Samba e mercado de música nos anos 1990.

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33 concreta de investir em artistas capazes de transitar e vender em várias partes do mundo. Com os lucros estratosféricos de um disco com esse perfil, as gravadoras passaram a perseguir esse objetivo. Partindo da constatação de que a música pode, através de sua circulação em grande escala, promover uma real integração cultural, representada não só nas práticas culturais em si, mas também em elementos presentes nessas práticas, a grande indústria fonográfica começa a estimular o desenvolvimento de uma estética musical transnacional. Essa estética viria associada a um modelo de estratificação social através do consumo que vinha surgindo em outros campos da produção cultural como o cinema: a “juventude”. De acordo com Letícia Vianna, a juventude não é uma categoria diretamente relacionada à idade e sim uma categoria trans-etária, uma vez que seus valores e significados transbordam através de toda a vida. Nesse sentido, trata-se de uma “idade-mídia”, reforçada nos símbolos estéticos e comportamentais veiculados em larga escala e utilizados pelas pessoas e grupos sociais. Juventude é um complexo de representações na mídia, cujos signos e símbolos são manipulados no domínio do consumo e introjetados por cada pessoa, que lhes dá um sentido específico. A pessoa será sempre jovem enquanto estiver existencialmente em formação, atenta à dinâmica do mercado e aberta para as inovações e transformações que se dão no mundo. Juventude está associada a um padrão de beleza e isso envolve um aumento progressivo de cuidados com o corpo, cuidados que, em geral, tendem a atenuar e dissimular a idade sóciobiológica e causar a impressão de vitalidade perene. Além disso, envolve toda uma preocupação em seguir modas de vestuário e praticar certos tipos de atividades (Vianna, 1992:2).

Ao mesmo tempo, é um modelo de identificação “universal”, pois as questões da juventude estão presentes em todos os países do globo. Para Edgar Morin o modelo “jovem” de identificação veiculado pela cultura de massa substituiu a figura referencial do homem adulto, pai, marido, rei, pela figura de um homem jovem, um “rapaz” “em busca de sua autorealização, através do amor, do bem-estar, da vida privada. “É o homem e a mulher que não querem envelhecer, que querem ficar sempre jovens para sempre se amarem e sempre desfrutarem do presente” (1975:136). Segundo Nadja Gumes, cinema e música são os principais divulgadores da juventude nos anos 50. Os meios de comunicação de massa entendem a existência de uma cultura juvenil e utiliza este novo comportamento em roteiros filmes, canções. O cinema optou pela faceta do rebelde sem causa, o delinqüente juvenil. A música, também é rebelde, mas pontua a sexualidade, os romances. Canções e filmes emolduram um perfil juvenil: rebelde, delinqüente, provocador e alienado (Gumes, 2003:2).

Na música popular, a representação de uma estética jovem se dá através de elementos musicais e não-musicais que veiculem a idéia de juventude. Tanto os Beatles quanto Elvis


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