Revista Veja Rio 17/01/2018

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PARTE INTEGRANTE DE VEJA ANO 51 - NO 3 NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE

17 de janeiro de 2018

Pretinho da Serrinha, cria do Império Serrano

EU SOU O SAMBA Às vésperas do Carnaval, uma geração de jovens compositores renova o gênero com rodas que enchem ruas e palcos da cidade



ÍNDICE ANO 51 | Nº 3

SEÇÕES

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8 A Opinião do Leitor 10 #vejario no Instagram 12 Histórias Cariocas Uma casa de 50 milhões de reais 14 Beira-Mar O ritual da atriz global Bianca Bin 26 Carioca Nota 10 27 Vida Leve Calendário de corridas de rua 28 À Moda das Ruas Calça dos anos 80 está de volta FOTOS FELIPE FITTIPALDI

50 Manoel Carlos

ROTEIRO 4 Programe-se

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30 Restaurantes 32 Bares Drinques direto da torneira 34 Comidinhas 36 Crianças 38 Exposições 40 Shows

ANNA FISCHER

43 Teatro Um belo tributo a Bibi Ferreira 46 Filmes

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Meio ambiente Extintas no Parque Nacional da Tijuca, espécies nativas de animais, como a arara-vermelha, serão devolvidas ao seu hábitat

Música Uma nova geração de cantores e compositores, como Nego Alvaro e Marcelle Motta, embala as rodas de samba da cidade

Cidade Pisos táteis com problemas de instalação e manutenção são armadilhas no caminho de deficientes visuais

Foto de capa: Daniel Ramalho

Veja Rio 17 de janeiro, 2018 3


PROGRAME-SE

Editado por Pedro Tinoco | p.tinoco@abril.com.br

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COM AMOR, VAN GOGH Em bela animação que evoca a obra do artista holandês, o longa caminha para o segundo mês em cartaz. Pág. 48

COTAÇÕES ➓ Péssimo Fraco Regular Bom Muito bom Excelente CARTÕES DE CRÉDITO E DÉBITO Cc: A American Express | D Diners | M Mastercard | V Visa | Cd: M Maestro | R Rede Shop | V Visa Electron

4 Veja Rio 17 de janeiro, 2018

EUFORIA De volta ao circuito com o monólogo, Michel Blois inaugura a programação do Reduto, espaço em Botafogo. Pág. 44

MANUFATURANDO BRINQUEDOS Em cartaz na Caixa Cultural, a oficina é voltada para os pequenos em férias. Pág. 37

BROTA Bolinho de arroz integral, a brotinha (foto) é uma das atrações no cardápio da casa de comidinhas no Arpoador. Pág. 34

A ALMA IMORAL Clarice Niskier resume séculos de história do pensamento em um monólogo hipnotizante no Teatro Oi Casa Grande. Pág. 43

VAV Nome do k-pop, gênero musical teen vindo da Coreia do Sul, a banda recebe os fãs cariocas no Teatro Riachuelo. Pág. 37 FELIPE FITTIPALDI

SERVIÇOS DE VENDA DE INGRESSOS IC Ingresso.com, ☎ 4003-2330. IR Ingresso Rápido, ☎ 4003-1212. CI Compre Ingressos, ☎ 3005-4104. ICE Ingresso Certo, ☎ 2538-3000 e 2203-0515. TF Tickets for Fun, ☎ 4003-6464.

O TOURO FERDINANDO Novidade no circuito, o longa de animação é dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha. Pág. 46

A TEAM ENTERTAINMENT/DIVULGAÇÃO

FAIXAS DE PREÇO POR PESSOA Refeição com couvert, um prato de custo médio, sobremesa, água mineral e serviço $ até R$ 90,00 $$ de R$ 91,00 a R$ 130,00 $$$ de R$ 131,00 a R$ 220,00 $$$$ acima de R$ 220,00

FOTOS REPRODUÇÃO

Os jornalistas de VEJA RIO fazem visitas anônimas a restaurantes, bares e endereços de comidinhas. Todas as despesas são pagas pela revista

LEILA PINHEIRO Ao piano, a cantora revisita seus compositores favoritos no Teatro Riachuelo. Pág. 41

DALTON VALERIO/DIVULGAÇÃO

Pagamos as nossas contas

CORDILLERA O novo ponto de petiscos no Shopping Città América serve sorvete artesanal de doce de leite. Pág. 34

FILICO/DIVULGAÇÃO

seg ter qua


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BIRRERIA ESCONDIDO, CA Ponto de saborosas pizzas e cerveja artesanal, muito procurado na happy hour, o endereço em Botafogo passou a abrir também no horário de almoço. Pág. 31

MOLETCHAN Sim, é isso mesmo: É o Tchan e Molejo, reunidos no KM de Vantagens Hall, revivem o pagode dos anos 90. Pág. 40

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qui sex sáb dom

BITUCA — MILTON NASCIMENTO PARA CRIANÇAS De volta ao circuito, o espetáculo ganha sessões na Cidade das Artes. Pág. 36

TRIBUTO AO REI DO POP O paulista Rodrigo Teaser leva ao KM de Vantagens Hall sua homenagem a Michael Jackson. Pág. 42

JOÃO CALDAS/DIVULGAÇÃO

JOM/DIVULGAÇÃO

RODRIGO SAVASTANO/DIVULGAÇÃO

CHEZ CLAUDE Na galeria do Leblon onde inaugurou seu primeiro restaurante, o chef francês Claude Troisgros exibe nova empreitada. Pág. 30

DOMINGO NO JARDIM Em meio ao verde do Jardim Botânico, a criançada curte a apresentação do teatro de bonecos Papa Vento. Pág. 37

JOÃO BOSCO À frente de um trio virtuoso, o cantor, compositor e violonista retorna ao Teatro Rival Petrobras. Pág. 42

CAMILA SUGAI/DIVULGAÇÃO

BOCA DE OURO Dirigida por Gabriel Villela, a nova adaptação do clássico de Nelson Rodrigues ganha o palco do Sesc Ginástico. Pág. 45

FELIPE FITTIPALDI

CEREJEIRA PRODUÇÕES/DIVULGAÇÃO

TAHPAH Recém-chegada ao baixo boêmio da Rua Nelson Mandela, diante do metrô de Botafogo, a casa aposta em tapas e vinhos. Pág. 32

O TEMPO NÃO DÁ TEMPO Com Juliana Linhares e Marina Vianna no elenco, o primeiro texto de Gregorio Duvivier estreia no Oi Futuro. Pág. 45

OKANOSSA No Leblon, o ponto serve saborosas tartines (foto). Pág. 34

RAPSÓDIA — O MUSICAL Comédia teatral sanguinolenta, a peça faz temporada no Solar de Botafogo. Pág. 44


Fundada em 1950

VICTOR CIVITA

ROBERTO CIVITA

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A OPINIÃO DO LEITOR CAPA Nesta época, manter a molecada em atividade é fundamental (“Diversão garantida”, 10 de janeiro). Sem escola, não é uma tarefa fácil conseguir programas pelos quais eles se interessem. Achei as dicas ótimas e também muito criativas. Antônio José Gomes Marques, via Facebook

Apesar da crise, curtir as férias com os filhos é importante, ainda mais podendo levá-los a lugares nunca antes vistos. Marieta Barugo, via Facebook

Amei a lista! Fiquei tentada a ir ao Parque Madureira e, finalmente, ao Bosque da Barra!

Deveriam ter feito uma praça nesse terreno (“Sobe um prédio no Flamengo”, 10 de janeiro). Karin Rüger Müssnich, via Facebook

Fiquei até curiosa para saber quem comprou.

Paula Goja, via Facebook

Antonia Vinco, via Facebook

CIDADE Quando o poder público não faz o que deveria, a iniciativa privada tem de se mobilizar (“Esperar para quê?”, 10 de janeiro).

BEIRA-MAR Ele é muito desanimado. Paulista demais (“O substituto”, 10 de janeiro). Alexandre Souto, via Facebook

Rafael Brasilia, via Facebook

Sou mais o William Bonner, acho legal o jeito dele de apresentar o jornal.

Chegou tarde demais, depois de já terem furtado duas bicicletas minhas.

Matheus Santos Gonçalves, via Facebook

Verena Barroso Bastos, via Facebook

Prefiro o Léo Batista! HISTÓRIAS CARIOCAS Acabei de fazer a minha, e veio no modelo antigo (“Fim da papelada”, 10 de janeiro). Elizabeth De Lima Feuermann Missagia, via Facebook

Rodrigo Medeiros, via Facebook

MUNDO ANIMAL Não conheço quem tenha gato que não faça suas necessidades na caixa higiênica (“Toalete felino”, 10 de janeiro).

Kit de primeiros socorros, extintor de incêndio e agora essa… Mais despesas que não dão em nada.

Antonio Popis, via Facebook

Marcelo Salles, via Facebook

Luciana Martins, via Facebook

Acho a caixinha de areia muito melhor.

VEJA RIO fale conosco Veja Rio

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Atenção: ninguém está autorizado a solicitar objetos em lojas nem a fazer refeições em nome da revista a pretexto de produzir reportagens para qualquer seção de VEJA RIO.

8 Veja Rio 17 de janeiro, 2018

Atendimento ao leitor: (21) 2546-8144 Sobre assinaturas: (11) 5087-2112



#VEJARIO NO INSTAGRAM

Chegadas e partidas

FOTOS REPRODUÇÃO

Com o aumento do fluxo de passageiros provocado pelas férias, os aeroportos Santos Dumont e do Galeão serviram de cenário para a missão da semana

2o

As aeronaves estacionadas no Galeão foram a aposta de @diegospaiva

1o Na foto de @sergiothmz o Morro do Pão de Açúcar faz as vezes de moldura

3o De dentro do avião, @marcellecaldas focou as pistas do Santos Dumont

do Aeroporto Internacional 4o OTompainel Jobim deu o colorido à imagem de @rogerio.serrao

Próxima missão Esquentando os tamborins: o pré-Carnaval já começou Inspire-se na frase acima, tire uma foto e compartilhe-a no Instagram página no Facebook. Mobilize os amigos: as quatro imagens mais com a marcação #vejario_precarnaval. Se o seu registro for escolhido, votadas serão publicadas na próxima edição de VEJA RIO e no site. ele participará de uma eleição on-line na segunda (15) pela nossa Saiba mais em www.vejario.com.br/especial/missao-instagram 10 Veja Rio 17 de janeiro, 2018



HISTÓRIAS CARIOCAS Rafael Sento Sé | historiascariocas.rafael@gmail.com

Sonhar não custa nada Uma mansão com sete suítes, piscina e spa no Jardim Botânico pode ser sua: é só desembolsar a estratosférica quantia de 48,6 milhões de reais. Esse é o preço do bem mais caro à venda na Rio Exclusive, imobiliária de alto padrão que tem entre seus clientes os cantores Justin Bieber e Rihanna e o ator francês Vincent Cassel, além dos governos da Rússia e do Catar. Outras duas residências no bairro figuram entre os imóveis de valor mais elevado da cidade. A lista dos cinco palacetes mais suntuosos inclui uma cobertura na Avenida Atlântica com 800 metros quadrados e outra na Urca (667 metros quadrados), com projeto do escritório do arquiteto Arthur Casas, anunciadas respectivamente por 25 milhões e 23,8 milhões de reais. De acordo com a Rio Exclusive, o réveillon de 2018 foi o melhor dos últimos cinco anos, com cerca de oitenta imóveis locados para temporada na cidade, um incremento de 50% em relação ao mesmo período de 2017.

NOVOS VOOS Atração em cartaz no primeiro ano de funcionamento do Museu do Amanhã, a exposição Poeta Voador, Santos Dumont foi sucesso de público, com mais de 500 000 visitantes. Parte do acervo da mostra será remontada e exibida de forma permanente no Museu Aeroespacial, no Campo dos Afonsos. Museólogos da instituição se apressam para conseguir inaugurar a nova instalação antes do mês de aniversário do Pai da Aviação, nascido em 20 de julho de 1873. Por lá, as peças, criações do cenógrafo Gringo Cardia, vão dividir espaço com curiosidades como o coração do inventor, embalsamado e acondicionado em uma esfera dourada. 12 Veja Rio 17 de janeiro, 2018

FOTOS ALEXANDRE MACIEIRA/RIOTUR

Traje: folia completa Este ano não vai ser igual àquele que passou. Escolas do Grupo Especial prometem levar à Sapucaí protestos contra tudo o que está aí — a administração municipal, que no início do ano anunciou um corte na verba para os desfiles, está entre os alvos. Na defesa do enredo Com Dinheiro ou sem Dinheiro, Eu Brinco, a Mangueira abriu uma ala para lideranças do Carnaval de rua carioca. Dentro do espírito de provocação do samba verde e rosa, o carnavalesco Leandro Vieira pediu aos integrantes desse setor que venham à vontade, fantasiados como se estivessem indo a um bloco. Surpresa garantida.


dias...

