto Para Todos.

O acesso ao desporto constitui atualmente um direito de igualdade social, pelo que a sua prática constitui-se como fator de melhoria da q u a l i d a d e d e v i d a e d e p ro m o ç ã o d e socialização. Constantino, em 1994, já afirmava que o desporto como direito do cidadão, exigiria o desenvolvimento de modelos estruturais e funcionais que garantissem a acessibilidade a todos, o que supunha (à data de 1994) novas alterações na conceptualização, organização e politização. Nunca, atualmente, fora tão verdadeira esta frase, face às novas formas, necessidades, gostos e interesses dos cidadãos perante a atividade desportiva. Deste modo, parece-nos importante que os municípios deixem de atuar na tradicional forma de política e gestão pública e alterem a sua intervenção, para uma política desportiva partilhada, envolvendo vários parceiros, numa plataforma de poder horizontal, com decisões mais claras e transparentes. É dado a este conceito o nome de “Governança”. O conceito tradicional de “Governar”, mais fechado, com uma estrutura de poder centralizada, forte e vertical, onde muitas as vezes as decisões eram tomadas sem que os atores exteriores conhecessem os critérios, tem de ser alterado para um novo conceito, uma nova forma de “fazer” política desportiva – Governança. Os primeiros países que procuraram enraizar nas suas entidades públicas e privadas esta forma diferente de gestão pública foram a Austrália (1999, ASC, in “Governing Sport: The role of the board and CEO” e 2002 – Practical


Guide Containing A Set Of Governance Principles), O Reino Unido (2004, UKS, in “ Good Governance Guide”), a África do Sul (2004 DSADC- in “Best Practice Principles of Good Governance Sport”) e a Nova Zelândia (2009, SPARC - in “Nine Steps to Effective Governance”). Esta última definiu Governança, como o processo pelo qual a direção define a orientação estratégica e as prioridades, define as políticas e a gestão do desempenho das expetativas, caracteriza e gere os riscos e monitoriza e avalia as realizações organizacionais de modo a exercer a sua prestação de contas para com a organização e os seus detentores. Sublinham, que a governança distingue-se das formas tradicionais de governação através da inclusão de atores, não só do setor público, mas também do setor privado e do voluntariado (Andersen e Kempen, 2001). Os atores são envolvidos através de parcerias e outras formas de redes que são mais ou menos autónomas em relação ao Estado. Os parceiros estão dispostos a envolver-se, porque pensam que irão maximizar os seus benefícios, tanto individual como coletivamente. O modo de governança apresenta-se como um dos conceitos centrais para o entendimento das dinâmicas relacionais das sociedades contemporâneas.

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Etimologicamente, “governança” provém do latim “gubernare” e do grego “kybernan” ou “kubernetes”. A expressão “kybernetes” foi usada por Platão para designar a arte de dirigir ou governar. Atualmente, o conceito de governança tem sido amplamente divulgado, com especial relevo na área das ciências sociais (Stoker, 1998). Rodes (1996:652) caracteriza governança como uma mudança no entendimento de governo, significando um novo processo de governação ou uma mudança das regras ou ainda um novo método pela qual a sociedade é governada”.

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88I89 Figura 1 Caraterísticas da “Boa Governança” (Fonte: World Bank, 2003)

De momento, não queremos dissertar de forma profunda na etimologia da palavra e no significado do seu conceito. Queremos defender que deve ser esta forma de Política P ú b l i c a D e s p o r t i va M u n i c i p a l q u e o s municípios devem assumir (assim como consideramos que outras organizações desportivas, lucrativas ou não, também se devem reger por esta forma de gestão económica e política). E m m u i t a s o rg a n i z a ç õ e s d e s p o r t i va s tradicionais perpetuam-se formas tradicionais de governação que desconhecem os

