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Osvaldo Bifulco 49 a

A mudança climática está influenciando cada vez mais a mobilidade humana à medida que mais lugares se tornam inabitáveis. Atualmente, milhões de pessoas estão em movimento e as condições que criam esse deslocamento provavelmente serão agravadas pelas mudanças climáticas. Em 2020, nossas equipes prestaram atendimento médico às pessoas em Honduras, deslocadas pelos furacões Estamos trabalhando para garantir uma cadeia de suprimentos eficiente e socialmente responsável, a fim de reduzir, reutilizar e reciclar materiais e equipamentos médicos. Como organização que atua de forma independente, neutra e imparcial, MSF determina, de acordo com sua própria avaliação, onde, quando e como atuar.

No local, profissionais de MSF analisam, de acordo com o contexto, o número de pessoas afetadas, as necessidades de saúde, as condições de vida, água e saneamento, o ambiente político e a capacidade local de responder ao problema. Assim, a organização toma a decisão de atuar ou não naquele país, determinando as prioridades e compondo a equipe que entrará em ação e os recursos necessários para iniciar o projeto.

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Terremotos podem deixar um grande número de pessoas feridas em questão de minutos, esmagadas em casas e edifícios destruídos. Em alguns casos, hospitais

também são danificados, como no Paquistão, em 2005, e no Haiti, em 2010, enquanto dezenas de milhares de pessoas ficam feridas. Em outros desastres, o sistema de saúde ainda pode permanecer funcional, com uma forte capacidade de resposta a desastres, como no Sri Lanka após o tsunami de 2004. Todas essas diferenças influenciarão o nível e o tipo de resposta que desenvolvemos.”

Esse é um resumo das atividades dessa entidade, que tenho respeito e agradecimento pelo que faz em prol da humanidade

Com quanto você deseja contribuir por mês? Seja qual for a forma, sua ajuda é mais do que necessária. Colabore! Central de Relacionamento com doador: 4000-2550 ou 0800 940 3585 De 2ª a 6ª das 9h às 19h exceto feriados nacionais

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Literatura e Vida Eu amo Tarsila, a modernista I

Sonia Fernandez

Amar, verbo tão gasto, já quase não diz o que quer dizer, mas é apropriado, neste momento. Tarsila do decote, do mantô vermelho, daqueles brincos. Tudo tão arredondado como se não precisasse reparo.

Justo eu que não aprecio a perfeição. Tenho urticária ao perfeccionismo. Porém, no caso de Tarsila é como se todo o processo e o resultado se fizessem num tempo para muito além da obra. Tempo dos mistérios. Prova de que sobre certos artistas cabe sim falar de perfeição. Quando a obra é declarada acabada, acabada está. Nem uma correção na figura, nem um nada de tinta para retocar. E como foi alcançar essa síntese de Brasil, sem ser cafona ou canalha? Os adjetivos, tomei de empréstimo. Gosto especialmente da Tarsila construtivista dos anos 1920. A artista que subjaz ao desejo de “inscrever a sua identidade, conferindo-lhe forma e delineando limites; ser profunda e universal a partir do seu chão”, conforme afirmou Maria José Justino (2007). “A Negra” é o exemplo melhor acabado de cubismo à brasileira. Essa preocupação com uma arte expressiva sem abdicar da construção é puro Mário de Andrade, com quem comungo da síntese “Tarsila é primitiva no imaginário e construtiva na técnica”. No entanto, a vida anda anti-tarsila. Um primitivismo tosco de opiniões ignorantes, cheias de preconceito superficial. Tanta falta de leitura. Tanta falta de compreensão. De piedade. Piedade, ela é necessária em tempos medievais como este. Por isso, me chama atenção e me enche de curiosidade essa personalidade capaz de levar pelo menos dois pés na bunda homéricos e seguir VIVA. Quando digo viva é viva mesmo. Produzindo, vivendo, conversando e recebendo em sua casa o último dos autores do pé na bunda: Luís Martins, que se casou com sua

magazine 60+ #39 - Outubro/2022 - pág.53

Operários - Tarcila - 1933 Exposto no Palácio Boa Vista Campos do Jordão - São Paulo

