Se não é a canção nacional, para lá caminha: a presentificação da nação na construção do samba e do

Page 105

d’O Cruel e Triste Fado de Rocha Peixoto, publicada a partir de 1893. Não só no que diz respeito à condenação da empresa marítima, mas igualmente no estilo e na forma como o texto é construído, sustentando-se nos mesmos personagens e fatos históricos. Igualmente, todas as questões sobre a obra de Oliveira Martins abordadas aqui, suas “simbólicas”, seu “modelo literário” de “paradigma histórico-psicológico” e os parâmetros de seu diagnóstico da decadência da nação estarão presentes nos textos de Rocha Peixoto. Contudo, se Oliveira Martins constitui sua principal influência intelectual, com Teófilo Braga, Rocha Peixoto comunga a visão negativa e a constituição histórica do fado como objeto da tradição popular portuguesa. É do que se ocupa agora este trabalho.

2.1.2. Uma narração detalhada e plangente dos successos vulgares: a visão negativa do fado segundo Teófilo Braga

Em diversas obras de Teófilo Braga destinadas a coligir as tradições populares portuguesas, o fado figura de forma pejorativa. Contudo ele não deixa de incluí-lo como uma dessas manifestações “originais”. Em O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, publicada em 1885, ele define como entende, etnograficamente, as tradições populares portuguesas: desde 1867 a 1884 temos empreendido uma larga investigação sobre a ethnografia do Povo Portuguez [...]. Por uma evolução natural do nosso espirito achâmo-nos attrahidos para a observação de todos as manifestações do viver portuguez [...]. Attrahidos ainda na adolescência para esse lyrismo pessoal pervertido pelo Romantismo, viemos a conhecer que existia uma poesia mais profunda do que as emoções do momento, revelada nos conflitos da humanidade que acentuam a sua elevação na historia. Entrando n’esta via [...], a idealização do passado fez-nos compreender os documentos persistentes de sua poesia, as tradições transmitidas na voz do povo. Immediatamente, começámos a acumular os materiaes do Cancioneiro e Romanceiro geral portuguez [...].307

Sua “ethnografia do Povo Portuguez” inicia em 1867 com a publicação de três obras que abordam o que chama do “viver portuguez”: o Romanceiro geral colligido da tradição,308

307

BRAGA, Teófilo. O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições. Lisboa: Livraria Ferreira, 1885, v. 1, p. V-VI. 308 BRAGA, Teophilo. Romanceiro geral colligido da tradição. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1867. 105


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.