...se passaram sem acidentes fatais na Ponte Rio-Niterói. O marco, alcançado na segunda (8), é um recorde. Entre os responsáveis pela segurança da via há a convicção de que os radares, ligados desde março de 2016, contribuíram para o balanço positivo, mesmo que ainda não estivessem resultando em punição para os infratores flagrados. A moleza acabou: multas começam a ser enviadas pelo correio na segunda (15).

ARQUIVO AGÊNCIA O GLOBO

JORGE RIBAS E ALEX BENSIMON/DIVULGAÇÃO

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MEMÓRIA

SÃO SEBASTIÃO EM DIA DE TIRADENTES Como era de esperar, a Igreja e o governo da Guanabara programaram a inauguração do monumento em homenagem ao santo padroeiro para o seu dia: 20 de janeiro. A cerimônia marcaria o início das comemorações do IV Centenário do Rio, em 1965. Passaramse as semanas, porém, e o que se viu foi um familiar jogo de empurra entre escultores contratados, a superintendência de obras e a pedreira responsável pelo fornecimento de matéria-prima para a estátua, feita com cerca de 40 toneladas de granito do tipo ouro velho. Na data prevista, debaixo de chuva, a celebração, constrangida, se deu diante de um molde de gesso, ainda fresco, com metade do tamanho original. A imagem que hoje abençoa os cariocas, no bairro da Glória, só foi instalada três meses depois, curiosamente, no dia de outro mártir: Tiradentes.


BEIRA-MAR

Daniela Pessoa | daniela.pessoa@abril.com.br

RITO FEMINISTA Protagonista da novela das 9, O Outro Lado do Paraíso, Bianca Bin fez um barulho danado na internet há alguns dias ao incentivar um ritual um tanto quanto naturalista. Chamado de “Plante sua lua”, ele se baseia na ideia de que a mulher deve coletar seu sangue menstrual e espalhá-lo sobre a terra para “fechar o ciclo com a natureza e recuperar a sua potência feminina”. No caso de quem mora em apartamento, vale até usar os vasos de plantas para isso. Formada pela Uerj, a ginecologista Bel Saide, referência no assunto, defende a prática como um resgate à autoestima. “A mulher era sagrada nas culturas ancestrais, antes do patriarcado. Esse é um ato de consagração, de honrar seu corpo e se reconectar consigo mesma”, afirma. A médica prega ainda o fim do uso dos contraceptivos com hormônio. “Eles privam a mulher de seu ciclo natural, o que é um absurdo. O mundo de hoje exige que estejamos produtivas, mas precisamos respeitar nossa TPM, nossa cólica. Isso é empoderamento.”

TALK SHOW NOS ARES

RECEITA MILIONÁRIA

MARCO ANTÔNIO CAVALCANTI/AG. O GLOBO

Tem de tudo no território livre da internet, até entrevista com famosos cruzando o céu do Rio de parapente. Assim é o novo programa que o ator Sandro Cardoso, que já comandou o Aventuras Reais no Multishow e no Canal Off, vai lançar em seu canal no YouTube. Os primeiros participantes do talk show Papo Avoado, que deve entrar no ar após o Carnaval, são os atores André Gonçalves e Sérgio Malheiros — esse último, quase ninguém sabe, piloto iniciante de parapente. “O André estava morrendo de medo. Disse que não ia, mas foi e adorou”, diverte-se Cardoso. “Somos amigos desde a infância, quando ele vendia água na rodoviária para ajudar a família. Passou um tempo apanhando da mídia, sofreu com a fama de mulherengo, mas tem um baita coração”, diz o apresentador, que se inspira em astros como Jimmy Fallon, Jô Soares e Tatá Werneck. O convite para o bate-papo nas alturas já foi estendido a David Brazil, Whindersson Nunes e Simone e Simaria. 14 Veja Rio 17 de janeiro, 2018

O cantor Luan Santana já tem o seu, assim como o youtuber Felipe Neto. Famoso que é famoso cria o próprio aplicativo de celular para divertir os fãs e, claro, ganhar um dinheirinho extra. Claudia Leitte acaba de lançar o dela, com mensalidade de 9,90 reais, que dá acesso a promoções e até mesmo a experiências como encontrá-la no camarim. “O Brasil tem 200 milhões de habitantes e 300 milhões de celulares, ou seja, um aparelho e meio por pessoa. Seria um desperdício não fazer dinheiro com isso”, afirma Alexandre Ktenas, sócio da startup carioca Kontente. Responsável pelos apps de Santana e Cláudia, ele agora está em negociação com Cleo Pires, Pabllo Vittar e Preta Gil. Em 24 horas, o programinha da cantora foi baixado 50 000 vezes. Ainda não foram computadas as assinaturas, mas, se depender do case de sucesso do colega sertanejo, o cofrinho dela também vai engordar. Luan já soma 70 000 assinantes. Com cada um pagando 9,90 reais por mês, o faturamento ultrapassa 8,3 milhões de reais por ano.


Pré-candidato do PRB a deputado federal, Marcelo Hodge Crivella, filho do prefeito da cidade, é afeito a doses diárias de autoajuda. Tanto que suas redes sociais são repletas de dizeres motivacionais, como “O sucesso não é um destino. É uma jornada”. Ou “Conte suas bênçãos. Não seus problemas”. Fã de psicologia, sua primeira formação universitária, e de coaching (ele já fez alguns treinamentos), Marcelinho vai lançar ainda neste mês o livro Mente Nova, Vida Nova, o que já lhe rendeu convites para sete palestras. Ele falou a VEJA RIO. De onde vêm suas pílulas de sabedoria? Sou um colecionador de frases inspiradoras, porque existe uma tendência natural do ser humano de pender para a negatividade. Procuro me esforçar para manter a mente otimista. Meus livros de cabeceira são Criatividade S.A. e Hipercrescimento.

YURI SARDENBERG E ANINHA MONTEIRO/DIVULGAÇÃO

Tem algum mantra? Repito sempre para mim mesmo: “Uma mente positiva não é capaz de tudo, mas torna as coisas mais fáceis”. Os vinte primeiros minutos do dia são sagrados. É nesse período que o cérebro define o humor do dia. Lá em casa, é proibido mexer no celular logo depois de acordar.

FOTOS RICHARD SANTOS/DIVULGAÇÃO E REPRODUÇÃO INSTAGRAM

ALINE MASSUCA/AG. ESTADÃO

“Acreditar em Deus não é a solução para tudo”

primeiro ano. É que o Crivella não sabe comunicá-las. Ele poderia fazer um trabalho melhor nesse sentido. Além disso, herdamos uma dívida de 10 bilhões de reais dos Jogos Olímpicos, então o jeito foi promover cortes. E ninguém gosta de cortes, inclusive os vereadores. Sem o apoio da Câmara, o prefeito não consegue governar.

Muitos acreditam que ele está fazendo mais pela No fim do ano, você encorajou seus seguidores a Igreja Universal do que pelo Rio... Ele nunca misturou criar um plano de metas. Quais são as suas? Sim, as coisas. Nem na prefeitura do Rio nem quando estava no minha esposa e eu finalizamos 2017 avaliando e estabele- Senado ou no Ministério da Pesca. cendo novos objetivos: quantas vezes iremos à academia, quanto queremos pesar até o fim do ano, quantos livros Tem medo de que a religião o torne uma figura vamos ler. Para o Rio, quero trazer uma edição da maior caricata? A imagem de crente fanático não condiz com feira de startups do mundo. A última foi na Finlândia. De- quem eu sou. Não tenho como tirar Deus da minha vida sejo fortalecer nosso ecossistema de empreendedores. nem acho que acreditar em Deus é a solução para tudo. A gente precisa agir. Isso envolve muito preparo, não Mas nenhum político costuma cumprir muitas me- apenas oração. A Bíblia é muito condizente com isso: ela tas... A meta define o rumo que você vai tomar. Como incentiva a buscar sempre seu melhor. chegar lá depende de vários fatores. Muitas empresas no Brasil não alcançaram suas metas nos últimos anos por Quem você apoia para governador do Rio e para precausa da crise no país, por exemplo. sidente do país? Quem tem o melhor discurso e está mais preparado para encarar o desafio de governar um estado As críticas feitas a seu pai o incomodam? Claro que com tantos problemas na área de segurança é o Índio da me afetam, mas a prefeitura já teve muitas conquistas no Costa. Para presidente, torço muito pelo João Doria. Veja Rio 17 de janeiro, 2018 15


LUÍSA GENES/DIVULGAÇÃO

Meio ambiente

ARCA DE NOÉ Extintas por causa da caça predatória e do desmatamento, espécies nativas da Floresta da Tijuca são reintroduzidas em seu hábitat Gustavo Côrtes

O

s macacos bugios são conhecidos pelo vozeirão. De tão potentes, seus rugidos alcançam 128 decibéis, volume superior ao da sirene de uma ambulância, e são ouvidos a até 5 quilômetros de distância. Com pelagem alaranjada, alimentam-se basicamente de folhas e frutos, pesam, em média, 7 quilos e podem medir de 30 a 75 centímetros. Também são famosos por se movimentar com rapidez entre os galhos, mas isso não impediu que acabassem dizimados na Floresta da Tijuca, devastada por fazendas de café ali instaladas ao longo dos séculos XVIII e XIX. Após mais de 100 anos sem ser vistos na região, uma boa notícia: os bugios

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voltaram a circular livremente pela mata, graças a um programa de reintrodução de animais nativos extintos em consequência da caça predatória e do desmatamento. “As próximas espécies da fila são as antas e as ararasvermelhas, que desapareceram da área antes mesmo de termos registros fotográficos delas no local”, revela Fernando Henrique Sousa, diretor de sustentabilidade do Grupo Cataratas, uma das entidades que vêm financiando as atividades do projeto Refauna. Os bugios, também conhecidos como guaribas ou barbados, foram instalados em um viveiro dentro do Parque Nacional da Tijuca que permitiu sua aclimata-


Zoológico natural Criado em 1961, o Parque Nacional da Tijuca reúne 359 espécies de animais

31 répteis, muitos deles lagartos e serpentes 39 anfíbios, como a rãde-goeldi e o sapo-cururuzinho Macaco, arara e cutia: desafios no processo de adaptação à casa nova

ção gradativa ao ambiente. Nesse período, eles ganharam uma dieta nova, com folhas e frutos típicos que poderiam encontrar quando soltos. Dos seis animais já reintroduzidos no parque, oriundos de cativeiro e de apreensões feitas por órgãos ambientais, dois deles, Kala e Juvenal, se saíram tão bem que tiveram até um filhotinho, em setembro do ano passado. O principal entrave para a adaptação, no entanto, é mesmo o contato com seres humanos, que podem transmitir doenças contra as quais os primatas não têm imunidade. Muitas pessoas ainda oferecem comida, o que vicia os bichos em comportamentos que inviabilizam a ambientação e o exercício da função ecológica da espécie. “Tivemos de resgatar dois macacos que só ficavam no chão pedindo comida. Dessa forma, eles também deixam de comer os frutos com as sementes dentro, e as fezes não contribuem mais para a dispersão das plantas, o que é importante para garantir que a floresta possa conservar, a longo prazo, a sua biodiversidade”, explica Ernesto Viveiros de Castro, chefe do Parque Nacional da Tijuca.