EM MUITAS ORGANIZAÇÕES DESPORTIVAS TRADICIONAIS PERPETUAM-SE FORMAS TRADICIONAIS DE GOVERNAÇÃO

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instrumentos e modelos de gestão estratégica e de avaliação aprofundada do desempenho, o que por vezes se traduz : •Nas fragilidades da racionalidade das decisões; •Ineficiências enormes na utilização de meios financeiros; •Insuficiência de produção de elementos de informação que permitam um tipo de gestão e avaliação de desempenho mais exigente e refinado. A “Boa Governança” (Kooiman, 2008) traduzse por um conjunto de normas de condutas ou de gestão de uma determinada organização ou instituição que passam por: •Garantir a transparência e participação; •Providenciar a eficácia e eficiência na prestação de serviços ao público; •Promover o bem-estar; •Criar um clima favorável para o crescimento económico. As características da Boa Governança (World Bank, 2003) devem (Fig. 1): •Ser centradas no cidadão; •Defender a equidade; Š Ẃ aŹ Z Ỳ Ų F Ů X Ŷ ġąÔ Ż Ź Z zỲ áŇ Ų F • Preve r a p a r t i c i p a ç ã o e c o n s u l t a n o planeamento e tomada de decisão; •Alcançar a eficiência e efetividade na gestão pública; •Envolver a sociedade civil. Ou seja: •Ser legitimada por processos de participação; •Esforçar-se na luta contra a corrupção; •Utilizar de forma efetivo e eficiente os recursos disponíveis; •Promover o envolvimento do setor privado e da sociedade civil na defesa dos seus interesses;


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COMPORTAMENTOS ADEQUADOS QUE RESPEITEM AS REGRAS LEGAIS

•Desenvolver processos burocráticos que conduzam à responsabilização. Vários autores (Kooiman, 2003; Rhodes, 2007; Andersen e Kempen, 2001; SPARC, 2009) defendem, mais uns que outros aspetos, que para podermos aumentar o nível de Governança há que: Aumentar a responsabilização através de ações locais; •Proporcionar informação mais fidedigna acerca da performance dos serviços públicos (mecanismos de feed-back com publicação dos resultados); •Aumentar a competição entre os prestadores de serviços, oferecendo aos clientes maior liberdade de escolha; •Dar poder e fortalecer o poder local, dado estar mais perto da população e mais capaz de a envolver nas decisões e na responsabilização; •Facilitar o envolvimento crescente de associações comunitárias; •Aumentar a responsabilização interna através da separação dos poderes; •Aumentar a responsabilização interna através de reformas administrativas; •Aumentar a preocupação com a performance na gestão dos gastos públicos; •Reformar os serviços para aumentar a competência profissional e a ênfase nos resultados; •Descentralizar as funções do governo de modo a estar mais perto do cidadão; •Criar uma ética de serviço para o público na sociedade civil.

liberdades e nos direitos individuais de participação. As decisões políticas que determinam os investimentos públicos nas áreas de competências dos municípios (d e s e n v o lv i m e n t o s o c i o e c o n ó m i c o , o ordenamento do território, o abastecimento público, o saneamento básico, a saúde, a educação, a cultura, o ambiente ou o Desporto) desenvolvem-se em processos de discussão e tomada de decisão muito fechados e hierarquizados, liderados pela figura, mais ou menos carismática, do seu presidente de câmara.

A governação local é, por inerência, o contexto mais favorável para o desenvolvimento de modelos democráticos mais participados. As pequenas e médias cidades, onde vive a maior parte da população urbana, apresentam particularidades e problemas específicos, aos quais os modelos teóricos dominantes, construídos fundamentalmente por referência às grandes cidades, não são capazes de dar respostas suficientemente cabais. São importantes redes entre espaços de diferentes escalas, que medeiam entre o rural e o urbano e entre o global e o local (Bell e Jayne, 2006). As autoridades locais detêm o papel “orquestrador”, construindo processos catalizadores de cooperação e de inovação.

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A GOVERNAÇÃO LOCAL É, POR INERÊNCIA, O CONTEXTO MAIS FAVORÁVEL AO DESENVOLVIMENTO

Em Portugal, na base das interações da triangulação entre corpos técnicos, decisores políticos e sociedade civil, existe uma cultura organizacional hierárquica que não promove (em cada um daqueles elementos, individualmente, institucionalmente ou em parcerias) uma governação centrada nas

