Corpo, ritual, Pelotas e o carnaval: Uma análise dos desfiles de rua entre 2008 e 2013

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81 promovendo a formatação das atividades e inibindo o processo de auto-gestão das agremiações carnavalescas, atuando como um “financiador paternalista”. Se por um lado a atuação das prefeituras tem colaborado e auxiliado a viabilizar a infra-estrutura necessária para a realização dos eventos mediante o suporte nas áreas de montagem e preparação do ambiente (sonorização, iluminação, arquibancadas, banheiros móveis, etc.), disponibilização de agentes de segurança, promoção da divulgação da festa e articulação desta como atração turística e demais aspectos vinculados à infra-estrutura básica para a realização do evento, por outro lado, o Poder Público Municipal direciona o evento para seus interesses (muitas vezes, interesses populistas) e dificulta (ou quase inibe) que a própria comunidade carnavalesca se organize e faça uma gestão articulada dos eventos carnavalescos. Em suma, estes aspectos que acabo de mencionar podem ser presenciados de diferentes formas e com distintas intensidades pelo país. Tais atravessamentos não devem ser compreendidos como uma regra geral nem mesmo com um formato único, mas como indicadores que surgem de modo bastante presente no cenário do carnaval, interferindo nos modos de fazer e nas configurações (políticas, estéticas, sociais, etc.) mediante as quais os diferentes eventos carnavalescos se apresentam na contemporaneidade. Todos estes motivos, aliados a outros que não tenho a pretensão de delimitar ou mesmo de abranger (no sentido de "dar conta"), haja vista a própria condição dinâmica de existência do ritual carnavalesco (já abordada no capítulo anterior), vão constituindo o perfil deste mosaico amplo do espectro carnavalesco nacional que se apresenta hoje. Contudo, entendo que existe uma noção muito peculiar que dicotomiza a compreensão sobre o carnaval e a relação dos indivíduos com esta festa, à qual une, alterna e mescla o particular com o universal. Tanto cabe atestar a existência do carnaval em uma perspectiva macro, ao referirse ao carnaval como um todo e os seus principais aspectos recorrentes especialmente quando se refere ao carnaval brasileiro, independente das suas variações regionais, portanto universal, global, quanto em uma perspectiva micro, que aponta para a existência do carnaval particular, o carnaval de cada um, de seu carnaval. O primeiro pode ser identificado a partir de uma ideia de carnaval, de uma compreensão maior e mais abrangente, de um modo de entender o carnaval que está circunscrito no imaginário coletivo da sociedade; e o segundo passa necessariamente pelo modo com o qual cada sujeito imagina, compreende e vive no carnaval, através do qual se constitui mediante as experiências empíricas, as relações diretas com os espaços onde se


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