YES BRASIL/ISTOCK

FOTOS ANNA FISCHER

63 mamíferos, incluindo agora o macaco bugio 226 aves, com destaque para o tucano-de-bico-preto

Equipados com coleiras de rastreamento, os novos moradores do parque recebem visitas semanais de doze pesquisadores da UFRJ, que verificam como anda a saúde dos bichos e avaliam o processo de adaptação à nova casa, bem mais ampla e desafiadora. “O monitoramento é auxiliado por armadilhas fotográficas e marcas no pelo, que os diferenciam uns dos outros”, detalha o biólogo da UFRJ Fernando Fernandez, coordenador do projeto, que trabalha agora em uma nova soltura. Até o fim de janeiro, um grupo de doze cutias, capturadas no pátio do zoológico do Rio, numa área que passará por obras em breve, também será devolvido à natureza, na região do Corcovado. No momento, os pequenos roedores estão no período de quarentena em cativeiro, quando são submetidos a baterias de exames, para garantir que não levem doenças ou parasitas para o meio ambiente. Como aconteceu com os macacos, as duas primeiras semanas na floresta serão de confinamento em um cercadinho, onde começam a se habituar ao novo terreno. Se tudo der certo, ficarão o resto da vida em liberdade. ß Veja Rio 17 de janeiro, 2018 17


Música

SAMBA ESQUEMA NOVO

Às vésperas do Carnaval, uma geração de jovens bambas leva adiante a tradição centenária das rodas pela cidade Pedro Tinoco e Daniela Pessoa 18 Veja Rio 17 de janeiro, 2018


Veja Rio 17 de janeiro, 2018 19

FELIPE FITTIPALDI

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lvaro Santos nasceu há 29 anos na comunidade do Catiri, em Bangu, e dia desses estava feliz da vida batucando entre estrelas da MPB, dentro de um baita apartamento com vista para a Praia de Ipanema. Levado pelo parceiro Pretinho da Serrinha para participar da Cantoria, tertúlia musical promovida na casa da empresária Paula Lavigne, Nego Alvaro, como é mais conhecido, gelou quando esbarrou com Gilberto Gil. “Vi o cara lá, tocando com a gente, queria dar meu CD para ele, mas, puxa vida, era o Gil, né? Não tive coragem”, lembra. Lançado há pouco mais de um ano, Cria do Samba, disco de estreia do jovem bamba, não foge ao gênero que o batiza, apesar de trazer no repertório versões para um rock (Extra II, o Rock do Segurança, do venerável Gil) e um rap (Hino Vira-Lata, do paulista Emicida). A nova geração, à qual pertencem Alvaro e Pretinho, é assim: ignora fronteiras entre estilos musicais e nem liga para distâncias como a que separa Catiri da Avenida Vieira Souto. Neste verão, para saber mais sobre essa turma, siga-a por aí. Na rua, nos palcos de clubes e casas noturnas ou no sofá de Paula Lavigne, a tradição das rodas de samba vai adiante, com público, repertório e protagonistas renovados. Moacyr Luz é o fundador e líder do Samba do Trabalhador, um fenômeno das rodas que há doze anos leva multidões ao Renascença Clube, no Andaraí. Detalhe: sempre às segundas, e a partir das 4 da tarde, a festa frequentemente reúne mais de 1 000 pessoas. No conjunto que acompanha Moacyr, Nego Alvaro toca percussão e tem seu momento de brilho-solo quando canta o libelo contra o racismo Estranhou o Quê?. “O Alvaro é um grande instrumentista, intérprete de ótima dicção e está compondo muito. Aliás, a juventude está fazendo samba à vera”, atesta o chefe, antes de teorizar. “O pop é naturalmente, e por força do mercado, associado ao público mais novo. Para reagirmos a isso, é muito importante o surgimento, no mundo do samba, de uma garotada que fala a língua dos seus contemporâneos.” A “garotada” a que o mestre se refere ganha cada vez mais espaço e, em muitos casos, está no comando dos trabalhos. Nesse pelotão, que dá expediente o ano inteiro e sobressai às vésperas do Carnaval, o nome de Pretinho da Serrinha aparece na linha de frente. Cria de Madureira, nascido no Morro da Serrinha, que carrega no sobrenome artístico, Ângelo Vitor Simplício da Silva, 39 anos, está em todas. O começo foi duro, muito duro, mas o talento e a gana de fazer


música o desviaram do destino triste de parentes e companheiros de infância. Sua mãe cumpriu pena por tráfico. “Da minha turma, lá atrás, o Thiago da Serrinha hoje toca com o (bandolinista) Hamilton de Holanda. Outros amigos morreram em troca de tiros com a polícia. De dezenove, restaram apenas cinco”, resume Pretinho. A ligação da família com o samba e o virtuosismo precoce na percussão lhe abriram as portas da bateria do Império Serrano aos 10 anos. Aos 13, o meninoprodígio acompanhou uma excursão do tradicional Jongo da Serrinha pela Itália. Na volta da turnê, já era artista. “A música me salvou”, diz. Em rodas na cidade e em outros compromissos, esbarrou (e trabalhou) com gente como Dudu Nobre, Seu Jorge (de quem é parceiro em Burguesinha e Amiga da Minha Mulher, entre outros hits), Lulu Santos, Marcelo D2 e Paula Lavigne — ela foi sua empresária por três anos e segue amiga, anfitriã nas animadas sessões musicais da Cantoria. Pretinho não perdeu nenhuma oportunidade e ampliou o leque. Em 2017, bancou o ator duas vezes. No teatro, dividiu o palco com Maria Ribeiro e Carolina Dieckmann no espetáculo Ensaio sobre Alguma Coisa que a Gente Ainda Não Sabe o que É. No cinema, fez o papel de China, irmão do personagem principal, no filme Pixinguinha — Um Homem Carinhoso, de Denise Saraceni, inédito no circuito. Ainda encontrou tempo para tocar cavaquinho no show da americana Alicia Keys, em pleno Palco Mundo do Rock in Rio, um dia depois de conhecer a cantora americana na casa de... Paula Lavigne. Mesmo mais pop do que nunca, o músico voltou à roda. Em novembro e dezembro do ano passado, levou ao Circo Voador edições do seu Samba Iaiá, apresentação com convidados ilustres do naipe de Marisa Monte, João Bosco, Iza e Roberta Sá, entre outros. As duas noites de casa cheia garantiram a continuidade do projeto: até o fim de janeiro, o Samba Iaiá volta a acontecer em novo endereço — e já estão confirmadas duas edições no Camarote Rio Exxperience, na Sapucaí, nos desfiles do Sambódromo. O estouro de Pretinho da Serrinha empolga músicos mais novos e, pelo menos por enquanto, menos conhecidos. Como cada um quer chegar lá à própria maneira, o samba agradece. Dona de tranças cor-de-rosa e vozeirão exuberantes, Marcelle Motta, 32 anos, nasceu em Juiz de Fora e mudou-se para o Rio ainda criança. Por aqui, deu os primeiros passos musicais soltando a voz na Igreja Messiânica e, depois, ensaiando com uma banda de pop rock. O samba chegou tarde, mas ficou. Frequentadora da roda do Grupo Arruda no Centro Cultural Cartola, ela tornouse amiga dos músicos, e certa vez foi convidada a dar

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PRETINHO DA SERRINHA, 39 anos Estrela da nova geração, o músico esbanja prestígio levando convidados como Marisa Monte, Iza, João Bosco e Roberta Sá para cantar junto

JUNINHO THYBAU, 31 anos O sobrinho do bamba Zeca Pagodinho criou a roda Na Porta de Casa, no Irajá, fenômeno de público que já ganhou canjas do tio ilustre e do veterano Monarco


FOTOS FELIPE FITTIPALDI

MARCELLE MOTTA, 32 anos A cantora solta seu vozeirão em eventos que vão desde batucadas na Lapa até ensaios do bloco Spanta Neném, na Lagoa

NEGO ALVARO, 29 anos Promessa, com um disco-solo lançado, o cantor e percussionista toca no Samba do Trabalhador, mas já comanda as próprias noitadas

uma palinha. “Entrei no grupo e não parei mais. No começo, sabia apenas três sambas, mas passei a estudar com afinco e me apaixonei por Cartola, Paulo César Pinheiro, João Nogueira, Dona Ivone, Jorge Aragão”, conta. A roda, hoje, é seu hábitat. “Sinto uma energia surreal, saio extasiada”, diz. Quem já a ouviu sabe que não é exagero: a moça é elogiada e incentivada por artistas como o violonista e produtor musical João de Aquino e o cantor e compositor Jorge Aragão. Marcelle bate ponto em batucadas variadas, do Beco do Rato, reduto concorrido na Lapa, à Festa da Raça, na Praça Tiradentes, passando pelos ensaios do Bloco Spanta Neném, na Lagoa. “A roda é acessível, é democrática e não custa caro. Tem de ser valorizada”, convida. Solidariedade é uma marca da nova geração nas rodas de samba cariocas. A relação bem próxima de toda a turma lembra Quadrilha, o famoso poema de Drummond. Exemplo: Pretinho da Serrinha produziu o disco de Nego Alvaro, que costuma dividir o palco com Marcelle Motta, que, por sua vez, é apaixonada pelo repertório de João Martins — assim como Nego Alvaro e Pretinho. João, 33 anos, filho de músico (o cavaquinista Wanderson Martins, que tocou com Martinho da Vila por 25 anos), foi criado no samba de raiz. Já deu expediente no Renascença Clube, na quadra do Cacique de Ramos — influência maior das rodas a partir dos anos 80, com o surgimento do grupo Fundo de Quintal — e no Pagode da Ciça, no Irajá. Hoje, diverte-se na Pedra do Sal, no Terreiro do Crioulo, “roda com muita energia, num quintal arborizado, em Realengo”, na Pede Teresa e na Feira da Glória, entre outros cantos. “Minha mulher bota comida em várias rodas, então acabo frequentando os lugares com ela, para ajudar, e dou minhas canjas”, conta, modesto (ou malandro) demais para quem já tem dois discos lançados e duas canções gravadas com a inigualável Dona Ivone Lara. Parceiro de João Martins no samba Minha Meta, Juninho Thybau, 31 anos, é cantor e compositor. Há um ano, pensando em “levantar algum dinheiro para investir na carreira”, inaugurou uma roda na rua, de graça, bem em frente à própria casa. O retorno financeiro viria da venda de bebida — além de vodca e uísque, latinhas de cerveja acondicionadas em baldes de plástico cheios de gelo, prática comum nas batucadas por aí. “Hoje em dia tudo é filmado e cai na rede. Acho que o pessoal, depois de ver na internet, ficou curioso”, arrisca Thybau, tentando entender o enorme sucesso do festejo, conhecido como Na Porta de Casa. Em frente ao número 20 da Rua Marinho Pessoa, no bairro do Irajá, todo segundo domingo do mês, a massa feliz interdita a

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FESTA DA DEMOCRACIA Aos Novos Compositores. Um time de 26 sambistas se reúne quinzenalmente para mostrar canções inéditas. A cada quatro meses, o caderno com o repertório é renovado. Beco do Rato. Rua Joaquim Silva, 11, Lapa. Na segunda e na quarta terça do mês, 19h/23h. Grátis.

autoral no reduto de decoração carnavalesca. Baródromo. Rua do Lavradio, 163, Lapa. Quinta, 20h. R$ 25,00 (até 21h) e R$ 30,00 (após 21h). Mesa de Jorge. Cercado pelo público, Jorge Aragão desfia clássicos em sua roda dominical no Festival Haras, entre DJs e outras atrações. Sociedade Hípica Brasileira. Avenida Lineu de Paula Machado, 2448, Lagoa. Domingo (dias 14, 21 e 28), 17h. R$ 60,00 (1º lote).

PEDRO LOBO/DIVULGAÇÃO

Um roteiro de rodas de samba, das novidades às tradicionais, passando por atrações da estação

Na Porta de Casa. Diante do imóvel em Irajá onde nasceu Zeca Pagodinho, seu sobrinho Juninho Thybau recebe convidados na roda mensal, que vai de samba da antiga e partidoCasuarina. Nas quintas de alto a composições do anfijaneiro, o grupo recebe convida- trião, gravadas por Diogo Nodos e passeia por seu repertório gueira, por Mariene de Castro e

pelo tio Zeca. Rua Marinho Pede Teresa. Surgida há três Pessoa, 20, Irajá. Domingo (21), anos de um encontro de amigos em um bar no Bairro de Fátima, 17h/23h30. Grátis. vizinho de Santa Teresa (daí o Nego Alvaro. Nome em as- nome), a roda passou pela Lapa censão, com um disco-solo lan- e pela Praça Tiradentes antes de çado, Cria do Samba, o cantor e fincar bandeira no Arco do Teles. compositor dá expediente no O agito mescla sambas tradicioSamba do Trabalhador, mas tam- nais aos de talentos em ascenbém comanda as próprias rodas. são. Espaço XV, Arco do Teles. As próximas acontecem em Nite- Quarta, 18h/0h30. Grátis. rói e no Catete. Toca da Gambá. Rua Carlos Gomes, 23, Niterói. Pedra do Sal. A semana coSexta (19), 20h30. R$ 20,00. Sam- meça animada aos pés do Morro ba DuCatete. Rua do Catete, 97. da Conceição. Ao ar livre, na reDia 25, 16h/22h. R$ 20,00. gião conhecida como Pequena

via para cantar junto dos músicos. Nomes ilustres, como Diogo Nogueira, Monarco e Zeca Pagodinho, tio de Juninho, já deram canjas históricas ali. Empolgado, ele acha que o bom momento não tem hora para acabar. “Estávamos precisando disso para o samba voltar a se democratizar, em vez de ficar restrito a shows com ingresso caro ou ao Carnaval”, analisa. Além de democráticas, as rodas andam em sintonia com as questões (e conquistas) de hoje. Sem perderem a reverência por Cartola, Candeia e outros ídolos de tempos idos, os novos bambas arriscam-se por temas atuais, despindo-se de preconceitos de outrora. É bom exemplo dessa linha Eu Vos Declaro, parceria de Fernando Procópio com Flávio Galiza. Sobrinho e neto de integrantes da Velha Guarda da Portela (Serginho Procópio e Osmar do Cavaco, respectivamente) e bisneto de Lalau do Bandolim, nome respeitado no choro, Fernando Procópio orgulha-se de representar “a quarta geração de artistas da família”. É dele a letra que diz “Eu vos declaro marido e

marido / Eu vos declaro mulher e mulher / Hoje a união tem um novo sentido / Tudo é permitido, casa quem quiser”. Fã de Candeia e Jorge Aragão, mas também de Gabriel, o Pensador e Racionais MCs, Procópio não se considera ousado. “Fazemos samba, não estamos inventando a pólvora, mas a linguagem que a gente usa é a do nosso tempo”, diz. Eu Vos Declaro foi testada e aprovada na roda Aos Novos Compositores, realizada no Beco do Rato duas terças-feiras por mês. Nos encontros, o público é apresentado a canções recém-criadas por um grupo de 26 autores e reunidas em um caderno. Só que a cada quatro meses o caderno é trocado e entram em cena mais inéditas. “Há um entendimento geral de que não existe renovação. Você sempre vai ouvir Candeia, Zeca, Fundo de Quintal, mas isso não quer dizer que não estejam sendo produzidas novidades”, opina João Grand Jr., funcionário do Instituto Pereira Passos, órgão da prefeitura dedicado a projetos de desenvolvimento para a cidade. Grand Jr. defendeu uma pre-

Cacique de Ramos. Fundado em 1961, o bloco abriga batuque semanal regado a feijoada em sua sede, em Olaria. Marquinhos de Oswaldo Cruz, Marquinhos Diniz e outros bambas costumam dar pinta por lá. No dia 21, a festa começa às 13h para celebrar o 57° aniversário do bloco. Rua Uranos, 1326, Olaria. Domingo, 17h. Grátis.

