Jornal Jundiaí Regional nº 16.904

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SÁBADO 25 DE FEVEREIRO DE 2017

➤ ARTIGOS

Ao bailar da hipocrisia

A noite do meu bem

➤ Valderez de Mello *

H

oje tudo virou crime de discriminação: as fábulas de Monteiro Lobato, marchinhas de Carnaval, poesias, aos olhos de uma minoria que vive a campear motivos para denegrir a herança cultural brasileira. O registro da história é lavrado através dos usos e costumes da época, através da criação artística e literária, tudo agasalhado pelo direito de liberdade de expressão. O mundo inteiro valoriza o artista, o escritor, o músico, o compositor, elementos humanos que no deambular da história vão alinhavando ponto a ponto a herança cultural. Querer modificar tal acervo, ao bel prazer, é ferir os direitos autorais e a tão enaltecida democracia. O ato intencional de instigar o denegrir de um autor é sinal de retrocesso e ausência de capacidade em avaliar a cultura, quiçá, demonstrar o veio crucial da discriminação encravado no coração de quem vive a campear pelo em ovo. A verdadeira discriminação não repousa apenas na cor da pele, sequer nas atitudes pessoais, mas sim, na vontade exacerbada de ferir o outro, de diminuir, de criticar de maneira ignóbil o trabalho e a criação dos que construíram e constroem a história de uma nação! Ao bailar da hipocrisia, tudo virou discriminação. Devemos nos policiar para cantar, rezar, andar, vestir, falar, sentir e até mesmo se emocionar! Tudo há de ser fiscalizado, denunciado, tal e qual estilo do terceiro Reich? Por onde anda a liberdade da oratória sem hipocrisia? Por onde anda a verdadeira liberdade de expressão? Qual o motivo

➤ Sônia Cintra * de nos envergonharmos da cor da pele, dos cabelos, do sotaque da fala, dos usos e costumes de nossos ancestrais? Quem sente vergonha é quem mais se incomoda com o outro. Quem usa de hipocrisia é quem mais salienta o pecado da discriminação, seja ela racial, cultural, religiosa ou a pior delas: a própria rejeição, quando o sujeito não se aceita como é e passa a campear motivos para espezinhar o outro, como se para brilhar necessário fosse ofuscar o lume alheio. Discriminar é demonstrar desafeto, rejeição, exclusão, assim como está ocorrendo quanto às marchinhas de Carnaval, tão canta-

das por décadas pela população. Urge citar a intenção de denegrir a figura de Monteiro Lobato pinçando frases e citações literárias de um dos maiores autores brasileiros. Se há censura, que não seja unilateral! Oportuno excluir também "músicas", com o firme propósito de divulgar apologia ao crime, livremente apresentadas pela mídia! Agradar sem sentir é enganar. É viver ao bailar da hipocrisia!! Enfim, é fácil ser bom, o difícil é ser justo!

* VALDEREZ DE MELLO é advogada,

pedagoga, psicopedagoga e autora de “Lágrimas Brasileiras”

Cenas da Cidade ➤ FABIANO MAIA

O senador Romero Jucá (PMDB-RR), na semana passada, protocolou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que poderia blindar os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal. Conseguiu 30 apoiadores, porém, questionado pela imprensa, que percebeu a manobra, disse: "Aqueles que quiserem votar votarão, e os que não votarem se 'agacharão'". Diante da repercussão negativa da opinião pública, senadores dissimulados, que assinaram "sem ler", retiraram suas rubricas; aí, Romero Jucá foi quem se "agachou" e retirou a indecente proposta. Agora, Jucá reage ao Supremo Tribunal Federal (STF) e diz que foro privilegiado deve ser "suruba” para todos. Palavra chula, indecorosa, utilizada por um senador da República sem o mínimo decoro, para amea-

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tores, dançarinas, coristas, barmen, crupíês – e um contingente ainda maior de notívagos carentes. Os cassinos fecharam para sempre, mas os indestrutíveis profissionais da noite, sem falar nos boêmios de plantão, logo encontraram um novo habitat: as boates de Copacabana. Eram casas em tudo diversas dos cassinos. Em vez das apresentações grandiosas, dos espaçosos salões de baile e das orquestras em formação completa – que estimulavam uma noite ruidosa -, as boates, com seus pianos e candelabros, favoreciam a penumbra e a conversa a dois”. Em Jundiaí, os grandes bailes e as boates se alternavam nos clubes da cidade, na década de 1970. Depois foi a vez das brincadeiras dançantes, onde a juventude se despedia do final de semana, antes de retornar às aulas da se➤ Do prefeito de Jundiaí, LUIZ FERNANDO gunda-feira. As guitarras rouMACHADO, sobre a implantação do bavam a cena dos saxofones e programa Cidade Digital a bateria dos pandeiros. A dança era solta, com passos A intenção é que as pessoas ensaiados, ou de rosto coladinão precisem sair de casa nho quando eram românticas ou italianíssimas, e as mipara resolver seus nissaias e calças jeans embalaproblemas. Imagine as mães vam as tardes de domingo. A luz estroboscópica dos danconseguindo acessar as cing days apagou a luz de venotas dos filhos pelo las dos salões e a jogatina foi para a sala dos fundos. celular? O amigo Leonel Brayner, juntamente com Aninha, sua Do diretor do Ciesp-Jundiaí, ➤ GILSON PICHIOLI, sobre uma nova mulher, ajudou Ruy Castro linha de trem passando por Jundiaí na pesquisa de letras das músicas para o livro A Noite do É extremamente necessário Meu Bem. Que beleza! livro, a breve contextualização nos põe a par da política da época e suas consequências no cenário da capital: “Até 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu os jogos de azar no Brasil, a noite carioca girava em torno dos grandes cassinos: o da Urca, o do Copacabana Palace, o Atlântico, ou mesmo, subindo a serra, o Quitandinha, em Petrópolis. Eram verdadeiros impérios da boemia, onde a roleta e o pano verde serviam de pretexto para espetáculos luxuosos, atrações internacionais e muito champagne. A canetada presidencial gerou uma legião de desempregados – músicos, can-

Frases

‘ CHE GUEVARA ESQUECIDO Até mesmo o famoso líder esquerdista está escondido sob o painel de borracharia

Espaço do Cidadão ➤ VAI QUE COLA!

