Corpo, ritual, Pelotas e o carnaval: Uma análise dos desfiles de rua entre 2008 e 2013

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131 Nos anos sessenta, o carnaval de rua pelotense, diferentemente dos carnavais realizados na década de 1920, apresentava desfiles de rua com luxo e bastante animação, e o público, que prestigiava as comemorações, já não mais se vestia com o mesmo rigor das décadas anteriores. Neste momento, de acordo com Kaufmann (2001, p.109), também “era hábito o Rei Momo Vicente Rau, de Porto Alegre, vir a Pelotas para abrir o carnaval desta cidade, patrocinado pela Casa Procópio, uma empresa de comercialização de calçados”. Em 1965, foram levantadas as primeiras arquibancadas para o público prestigiar os desfiles do carnaval pelotense, que foram instaladas em frente à Prefeitura Municipal. Nesta década, “o carnaval de rua mostrou muita animação, algum luxo, mas bastante diferente dos carnavais das décadas de 20, 30 e 40, sem o rigor das vestes usadas nesses períodos”. Neste ano, porém, constatou-se uma diminuição da intensidade do carnaval de rua pelotense, repercutindo em um crescimento do movimento e animação no carnaval dos salões 67. O pesquisador Mário de Souza Maia, etnomusicólogo e professor do Curso de Música da Universidade Federal de Pelotas, em sua Tese de Doutorado intitulada “O Sopapo e o Cabobu: etnografia de uma tradição percussiva no Extremo Sul do Brasil” registrou na referida obra seu depoimento: “Quando eu era criança cansei de ouvir que Pelotas tinha o terceiro melhor carnaval do Brasil, só perdendo para o do Rio de Janeiro e o de Recife. Várias gerações cresceram ouvindo esta afirmativa, cheias de orgulho.” (MAIA, 2008, p.13) Esta referência ao “carnaval de antigamente” (como chamam alguns), via de regra, aparece associada a um conceito estético e político a respeito do carnaval cujas características principais demonstram-se recorrentes: a realização dos desfiles de carnaval acontecia em rua aberta, não eram cobrados ingressos, todos podiam participar, irrestritamente, o ambiente era seguro e as famílias completas saíam de casa para prestigiar e participar da festa, os “mascarados”68 podiam desfilar e situações desconfortáveis como brigas e confusões eram esporádicas, excepcionais. Nos idos de 1970, aconteceram episódios importantes para a história do carnaval pelotense no âmbito da organização dos desfiles e concursos, assim como o aumento da profissionalização de algumas atividades, conforme segue nos seguintes trechos:

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Manual de Procedimentos do Julgador, Prefeitura de Pelotas, [s.d.] & KAUFMANN, 2001. “Mascarados” era o nome dado aos foliões que saíam de casa fantasiados durante o período do carnaval, usando diferentes tipos de máscaras. Seu papel principal na festa era brincar com as pessoas, pulando e divertindo-se. Infelizmente, algumas pessoas aproveitaram esta condição de anonimato proporcionado pelas máscaras para cometer crimes, especialmente furtos. Com isso, o uso das máscaras foi proibido sob a justificativa da segurança pública, e os mascarados desapareceram do carnaval pelotense.


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