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Samba da Ouvidor. Fundada há dez anos pelo músico Gabriel Cavalcante, atrai cerca de 2 000 pessoas a cada edição, com composições que vão da década de 30 à de 80 e canjas de convidados ilustres como Moacyr Luz e Paulo César Pinheiro. Rua do Ouvidor, Centro. No primeiro e no terceiro sábado do mês, 16h30. Grátis. África, a batucada reúne turistas e jovens de todos os cantos da cidade. Rua Argemiro Bulcão, 38, Largo João da Baiana, Saúde. Segunda, 19h. Grátis.

Samba das Estações. A laje no alto do Morro do Pinto abriga os encontros. Um dos três sets é sempre reservado a homenagens ou convidados. Já passaram por lá nomes como Chico Alves e Bira da Vila. Julião Pinheiro, filho de Paulo César Pinheiro, é esperado na próxima roda, no dia 28. Bar do Omar. Rua Sara, 114, Santo Cristo. No segundo e no último sábado do mês, 19h. Grátis.

chuva, eles costumam migrar para o 2º andar do vizinho Plebeu). O repertório dos 22 músicos reverencia mestres da velhaguarda, a exemplo de Paulo da Portela, Marçal, Monarco, Dona Ivone Lara, Candeia e Nelson Cavaquinho. Fuska Bar. Rua Capitão Salomão, 52, Humaitá. Quinta, 19h/22h. Grátis. Samba do Trabalhador. Costumeiramente folga para os músicos, a segunda-feira virou dia oficial de uma das mais concorridas rodas da cidade, criada há doze anos. No clube do Andaraí, o samba está nas mãos de bambas de diferentes gerações, como Moacyr Luz, Gabriel Cavalcante e Nego Alvaro. Renascença Clube. Rua Barão de São Francisco, 54, Andaraí. Segunda, 16h/ 21h30. R$ 20,00.

Samba da Gávea. Em clima intimista, o batuque abre espaço para violões e vozes de craques como Pedro Miranda, Luís Filipe de Lima, João Cavalcanti e Alfredo Del-Penho. O time de bambas passeia por repertório próprio e Samba do Bilhetinho. Uma Samba Iaiá. Pretinho da Serinédito. Casa da Táta. Rua Profes- turma jovem e animada lota a rinha reúne convidados de várias sor Manuel Ferreira, 89, Gávea. calçada diante do pé-sujo em gerações em torno de clássicos Segunda, 20h. R$ 30,00. Botafogo às quintas (em dia de das rodas. Depois de duas conmiada tese de doutorado em geografia econômica, batizada de “Cultura, criatividade e desenvolvimento territorial na cidade do Rio de Janeiro — O caso da Rede Carioca de Rodas de Samba”. Também um dos fundadores da Rede Carioca de Rodas de Samba, organização da sociedade civil voltada para o estudo e o aprimoramento das condições da batucada no Rio, ele reuniu dados expressivos em seu trabalho acadêmico. Um mapeamento iniciado em 2015 registrou 150 rodas espalhadas pela cidade. Outro estudo, de 2016, feito com cinquenta rodas, apontou potencial de consumo, apenas nesse universo, em torno de 1,3 milhão de reais por mês. “A crise diminuiu esse valor, mas posso afirmar que a intensificação do número de rodas continua. Acaba uma, surgem duas, três”, diz. Além de efetivamente contribuir para a economia local e garantir diversão nos quatro cantos do Rio, a roda é um patrimônio cultural. No Dicionário da História Social do Samba (Civilização Brasileira), de

corridas edições no Circo Voador, o encontro ganha endereço mais amplo e faz seu Grito de Carnaval. Terreirão do Samba. Rua Benedito Hipólito, 66, Centro. Sábado (dias 20 e 27). 18h. Grátis. Spanta Neném. O bloco da juventude da Zona Sul tem roda própria, comandada pelos cantores Julio Estrela e Marcelle Motta. A batucada divide espaço com a bateria do Spanta e convidados. Sociedade Hípica Brasileira. Avenida Lineu de Paula Machado, 2448, Lagoa. Sábado (dias 13 e 27), 17h. R$ 100,00. Tim Music no Samba. No Dia de São Sebastião, padroeiro da cidade, Mumuzinho e Xande de Pilares defendem sucessos em formato de roda ao lado da bateria do Salgueiro, a Furiosa, cujo samba-enredo de 2018 foi composto por Xande. Fundição Progresso. Rua dos Arcos, 24, Lapa. Sábado (20), 22h. R$ 60,00. Carol Zappa

Nei Lopes e Luiz Antonio Simas, o verbete dedicado à expressão roda de samba assim a define: “o fenômeno verifica-se desde antes de seu desenvolvimento como gênero e da organização das agremiações do tipo escola de samba”. Ela merece respeito, portanto, mas às vezes ainda é tratada como nos primórdios, no começo do século XX, quando batidas da polícia interrompiam a festa na casa de Tia Ciata, a matriarca do samba brasileiro. Em julho do ano passado, Nego Alvaro, o promissor talento citado no início desta história, saía do Beco do Rato, seu local de trabalho, quando, após algum bate-boca sem sentido, foi levado à 5ª DP por agentes do projeto de segurança Lapa Presente. A cena kafkiana incluiu quarenta minutos de espera na delegacia e mais nada, nenhuma explicação. “Fiquei mal, com medo, depois passou. É um episódio que parece ridículo, mas, infelizmente, ainda acontece todo dia com algum dos nossos”, diz o músico. Desse enredo ninguém vai sentir falta. ß Veja Rio 17 de janeiro, 2018 23


Cidade

PISANDO EM FALSO Instaladas de forma incorreta em muitos casos, as faixas táteis reservam armadilhas perigosas no caminho dos deficientes visuais Dilson Júnior

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FOTOS FELIPE FITTIPALDI

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á 37 anos Maria da Glória Souza sai às 8h30 de sua casa, na Rua Cândido Gaffrée, na Urca, em direção ao trabalho, no Instituto Benjamin Constant (IBC), centro de referência nacional na área da deficiência visual, que fica no mesmo bairro. Às escuras desde os 6 anos, quando um tumor cerebral paralisou e atrofiou seu nervo óptico, a professora poderia ir caminhando até lá, mas prefere não se arriscar. “Acabo pegando um táxi porque sempre há um buraco novo ou um carro estacionado em local proibido. Sem falar nas faixas táteis, que deveriam servir de guias e estão instaladas de forma incorreta”, alerta, chamando atenção para um dos acessórios fundamentais na orientação e mobilidade de deficientes visuais em espaços públicos. Fixados no chão, em alto-relevo, com cores contrastantes e materiais antiderrapantes, os chamados pisos podotáteis auxiliam na identificação de desníveis, obstáculos e outros perigos, além de indicarem o caminho a ser percorrido com segurança. Se na teoria foram feitos para ajudar, na prática têm causado muitos problemas. “Prefiro me guiar pelos muros em certos lugares. Não sei quando posso confiar nos pisos”, conta João Batista Alvarenga, revisor de textos em braile do instituto, onde dá expediente diário, e morador do bairro do Sampaio, na Zona Suburbana. Antes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, o programa Rotas Turísticas Acessíveis, capitaneado pela Secretaria Municipal de Turismo, a RioTur, instalou 4 000 metros quadrados de faixas táteis nas redondezas de pontos turísticos cariocas com o intuito de beneficiar tanto visitantes quanto moradores da cidade — segundo o IBGE, cerca de 3,1% da população tem algum tipo de deficiência visual. Especialistas afirmam, no entanto, que o serviço foi feito às pressas, o que resultou em uma série de erros. Vizinho do Pão de Açúcar, uma das atrações contempladas, o entorno do IBC ganhou o piso especial, mas alguns trechos se tornaram verdadeiras armadilhas (veja o quadro). Outro ponto crítico é o Boulevard Olímpico, onde a passagem do veículo leve sobre trilhos (VLT) deixa os deficientes visuais ainda mais vulneráveis. Apesar do piso de alerta paralelo ao carril, a grande circulação de pessoas pelo calçadão já danificou alguns pontos. Em outros, o equipamento nem sequer foi instalado. Ainda há casos em que o pavimento especial foi posicionado depois de uma série de obstáculos na via. “Nas áreas abertas, como o Boulevard e a Praça Mauá, costumamos ficar desnorteados porque não existem muros ou guias que podem ser usados como referência”, relata Vitor Alberto, professor de história e geografia do IBC. Procurada, a Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente informou que vai vistoriar os locais. embora as recentes obras de mobilidade urbana apontem para uma sociedade mais inclusiva, o caminho, ao que tudo indica, ainda será longo. ß

JOGO DOS SETE ERROS A falta de manutenção é um dos problemas recorrentes Praça Medalha Milagrosa, Urca Rampas sem guias rebaixadas são um grande risco. A inclinação adequada das abas laterais é essencial também para cadeirantes, principalmente perto de travessias 1

Além de haver obstáculos em cima da faixa, toda a extensão da rota que liga o Rio Sul ao Pão de Açúcar é escorregadia. Em locais abertos, o piso deve ser antiderrapante 2


Avenida Pasteur, Urca O piso foi posicionado muito próximo ao lancil localizado em frente ao Museu de Ciências da Terra. Qualquer saída mínima da rota pode causar um acidente 5

Uma corrente de ferro que protege o canteiro da Escola de Guerra Naval é o destino final do deficiente que confiar neste trecho 6

O professor Vitor Alberto: dificuldades perto do trabalho

Praça Mauá, Saúde Sem a reposição das pastilhas, a sinalização de alerta nas faixas do entorno do VLT, que mostram por onde passa o veículo, sofre com a falta de manutenção 4

Avenida Rio Branco X Avenida Presidente Vargas, Centro Na Estação Parada Candelária do VLT, o piso tátil é da mesma cor que o restante do pavimento. A sinalização deve contrastar para auxiliar também pessoas com baixa visão 7

Avenida Rodrigues Alves, Centro 3 Em frente ao Armazém 2 do Píer Mauá, um problema comum em vários pontos da cidade: o piso está localizado depois de um obstáculo, o que põe o deficiente visual em risco

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CARIOCA NOTA 10 i Carlos Peixoto Atitude transformadora: idealizou o Projeto Varizes, que oferece cirurgias vasculares gratuitas à população

FELIPE FITTIPALDI

“Quem faz medicina precisa gostar de pessoas, não apenas da mãe, do pai, do namorado... Tem de gostar do ser humano, do branco, do negro, sem distinção”

o ser eleito presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro (SBACV-RJ), o médico Carlos Peixoto, cujo mandato se encerrou no fim do ano passado, criou o Projeto Varizes, com o objetivo de atender quem não pode pagar por uma cirurgia. Para se ter uma ideia, uma operação desse tipo custa entre 5 000 e 10 000 reais e há cerca de 3 000 pessoas na fila do SUS à espera do procedimento. “Essa doença é a quarta causa de incapacidade para o trabalho e pode acarretar problemas como a trombose. Não é uma questão estética apenas, como muita gente imagina”, explica o médico. Primeiro, Peixoto conseguiu o apoio do Ministério da Saúde. Depois, fechou uma parceria com o Serviço de Cirurgia Vascular da Uerj, e desde setembro de 2016 está à frente do atendimento gratuito na Policlínica Piquet Carneiro, que funciona dentro da universidade. “Usamos a escleroterapia, que consiste em aplicar uma injeção com medicamento em forma de espuma nas veias comprometidas para secar os vasos. Como essa técnica não necessita de anestesia nem exige internação, é uma alternativa mais rápida e barata”, diz o cirurgião vascular.

