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Laerte Temple 67 e

Ilustração: M.Conti Antes mesmo da definição das candidaturas, começam as alianças estratégicas, os pedidos de apoio, uns confirmados, uns condicionados (é hora de negociar), e outros simplesmente negados. Começam os boatos, as mentiras, hoje chamadas de fake news, e as traições. Eleição é assim mesmo, uma caixinha de surpresas. O fim, todos conhecem: festa para poucos, dificuldade em aceitar resultado adverso, choro para quem não chegou lá.

Um antigo ditado diz que urna eleitoral e barriga de grávida, para saber o que tem dentro, só abrindo, isso até inventarem o ultrassom e a pesquisa eleitoral. Mas, treino é treino, jogo é jogo. Pesquisa é uma coisa, eleição outra! O político mineiro Magalhães Pinto disse: “Política é como nuvens. Você olha, está de um jeito. Olha de novo, já mudou.” As pesquisas utilizam métodos científicos, têm margem de erro etc., mas o que vale mesmo é a apuração, porque o ambiente muda constantemente, assim como a decisão do eleitor, principalmente os mais jovens. Pode haver falhas no processo, indução do pesquisado, erro na tabulação e na interpretação dos resultados e até má fé. Afinal, a estatística é a menos exata das ciências exatas. O voto é secreto, mas nas comunidades pequenas, todos se conhecem e sabem quem vota em quem. Existem os eternos apoiadores, por tradição, amizade ou interesse, adversários declarados, adeptos de outra candidatura e os indecisos. Cálculos são feitos e cada pronunciamento é examinado e reexaminado. A disputa costuma ser voto a voto, com muita pressão sobre os indecisos que, como sempre, são o fiel da balança nos pleitos concorridos, tornando em muitos casos impossível prever o resultado. Qualquer ato falho, por menor que seja, pode levar o eleitor a mudar o voto, até no último minuto. Acompanhei de perto a votação na pacata Poeira D’Oeste, a convite do amigo e juiz doutor Eduardo Oliveira, figura ilustre na cidade. Vencidas as etapas, é chegada a hora da votação. Com observador, vi que felizmente tudo correu na maior tranquilidade. Apesar dos temores e ameaças de boicote, o comparecimento foi maciço e, encerrados os trabalhos, a apuração teve início imediatamente, em clima de suspense e emoção. O resultado não tardou a sair, para alegria de uns, tristeza e consolo de outros. Foi assim, após exaustiva campanha, na pacata Poeira D’Oeste, no Colégio Agrícola, que a bela Priscila Oliveira foi eleita Rainha da Primavera. Parabéns!

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‘Causos’ do Nordeste A história de João sem medo

Tony de Sousa Cineasta

Dentre as histórias que mamãe contava quando eu era pequeno, havia uma que tinha a minha preferência. Chamava-se “João sem medo”. Já devo ter falado em algum lugar, que para mim, as inúmeras histórias de trancoso que mamãe nos contava, eram de autoria dela. Depois, já adulto, descobri num livro de um italiano chamado Ítalo Calvino, intitulado “Fabulas Italianas”, uma história de “João sem medo” semelhante à que minha mãe contava. Acho que ele copiou da minha mãe. Vamos à história!

Era uma vez um homem chamado João sem medo. Ele tinha esse nome porque dizia que nunca tinha tido medo de nada. Um dia João sem medo foi se confessar. Quando o padre falou: “meu filho conte seus pecados”, ele disse o seguinte: “Padre, existe alguma coisa errada comigo. Eu nunca encontrei do que ter medo” O padre muito incrédulo perguntou: “Meu filho, você está falando a verdade? Você nunca teve mesmo medo de nada? ” E João sem medo respondeu: “Não senhor! Até hoje nunca tive medo de nada. ” Aí o padre falou: “Então vá procurar do que ter medo! Saia pelo mundo e quando anoitecer, esteja onde estiver, durma neste lugar! Quando tiver encontrado do que ter medo volte aqui para se confessar! ”

E João sem medo pegou seu cavalo, um alforje com comida, uma rede e saiu pelo mundo. Ao anoitecer estava perto de uma casa velha abandonada. Desencilhou o cavalo, colocou a sela, os arreios e o alforje no alpendre da casa e armou a rede. Descobriu um fogão a lenha den-

divulgação - estante virtual tro da casa. Fez um fogo no fogão a lenha, pegou um pedaço de carne no alforje, e começou a assar. Aí apareceu uma mão com um sapo espetado num espeto querendo colocá-lo também no fogão. João sem medo não se alterou. Deu um tapa na mão invasora e disse: “Tire essa mão fedorenta e o sapo daí! ” A mão com um sapo no espeto sumiu, mas logo voltou. E João fez a mesma coisa. Deu um tapa nela e falou: “Tire essa mão fedorenta e o sapo daí! ” E assim prosseguiram nessa peleja por um tempo, até que ele assou a carne e mão assou o sapo. João após alimentar-se deitou-se na rede e pegou no sono. Acordou com uma voz gritando: “Eu caio? ” E respondeu: “Pode cair! ”. Aí caiu um braço do alto do telhado. João olhou na direção do braço caído e permaneceu na rede. Outra voz gritou: “Eu caio? ” Ele respondeu: “Pode cair! ” E caiu outro braço. Ele não se alterou. A voz gritou de novo: “Eu caio? ” Ele respondeu: “Caia logo de vez! ”. E caíram duas pernas e o tronco de um homem. Os braços, as pernas e o tronco se juntaram e formaram o corpo de um homem sem cabeça. Só então João se levantou da rede pois o corpo do homem sem cabeça vinha na sua direção. Travaram uma luta corpo a corpo que durou a noite inteira. De madrugada, quando o galo cantou, o corpo do homem sem cabeça desapareceu. João sem medo voltou para rede e dormiu.

Acordou com o sol alto. Pegou suas coisas, montou no cavalo e seguiu viagem. Quando estava entardecendo encontrou um casarão bonito, tipo um castelo. Ao contrário da primeira casa, esta estava bem cuidada. As portas e janelas estavam abertas. Apeou, bateu palmas e não apareceu ninguém. Foi entrando devagar e ficou impressionado com a limpeza e cuidado dos móveis. Chegou à sala de jantar, viu uma mesa posta com 13 lugares. Continuou sua busca pela casa, mas não encontrou ninguém. Até que ouviu um barulho de cavalos aproximando-se. Doze cavaleiros chegaram na casa, desceram dos cavalos e tomaram seus lugares à mesa. Estavam todos armados com espadas. João tentou falar com eles, mas nenhum lhe deu atenção. Na verdade, eles não falavam. João sentou-se no lugar que ficou vago e começou a comer também. Quando terminaram de jantar, os homens levantaram-se, pegaram seus cavalos e seguiram por um caminho. João sem medo foi atrás deles.

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