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contribui para mapearmos práticas de gosto com mais critérios, facilitando a identificação de mercados similares e a análise mais matizada do processo de transformação de gosto.
7.1 LIMITAÇÕES E PESQUISAS FUTURAS
O contexto do samba de competição é extremamente amplo e inclui dezenas de Escolas de Samba, não só no Rio de Janeiro, mas espalhadas por diversas cidades brasileiras. Os recortes realizados foram fundamentais para direcionar o trabalho, mas, por outro lado, consistem também oferecem uma limitação à análise do fenômeno como um todo. Mesmo dentro de uma agremiação, existem outros regimes em operação que seriam potencialmente enriquecedores para esse debate como o do casal do mestre sala e porta bandeira, a ala das baianas, velha guarda, comissão de frente. Cada ala tem seu próprio regime e um esquema corporal específico. As funções que realizam o pré-carnaval também se configuram como fértil terreno para análises de competências e práticas, incluindo costureiros, ferreiros, pintores e o próprio carnavalesco, figura máxima que idealiza o desfile desde a concepção da ideia. Pela necessidade de centralizar nos principais assuntos deste trabalho, gênero e sexualidade não foram amplamente discutidos, mas o samba apresenta diversas tensões nesses tópicos que poderiam ser aprofundadas em pesquisas futuras, e que estão fortemente relacionadas à questão do corpo. Durante as observações de campo, um assunto que emergiu em forma de discussão recorrentemente foi o questionamento do espaço do LGBTQI+ que é impossibilitado de exercer papéis que não se adequem ao seu gênero de nascimento. Por último, seria interessante contrastar praticantes do samba de competição cujo habitus primário se difere drasticamente do carioca suburbano, como estrangeiros, brasileiros de outros estados ou cariocas da zona sul do Rio de Janeiro. De acordo com a experiência relatada pelos entrevistados, existem inúmeros estrangeiros que aprendem a prática do samba em oficinas fora do Brasil, e viajam para o Rio de Janeiro regularmente para desfilar durante o carnaval por uma Escola de Samba da cidade. Foram citados europeus, sul americanos e até asiáticos. Como essas pessoas formulam o objetivo de se tornar praticantes de samba, quais são os pontos de convergência entre seus habitus e o regime e quais são as diferenças entre um praticante nativo e estrangeiro são questionamentos que certamente fortaleceriam a discussão.