Carnaval e Administração Pública: como os governos locais têm lidado com essa relação

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Carnaval e Administração Pública: como os governos locais têm lidado com essa relação Autoria: Fernando Burgos Pimentel dos Santos

Resumo Embora sejam sempre afirmadas como muito importantes, as políticas culturais ainda não recebem, na prática, a mesma atenção que outras políticas sociais. A grande exceção a esta tendência ocorre por ocasião das festas populares, principalmente, pela capacidade desses eventos de trazer ganhos financeiros para as localidades. Além disso, muitas têm forte apelo local ou regional. No entanto, fatores como o fortalecimento de identidade e do sentimento de pertencimento, reforço de laços comunitários, participação popular na formulação e implementação das políticas e ocupação de espaços públicos também estão sempre presentes nessas festas. Dentro desse cenário está inserida a maior das festas populares brasileiras, o carnaval. Através dessa análise, pretende-se compreender melhor essa manifestação nacional, sob a perspectiva dos limites e potencialidades que a festa pode ter para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos brasileiros. E também mostrar como os governos locais têm atuado, seja na formulação e implementação ou apenas em aspectos regulatórios. Mais especificamente, foram analisados os carnavais do Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA), selecionadas em virtude do grande destaque nacional e internacional que recebem. Introdução Vinculado inicialmente, nos anos 30, ao Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública foi a gestão do Ministro Gustavo Capanema (1934-1945) que propiciou o apoio à produção e difusão cultural, por parte dos órgãos governamentais. Foi um período de intenso relacionamento entre intelectuais e governo. Nesse período o Estado utilizou-se da Cultura inclusive como meio de propaganda do regime, na tentativa de formação de uma identidade nacional. Desde então, tanto as gestões presidenciais quanto ministeriais trataram de forma diferente a questão cultural. Passando por períodos de democracia e de ditadura militar, as políticas culturais sofreram processos de continuidade e descontinuidade, tanto de programas quanto de instituições, que eram extintas e criadas para atender às novas diretrizes de governo. Em 1985, finalmente, ocorre a “independência” em relação à Educação e é criado o Ministério da Cultura. A área sofre um novo revés cinco anos mais tarde, quando, no governo Fernando Collor de Mello, perde sua condição ministerial. Esta é retomada dois anos depois e assim permanece até hoje. Embora sejam sempre afirmadas como muito importantes, as políticas culturais ainda não recebem, na prática, a mesma atenção que outras políticas sociais. Nos governos locais isso ocorre de maneira muito acentuada. Na grande maioria dos municípios brasileiros, a cultura simplesmente é ignorada ou tratada de forma secundária, servindo inclusive para trocas eleitoreiras (Faria & Nascimento, 2000). A grande exceção a esta tendência é ocorre por ocasião das festas populares, principalmente, pela capacidade desses eventos de trazer ganhos financeiros para as localidades. No entanto, é fundamental reconhecer que, além das questões econômicas, elas envolvem um componente social muito importante. Fatores como o fortalecimento de identidade e do sentimento de pertencimento, reforço de laços comunitários, participação popular na formulação e implementação das políticas e ocupação de espaços públicos têm íntima relação com essas festas. E muitas têm forte apelo local ou regional. Dentro desse cenário está inserida a maior das festas populares brasileiras, o carnaval.

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