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SÁMIA CARDOSO PSICÓLOGA CLÍNICA

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JOSÉ ALFACE

JOSÉ ALFACE

Sou Sámia Cardoso, jovem moçambicana, sou mãe, esposa e uma mulher que tem pavor de não aproveitar cada minuto da vida fazendo alguma coisa que seja significante para a própria existência, adoro ler (atualmente leio clássicos e livros técnicos sobre psicologia) tenho formação superior em psicologia clinica, pós graduação em psicopedagogia e estou a terminar o meu mestrado em Recursos Humanos.

Comecei a trabalhar desde muito cedo desde os 17 anos, nesta altura comecei por trabalhar na área comercial como chefe de armazém e continuei nesta área sempre com diversas funções em simultâneo.

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Também trabalhei na área de comercialização de cereais (milho, gergelim, feijão, mapira, castanha de caju, outros) por um período de 10 anos.

Atualmente sou psicóloga atuante de forma autónoma a sensivelmente 3 anos.

Trabalho de forma autónoma porque apos o término da formação em psicologia corri atrás da tâo desejada carteira profissional, para obtenção da mesma precisei fazer um estágio profissional em uma instituição publica, o processo para a obtenção da carteira profissional não foi o mais tranquilo, tendo conseguido esta, um novo desafio iniciou-se.

Desejava trabalhar na área clinica e para isso demandei todos os recurso e tramites para conseguir um emprego mas, sempre foram tentativas frustrantes, tenho como principio fazer sempre alguma coisa não importa o quê, voltei a submeter um pedido a mesma instituição onde estagiei para que pudesse trabalhar com psicóloga voluntária, trabalhei por mais um ano neste mesmo local, tendo já adquirido alguma experiencia clinica na área decidi que era chegada a hora de fazer alguma coisa diferente do que estava a fazer.

No entanto nem tudo foram mares de rosas, tudo organizado para o próximo passo somos surpreendidos com a pandemia, nesta altura também não consegui ficar parada e fundei uma marca de acessórios de moda a extinta hande_made.SR. em simultâneo vendia flores naturais que era uma febre na altura da covid, usei isso a meu favor para continuar fazendo alguma coisa.

Não tendo desistido da minha vontade em exercer a psicologia clinica tive a ideia de abrir a minha própria clinica, no entanto, mais uma vez, não seria possível a realização deste sonho, um dos maiores impedimentos que encontrei era que para abrir uma clinica e ser a diretora clinica eu precisaria de ter a carteira profissional com pelo menos 5 anos da atuação e, preencher uma serie de requisitos necessários para que essa pudesse ser uma realidade, a verdade é que por muito que tentasse eu não conseguia por diversos fatores abrir uma clinica, a vontade estava lá, mas não preenchia o leque de requisitos necessários. nesta mesma altura já fazia prestação de serviços psicológicos as clinicas da cidade de Maputo.

No entanto ainda não estava satisfeita, queria mais, não queria estar dependente. Foi dai que eu precisei informar-me sobre quais outras formas seriam viáveis para que pudesse de forma legal e autónoma trabalhar na área sem que estivesse vinculada a um emprego formal ou a simples prestação de serviços á clínica. Respostas vieram e abri o consultório de prestação de serviços em psicologia. De lá para cá venho dedicandome a trabalhar nele, não posso reclamar, no entanto, continua sendo desafiante. Outros desafios como psicóloga a atuar na área são muitos. Estes começam pelo nível de reconhecimento muito baixo que esta área tem.

Mesmo que não pareça, ainda há muitos tabus em relação ao tratamento psicológico/ psiquiátrico é muito negligenciado a importância do cuidado com a saúde mental. Temos muito que trabalhar para a valorização desta área começando pela educação sociocultural da população.

