Samba no pé e na vida: carnaval e ginga de passistas da escola de samba “Est. Primeira de Mangueira"

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tem que sambar, ora!” (risada). Aí, pronto. Aí fui meio tímido no início, mas 61 depois, de lá pra cá foi uma coisa mais tranqüila.

José Carlos já desfila como passista pela Mangueira há mais de 30 anos. Nas experiências apresentadas dos passistas mais antigos da escola de samba em apreço, percebemos que eles não começaram a sambar querendo ser passista. Na realidade, em todos os casos, foi uma outra pessoa, sempre um integrante da escola, que os reconheceu como tal ( Aí o Seu Djalma falou assim: “Ó, ele vai sair na ‘Vê se Entende´” / Porque é assim, o pessoal da Mangueira, tá, viu eu sambando e “A gente elege você como passista” / Quando foi no ano seguinte, me chamaram para desfilar pra...me viram na quadra sambando, igual um capetinha...). Aqui é possível apreender que ninguém nasce passista, é sempre uma outra pessoa que investe o passista com esse título. Outra coisa que chama a atenção no depoimento dos nossos informantes é que todos eles tiveram uma relação anterior com o “mundo do samba” antes de se tornarem passistas, seja a família que já está envolvida com tal mundo, seja o trabalho ambulante que serve a essa dinâmica, seja o prazer de freqüentar a quadra de samba por dois anos. É preciso experimentar do samba e conviver no samba para poder ter uma posição dentro dele. No caso de Índio e Celso, eles se iniciaram na folia carnavalesca ainda crianças, como mascotes, numa época em que o pertencimento à escola de samba era acionado principalmente pelas alas. Zé Carlos, como iniciou contato com o “mundo do samba” já quase adulto e sem conhecidos influentes que o apresentassem, teve de comparecer assiduamente em todos os festejos da agremiação durante dois anos e desfilar no carnaval numa ala comum até ser reconhecido como integrante “mangueirense”. De modo diferente, os passistas mais jovens começaram a ganhar participação na escola de samba por meio do braço de organização infantil “Mangueira do Amanhã”. Aqui o contraste geracional entre integrantes antigos e novos é dado pela diferença de experiências na maneira de socialização no mundo do samba. Pesquisadora: Eh, o que é que você lembra de quando você começou a sambar? Da sua memória... Amanda: Ah, nesses ensaios da Mangueira do Amanhã... Pesquisadora: Ah é, você já freqüentava... 61

José Carlos e R., companheira dele na época, em entrevista concedida em 10/03/2005. Expresso aqui meu profundo agradecimento às intervenções de R., que como ficou patente, foram de extrema perspicácia.


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