Recebido: 20.07.2011 Aprovado: 20.11.2012
1. Professor de Sociologia (UnB); coordenador do grupo de pesquisa Cultura, Memória e Desenvolvimento (CMD). E-mail: nilos@uol.com.br * A realização deste texto deu-se no período entre março e julho de 2012, quando estive, como pesquisador convidado, no Centro de Sociologia do Colégio de México, com bolsa de Estágio Pós-Doutoral (CAPES). Agradeço especialmente aos comentários e sugestões do(a) parecerista.
Personalidade artística nos negócios mundanos: a celebração do “gosto do povo” em Joãosinho Trinta* Edson Farias1 Resumo: Ao escrever Mozart: a sociologia de um gênio e A Peregrinação de Watteau à Ilha do Amor, Norbert Elias deixou importante legado ao tratamento sociológico da formação das subjetividades artísticas e das expressões estético-culturais, a partir do problema em torno da relação entre transformação e conservação sócio-históricas, mas do ponto de vista das possibilidades e limites na conduta de indivíduos. Desse modo, neste artigo, a proposta de focar a trajetória de Joãosinho Trinta, no âmbito da cultura urbana do Carnaval do Rio de Janeiro, situa-se na contrapartida da aplicação do modelo figuracional e, assim, voltarmos à discussão sobre a funcionalidade arte-cultura enquanto espaço estratégico à catalisação de valores e à produção e difusão de significados. Isso, em busca das duas seguintes questões: Que dinâmica sócio-histórica é caracterizada pela ascendência do gosto popular na valoração do fazer e dos bens artístico-culturais? E, no reverso da medalha, em que medida esse mesmo processo se traduz na relação entre personalidade artística e negócios mundanos, encarnada na figura histórica do carnavalesco? Palavras-chave: Personalidade Artística, Negócios Mundanos, Gosto Popular, Desfile de Escola de Samba, Carnavalesco.
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onsolidado no seio da recente história da festa carnavalesca, o nome de Joãosinho Trinta desponta na opinião pública por conta do que, a partir de 1974, foram consideradas inovações por ele introduzidas no conjunto das apresentações das escolas de samba. Naturalizadas, as então novidades são, hoje, propriedades indissociáveis dos desfiles. Alteração na filosofia dramatúrgica dos cortejos que esteve na contrapartida de profundas modificações na sua parte plástico-visual. Tais aspectos eram, por uns, ressaltados como marcas do gênio criativo de J.30. Já vozes críticas acadêmicas, para-acadêmicas e jornalísticas julgaram constituir a deturpação máxima da arte popular tradicional. Para estes últimos, feria-se o anonimato do artista popular, no instante em que o carnavalesco se tornara uma vedete, atraindo todas as atenções para
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Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 3 - Setembro/Dezembro 2012