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Junto com mais vinte colegas, Peixoto atendeu, só em 2017, mais de 1 000 pacientes. Apesar dos bons resultados, o projeto sofre com a burocracia. É que o encaminhamento precisa ser feito pelo Sistema Nacional de Regulação, por meio da Clínica da Família, que hoje funciona precariamente. “Já soube de gente que não conseguiu se cadastrar porque os computadores estavam com problema. Por isso o ideal seria que os interessados pudessem ir direto à policlínica”, opina. Não bastasse isso, o médico tem de enfrentar outro obstáculo diariamente: as condições financeiras dos pacientes. “Eles são muito carentes. Às vezes, não dispõem de dinheiro nem para a passagem nem para os remédios que têm de tomar depois. Então nós nos cotizamos para ajudá-los e pedimos apoio à iniciativa privada para doar ataduras e medicamentos”, conta Peixoto, sem se abater diante das dificuldades. “Quem faz medicina precisa gostar de pessoas, não apenas da mãe, do pai, do namorado... Tem de gostar do ser humano, do branco, do negro, sem distinção. E quem possui informação precisa passá-la adiante. Se todos fizessem isso, o Brasil seria melhor”, finaliza. Heloiza Gomes | helogomes.vejario@gmail.com


VIDA LEVE

Fernanda Thedim | fthedim@abril.com.br

Foi dada a largada

DISTÂNCIAS

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CLAUDIO TOROS/DIVULGAÇÃO

A corrida já é o segundo esporte mais praticado no Brasil, perdendo apenas para o futebol. Estima-se que hoje mais de 6 milhões de pessoas façam a atividade regularmente, movimentando o mercado de provas de rua. Na abertura do calendário carioca, acontece no sábado (20) a Corrida de São Sebastião Caixa (foto), que deve reunir 5 000 participantes em trajetos de 5 e 10 quilômetros no Aterro do Flamengo. Abaixo, algumas das principais competições no primeiro semestre. LOCAL

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Circuito Circuito WRUN Corrida Liga Meia Circuito Night Meia do do Sol das Estações 2018 da Justiça Maratona Athenas Run Porto 10 km, 5 km 10 km, 5 km, 3 km 8 km, 4 km 8 km, 4 km 21 km 15 km, 10 km, 5 km 10 km, 5 km 21 km, 5 km Aterro Aterro Aterro Aterro Recreio Aterro Barra Praça Mauá

DIEGO MIGOTTO/DIVULGAÇÃO

ER5/IS SCYTH

Por muito tempo, acreditou-se que comer de três em três horas, em pequenas porções, era infalível para emagrecer. No entanto, uma série de pesquisas vem mostrando que esse é mais um mito das dietas. “Quando se come de três em três horas, o pâncreas é obrigado a produzir insulina a cada lanche ou refeição. Com isso, ele acaba ficando sobrecarregado, o que prejudica o sistema digestivo e dificulta o processo de emagrecimento”, explica a médica Daniela Kanno, à frente do Rituaali Clínica & Spa, localizado em Penedo, e especialista em medicina da família pela USP. Segundo Daniela, o ideal é fazer três boas refeições (café, almoço e jantar) por dia, respeitando um intervalo de pelo menos cinco horas entre elas.

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CAI O MITO

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À MODA DAS RUAS

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Roteiro da Semana 30 Restaurantes 32 Bares 34 Comidinhas

A ÁFRICA HOJE

OMAR VICTOR DIOP/MAGNIN-A GALLERY/DIVULGAÇÃO

O CCBB abriga, a partir de sábado (20), a maior exposição de arte africana contemporânea já realizada no Brasil. Serão exibidas mais de oitenta obras de artistas oriundos de oito países. No acervo, o senegalês Omar Victor Diop apresenta o projeto Diaspora — autorretratos nos quais encarna tipos históricos, mas sempre com um toque de humor inusitado ligado ao universo do futebol. Saiba mais sobre a mostra Ex Africa na página 38.

36 Crianças 38Exposições 40 Shows 43 Teatro 46 Filmes


RESTAURANTES

Fabio Codeço | fabio.codeco@abril.com.br

FOTOS FELIPE FITTIPALDI

CRÍTICA

BOA SURPRESA DE TROISGROS

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CHEFS VISITANTES FOTOS ROGÉRIO VOLTAN/DIVULGAÇÃO (CHEF) E CAROL GHERARDI/DIVULGAÇÃO (PRATO)

Chez Claude. A casa foi aberta no mês passado e segue com fila na porta. Na galeria onde funcionou sua primeira empreitada, o Roanne, o chef Claude Troisgros instalou um restaurante moderno e despojado que faria sucesso até em Nova York. O comensal janta praticamente na cozinha, montada no centro do pequenino salão (foto menor). Sem separar entradas de pratos principais, o cardápio faz um inventário de clássicos do chef, que podem ser saboreados por preços mais acessíveis. A vieira com palmito, musse de hadoque e molho de tucupi (R$ 38,00) é abre-alas imperdível. Também está lá a famosa codorna criada para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, guarnecida de acelga, cebolinha, bacon e molho de uva (R$ 58,00, na foto acima). Bem-vindo intruso, o bolo de chocolate da tia bia (R$ 28,00) já virou campeão de vendas e tem historinha curiosa: ao andar por uma rua do Leblon, o mestre-cuca esbarrou com a doceira vendendo a sobremesa. Levou o petisco para casa e se encantou com ele, a ponto de incluí-lo no cardápio, servido com biscoitinhos e creme de requeijão, para amenizar sua doçura. A carta de vinhos oferece apenas opções em taça, e a taxa de rolha (R$ 26,00) é cobrada por pessoa. A propósito: ainda neste ano, Claude ganha a companhia de seu fiel escudeiro, que vai abrir no ponto ao lado o Chez Batista. Rua Conde Bernadotte, 26, Leblon, ☎ 3579-1185 (46 lugares). 18h30/0h (fecha dom.). Aberto em 2017. $$

A paulistana Bel Coelho e o paraibano Onildo Rocha cozinham no Rio na quarta (17) i Quitéria Bel Coelho, do Clandestino, restaurante paulista que só funciona uma semana por mês, fecha a série Cozinheiras Brasileiras. A partir das 20h, ela prepara delícias como o peixe em crosta de especiarias, molho de castanha-de-caju e palmito assado (R$ 143,00, três cursos). Reservas mediante pagamento antecipado. Rua Maria Quitéria, 27, Ipanema, ☎ 2267-4603.


LAGUIOLE/DIVULGAÇÃO

BUFÊ DE GRIFE

JANTAR ANTES DO SHOW

Estabelecimento do grupo Fasano no Shopping Leblon, o Gero Trattoria acaba de introduzir um novo serviço. De segunda a sexta, no almoço, quem chega ao salão da casa, que fica no corredor do shopping, encontra agora uma bancada gelada (foto) onde repousam queijos, embutidos, saladas, bruschettas e outros preparos frios, além de sobremesas. Quem quiser só esses itens pagará o preço fixo de R$ 70,00 e poderá se servir à vontade. Para incrementar a refeição com um prato principal, o preço sobe para R$ 90,00. Na lista há pedidas como o penne integral ao pesto e o filé-mignon ao molho de vinho tinto e alecrim, servido com purê de batata. Avenida Afrânio de Melo Franco, 290, térreo, Leblon, ☎ 3594-6636.

i Puro Na estreia da nova temporada da Cozinha de Amigos, Pedro Siqueira divide o fogão com o chef Onildo Rocha, do Cozinha Roccia, em João Pessoa. Principal nome da alta gastronomia paraibana, o convidado vai preparar quatro receitas, como o bolo de aipim com sorvete de queijo de cabra e caramelo de rapadura com flor de sal (foto), o gran finale. O serviço (R$ 180,00, oito etapas) começa às 19h30. Rua Visconde de Carandaí, 43, Jardim Botânico, ☎ 3284-5377.

LIPE BORGES/DIVULGAÇÃO

Depois de comandar duas casas que levavam seu nome e pilotar o novo Hippopotamus, Ricardo Lapeyre está de volta ao Laguiole. À frente do restaurante no MAM, ele, aos 25 anos, foi eleito chef revelação no especial COMER & BEBER 2013/2014, publicado por VEJA RIO. Agora, elaborou um menu especial para as noites de quinta, sexta e domingo, dias de show de Chico Buarque no vizinho Vivo Rio. A partir das 17h, o percurso (R$ 155,00; entrada, prato e sobremesa) em homenagem à turnê pode incluir o rondelli de abóbora (foto), chamado de como se fosse a primavera. O picadinho também ganhou nome de música: cotidiano. Avenida Infante Dom Henrique, 85, Glória, ☎ 2517-3129.

ABERTO NO ALMOÇO Reduto notívago de saborosas pizzas e cervejas artesanais em profusão, a Birreria Escondido, CA (Rua Voluntários da Pátria, 53, Botafogo, ☎ 3489-9989) está abrindo também para o almoço de terça a domingo. Nesse horário, o comensal encontra cardápio assinado pelo chef Thiago Berton (ex-Pici Trattoria, participante do reality The Taste Brasil, atual comandante do Entrevero, na Void da Barra). No menu enxuto, o espaguete à carbonara (R$ 38,90), com massa al dente e molho cremoso, vale a pedida. Outra dica é a lasanha de berinjela (R$ 34,90).

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BARES BARES

Carol Zappa | carolina.zappa@abril.com.br Carol Zappa | carolina.zappa@abril.com.br

CRÍTICA

Entre tapas e vinhos Tahpah. Com duas bem-sucedidas investidas no corredor boêmio da Rua Nelson Mandela, os sócios da Harad Choperia e do pub de cervejas artesanais The Boua abriram em novembro um terceiro endereço na via. À moda espanhola, a casa de ambiente despojado e ajeitadinho, com salão voltado para a rua, aposta na combinação de tapas e vinhos. Da primeira ala, é boa ideia a mesa de acepipes (foto no detalhe, à esq.), montada a partir das 18h durante a semana e o dia todo aos sábados e domingos. Entre as opções figuram embutidos, cogumelos, polvo à vinagrete e punheta de bacalhau (R$ 9,49, 100 gramas). Com curadoria da sommelière Deise Novakoski, os vinhos têm bons preços em garrafa, a partir de R$ 54,00 (o branco espanhol Liderato Rioja), e em taça. Sangrias ganham três versões na jarra de 1,2 litro. Uma delas é a estreito de dreik (à dir.), com cava, lima-da-pérsia, soda e hortelã (R$ 60,90). Rua Nelson Mandela, 100, loja 120, Botafogo, ☎ 3795-2786 (50 lugares). 12h/1h (sex. e sáb. até 2h; fecha seg.). Cc: todos. Cd: todos. Aberto em 2017. 32 Veja Rio 17 de janeiro, 2018

EM BOA COMPANHIA Charmoso endereço dedicado a vinhos fabricados no Brasil e vendidos por preços atraentes, a Cave Nacional passou a oferecer uma noite de ostras. Sempre às terçasfeiras, a partir das 17h, a iguaria é servida fresca por R$ 30,00 (seis unidades). Para harmonizar, o restobar sugere a cada semana três rótulos selecionados em taça. Rua Dezenove de Fevereiro, 151, Botafogo, ☎ 2146-5334.


Na pressão

Reaberto em novembro, após um mês fechado para mudanças no salão, Román Izakaya, bar de tira-gostos à o japonesa do chef Shin Koike no Vogue Square, tem promoções atraentes. De quarta a sábado, a partir das 18h, entra em cena o rodízio de petiscos. Cerca de quinze itens — como guioza, barriga de porco, bolinho de polvo e hot roll, um sushi empanado em flocos de arroz com tartare de salmão e azeite trufado — são servidos à vontade por R$ 59,90. De 20h30 a 21h30, o chope Stella Artois é liberado (fora desse horário, cada um custa R$ 5,00). Para grupos acima de dez pessoas, drinques como o little tiki sour, com bourbon, falernum (um xarope à base de amêndoa), limão e Angostura (R$ 32,00), são oferecidos em dose dupla. Avenida das Américas, 8585, Barra, ☎ 3030-9091.

Quatro casas com drinques on tap

VITOR FARIA/DIVULGAÇÃO

FOTOS EDUARDO ALMEIDA

PETISCOS JAPAS EM PROFUSÃO

Astor. Além do premiado chope Brahma, de colarinho cremoso (R$ 8,10, 240 mililitros), dois coquetéis jorram das torneiras: o white negroni, preparado com gim, vermute branco, jerez e bitter, e o contessa, reunião de gim, vermute branco e Aperol (R$ 29,00 cada um). Avenida Vieira Souto, 110, Ipanema, ☎ 2523-0085.