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No contexto da governação local, a integração da sociedade civil requer mecanismos d e m o c ra t i z a d o s , s u p o r t a d o s p o r u m a descentralização administrativa e pela participação ativa dos cidadãos na gestão municipal. Os governos municipais devem afirmar os interesses da sua comunidade acima das diferenças partidárias ou ideológicas e defender os seus interesses específicos junto dos governos nacionais que, representando as redes locais, podem atuar como atores coletivos na dinâmica da economia. Em Portugal, este desafio é enorme, porque ainda há a dificuldade de, uma vez no poder, partilhar a tomada de decisão. A g ove r n a ç ã o l o c a l c e n t ra - s e n o p o d e r personalizado do Presidente da Câmara, que assenta em “relações individualizadas” (Francisco, 2007), na centralização do poder e em “redes informais, pessoais e partidárias” com o fito de obter os recursos de que necessitam para os seus projetos locais. E p a r a t e r m i n a r, u m a d a s q u e s t õ e s importantes na governança é a Dimensão Ética dos dirigentes de topo. Não se trata, apenas, de gerir e conduzir a missão, a visão e os objetivos da organização, é preciso também, adoptar condutas e comportamentos adequados que respeitem integralmente as regras legais e acautelem os legítimos anseios e expetativas dos diversos interessados nas atividades desenvolvidas.


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OS DOIS CLUBES

DO DIREITO DESPORTIVO

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A PRÁTICA DESPORTIVA É UM DIREITO QUE A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA CONSAGRA PARA TODOS OS CIDADÃOS

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screver sobre gestão, desporto e direito, é um desafio onde a própria complexidade de cada uma das palavras envolvidas aumenta o nível de dificuldade. Prometo neste início de texto, a quem o lê, que procurarei simplificar o mais possível o tema. Todavia, reparemos no que está em causa: cada vez mais falar de desporto obriga, a quem o faz, explicar imediatamente de que desporto quer tratar… se do desporto de alta competição ou alto rendimento, se do desporto profissional, se do desporto “amador” ou até “semiprofissional”, se da prática desportiva de mero lazer, se da prática desportiva federada, se da prática desportiva competitiva ou de mero entretenimento, se do desporto na vertente educacional, se do desporto escolar, se do desporto de formação, se do desporto universitário…

RUI JESUS Presidente da Associação Portuguesa de Direito do Desporto

Depois, o direito, o desportivo: quando se fala em Direito, falaremos de regras de conduta, falaremos de um sistema de orientações escritas, criadas por determinadas entidades, para regular as relações de indivíduos ou entidades, em certa actividade. Uma vez que, desta feita, nos reportamos ao sistema desportivo, abordar a matéria implica que seja tido em conta que, em Portugal, a prática desportiva é um direito que a Constituição da República Portuguesa consagra para todos os cidadãos. Por isso, o Estado, em cada ciclo eleitoral representado pelos partidos políticos que formem Governo, tem a obrigação de elaborar diplomas legais que organizem o

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sistema desportivo. Porém, esse sistema desportivo é composto por entidades privadas (algumas com um estatuto de utilidade pública), onde cada uma, consoante a modalidade desportiva que representa, tem regras próprias, específicas, muitas vezes com influência directa de entidades internacionais (o que leva a que tenhamos dirigentes desportivos portugueses que, no exercício das suas funções, tenham de respeitar não só as imposições legais de Portugal, mas também as directrizes recebidas de organizações estrangeiras). Mas, esta é uma problemática muito jurídica, que não é o que aqui se pretende abordar. Centremo-nos então, na gestão: É em todo este complexo contexto, que a gestão no desporto se faz. Eis o aspecto que gostaríamos de destacar na apreciação agora escrita: que em muitos casos, é permanente o c o n fl i t o q u e u m g e s t o r, d i r i g e n t e o u administrador de desporto tem de gerir, entre as regras públicas que fixam os parâmetros da sua actividade, e as regras privadas de cada modalidade desportiva em que esteja envolvido. Claro que, esta problemática será maior consoante a área de actuação do gestor, ou seja, “para quem” trabalhe. Isto porque, é obviamente muito diferente analisarmos, por exemplo, a actuação de um gestor de recursos desportivos, humanos ou físicos, que seja funcionário público ou autárquico, face a um gestor que seja contratado por um clube desportivo ou uma empresa do sector económico desportivo, para o/a qual seja trabalhador. E temos ainda os gestores


DESTAQUES 2016

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O ano que está quase a terminar voltou a mostrar um País cuja grandeza e qualidade dos seus ultrapassa claramente a dimensão das suas fronteiras. Um País de campeões, do futebol ao atletismo, do judo ao taekwondo, da patinagem à canoagem, do ténis ao badmington, entre muitos outros. Apresentamos um resumo dos muitos títulos e feitos de portugueses nas mais diversas modalidades.

