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DE BAILARINA À ANTROPÓLOGA! OU, BAILARINA? ANTROPÓLOGA?
Todo esse processo me mostrou um eu diferente que do desejo de simplesmente ser uma integrante de uma companhia de dança, e uma antropóloga que estuda o corpo e a dança, está me transformando em uma bailarina que estuda antropologia. (Caderno de Campo, 28/11/14).
Iniciei o ano de 2014 aprovada para o mestrado em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas, meu projeto era o de fazer uma etnografia do processo de apropriação da corporeidade do samba de roda realizado dentro da Abambaé Companhia de Danças Brasileiras, da qual faço parte. Minha escolha partiu de dois principais motivos: trabalhar com o patrimônio imaterial, já que minha especialização é nesta área, e por ser esta a primeira coreografia que o bailarino aprende ao entrar para a companhia. Assim aconteceu comigo e com os vários integrantes que se juntaram a nós e que pude presenciar. Desde janeiro, com um pequeno intervalo em fevereiro, as atividades da companhia foram intensas, e desde já, mesmo antes de começar o ano do curso de mestrado já estava inserida no meu trabalho de campo. Foi assim que comecei uma viagem pela vida da companhia, quando pude descobrir neste processo, não só o que meu estudo pretendia, mas coisas além do que estava propensa a ver, entender e assimilar. Nada além do que acontece há muitos antropólogos ao chegarem de fato no campo. Mas, por saber que já estava afetada pelo meu campo, acreditei que o distanciamento apesar de ter que ser feito não me traria tanta estranheza, afinal de contas, ser abambaense é parte de mim desde aquele dia 29 de abril de 2009. Mas me parece que não foi bem assim, e este trabalho assim como eu foi se transformando no seu percurso, onde sofri crises identitárias, dúvidas, trocas de foco... coisas que somente o campo possibilita mesmo para mim que achava que sabia tudo sobre o local de onde eu falava.