Colarinho Escondido, CA. Repaginada, a casa conta com 33 torneiras, sete delas voltadas para drinques da mixologista Sandra Mendes e espumantes. Entre as opções há moscow mule, aperol spritz e asian, que leva saquê, lichia e limão-siciliano (R$ 25,90). Rua Nelson Mandela, 100, loja 127, Botafogo, ☎ 2286-5889.

Brewsil. Com três chopes próprios, a cervejaria dispõe de um bico para drinques em que se revezam quatro receitas. Na próxima semana, será possível provar a caipink (foto), uma pink lemonade artesanal com cachaça (R$ 23,00 a taça e R$ 92,00 a jarra). Rua Dezenove de Fevereiro, 188, Botafogo, ☎ 3819-1989.

Hocus Pocus DNA. No lar da premiada cervejaria artesanal, as estrelas são as criações próprias e os rótulos convidados. Duas das catorze torneiras são reservadas a coquetéis: o arnold lane é um gim-tônica com cardamomo, bitter de laranja e Monin de grapefruit (R$ 27,00). Rua Dezenove de Fevereiro, 186, Botafogo, ☎ 4107-3107.

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COMIDINHAS

Fabio Codeço | fabio.codeco@abril.com.br

ENTRE HERMANOS

Três endereços de comidinhas vegetarianas e veganas Beefit. Pouso para um pós-praia saudável, o café tem cardápio isento de glúten, lactose e açúcar refinado. Boa dica, o rainbow parfait reúne frutas, creme de coco e castanha-de-caju, granola e melado (R$ 18,00). Rua Teixeira de Melo, 31, loja B, Ipanema, ☎ 2523-8496.

LIPE BORGES

Brota. Negócio de comidinhas da chef Roberta Ciasca na Void do Arpoador. A brotinha, bolinho de arroz integral, ganha recheio de tomate, molho pesto ou azeitona preta (R$ 12,00). Rua Francisco Otaviano, 67, Copacabana, ☎ 3269-8736.

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Okanossa. O espaço produz saborosas tartines com pão de fermentação natural. Entre os sabores estão queijo de cabra com chutney de tomate (R$ 22,80) e homus com abobrinha marinada (R$ 20,80). Rua Cupertino Durão, 79, loja C, Leblon, ☎ 3204-4055.

NÃO É SÓ CHOCOLATE Rede premiada pelas delícias de chocolate, a Cacau Noir também se esmera no preparo de macarons. Para celebrar a chegada de 2018 e o lançamento do sabor manga com maracujá, a marca oferece, até o dia 31, um festival dedicado ao petisco. No período, qualquer variedade do doce francês será vendida por R$ 2,99 — o preço regular é R$ 3,90. As criações dos chefs confeiteiros Solange Wiltgen e Javier Guillen incluem as versões de banana, avelã, cappuccino, brigadeiro e laranja, entre outras. Shopping RioSul, 3º piso, Botafogo, ☎ 25439267. Mais oito endereços.

HENRIQUE PERON/DIVULGAÇÃO

Onda verde

FILICO/DIVULGAÇÃO

Cordillera. Cadeia de montanhas que “costura” sete países da América do Sul, a Cordilheira dos Andes inspira o nome e o conceito da casa aberta há um mês no Shopping Città América. A especialidade local é a empanada, popular no Chile, na Bolívia e na Argentina, terra natal da proprietária Maria Eugenia. De superfície brilhante, os salgados trazem massa fina e recheios saborosos. A salteña abriga carne, batata e ovo, enquanto a humita (foto) leva queijo e milho. Adoçam a visita um bom sorvete de doce de leite (R$ 12,00 a bola) e sugestões de alfajor (R$ 8,90 a unidade) — prove o santafesino, de massa crocante, recheio de doce de leite e glacê de limão-siciliano. Maria, que é sommelière, também investe em vinhos, todos sul-americanos. O salão aconchegante inclui um lounge com livros de autores como Gabriel García Márquez, para o público folhear. Avenida das Américas, 700, 1º piso, Barra, ☎ 3439-6829 (42 lugares). 8h30/20h (sáb. 10h/18h). Aberto em 2017.



CRIANÇAS

Renata Magalhães | renata.magalhaes@abril.com.br

Em cartaz Livramento Conta Cascudo. A atriz Conceição Campos (foto) idealizou a montagem, inspirada na trajetória do escritor e antropólogo potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986). Sob a direção de Gustavo Guenzburger, ela dá vida à protagonista Livramento e narra episódios da biografia do folclorista (que odiava essa classificação), como as aventuras da infância no Nordeste e o encontro apaixonado com os livros e a cultura popular (50min). Rec. a partir de 8 anos. Teatro Maria Clara Machado. Avenida Padre Leonel Franca, 240, Gávea. Sábado e domingo, 16h. R$ 30,00. Até o dia 28.

LUIZ MIOTTO/DIVULGAÇÃO

Três espetáculos para os pequenos

ANDREA ROCHA/DIVULGAÇÃO

GUILHERME REZENDE/DIVULGAÇÃO

Cinderella — Um Sonho em Veneza. Um querido professor de teatro do Rio, falecido em outubro do ano passado, Cica Caseira dividiu a direção deste musical com Gabriel Cortez. Baseado em elementos da commedia dell’arte, o texto de Pedro Murad narra o encontro do pintor Leonardo da Vinci (interpretado por Pietro Mario, na foto, ao lado de Maitê Coropos) com uma misteriosa princesa que ele deve retratar em um quadro (60min). Rec. a partir de 3 anos. Teatro Riachuelo. Rua do Passeio, 38, Centro. Sábado e domingo, 11h. R$ 40,00. Até o dia 28. Bituca — Milton Nascimento para Crianças. Inspirado na vida e na obra de Milton Nascimento, o musical dirigido por Diego de Morais narra os desafios de um processo de adoção e as dificuldades de uma criança negra em um ambiente majoritariamente branco. A peça marca o início do projeto Férias Musicais do Grandes Músicos para Pequenos, que ainda apresentará Luiz e Nazinha — Luiz Gonzaga para Crianças, nos dias 27 e 28, e O Menino das Marchinhas — Braguinha para Crianças, no primeiro fim de semana de fevereiro (55min). Rec. a partir de 2 anos. Cidade das Artes. Avenida das Américas, 5300, Barra. Sábado (20) e domingo (21), 17h. R$ 40,00.

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Pedro Henrique Lopes, Udylê Procópio e Alice Carrocino: a história de Milton Nascimento


POP COREANO

A TEAM ENTERTAINMENT/DIVULGAÇÃO

Gênero que ultrapassou as fronteiras de seu país natal, o k-pop (vertente teen do pop coreano) tem uma legião de admiradores no Brasil. Prova disso é a turnê da boy band VAV (foto), que chega ao Rio pela primeira vez, na segunda (15), a pedido dos fãs daqui. Os meninos, que acabaram de lançar o single She’s Mine, oferecem três tipos de encontro: fanmeeting (com fãs em grupo), fansign (sessão de autógrafos) e meet&greet (com direito a foto individual). Um pocket show encerra a noite. Teatro Riachuelo Rio. Rua do Passeio, 38, Cinelândia. Segunda (15), 18h às 20h. R$ 130,00 (fansign) a R$ 280,00 (meet&greet).

FANTOCHES NO JARDIM BOTÂNICO LGAÇÃO CRISTIANA PEIXO TO LACERDA/DIVU

De volta para a temporada 2018, a série Domingo no Jardim traz novidades. As tradicionais sessões do Papa Vento Teatro de Bonecos (foto) ganham o reforço dos acrobatas da companhia Circo no Ato. Sempre às 10h, a primeira atração se apresenta no domingo (21) e a segunda, no dia 28. Na programação musical, a partir das 11h, o duo de violões Julio Lemos e Pedro Barros toca no primeiro fim de semana, e Claudio Alves e Lula Washington fo-

FÉRIAS GEEK

ram escalados para o segundo. Jardim Botânico. Rua Jardim Botânico, 1008, Jardim Botânico. Domingo, a partir das 10h. R$ 15,00. Até o dia 28.

i Manufaturando Brinquedos. Depois de conhecerem a história da produção de brinquedos, os pequenos vão criar os próprios modelos com a ajuda do grupo Gente Arteira. A partir do dia 23, a vez será da oficina Da Argila ao Artefato, inspirada na mostra de Francisco Brennand, em cartaz. Caixa Cultural. Avenida Almirante Barroso, 25, Centro. Quarta (17) a sexta (19), 15h às 18h. Grátis.

i Comida, Diversão e Artes. Prestes a completar oito meses, o projeto que ocupa a Cidade das Artes já recebeu mais de 2 000 pessoas com aulas em três setores: culinária, de terça (16) a quinta (18), no Café das Artes; conteúdo para a internet, a partir do dia 23, na Sala de Leitura; e horta urbana, a partir do dia 30, no jardim. Sempre das 16h às 18h. Cidade das Artes. Avenida das Américas, 5300, Barra. Grátis.

THAIS DUARTE/DIVULGAÇÃO

MÃO NA MASSA

A Fundação Planetário oferece sua colônia de férias a partir do dia 22. Neste ano, sob o tema Star Wars, Brincando e Aprendendo Astronomia — O Último Jedi traz atrações como a produção de um sabre de luz, dicas para se tornar um cavaleiro jedi, oficinas de HQ e técnicas japonesas para construir naves espaciais. Apresentações de cosplay, sessões de cúpula e o lançamento de um foguete, sob a supervisão dos astrônomos do Planetário, também estão previstos. As inscrições devem ser feitas pelo ☎ 96907-2480. Rua Vice-Governador Rubens Berardo, 100, Gávea. R$ 120,00 (diária) a R$ 470,00 (do dia 22 ao 26).

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EXPOSIÇÕES

Renata Magalhães | renata.magalhaes@abril.com.br

UM CONTINENTE POP

EFFYZZIE ENTERTAINMENT/YEMY ALADE/REPRODUÇÃO

OMAR VICTOR DIOP/MAGNIN-A GALLERY/DIVULGAÇÃO

A maior exposição de arte africana contemporânea já realizada no Brasil, Ex Africa abre as portas no sábado (20), no CCBB, com mais de oitenta obras assinadas por artistas de oito países. Dividida em quatro módulos, a mostra aborda a história da África, sua riqueza estética e sua cultura musical. Conheça cinco peças do acervo.

Omar Victor Diop. No projeto Diaspora, o artista senegalês apresenta autorretratos nos quais encarna tipos históricos com um toque contemporâneo, digamos, futebolístico. Na foto, ele é Albert Badin, servidor da corte sueca.

J.D. ’Okhai Ojeikere. Nigeriano, o fotógrafo Ojeikere criou uma singular série dedicada a belos penteados das mulheres de seu país, a exemplo de Modern Suku (foto).

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Karo Akpokiere. Nascido na nigeriana Lagos, a segunda maior cidade da África, Akpokiere assina as ilustrações de forte influência pop da série Lagos Drawings.

WHITE CUBE BERMONDSEY/DIVULGAÇÃO

Ibrahim Mahama. Obra do criador ganês, a instalação Fragments White Cube Bermondsey (foto), construída com material doado por trabalhadores locais, é refeita em cada cidade por onde a mostra passa.

GUNNAR MEIER/REPRODUÇÃO

J.D. ’OKHAI OJEIKERE/DIVULGAÇÃO

Yemi Alade. A foto é um frame de Johnny, clipe da cantora nigeriana. Reproduzidos em looping, diversos vídeos na mostra revelam temáticas da música africana, como sexo, poder, riqueza e religião.

i CCBB. Rua Primeiro de Março, 66, Centro. Quarta a segunda, 9h às 21h. Grátis. Até 26 de março. A partir de sábado (20).



SHOWS

Carol Zappa | carolina.zappa@abril.com.br

Mais uma dose

NOSTALGIA DOIS EM UM

Em Atento aos Sinais, que já passou por Portugal, Argentina, Uruguai e capitais brasileiras em quase cinco anos de estrada, além de render CD e DVD ao vivo, Ney Matogrosso volta aos tempos de Secos & Molhados com figurinos exuberantes, cheios de paetês e decotes, exibidos em uma cadeira espelhada no centro do palco. Aos 76 anos, o inquieto cantor costura canções de artistas consagrados, como Caetano Veloso (Two Naira Fifty Kob) e Paulinho da Viola (Roendo as Unhas), e de talentos da nova geração, muitos pescados por ele na internet. É o caso de Oração, de Dani Black, de Tupi Fusão, do alagoano Vítor Pirralho, e da divertida Samba do Blackberry, da banda Tono. KM de Vantagens Hall. Avenida Ayrton Senna, 3000, Barra. Sábado (20), 22h. R$ 80,00 (poltrona) a R$ 320,00 (camarote e mesa vip).

MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO

TATIANA LAFRAIA/DIVULGAÇÃO

Reunião de dois dos grupos de maior sucesso popular nos anos 90, o MoleTchan leva aos palcos hits do É o Tchan e do Molejo, misturando axé com pagode. Da antiga banda de Carla Perez, capitaneada por Compadre Washington e Beto Jamaica, entram em cena as coreografias salientes de Dança do Bumbum e Dança da Cordinha e a mais recente Bota a Cara no Sol. Dos clássicos do Molejão aparecem Brincadeira de Criança, Cilada e Paparico. Novidade, Varre e Segura junta Dança da Vassoura e Segura o Tchan. Ludmilla é a convidada da noite. KM de Vantagens Hall. Avenida Ayrton Senna, 3000, Barra. Sexta (19), 22h30. R$ 50,00 (1º lote) a R$ 250,00 (camarote).

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CHANCE EXTRA Depois de esgotados em poucos dias os ingressos para o show no Circo Voador em dezembro, o BaianaSystem volta à Lapa com seu pancadão explosivo no espetáculo Rio Bahia Pirataria. Ao som das batidas eletrônicas do dub jamaicano, aliadas à guitarra baiana e a outros ritmos brasileiros, latinos e africanos, mais as letras de tom político de Russo Passapusso (à esq.) em faixas como Playsom e Capim Guiné, o conjunto promete fazer a plateia pular em uma espécie de transe coletivo, como de costume. Fundição Progresso. Rua dos Arcos, 24, Lapa. Sexta (19), 23h30. R$ 120,00 (3º lote). 50% de desconto com 1 quilo de alimento não perecível.


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Para tocar no rádio

RAUL SPINASSÉ/FOLHAPRESS

Gravado por nomes como Maria Gadú, Elba Ramalho e Ney Matogrosso (veja a nota na página ao lado), Dani Black (foto) é a próxima atração do Música na Laura, projeto em parceria com o programa Faro, da Rádio SulAmérica Paradiso FM. Filho da cantora Tetê Espíndola e do músico Arnaldo Black, o intérprete, compositor e guitarrista paulistano exibe na terça (16) as canções de pop rock romântico e letras instigantes reunidas em seu segundo CD, Dilúvio (2015). O misto de show e bate-papo será gravado e transmitido pela rádio no domingo (21). Nesse dia, o cantor, compositor e baixista Pedro Mann (do Bondesom) passeia por seu trabalho-solo na varanda da casa, dividindo a apresentação com o DJ João Rodrigo. Casa de Cultura Laura Alvim. Avenida Vieira Souto, 176, Ipanema. Terça (16), 20h; domingo (21), 16h. R$ 20,00.

Revelada no Festival dos Festivais, promovido pela TV Globo em 1985, Leila Pinheiro abre a nova temporada do projeto Música das 7, que completa um ano no Teatro Riachuelo. Sozinha ao piano, a cantora apresenta sucessos de seus compositores preferidos, gravados ou não por ela em três décadas de carreira. A lista vai de clássicos da bossa nova a Ivan Lins, passando por Gonzaguinha, Zélia Duncan, Guinga, Chico Buarque, Flávio Venturini e Renato Russo — cujo repertório Leila visitou em 2010, no álbum Meu Segredo Mais Sincero. Teatro Riachuelo. Rua do Passeio, 40, Centro. Terça (16), 19h. R$ 50,00 (balcão) e R$ 60,00 (plateia).

VITOR HUGO/DIVULGAÇÃO

REPERTÓRIO AFETIVO

WASHINGTON POSSATO/DIVULGAÇÃO

Dupla afinada Lançado em 1967, o álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim foi o registro do histórico encontro de dois dos maiores ícones da música mundial. O trabalho chegou ao segundo lugar entre os mais vendidos nos Estados Unidos, perdendo apenas para Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. Cinco décadas depois, aquele repertório é revisitado pelo ator e cantor Daniel Boaventura e pelo pianista Daniel Jobim, neto de Tom. No tributo entram clássicos como Wave, The Girl from Ipanema e Corcovado (Quiet Nights of Quite Stars). Blue Note Rio. Avenida Borges de Medeiros, 1424, Lagoa (Complexo Lagoon). Sexta (19), 20h e 23h. R$ 160,00 (lounge) e R$ 220,00 (premium lounge). Veja Rio 17 de janeiro, 2018 41


SHOWS Em show inédito, João Bosco celebra o Grammy Latino recebido em novembro pelo conjunto da obra. Após uma série de apresentações somente ao violão, o artista volta à ótima companhia de Ricardo Silveira (guitarra), Kiko Freitas (bateria) e Guto Wirtti (baixo). No repertório, mistura sucessos e canções do novo disco, Mano que Zuera, como Ultraleve, feita com Arnaldo Antunes e gravada ao lado da filha Julia Bosco, e Quantos Rios, uma das cinco parcerias com outro herdeiro, Francisco Bosco. Teatro Rival Petrobras. Rua Álvaro Alvim, 33, Cinelândia. Sábado (20), 19h30. R$ 90,00 (plateia B).

ALEX DEITOS/DIVULGAÇÃO

JOÃO BOSCO E TRIO

NOITE DE SAUDOSISMO A semelhança impressiona: desde os 9 anos, o ator, cantor e dançarino paulista Rodrigo Teaser dedica-se a imitar o ídolo Michael Jackson (1958-2009) em programas de TV. Em 2011, estreou o espetáculo Tributo ao Rei do Pop, que recria fielmente a estrutura dos principais shows do astro. Apoiado por oito bailarinos e uma superbanda, Teaser chega a

trocar de figurino mais de dez vezes ao interpretar sucessos como Billie Jean, Thriller, Black or White e Beat It. A performance tem o aval de Lavelle Smith, coreógrafo de MJ por mais de vinte anos. Km de Vantagens Hall. Avenida Ayrton Senna, 3000, Barra (Via Parque). Domingo (21), 19h. R$ 100,00 (mesa lateral) a R$ 150,00 (mesa vip e camarote). DARYA N D O

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LUCAS SA/DIVULGAÇÃO

Batidas variadas

Primeiro sound system carioca — nome que se atribui às equipes de som popularizadas na Jamaica nos anos 50 e dedicadas a vertentes eletrônicas do reggae —, o Digitaldubs (foto), criado em 2001 pelo DJ Marcus MPC, recebe convidados em uma série de bailes dominicais. Neste domingo (14), o rapper Black Alien vai mostrar criações inéditas com o coletivo. No dia 21, é a vez de Cedric Myton, lendário cantor jamaicano do grupo The Congos. Até 4 de fevereiro são aguardados Mad Professor, um dos principais produtores de dub do mundo, e MV Bill. HUB Rio. Avenida Professor Pereira Reis, 54, Santo Cristo. Domingo, 19h. R$ 30,00. Até 4 de fevereiro. 42 Veja Rio 17 de janeiro, 2018

VIVI BACCO/DIVULGAÇÃO

VERÃO DE ONDAS GRAVES

A cultura musical brasileira nas periferias e suas influências africanas são exaltadas na primeira edição do SambaRap Festival, em duas noites no Circo Voador. Sexta (19) é dia de encontro de poderosas vozes femininas de gerações distintas: a rapper curitibana Karol Conka (à esq.), dona de hits que tratam de empoderamento feminino de forma despojada, como Tombei e É o Poder; e Elza Soares (acima). A diva, que dispensa apresentações, estreia na lona o show A Voz e a Música, em que costura clássicos da carreira a versões esmagadoras para Computadores Fazem Arte e Não Recomendado, entre outras. No dia seguinte, Emicida encerra a turnê do disco Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa e divide o palco com a tradição do Jongo da Serrinha e a bateria da Império Serrano. Circo Voador. Arcos da Lapa, s/nº. Sexta (19) e sábado (20), a partir das 22h. R$ 100,00 (1º lote).


TEATRO

GUGA MELGAR/DIVULGAÇÃO

Renata Magalhães | renata.vejario@gmail.com

CRÍTICA

TRIBUTO EM GRANDE ESTILO toque circense à montagem, com texto de Luanna Guimarães e Artur Xexéo. Em cena, a vida da filha de Procópio Ferreira (18981979) ganha como pano de fundo a história do teatro nacional. O humor, além das belas atuações de Leo Bahia, o divertido narrador, e da protagonista, Amanda Costa, faz passar rápido quase três horas de sessão. Ao vi-

As cinco melhores em cartaz Tom na Fazenda. Amor e aceitação em visceral montagem estrelada por Gustavo Vaz e Camila Nhary (foto). Teatro Dulcina. Rua Alcindo Guanabara, 17, Centro. Sexta a domingo, 19h. R$ 40,00. Até o dia 28. Agosto. Guida Vianna brilha como uma difícil e sofrida matriarca. Teatro Sesi Centro. Avenida Graça Aranha, 1, Centro. Quinta a sábado, 19h; domingo, 18h. R$ 40,00. Até 4 de fevereiro.

vo, oito músicos — escondidos do público — acompanham 33 canções de espetáculos estrelados pela homenageada, entre eles Bibi Canta Piaf e My Fair Lady (165min). 10 anos. Teatro Oi Casa Grande. Avenida Afrânio de Melo Franco, 290, Leblon. Quinta e sexta, 20h30; sábado, 17h e 21h; domingo, 19h. R$ 50,00 a R$ 150,00. Até 1º de abril.

Mamãe. O tocante solo de Álamo Facó revive momentos do ator com a mãe. Teatro Dulcina. Rua Alcindo Guanabara, 17, Centro. Quarta e quinta, 19h. R$ 20,00. Até o dia 25. A Alma Imoral. No monólogo, Clarice Niskier leva à cena pensamentos do livro homônimo do rabino Nilton Bonder. Teatro Oi Casa Grande. Avenida Afrânio de Melo Franco, 290, Leblon. Quarta, 21h. R$ 100,00. Até 7 de fevereiro. Josephine Baker — A Vênus Negra. Aline Deluna encarna a ousada diva americana. Teatro Maison de France. Avenida Presidente Antônio Carlos, 58, Centro. Quinta a domingo, 19h30. R$ 45,00 a R$ 50,00. Até o dia 28.

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RICARDO BRAJTERMAN/DIVULGAÇÃO

✪✪✪✪ Bibi — Uma Vida em Musical. A difícil tarefa de celebrar, em vida, a grande dama do teatro é cumprida com louvor. Ao longo do espetáculo, revelam-se surpresas adoráveis, momentos pouco conhecidos na rica trajetória da atriz, cantora e diretora Bibi Ferreira. Tadeu Aguiar, em um de seus melhores trabalhos de direção, dá um


TEATRO ESTREIAS

DOI

A S EQ

UEI RA /DIV U LGAÇÃ

JOÃO CALDAS/DIVULGAÇÃO

Rapsódia — O Musical. Fãs das histórias de Rocky Horror Picture Show e Sweeney Todd vão gostar da sanguinolenta montagem assinada e dirigida por Mau Alves (na foto, entre Gustavo Klein e Julia Morganti), sobre um jovem sonhador que descobre um segredo macabro durante visita à misteriosa cidade de Rapsódia (70min). 16 anos. Solar de Botafogo. Rua General Polidoro, 180, Botafogo. Sábado, 20h; domingo, 19h. R$ 50,00. Até 4 de fevereiro. Estreia no sábado (20).

CEREJEIRA PRODUÇÕES/DIVULGAÇÃO

3

espetáculos inéditos

O

REESTREIAS

Nova temporada

O Topo da Montanha. Lázaro Ramos interpreta o ativista político Martin Luther King (1929-1968) no espetáculo com texto da americana Katori Hall. Ao seu lado (na foto), Taís Araújo, carregando na comédia, interpreta uma camareira atrevida que chega para

Euforia. Primeira apresentação teatral pública no Reduto, casa de artes do ator Marco Nanini, o sensível solo com Michel Blois (foto) divide-se em dois monólogos de tipos socialmente “invisíveis”: um velho em um asilo e uma jovem paraplégica. Texto de Julia Spadaccini. Direção de Victor Garcia Peralta (50min). 14 anos. Reduto. Rua Conde de Irajá, 90, Botafogo. Segunda a quarta, 20h. Grátis (colaboração espontânea). Até o dia 24. Reestreia na segunda (15).

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RODRIGO TURAZZI/DIVULGAÇÃO

Peças de gêneros variados voltam ao circuito

Dona Encrenca, Só Muda o Endereço. Para celebrar seu aniversário de 70 anos, Bemvindo Sequeira (foto) volta ao Rio após intervalo de três anos com um stand-up comedy autoral, inspirado em seu próprio casamento. Situações corriqueiras ganham seu olhar pleno de humor e prometem provocar identificação entre os casais na plateia (60min). 14 anos. Sala Municipal Baden Powell. Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 360, Copacabana. Segunda, 19h. R$ 50,00. Até 26 de fevereiro. Reestreia na segunda (15).


