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INTRODUÇÃO Esta tese foi elaborada a partir de um estudo sobre o carnaval de rua do Rio de Janeiro, direcionado, sobretudo, a partir de um aporte teórico-metodológico desenvolvido no âmbito da etnomusicologia. Seu objeto principal é a relação entre um processo, ainda em curso, de crescimento e mudança na forma de ocupação do espaço público durante o carnaval, que é intrínseco ao surgimento de novas práticas musicais nestes espaços; e a formação social destes espaços, as possibilidades de ação e interação pública com eles, e as possibilidades de uso da cidade de uma forma mais ampla. Trata-se de um processo de grandes proporções, e que se torna mais intenso, e perceptível, a partir da primeira década dos anos 2000. Neste período é possível perceber um aumento exponencial no número de participantes nos festejos carnavalescos em locais públicos, em um contexto no qual se observa o surgimento de uma série de novos grupos e performances ligadas ao carnaval, atuando, sobretudo a partir de determinadas práticas musicais. Estes novos grupos que passam a atuar no carnaval de rua utilizam diferentes tipos de nomenclatura para se autodefinir, como “bloco”, “cordão”, e “rancho”. Sendo possível destacar que estes nomes se referem a modelos de organização carnavalesca tradicionais no carnaval carioca. Modelos que surgiram no carnaval carioca no final do século XIX, e início do século XX. Entretanto, para os fins desta tese, não é necessário discutir as particularidades de cada um destes modelos. O elemento de secção realmente importante para esta discussão é a ocupação do espaço público por desfiles de grupos musicais durante o carnaval. Com isso, todos estes modelos serão englobados aqui por uma categoria geral denominada “blocos de rua”. Esta denominação geral é a mesma utilizada pela prefeitura para a categorização dos grupos que recebem autorização para desfilar no carnaval de rua. É importante ainda, salientar que os blocos de rua, objeto desta tese, não são o único tipo de modelo que leva o nome de bloco na cidade. Havendo também os blocos de enredo e os blocos de empolgação. Como descreve J. Ferreira (2016): Não há a possibilidade de se estabelecer uma categoria monolítica para se tratar dos blocos carnavalescos que desfilam no Rio de Janeiro (simplesmente considerando-os todos como blocos). Entender os princípios básicos de suas diferenciações auxiliará a continuidade da pesquisa, visto a grande quantidade de agremiações que se identificam e que são identificadas