Operários - Tarcila - 1933 Exposto no Palácio Boa Vista Campos do Jordão - São Paulo prima. Não é admirável! Equilibrar delicadeza e contundência, andar por um fio, pois, a beleza da atitude não permite vulgaridades (tão ao gosto de meio Brasil nesse ano de 2022, sem graça nenhuma), mas o tema se inscreve numa área da vulgaridade - a da traição. Alguém chamou de “generosidade” esse comportamento de Tarsila para com os traidores e suas cúmplices. Pessoalmente, acho que vai além. Meu argumento é o de quem pinta “Morro da favela” e “Carnaval em Madureira” (Obras de 1924) com tamanha beleza e cores tão harmoniosas está iniciada na introspecção, com suas consequências para a vida prática ou dito de modo contrário: quem vibra com tanta gentileza nos relacionamentos é capaz de maravilhas na arte. Não sei se Tarsila tinha alguma iniciação filosófica, mas é certo que cultuava as sutilezas do espírito. Também não digo que generosidade não seja algo positivo e até desejável, porém, generosidade, como a entendemos, é demasiadamente superficial para quem parece conhecer os mistérios da alma humana, como mostram as pinturas “Anjos” (1924) e “Pastoral” (1927). Atentem para os olhos das crianças em ambos quadros. Eles falam pelo resto da figura.

É bom lembrar, entretanto, que os homens (Oswald de Andrade e Luís Martins) ainda estavam seus maridos quando Pagu e Anna Maria, respectivamente, entraram na vida deles e, como consequência, mudariam o rumo da vida da pintora. Será mesmo? Tarsila se mostra tão serena, nos dois casos, em momentos tão diferentes! As atitudes de aceitação/compreensão comprovam um estar à vontade, tomando por fato o que disseram as próprias Pagu e Anna Maria, que fica impossível não imputar-lhe a liberdade como traço essencial de sua personalidade. Suspeito que era uma iniciada na sabedoria dos mistérios, assim como na vida espiritual. Sem precisar perdoar ou condenar nenhum dos dois maridos, porque o princípio da liberdade é anterior a qualquer desculpa. Eu simplifico assim sua postura: Eu sou livre, cada um de vocês é livre, portanto, estamos todos livres e em paz. Não seria tão bom! Um sábio não tão antigo dizia “quem se ofende é o ego”. Se Tarsila serena não se ofendia era porque seu ego estava bem equilibrado ou ela era de fato superior. Só me lembro de tal magnificência, na atitude de Sócrates, perante a morte. Estarei exagerando? Meu amor por Tarsila me autoriza. Afinal, assim como a morte, a traição é um momento da vida. Alguém, porém, poderia argumentar que essa atitude de Tarsila estaria melhor representada n’ “A boba” de Anita Malfatti (1916). Essa obra me comove, mas, não vem ao caso,

agora. Fica para outro dia. Estou supondo que Tarsila deve ter resolvido essas situações na continuidade dos parques ou na graça do seu coração. Assim, a liberdade dos pássaros que a traíram era tão somente a continuidade da sua própria. Abusaram da sua confiança ou ela sabia perfeitamente que as paixões se manifestam ao acaso e não há nada que se possa fazer para evitá-las. O fato é que nada de vingança em sua trajetória amorosa ou nos relacionamentos pode ser observada. E em tempos tão descorteses, observar essas sutilezas serve de refúgio para espíritos menos conformados. Montaigne, a propósito, faz uma consideração que me pareceu sínica, a princípio, mais para Maquiavel do que para ele mesmo, ao intitular seu ensaio “Por diversos meios chega-se ao mesmo fim”. Entretanto, essa afirmação pode ser explicada pelo título de outro ensaio, que parte de uma pergunta: “Deve o comandante de uma praça sitiada sair para parlamentar?” Penso que não, pois, descontadas as referências bélicas e a exemplificação especialmente guerreira dos textos de Montaigne, tomo a percuciência mostrada por aqueles políticos e poderosos, escolhidos por ele, para ilustrar a escolha de Tarsila para lidar com a chamada traição. Tarsila definitivamente não era afeita a dramas. Espero que me entendam. Não pretendo tomar o tempo da leitora ou do leitor com a histórica da proeminência dos afetos do homem sobre os afetos da mulher, no contexto social de princípios do século XX. E, simplificando: chifre é coisa para homens. Mulheres não levavam chifre. Não levavam porque estavam aquém do alcance dessa “mazela” ou porque não tinham que chiar e ponto. A modernidade é que lhes trouxe essa trouxa, junto com os direitos. O mal e o bem, portanto, só o são, devido à ideia que temos de um e de outro. E, ao que parece, Tarsila não tinha uma ideia negativa da traição, nem

Foto: Domínio

A Boba - Anita Malfati - 1916

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