Escola de samba Deixa Malhar: O cotidiano dos sambistas durante o Estado Novo e suas memórias subter

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Escola de samba Deixa Malhar: O cotidiano dos sambistas durante o Estado Novo e suas memórias subterrâneas

SORMANI DA SILVA sormanisil@oi.com.br

Este artigo questiona a partir de fontes orais e registros de jornais algumas práticas de silêncio e esquecimento sobre a trajetória da Escola de Samba Deixa Malhar. Importante associação recreativa que se localizava nos limites da região da Chácara do Vintém, na Tijuca. Instituição que foi contemporânea dos ranchos carnavalescos, e que desapareceu de forma abrupta em maio de 1943, quando sua sede foi interditada pela polícia por ordem do chefe de policia. Nesta discussão problematizo uma ideia muito comum que relativiza sobre a intervenção autoritária do Estado Novo na organização das Escolas de Samba. O trabalho contextualiza um período de suma importância para a compreensão do samba como símbolo nacional, o que possibilita ao mesmo tempo um olhar sobre as memórias em disputa, ou seja, sobre um tipo de samba seria elevado a símbolo nacional, e o que permaneceria como memória subterrânea.

I) Noticias sobre o fechamento da Deixa Malhar Em abril de 2010, quando estava de passagem pelo bairro de Neves, no município de São Gonçalo, lembro que fiz uma pausa numa antiga parada de Vans, nas proximidades da rua da Lyra, em frente à padaria Colonial. Neste lugar, um jovem se aproximou e afirmou: “Quer saber quem é compositor, compositor é esse ai?” “O resto é “caô”. Eu olhei para o senhor que ele indicara, o qual estava sentado em uma cadeira de praia. E logo compreendi que a fala do jovem era uma espécie de reverência. Assim, diante daquela apresentação inusitada, eu me vi diante da necessidade de falar qualquer coisa. Não cabia silêncio. E fiz uma pergunta: O senhor é compositor? E de qual Escola de Samba? pois desejava saber mais detalhes, afinal percebi um elo entre a fala do jovem e a expressão facial daquele compositor de cabelos brancos. Ele me respondeu de forma rápida: “botei e me arrependo de ter colocado meu nome naquela porcaria”...” Levei tanta bordoada.” E arrematou: “Tá pensando que naquela época


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