O samba no rádio e a contra-hegemonia musical de Adelzon Alves, o amigo da madrugada1 BENZECRY, Lena (doutora) Universidade Federal do Rio de Janeiro2 Resumo: O artigo baseia-se em resultados da pesquisa de tese intitulada A radiodifusão sonora do samba carioca: uma retrospectiva crítica das principais representações construídas acerca desse gênero musical em programas radiofônicos do Rio de Janeiro, desenvolvida no PPGCOM da Eco-UFRJ. Abordam-se aqui os papéis exercidos pelo programa Adelzon Alves, o amigo da madrugada e pelo próprio radialista, como espaço e porta-voz dedicados ao samba no rádio carioca. O programa estreou em 1966, na Rádio Globo AM, quando o ritmo passava por um declínio na grade radiofônica, após o ápice conquistado na época do rádio espetáculo. Dali em diante, Adelzon Alves dedicou-se a divulgar a obra de sambistas ligados, principalmente, ao universo popular carioca e de um tipo de samba qualificado como “autêntico”, “de morro” e “de raiz”. Entrevistas em profundidade realizadas com o radialista e a análise de áudios de alguns episódios do programa, veiculado atualmente na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, permitiram que se apresentasse neste artigo um pouco de sua personalidade e trajetória profissional, destacando a sua importância para a história do samba no rádio e evidenciando a atuação contra-hegemônica do radialista perante o mercado de música. Palavras-chave: rádio, samba, Adelzon Alves, resistência e contra-hegemonia.
Muito já se falou sobre a importância que o samba alcançou no rádio durante a chamada “época do rádio espetáculo” (FERRARETTO, 2001). Já não é novidade que, naquele contexto, o ritmo foi inserido na programação radiofônica como um elemento de entretenimento e mostrou-se oportuno para alavancar a indústria da radiodifusão sonora brasileira e contribuir com a consolidação meio como instrumento de comunicação de massa. Determinados objetos de estudo tornaram-se frequentes na bibliografia especializada, como, por exemplo, a trajetória das emissoras cariocas Mayrink Veiga e Rádio Nacional, bem como da paulista, Rádio Record, além dos renomados programas de Ademar Casé, César Ladeira, Almirante e César de Alencar. A partir disso, ficaram em evidência, não apenas a força que o binômio samba-rádio naquele processo, como também, a relevância desse corpus para se entender o processo de formação da indústria cultural nacional.
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Trabalho apresentado no GT História da Mídia Sonora, integrante do 10º Encontro Nacional de História da Mídia, 2015. 2 Jornalista e produtora editorial com doutorado em Comunicação pela UFRJ e mestrado em Memória Social pela Unirio. Participa do grupo de pesquisa Mediações e Interações Radiofônicas, coordenado pelo Prof. Marcelo Kischinhevsky (UERJ).