FLORA NEGRI/DIVULGAÇÃO

Boca de Ouro. O clássico escrito por Nelson Rodrigues em 1959 ganhou elogiada adaptação de tintas carnavalescas (com direito a máscaras e serpentinas) nas mãos do diretor Gabriel Villela. Malvino Salvador (foto) encabeça o elenco, ao lado de Mel Lisboa, Leonardo Ventura e Chico Carvalho. Na trilha, sucessos brasileiríssimos, de Dalva de Oliveira a João Bosco (110min). 14 anos. Sesc Ginástico. Avenida Graça Aranha, 187, Centro. Sexta e sábado, 19h; domingo, 18h. R$ 30,00. Até 25 de fevereiro. Estreia na sexta (19).

O Tempo Não Dá Tempo. O primeiro texto de Gregorio Duvivier ganha montagem em criação coletiva, com a diretora Duda Maia (de Auê) e os atores. Com Marina Vianna, Ciro Sales, a renomada coreógrafa Angel Vianna, Juliana Linhares e Oscar Saraiva (os quatro na foto) no elenco, a peça itinerante ocupa todo o centro cultural (75min). 14 anos. Oi Futuro. Rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo. Quinta a domingo, 20h. R$ 30,00. Até 25 de fevereiro. Estreia na quinta (18).

JULIANA HILAL/DIVULGAÇÃO

GUGA MELGAR/DIVULGAÇÃO

mudar a pragmática visão de vida do líder antirracismo (90min). 12 anos. Imperator — Centro Cultural João Nogueira. Rua Dias da Cruz, 170, Méier. Sábado, 21h; domingo, 19h. Sessões extras na sexta (19) e no dia 26, 21h30. R$ 60,00 a R$ 70,00. Até 4 de fevereiro. Reestreia no sábado (20).

Pressa. A nova produção da Companhia Os F... Privilegiados reestreia após curta temporada em 2017. Com texto de Octávio Martins, a peça apresenta personagens marcados pela brutalidade em um mundo sob a lógica do imediatismo. Também em cena, ao lado de Rafaela Amado e Rose Abdallah, João Fonseca (na foto, com Mariah Viamonte) divide a direção com Nello Marreze (70min). 16 anos. Teatro Glaucio Gill. Praça Cardeal Arcoverde, s/nº, Copacabana. Sexta, sábado e segunda, 21h; domingo, 20h. R$ 40,00. Até 19 de fevereiro. Reestreia na sexta (19).

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FILMES

Miguel Barbieri Jr.

ESTREIAS

O livrinho ilustrado infantil O Touro Ferdinando, lançado em 1936, ganhou, dois anos depois, adaptação da Disney em formato de desenho animado. Mais de oito décadas após sua publicação, a história continua atual. A proeza é mérito do diretor brasileiro Carlos Saldanha (de A Era do Gelo e Rio), que faz da nova animação uma atração rica em detalhes. O fator fofura ressurge, sobretudo na primeira meia hora, quando o bezerro Ferdinando foge de um rancho de touros e, abalado

pela morte de seu pai numa tourada, encontra abrigo, proteção e a companhia da garotinha Nina na fazenda do pai dela. Ao contrário de outros de sua espécie, Ferdinando é dócil e, por isso, recebe tratamento de um animal de estimação. Ele ama as flores e detesta violência. Ao esticar um texto literário curtíssimo, o roteiro tem uma “barriguinha”, compensada por ótimas sequências de ação e momentos comoventes. Direção: Carlos Saldanha (Ferdinand, EUA, 108min). Livre.

BLUE SKY STUDIOS

ENCANTADOR PARA ADULTOS E CRIANÇAS

BLUE SKY STUDIOS

Em O Estrangeiro, Jackie Chan (foto) interpreta um chinês com sede de justiça. Um atentado em Londres, organizado pelos terroristas do IRA, vitimou sua única filha. A obsessão do vingador, portanto, é extrair uma confissão do vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte (papel de Pierce Brosnan), que pode saber quem são os responsáveis. Chan, astro das artes marciais, luta pouco e é produtor de uma mistura de thriller político com trama de pancadaria dispensável. Os dois enredos se entrosam à força e esbarram no lugar-comum. Direção: Martin Campbell (The Foreigner, Inglaterra/China/EUA, 2017, 113min). 14 anos. 46 Veja Rio 17 de janeiro, 2018

CHRISTOPHER RAPHAEL

Dois filmes em um


FOTOS DIVULGAÇÃO

O DESEMPENHO DO ATOR VALE O INGRESSO? Com mais de três décadas de carreira, o inglês Gary Oldman foi indicado apenas uma vez ao Oscar de melhor ator — por O Espião que Sabia Demais, em 2012. Seu nome é certeiro neste ano entre os concorrentes e é bem provável que ele ganhe, finalmente, o troféu por seu desempenho em O Destino de uma Nação. Fabuloso na pele de Winston Churchill, o astro dá conta do recado mesmo sem ter a aparência do icônico primeiro-ministro britânico. A formidável maquiagem (que também merece ser premiada) e a atuação o transformaram em um homem mais velho, pesado, de postura arqueada e vozeirão potente. A interpretação de Oldman (na foto, com Kristin Scott Thomas) vale, sim, o ingresso, mas o personagem já foi visto muito recentemente — na série The Crown e na também cinebiografia Churchill. O episódio registrado, contudo, guarda mais parentesco com o espetacular Dunkirk e mostra como Churchill, recém-empossado primeiro-ministro em maio de 1940, enfrentou Hitler durante a II Guerra. Direção: Joe Wright (Darkest Hour, Inglaterra, 2017, 125min). 12 anos.

ACOMPANHE O CRÍTICO Miguel Barbieri Jr.

O QUE VEM AÍ

miguelbarbieri

Timothée Chalamet e Armie Hammer vivem uma paixão de verão em Me Chame pelo Seu Nome, que estreia na quinta (18).

miguelbarbieri miguelbarbieri

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FILMES EM CARTAZ

Os mais bem avaliados* 2

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120 BATIMENTOS POR MINUTO Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes, o longa recria a militância contra a aids na França, no começo dos anos 90. Estreou em 4/1/2018.

COM AMOR, VAN GOGH A belíssima animação usa a técnica inconfundível do pintor holandês e traz no roteiro uma fictícia investigação em torno de seu controverso suicídio, em 1890, aos 37 anos. 12 anos. Estreou em 30/11/2017.

LUMIÈRE! A AVENTURA COMEÇA O documentário mostra 108 raros filminhos restaurados, de cinquenta segundos, registrados por Louis e Auguste Lumière e sua equipe entre 1895 e 1905. Estreou em 14/12/2017. Livre.

VIVA — A VIDA É UMA FESTA Inventiva animação inspirada na tradição mexicana do Dia dos Mortos. Na trama, o pequeno Miguel descobre que a rotina além da vida é uma farra animada. Estreou em 4/1/2018.

THE SQUARE — A ARTE DA DISCÓRDIA O vencedor da Palma de Ouro em Cannes é um drama cômico de camadas sofisticadas e amplas discussões sobre arte e internet, entre outros temas. Estreou em 4/1/2018.

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NINGUÉM ESTÁ OLHANDO Um ator gay argentino que fez sucesso numa telenovela se muda para Nova York na esperança de filmar um longa-metragem. Mas acaba trabalhando como baby-sitter. 14 anos. Estreou em 23/11/2017.

SUBURBICON — BEM-VINDOS AO PARAÍSO Num condomínio da década de 50, moradores se revoltam contra a chegada de uma família de negros. Mas mal sabem eles o que um vizinho planejou. 16 anos. Estreou em 21/12/2017.

EXTRAORDINÁRIO Na comovente história de superação, um garoto que tem o rosto deformado terá de enfrentar seu primeiro ano escolar. Mas seus pais temem o preconceito e o bullying. 10 anos. Estreou em 7/12/2017.

LUCKY Em sua despedida do cinema, Harry Dean Stanton interpreta, com muita emoção, um senhor de 90 anos que mora num vilarejo, tem hábitos metódicos e um estilo de vida singular. 16 anos. Estreou em 7/12/2017.

O REI DO SHOW Hugh Jackman agarra o papel de P.T. Barnum, lendário empresário que, no século XIX, montou um espetáculo com anão, mulher barbada, albinos, siameses e... dividiu opiniões. 12 anos. Estreou em 21/12/2017.

FOTOS DIVULGAÇÃO

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* que estrearam nos últimos dois meses

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DIVULGAÇÃO

EMPODERADA DO SÉCULO XIX afetivo com os filósofos Friedrich Nietzsche e Paul Rée e foi amante do poeta Rainer Maria Rilke. Embora com lacunas e narrativa atemporal, o filme exibe elegância e joga luz em direção a uma mulher empoderada, à frente de seu tempo. Direção: Cordula Kablitz-Post (Lou Andreas-Salomé, Alemanha, 2016, 113min). 16 anos.

CWJ

Lou Andreas-Salomé (1861-1937) — interpretada na idade adulta por Katharina Lorenz (foto) —, escritora e psicanalista nascida em São Petersburgo, ganhou uma cinebiografia em Lou. Após passar por um trauma na adolescência, ela recusou os casamentos impostos pela mãe. Teve uma união de fachada, formou um triângulo

Coreia do Sul em convulsão Embora seu protagonista seja engraçado e o início de O Motorista de Táxi divirta, o desenrolar da trama ganha ares pesados e culmina num desfecho de partir o coração. A inusitada injeção de humor e docilidade faz bem a um triste episódio verídico, ocorrido em 1980 na Coreia do Sul. Após a morte do ditador Park Chung-hee, militares assumem o poder, exterminando a democracia. Ao saber que na cidade de Gwangju há protestos, um repórter ale-

mão (Thomas Kretschmann) contrata um taxista (Song Kang-ho) para levá-lo de Seul até lá. Tomada por protestos e fechada por barreiras policiais, Gwangju é uma mistura de convulsão e resistência. Ao se aproximarem cada vez mais dos rebeldes, mudanças ocorrem: o motorista deixa de lado a alienação política e o jornalista encontra um cenário de guerra devastador. Direção: Jang Hun (Taeksi Woonjunsa, Coreia do Sul, 2017, 137min). 12 anos. Veja Rio 17 de janeiro, 2018 49


CRÔNICA Manoel Carlos | almaviva@uninet.com.br

LEO MARTINS

ILUSTRAÇÃO CHEGARÁ TERÇA À NOITE

Gratidão ão sabia — ou sabia e esqueci — da existência desse tal Dia da Gratidão de que tanto se falou neste ano. O que aconteceu? Descobriram só agora essa virtude humana e ao mesmo tempo divina, assim como uma pizza “mezzo aliche, mezzo mussarela”? E por que no dia 6 de janeiro, Dia de Reis, há tanto tempo no calendário cristão? Vou procurar saber no Google, que tudo sabe e tudo ensina, mas jamais nos pusemos a verificar a veracidade desses ensinamentos. Sim, porque, se o Google ensina, quem ensina ao Google? Carla — que continua sendo a única mulher com presença fixa nas reuniões do Café Severino — acha que é no Dia de Reis para estimular uma troca de presentes, já que esse estímulo circula por todos os dias do ano. Comprar, comprar, comprar... O Raul discordou do dia escolhido, pois existem várias datas identificadas como Dia da Gratidão. E pelo celular, quase ao mesmo tempo, colocou-se o Google para pensar e resolver, e ele mesmo não soube afirmar, com precisão absoluta, qual o dia certo. Não se chegou a um resultado comprovado. Ou melhor e mais confuso ainda: chegamos a vários resultados dados como verdadeiros. Mas o que me veio à memória, quando eu saía do café e atravessava os corredores da Livraria Argumento, já a caminho de

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casa, respingado da chuva que marcou presença logo nos primeiros dias deste ano, foi a lembrança de um pequeno livro, magrinho, magrinho, que carrega justamente o nome de Gratidão. Seu autor: o neurologista Oliver Sacks. Na primeira vez em que li esse livro fui tomado de um sentimento tão profundo de solidariedade e amor ao próximo que pensei em entrar num convento e me transformar num monge silencioso e humilde, tão humilde que se afastasse da própria sombra ao caminhar sob o sol. Na época comprei vários exemplares, andava com eles e ia distribuindo-os aos amigos ocasionais que encontrava nas ruas do Leblon. A pequena edição é da Companhia das Letras, com a data de 2015, pouco antes de Oliver Sacks nos deixar. Um dos seus textos mais sábios e serenos está nestas poucas palavras: “Encontro meus pensamentos rumando em direção ao Shabat, o dia de descanso, o sétimo dia da semana, e talvez o sétimo dia da nossa vida também, quando podemos sentir que nosso trabalho está feito e, com a consciência em paz, descansar”. Minha gratidão a Oliver Sacks por todas as revelações que nos deixou. Pelos sábios exemplos que nos transmitiu e por todo o amor que brilhou em seu coração.




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