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CADA VEZ MAIS FALAR DE DESPORTO OBRIGA, A QUEM O FAZ, EXPLICAR IMEDIATAMENTE DE QUE DESPORTO QUER TRATAR…

desportivos, contratados como profissionais de gestão, mas que prestam a sua actividade nas Federações (entidades com um estatuto jurídico especial, caso dotadas de Utilidade Pública Desportiva). Mas, façamos uma pausa: dentro desta variedade de possibilidades e multiplicidade de definições, como podemos evoluir para uma maior transparência e clarificação, que nos ajude a todos a compreender melhor e mais rapidamente quem é quem e o que é que deve e pode fazer? Actualmente, caminha-se cada vez mais para o renovar de um debate (que é recorrente em Portugal, mas que ainda não está concluído) sobre a intervenção do Estado/Governo no Desporto que seja uma indústria de entretenimento, que seja uma actividade meramente económica, essencialmente movida por sociedades comerciais. Qual o nível de regulação exterior (pública) a que se deve obrigar aquele desporto que está (in)definido como “profissional”? (não vou escalpelizar aqui a génese do diploma legal - a Portaria n.º 50/2013 de 5 de fevereiro - que define os parâmetros para o reconhecimento da natureza profissional das competições desportivas e os consequentes pressupostos de participação nas mesmas, nem a evolução histórica das aplicações e renovações da mesma, porque não é este o espaço nem o momento, mas fica a menção). E, no meio disto tudo, parece evidenciar-se outra necessidade: a da definição do que é um

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“Gestor do Desporto”, nem que seja pelo mero cumprimento da Lei de Bases existente para o Desporto, que desde 2007 dispõe no seu Artigo 35.º «A lei define as qualificações necessárias ao exercício das diferentes funções Técnicas (…), bem como o processo de aquisição e de actualização de conhecimentos para o efeito (…)», acrescentando-se que, «Não é permitido (…) o exercício de profissões nas áreas da actividade física e do desporto, designadamente no âmbito da gestão desportiva (…), a título de ocupação principal ou secundária, de forma regular, sazonal ou ocasional, sem a adequada formação académica ou profissional.». E dizendo ainda, no Artigo 36.º, quanto aos «Titulares de cargos dirigentes desportivos», que «A lei define os direitos e deveres dos titulares de cargos dirigentes desportivos.»... Ou então, se se assumir que não deve ser cumprida a lei e regulamentado o que Ela determina, tenha-se a coragem de a corrigir! Como pode o leitor testemunhar, tentei, tal como me comprometi no início deste texto, identificar de forma objectiva a problemática que julgo ser urgente em Portugal abordada; mas não é fácil justificar na plenitude as situações que aqui mencionei, quando ainda antes de tratarmos no nosso país a definição da figura do gestor desportivo, teremos de analisar a revisão da figura do Dirigente Desportivo, regulada ainda por um diploma com mais de 20 anos, datado de 1995...

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PORTUGAL E CAMPEÃO EUROPEU DE FUTEBOL A seleção portuguesa de futebol sagrou-se esta noite campeã europeia ao bater a França, no Stade de France, em St. Denis, Paris, por 1-0, com um golo de Éder no prolongamento.

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SELEÇÃO PORTUGUESA DE FUTEBOL FEMININO CLASSIFICA-SE PARA O EUROPEU A seleção feminina de Portugal qualificou-se, esta terça-feira, para o play-off de apuramento para o Europeu de 2017, ao vencer na República da Irlanda, por 1-0, e garantindo assim o segundo lugar no Grupo 2.

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MANUEL MENDES CONQUISTA MAIS UM BRONZE PARA PORTUGAL NOS JOGOS PARALIMPICOS Manuel Freitas Mendes, de 45 anos, foi o último herói da campanha portuguesa nos Jogos Paralímpicos de 2016. Este domingo, na maratona T46 (classe de atletismo para amputados dos membros superiores), o português fez uma prova em crescendo: subiu ao 3.º lugar nos quilómetros finais e, com o tempo de 2:49.57 horas, conquistou a medalha de bronze. A JUDOCA TELMA MONTEIRO CONQUISTA A MEDALHA DE BRONZE NOS JOGOS OLÍMPICOS DO RIO2016 A judoca portuguesa Telma Monteiro conquistou a medalha de bronze na categoria de – 57 kg, a única medalha de Portugal nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, depois de vencer a romena Corina Caprioriu por yuko.


