44 Revista Litteris – ISSN: 19837429 n. 8 - setembro 2011
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A ORIGINALIDADE DO CARNAVAL DE PAULO BARROS: PATEMIZAÇÃO E ICONICIDADE FERES, Beatriz dos Santos (UFF – GPLEIFEN) 1 Abre-alas Considerada a ―forma padrão e relativamente estável de estruturação de um todo‖ (Bakhtin, 2000) que torna reconhecível todo gênero discursivo socializado por um grupo, elege-se aqui o desfile das escolas de samba do carnaval carioca como classe específica de enunciados que, em sua complexidade e singularidade constitutiva, apresenta recursos discursivos altamente produtivos – como aqueles relacionados à geração de um fazer sentir, foco de maior interesse neste trabalho. Segundo a LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro), os dez quesitos exigidos de cada escola de samba e avaliados por jurados a fim de se escolher o campeão do carnaval são bateria, samba-enredo, harmonia, evolução, enredo, conjunto, alegorias e adereços, fantasias, comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira. O desempenho de cada escola de samba no desfile é mensurado, portanto, de acordo com critérios (também tomados como orientadores das características do gênero desfile de escola de samba) que fazem convergir forma, performance e orientação temática, por um lado, em prol da excelência do espetáculo oferecido ao público, mas de outro, como resultado da capacidade criativa daqueles que dirigem esse espetáculo: os carnavalescos. Dentre tantos nomes popularizados pelo carnaval carioca, o de Paulo Barros tem surpreendido pelo estilo inovador e ―pop‖, como tem sido considerado por seus pares. Em entrevista ao jornal O Globo (O Globo on-line, 20/02/2010), o carnavalesco defendeu a necessidade premente de ―encantar o público antes de pensar em conquistar os jurados‖. Pode-se afirmar, portanto, que seu estilo é pautado por um propósito eminentemente patêmico, direcionado a um interlocutor (o público) mais propício ao sentimento (ato de sentir) do que os jurados, revestidos de um papel monitorado pela racionalidade na recepção do desfile, em função da responsabilidade de julgamento. Além disso, Paulo Barros, divergindo da tradição nacionalista e de exaltação herdada da ―época de ouro‖ do samba de enredo (1969-1989), tem desenvolvido temas (enredos) mais abstratos, como ―É de arrepiar‖ (Unidos do Viradouro, 2008) e ―É segredo‖ (Unidos da Tijuca, campeão de 2010), focalizados neste trabalho.
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