Arqueologia da Repressão às Festas Carnavalescas no Recife (1968-1975)

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Arqueologia da Repressão às Festas Carnavalescas no Recife (1968-1975) DIOGO BARRETO MELO1

Reprimir as festas é, em uma tentativa mais ampla de análise, um processo um tanto quanto perigoso e delicado. Perceber a convergência entre ideais políticos e culturais, envolvendo práticas interessadas e desinteressadas, requer um esforço de análise que implica encontrar o sentido de ambas as formas de pensamento, separandoas e abrangendo suas particularidades de modo que seus signos possam evidenciar o contorno como se fazem presentes na organização do real. Nesta direção, entendemos que é pertinente voltar os olhares mais uma vez ao passado, sobretudo ao período em que o Carnaval era reprimido por conflitos políticos, sociais e econômicos. Em fins da Idade Média, durante o processo de transição para a Modernidade e estendendo-se até meados da era pré-industrial, os populares eram vistos nos dias carnavalescos como aqueles que desejavam romper o curso da hierarquia instituída (embora este não fosse o real sentido da festa, como discutido no tópico anterior) através de farsas e burlas que ridicularizassem as principais instituições sociais da época. Esta diretiva apontava para um olhar mais rígido por parte de autoridades locais e nacionais em torno da permissividade dada a estes atores para a realização dos seus festejos. Antes de promover um impedimento a estas celebrações coletivas, os poderes constituídos aguardavam o momento mais oportuno para delinearem suas ações sobre aqueles que estivessem se divertindo na brincadeira de forma deliberada, sem que estes pudessem perceber a presença de ações contrárias às suas práticas culturais – surgem, pois, as máscaras enquanto símbolos também de poder e não somente de diversão. Poderes que partem dos excluídos e, ao mesmo tempo, que são usados pela burguesia e pela nobreza para aniquilar a subversão Algumas outras práticas eram vistas igualmente como desrespeitosas, violentas e perigosas como o banho de água, os ovos recheados de perfume, as frutas jogadas em tom de “batalha”, entre outros exemplos. HEERS 1

Mestre em História Social da Cultura Regional pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura Regional da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Professor dos Colégios Salesiano Sagrado Coração e Radier. Funcionário Público do Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Educação.

Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011

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