Revista Plumas e Paetês 2013

Page 28

// GESTÃO DE CARNAVAL

Mulheres Negras:

dupla jornada de carnaval

por Luiz Carlos Prestes Filho

Nos barracões e nas quadras das escolas de samba do Rio de Janeiro e da região metropolitana, trabalham centenas de pesquisadoras, costureiras, aderecistas, bordadeiras, cozinheiras, compositoras e maquiadoras, entre outras profissionais do Carnaval. A presença da mulher negra neste universo é predominante. São elas descendentes diretas da determinação e da criatividade de uma Tia Ciata e – claro – de uma Chiquinha Gonzaga.

ESTE LADO FEMININO ÉTNICO na produção do maior evento cultural do Brasil chama especial atenção quando analisamos os resultados de uma pesquisa de 2012, realizada pela Organização Internacional do Trabalho (1) (OIT): “As mulheres trabalham mais horas do que os homens”. Os dados apresentados constam do relatório Perfil do Trabalho Decente no Brasil: um Olhar sobre as Unidades da Federação. Os números dizem que os homens têm jornada de 52,9 horas semanais. As mulheres, de 58 horas, 5,1 horas a mais do que o sexo oposto – o que equivale a 20 horas adicionais por mês, cerca de dez dias a mais por ano. E a situação é grave, pois 90,7% das mulheres que estão no mercado de trabalho também realizam atividades domésticas – percentual que cai para 49,7% entre os homens. No trabalho elas gastam, em média, 36 horas por semana; eles, 43,4 horas. Em casa, por outro lado, elas gastam 22 horas semanais. Os homens, 9,5 horas. Portanto, é importante a homenagem à Chiquinha Gonzaga que este ano está sendo feita pelo Projeto Cultural Plumas & Paetês. Iniciativa que traz à luz um tema que não pode ser desconsiderado: a mulher nos bastidores do Carnaval. Até porque, muitas

das pesquisadoras, costureiras, aderecistas, bordadeiras, cozinheiras, compositoras e maquiadoras se transformam em passistas e ritmistas ou em destaques e musas durante os desfiles. Ou seja, elas têm dupla jornada de Carnaval! A compositora Chiquinha Gonzaga foi, através de seus atos, uma mulher desbravadora. Rompendo com os preconceitos de sua classe social, frequentou as rodas de jongo, lundu e de barrigada. Nos terreiros santos, buscou o som brasileiro, a linguagem musical dos ritmos das rodas dos escravos. Participante ativa da campanha abolicionista, trazia em seu coração profunda revolta por seus ancestrais maternos terem sido escravos. Não existe registro, mas bem que seria possível imaginar Chiquinha Gonzaga na Casa da Mãe de Santo Tia Ciata, centro da Pequena África, localizado na Praça Onze, berço do Samba de Sambar e do Carnaval Carioca.


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