CUCUMBIS CARNAVALESCOS: Ă FRICAS, CARNAVAL E ABOLIĂ‡ĂƒO (RIO DE JANEIRO, DÉCADA DE 1880)*
Eric Brasil**
O
Primeiro de Março com a Rua do Ouvidor. Logo em seguida, o som dos chocalhos, tamborins e adufos atraĂa os ouvidos e os olhares daqueles que se apertavam no chĂŁo e nas sacadas. No mesmo instante em que os gritos e cânticos graves e retumbantes inundavam a Rua do Ouvidor, era possĂvel distinguir as primeiras plumas de cocares e pontas de lanças dobrando a esquina. O prĂŠstito de aproximadamente duas dezenas de pessoas avançou pela estreita rua, dançando e cantando sem parar. Eram homens e mulheres negros vestidos de “Ăndiosâ€?, com penas, tacapes, lanças, escudos, carregando cobras e lagartos (alguns vivos). Uma mulher ricamente adornada, com manto e cetro, era carregada num andor. Era a Rainha, e ao seu lado vinha o Rei. Seus sĂşditos tocavam instrumentos pouco comuns para os habituais frequentadores da Rua do Ouvidor. Cantavam numa
* Esse artigo ĂŠ uma versĂŁo do capĂtulo IV de “Carnavais da abolição: diabos e cucumbis no Rio de Janeiro (1879-1888)â€? (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Fluminense, 2011), 2011, do Instituto do PatrimĂ´nio HistĂłrico e ArtĂstico Nacional, por meio do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (IPHAN/CNFCP). ** Doutorando pelo Programa de PĂłs-Graduação em HistĂłria Social da Universidade Federal Fluminense.
Afro-Ă sia, 49 (2014), 273-312 273
afro 49.indb 273
5/6/2014 16:40:34