A interferência militar na Baixada Fluminense e o domínio familiar em Nilópolis

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A interferência militar na Baixada Fluminense e o domínio familiar em Nilópolis Luiz Anselmo Bezerra* O autor de um relevante estudo sobre a história recente da Baixada Fluminense considera o caso do município de Nilópolis como modelo mais bem acabado de controle político baseado na conjunção entre poder militar, poder familiar e contravenção. (ALVES, 2003:104) Em seu trabalho, o sociólogo José Cláudio Alves observa a situação política do município após a reestruturação promovida pela ditadura nas relações de poder que prevaleciam até o momento na região. De um modo geral, a interferência militar teve como diretriz a supressão, com enfraquecimento ou cooptação, das formas de oposição existentes ou que viessem a surgir. E para tanto, um conjunto de ações bem definidas foram realizadas: cassações de prefeitos e vereadores, fechamento e ocupação de câmaras e prefeituras, imposição de interventores e pressão para o ingresso no partido governista. (idem: 101) As ações associadas à interferência militar e seus desdobramentos no plano macropolítico constituem importantes elementos para uma abordagem da estrutura de poder montada sob o comando de membros da primeira geração de descendentes das famílias de origem libanesa Sessim David e Abraão David, estabelecidas em Nilópolis desde o final da década de 1920. Contudo, se faz necessário avaliar até que ponto a interferência teve suas determinações, e assim saber em que medida o situacionismo das famílias após o golpe de 64 explica sua ascensão. É importante compreender que não foi de uma forma tão simples que o situacionismo pôde assegurar a legitimidade do esquema político de base local que se consolidava apoiado na contravenção. Mesmo conquistando certa estabilidade nos seus empreendimentos, o domínio de Anísio Abrão nunca foi inabalável. Sendo assim, os mecanismos que deram sustentação à rede que articula até hoje as relações entre políticos e contraventores se consolidaram a partir do envolvimento dos banqueiros do jogo do bicho ligados ao ramo dos Abraão David com a Escola de Samba Beija-Flor. Isto fez com que a agremiação passasse a operar como “espaço de mediação entre o jogo do bicho e a ordem político-institucional” (Chinelli & Silva, 1993:43), logo assim que Nélson assumiu a diretoria ocupando o cargo de Presidente Administrativo. *

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da UFF. Bolsista CAPES.


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