O

título deste artigo é o do livro de Ruy Castro, inspirado da letra de Dolores Duran, que conta lindamente a história e as histórias do samba-canção. Belo presente de Natal que Araken e eu recebemos do Sérgio Gebram. Na capa, a foto de casais dançando lembra os bons bailes de gravata borboleta e vestido de alcinha roletê. Coisas do tempo de meus pais, que também curtiram o Rio de Janeiro, na década de 1950. Long plays de samba-canção e jazz não faltavam em casa. Mal terminava dezembro e as marchinhas de Carnaval já soavam nas rádios. Na orelha esquerda do

çar e intimidar a Suprema Corte. Típico de quem tem culpa em cartório. O Supremo deve, sim, levar adiante a proposta de restringir o foro de parlamentares, pois está muito escancarado, e as "orgias" nas duas Casas do Congresso transcendem fronteiras, portanto, alguma coisa tem de ser feita. Como por aqui não temos vulcão ativo como aquele que destruiu Sodoma e Gomorra, o Supremo deve unir forças para destruir as congêneres instaladas no Planalto Central. Sérgio Dafré

➤ VIOLÊNCIA O total de casos de violência contra profissionais de imprensa registrados em 2016 foi 65,51% superior ao de 2015. É o que revela um relatório divulgado pela Associação

As opiniões expostas nesta página não representam necessariamente o pensamento da direção.

Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Apesar do número de assassinatos ter caído de oito para dois casos de 2015 para 2016, o total de casos de violações à liberdade de expressão no Brasil saltaram de 116 para 192 ocorrências, atingindo diretamente a 261 trabalhadores e veículos de comunicação. Com 67 ocorrências – contra 64 registradas no ano passado -, as genericamente chamadas “agressões” são a forma mais comum de violência registrada contra os jornalistas. Sobretudo contra os empregados de emissoras de TV. Em seguida vem os casos de ofensas (22); ameaças (19); condenações/decisões judiciais (18) que impedem jornalistas de apurarem um assunto ou divulgar suas descobertas; intimidações (17); ataques/vandalismos (17); censura (12); detenções (7); atentados (6); roubos e furtos (4) e um caso de assédio sexual.

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Segundo a entidade, a maior parte das agressões é cometida por agentes públicos, principalmente por policiais, guardas municipais e outros agentes de segurança. “A maioria dos ataques aconteceu durante manifestações e, infelizmente, partiu de autoridades públicas, sobretudo de agentes de segurança, que aparecem como os grandes responsáveis por esse tipo de violência contra os profissionais de imprensa”, disse o presidente da Abert, Paulo Tonet de Camargo, defendendo a necessidade das autoridades de segurança capacitarem as forças policiais para lidar com jornalistas no exercício de suas funções. Os participantes dos protestos políticos, seguidos por políticos e detentores de cargos públicos, também figuraram entre os grupos que mais ameaçaram, intimidaram e agrediram profissionais de comunicação no ano passado. “Alguns setores da sociedade

o investimento no transporte ferroviário, pois o volume de trânsito nas rodovias está com o nível elevado

Fax: 11.2136-6077

têm uma dificuldade de compreender o real papel dos meios de comunicação no Estado Democrático de Direito. O papel da imprensa não é o de ser, em nenhum momento, o protagonista do processo que está em discussão, mas sim reportar os fatos que estão acontecendo”, acrescentou Camargo. As ocorrências registradas em 2016 colocam o Brasil entre os países mais perigosos para o exercício do jornalismo, conforme apontam entidades internacionais como a organização Repórteres Sem Fronteiras, segundo a qual o Brasil é o segundo país mais violento da América Latina, atrás apenas do México. Mesmo que, pela primeira vez desde 2012, o número de mortes tenha diminuído em comparação ao ano anterior, A Press Emblem Campaign (PEC), uma organização não governamental (ONG) formada por jornalistas de várias nacionalidades que atua co-

* SÔNIA CINTRA é doutora em Letras pela USP e pesquisadora da Cátedra José Bonifácio. Pós-graduada em Ecologia e Educação Ambiental. Mediadora do Clube de Leitura da APL e do Clube de Leitura-CJ. Titular da UBE, membro efetivo da AJL, da AFLAJ e madrinha do CELMI. Poeta, articulista e ensaísta, tem 13 livros publicados.

Endereço: Av. Olívio Roncoleta, 465 Vila Hortolândia, Jundiaí - SP, CEP: 13214-306

mo consultora das Nações Unidas, colocou o Brasil entre os dez países de maior periculosidade para a profissão em todo o mundo, mesmo que, pela primeira vez desde 2012, o número de mortes no país tenha diminuído em comparação ao ano anterior. Isabela D’Ângelo

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