As pessoas ficam doentes por diversos fatores e o seu psicológico bastante afetado, no entanto, é normal procurar-se ajuda em todos os lugares menos em psicologia, vindo apenas como última instância ou ultimo recurso, e ainda assim vem com pouca esperança de conseguir ajuda de facto. O que por si só é uma postura que já dificulta o trabalho do profissional, porque a pessoa não vai despida de suas crenças. Muitos vem com nível de esperança baixo, uma postura pouco colaborativa para o próprio processo terapêutico.

Outro grande desafio de trabalhar nesta área é de receber em consultório indivíduos que esperam que o profissional os diga o que fazer com os problemas que trazem, o profissional psicólogo não tem respostas pré-concebidas para os clientes/pacientes.

Nosso trabalho é munir o individuo de habilidades para que ele mesmo tenha autonomia para perceber com clareza o que esta a passar e escolher das ferramentas que tiver a que for mais adequada para a então situação.

Só que para isso o individuo não pode querer respostas do que fazer vindo do profissional, mas sim, ter consciência que vai passar por um processo que poderá ser longo, mas que no final poderá adquirir mais estratégias/ habilidades/conhecimento do que fazer em varias situações, porque este processo terapêutico poderá também levar o individuo a um nível de autoconhecimento muito grande, essa é a ferramenta fundamental para que possa responder bem as adversidades do dia a dia.

Hora bem, digo poderá ter estratégias porque se não aplicar o sugestionado no decorrer do percurso que estiver a ser acompanhado por um psicólogo este continuará sem autoconhecimento e sem habilidades para usar quando necessário, (a terapia começa quando a sessão termina. Você deve ser o compromissado com sua tentativa de mudar de hábitos e com eles ter melhores resultados sobre vários aspetos).

Ainda olhando para os desafios dentro da minha atuação clínica, tem sido o trabalho com os relacionamentos conjugais, onde estes relacionamentos estão demasiados descartáveis, há pouca tolerância, a ideia de esforço para que as situações complexas sejam ultrapassadas é quase uma utopia. Sem falar das violências das dependências da falta do comprometimento, da banalização da preservação da instituição “família”. Do alinhamento na educação dos filhos.

São muitos os problemas que envolvem a convivência dos casais. Vou trazer apenas um alerta para todos nós que temos ou que um dia teremos nossas famílias e que o bem estar desta instituição passa pelo amadurecimento de cada um de nós como indivíduos de forma singular.

Gostaria que os indivíduos numa relação ( casais ) percebessem que os relacionamentos interpessoais são por si só complexos, desafiadores e até difíceis algumas vezes, no entanto, este facto não quer dizer que não exista amor ou que os problemas não se podem resolver, podem.

Só que para que isso aconteça os casais precisam apoiar-se na necessidade de demandar esforço, empenho, ajustes, compromisso e decisão de fazer com que dê certo. Não existe um casamento sem crises, mas também não existe um que viva em crise para sempre.

Veja, relacionamentos Pais e filhos são difíceis, entre amigos são difíceis, com os colegas e superiores hierárquicos também são difíceis, muitas fazemos esforço para que todos estes se ajustem.

O seu relacionamento conjugal precisa da mesma valorização e esforço.

Outros desafios inerentes a profissão para mim atualmente são:

• Estar permanentemente atualizada sobre as formas de capacitação dos pacientes, ou seja saber usar as ferramentas digitais para este fim. Ter um consultório apenas não garante trabalho, também não garante ter pacientes é preciso fazer nome, ser reconhecido, ser visto, mostrar trabalho e resultados, inovar, ser flexível para que efetivamente se consiga trabalhar. Ser psicóloga independente é por si só um desafio.

Um sonho para mim é que no futuro haja valorização desta área, é a existência de psicólogos acessíveis para todos e em todos os lugares, é que a psicologia não seja tida como artigo de luxo e só vai ao psicólogo quem tem recursos financeiros, é a desmistificação de que ir ao psicólogo é para “louco” é o reconhecimento da importância da saúde mental.

Encontre a Sámia Cardoso, na rede:

@psi.samia_cardoso

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