Jongo e educação: a construção de uma identidade quilombola a partir de saberes étnico-culturais do

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1 Introdução Assim como uma roda de jongo precisa de um tempo para se formar, outro para ganhar corpo, e mais tempo ainda para se fortalecer e ser encerrada, isso tudo acompanhado de um processo ritualístico específico, uma tese de doutoramento é fruto de um investimento paulatino, que vai pouco a pouco ganhando contornos, amadurecendo e corporificando, através da escrita, um acúmulo de alguns anos de trabalho, estudos e motivações. Toda roda de jongo é aberta com um ponto de louvação aos ancestrais. Através da reverência aos tambores, que, simbolicamente, representam a ligação PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0913511/CA

do mundo terreno com o mundo mágico e espiritual, aliado ao ponto entoado, é pedida a benção e a proteção à roda e aos jongueiros presentes. Só a partir de então, a roda é oficialmente aberta, estando todos protegidos para entrar na dança. Para ser encerada, a roda também segue um rito específico. Um ponto de despedida é necessariamente entoado, para tornar claro aos jongueiros que não haverá um momento posterior. A roda se encerra com o fim deste ponto. Ainda que de forma preliminar, trago o exemplo do ritual que ocorre na abertura e no encerramento das rodas de jongo, para iniciar a minha introdução a este trabalho. Para tanto, peço, de certa forma, a proteção e a benção também, mas, neste caso, ela será expressa brevemente pela trajetória que vim percorrendo ao longo desses anos de formação, sobre a qual acho fundamentalmente importante falar, pois contribuiu significativamente para a escolha e construção do meu objeto de estudo. Ao final, espero ser tão clara quanto o ponto de encerramento das rodas de jongo, para anunciar a minha despedida neste trabalho. Ainda que seja uma despedida, almejo deixar algum legado para próximas imersões e novas aberturas, até porque, assistimos atualmente a um processo de ressignificação permanente do jongo, não sendo possível pensá-lo como uma prática cultural singular, e sim plural, sendo mais correto, inclusive, utilizarmos o termo jongos, justamente pelos diferentes sentidos que ele agrega. Mas antes de encerrá-la, vamos abrir a roda.


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