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6 MEDALHAS PARA PORTUGAL NO EUROPEU DE ATLETISMO Três medalhas individuais (2 Ouro, 1 Prata, 2 Bronze) e uma medalha por equipas (Ouro) foi o resultado do Campeonato da Europa de Atletismo, que se realizou em Amesterdão, Holanda, para a seleção nacional.

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PORTUGAL CONQUISTA EUROPEU DE FUTEBOL EM SUB17 Portugal volta a conquistar o título europeu de futebol em sub17, 13 anos 13 anos depois graças ao triunfo sobre a Espanha

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CANOÍSTAS PORTUGUESES CONQUISTAM PRATA NA TAÇA DO MUNDO José Ramalho em K1 e Nuno Carros em C1 conquistaram hoje a medalha de prata na corrida curta da Taça do Mundo de maratonas, que decorre até domingo na Vila de Prado, em Vila Verde.

RICARDINHO VOLTA A SER ELEITO MELHOR JOGADOR DE FUTSAL DO MUNDO O ala internacional português Ricardinho foi hoje eleito o melhor jogador de futsal do mundo, depois de ter conquistado o mesmo troféu em 2010 e 2014.

8 SARA MOREIRA CAMPEÃ DA EUROPA DA MEIA-MARATONA EM ANO DE ESTREIA Sara Moreira sagrou-se hoje campeã da Europa da meia-maratona, em Amesterdão, prova na qual Jéssica Augusto foi terceira, tendo Portugal vencido coletivamente a prova da Taça da Europa, igualmente em estreia.

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PORTUGAL É CAMPEÃO EUROPEU DE HÓQUEI EM PATINS A seleção portuguesa de hóquei em patins sagrou-se, pela 21.ª vez campeã europeia, ao vencer em Oliveira de Azeméis a Itália por 62.

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PORTUGAL CAMPEÃO EUROPEU DE FUTEBOL UNIVERSITÁRIO A equipa de futebol da Universidade do Minho, representante de Portugal na modalidade, venceu a medalha de ouro nos Jogos Universitários Europeus. E há mais cinco prémios para celebrar.

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MADJER REELEITO MELHOR JOGADOR DO MUNDO EM 2016 O capitão da seleção portuguesa de futebol de praia, Madjer, foi hoje eleito pelo segundo ano consecutivo o melhor jogador do mundo, no decorrer da gala da modalidade que decorreu no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

CASAL DE CAMPEÕES. JOÃO E DANIELA MONTEIRO GANHAM OURO NOS EUROPEUS DE TÉNIS DE MESA João Monteiro ganhou o ouro em pares mistos nos europeus de ténis de mesa, em conjunto com a esposa, a romena Daniela Dodean Monteiro, esta sexta-feira. Marido e mulher bateram na final de pares mistos os suecos Mattias Karlsson e Matilda Ekholm por 3-2, num encontro em que estiveram a perder por 2-0, com os parciais de 5-11, 10-12, 11-5, 11-6 e 14-12.


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FERNANDO PIMENTA CAMPEÃO DA EUROPA O canoísta português Fernando Pimenta sagrou-se Campeão da Europa de K1 1000 metros, na prova que se realizou em Moscovo, Rússia, depois de uma prestação impressionante do atleta natural de Ponte Lima.

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TSANKO ARNAUDOV MEDALHA DE BRONZE NO LANÇAMENTO DO PESO O português Tsanko Arnaudov conquistou hoje em Amesterdão a medalha de bronze no lançamento do peso dos Campeonatos da Europa de atletismo.

16 TIAGO FERREIRA CAMPEÃO DO MUNDO DE BTT XCM O português Tiago Ferreira, ao serviço da Seleção Nacional/Liberty Seguros, conquistou o Campeonato do Mundo de Maratonas BTT (XCM), em Laissac, França. O viseense concluiu os 90 quilómetros, muito duros, com 3130 metros de acumulado de subida, em 4h01m57s.

17 PATRICIA MAMONA CAMPEÃ EUROPEIA NO TRIPLO SALTO Patrícia Mamona conquistou para Portugal o seu terceiro título europeu nos campeonatos que decorreram em Amesterdão. A saltadora do Sporting triunfou na final do triplo salto, conseguindo a medalha de ouro com um novo recorde nacional (14,58m), alcançado no último salto.



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