Escolas de Samba: Autenticidade e Tradição Perdidas? Autoria: César Tureta
Resumo O objetivo deste trabalho é apresentar uma discussão a respeito da suposta perda de autenticidade e tradição das escolas de samba, destacando estas organizações como instigantes objetos de pesquisas para a área de Estudos Organizacionais. Apesar de serem significativamente pesquisados na antropologia e na sociologia, tais formatos organizacionais não ganharam ainda a devida atenção da administração. Muitos são os aspectos interessantes que envolvem as escolas de samba. O contexto atual em que se inserem sofreu grandes transformações, as quais contam com o que ficou conhecido como mercantilização dos desfiles “invasão” da classe média. Isso gerou mudanças na forma de organização destas agremiações, devido à necessidade de se adaptarem às novas exigências. No entanto, aspectos “tradicionais” da produção do desfile ainda se fazem presentes e convivem diretamente com os elementos “modernos” que foram adicionados a este processo. Argumentamos que a recente intensificação da “invasão” da classe média nas escolas de samba e da comercialização da arte produzida pelas mesmas não produziram a suposta perda de autenticidade e tradição de tais organizações, já que tanto um quanto outro se fazem presentes no carnaval brasileiro desde o início do século XX, quando as escolas de samba ainda não se configuravam como tais. Alem disso, o caráter espetacular dos desfiles não é contraditório com a tradição do carnaval em outras épocas remotas. Assumimos a posição de que “tradição” e “modernidade” não devem ser vistas de maneia dicotômica e excludente, mas representam duas faces de um mesmo fenômeno, que além de dinâmico está em constante estado de transformação. Desta forma, traçamos a trajetória do carnaval no Brasil desde a chegada dos portugueses, que trouxeram o entrudo como forma de festejar o carnaval, até a formação das escolas de samba, que tiveram influências de vários formatos de organização carnavalescas presentes no Brasil. Apresentamos ainda as origens das escolas de samba cujas raízes se encontram na cidade do Rio de Janeiro, além de sua forma atual de organização para a produção dos desfiles carnavalescos, bem como destacamos a idéia difundida de “invasão” da classe média nestas agremiações. Posteriormente, desenvolvemos nossa discussão sobre a suposta perda da autenticidade e tradição de tais organizações, argumentando que precisamos entender a relação entre modernidade e tradição como um fluxo de transformações, o qual não é necessariamente um processo excludente, mas em que estes aspectos opostos se encontram imbricados. Na seqüência, abordamos linhas de investigações que poderiam ser tratadas dentro dos Estudos Organizacionais. Por fim, tecemos nossas conclusões destacando as escolas de samba como objeto de pesquisa que deveria receber mais atenção da área de administração.
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