30 especialmente em sua segunda metade, houve uma progressiva concentração empresarial no ramo cultural, onde diversas empresas se uniram formando grandes conglomerados internacionais. Não se pode negar que a concentração de poder nas mãos dessas poucas empresas é enorme e, de fato, favorece a uma diminuição da diversidade das ofertas culturais, na eterna busca pelo denominador comum e o sucesso imediato. No entanto, o conceito de indústria cultural pressupõe uma noção de que esses “escritórios” modelam os gostos com o objetivo de manter os espectadores presos aos seus ditames, dominando-os. A teoria da dominação cultural se enfraquece à medida que ela deriva de um certo “aristocratismo cultural”10 evidente no texto (Barbero, 2001:82), que se apóia nas combalidas idéias de alta e baixa cultura, opondo lazer e estética. Nas palavras dos autores: “a fusão atual entre cultura e diversão não se realiza apenas como depravação daquela, mas ainda como espiritualização forçada desta. É o que se vê já pelo fato de a diversão ser apresentada apenas como reprodução: cinefotografia ou audição de rádio” (Adorno e Horkeimer, 1982:181). Por outro lado, apesar de apresentar aspectos um tanto problemáticos, o conceito de indústria cultural tem uma força indiscutível, que se apóia basicamente em alguns de seus postulados principais, entre os quais se destaca a noção de estandardização. Realmente, como pudemos constatar na declaração de Carlão, há produtos que são milimetricamente calculados para criar e satisfazer demandas pré-estabelecidas e que esses produtos se tornam referenciais para a criação de novas obras a partir dos mesmos critérios e elementos. A circulação de elementos através das músicas veiculadas pelo mercado fornece uma biblioteca de procedimentos técnicos copiáveis e reproduzíveis em novas criações, tanto com objetivos estéticos quanto comerciais, que muitas vezes se fundem. Porém, reduzir a criação artística veiculada em larga escala a uma aplicação de protocolos repetitivos evidencia um ponto de vista que ignora “a existência de uma pluralidade de experiências estéticas, uma pluralidade dos modos de fazer e usar socialmente a arte” (Barbero, 2001:82). Fazer música, por exemplo, nunca foi nem nunca será uma aplicação pura e simples de modelos, fórmulas, clichês ou receitas. A comunicação e o próprio prazer estético de uma música dependem de associações com músicas e sentimentos já experimentados, isto é, dependem da repetição de padrões, elementos, fórmulas e clichês, passíveis de serem reconhecidos. A própria teoria da música, centrada em um sistema de 10 De acordo com o musicólogo Richard Middleton, as teorias pessimistas de Adorno precisam ser historicizadas e, a partir de então, “ir além dele através da historicização de sua historicidade, que reagia aos choques do Fascismo, à desmoralização da esquerda e à rápida consolidação do capitalismo administrativo que assumia que as antigas tradições culturais populares haviam sido não somente modificadas, mas totalmente sacudidas, e que buscava reafirmar uma única trajetória de tradição cultural, cujo desenvolvimento ia da arte burguesa radical (Beethoven, por exemplo) até o modernismo” (Middleton, 1990:62).