Magazine Reportagem 2024

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O MUNDO À FRENTE DAS OBJECTIVAS

OFFSIDE

Beyond The Game

A relação entre as pessoas no conceito coletivo é a base deste trabalho, realçando a forte componente social de interligação humana que une, tanto os nossos jovens, como também os adultos que os acompanham.

GALERIA DE AUTOR

E MORREREI EM SONO, RESPIRANDO ENORME

Carla Fragata

Cada imagem carrega em si um paradoxo: ao mesmo tempo em que interrompe a linha do tempo, também sugere movimentos mentais e ficcionais que nunca se fecham por completo.

Tiago Cerveira

04. OFFSIDE - BEYOND THE GAME

Rui Miguel Cunha

Inspirado na vida diária contemporânea, “Offside – beyond the game” é uma obra documental do fotógrafo Rui Miguel Cunha. Acompanhando o Futebol de Formação entre 2022 e 2024, o autor cria um registo fotográfico sobre os “bastidores” deste jogo, com especial incidência para os atletas do Grupo Desportivo de Sesimbra.

Num espaço de tensão e resiliência, dois “performers”, um artista plástico e um fotógrafo unem-se num ensaio que é tanto um rito quanto uma narrativa visual. O corpo, pulsante e efêmero, desenha no ar sua própria geografia, traçando gestos de pertença e deslocamento.

32. E MORREREI EM SONO, RESPIRANDO ENORME

A minha obra é muito mais do que a técnica que aplico. Ela é o universo que construo através das minhas linguagens, das referências que me atravessam e do que decido transformar em imagem.

20.31. GALERiA DE AUTOR
Tiago Cerveira

OFFSIDE

BEYOND THE GAME

A relação entre as pessoas no conceito coletivo é a base deste trabalho, realçando a forte componente social de interligação humana que une, tanto os nossos jovens, como também os adultos que os acompanham. Na esperança reside o facto, de se promover assim, a construção de fortes alicerces que fomentem a prática de comportamentos saudáveis, tanto no desporto como na vida.

Rui Miguel Cunha

Rui Miguel Cunha, mais do que um pescador, é um tecelão de imagens. Da mesma forma que conserta as redes de pesca, preenche cada espaço da malha que divide o real com um personagem, um gesto, uma expressão, como um caleidoscópio de emoções que se entrelaçam num rodopio de vendaval.

Os bordos da imagem, moldura em constante movimento em torno de um eixo imaginário, ora concentram, ora dispersam o olhar, em que cada elemento nos faz sorrir, nos faz pensar, nos faz viver.

Estas imagens de jovens futebolistas são o espelho da sua alma, incerta quanto ao futuro, numa incessante procura de algo que pressente fazer sentido, que está intimamente ligado ao mundo que sabe ameaçador, como as nuvens escuras arremetem contra as traineiras. Mas há sempre alegria nos rostos

OS BORDOS DA IMAGEM, MOLDURA EM

CONSTANTE MOVIMENTO EM TORNO DE UM EIXO IMAGINÁRIO

das crianças, seja no convívio, seja na celebração do golo, seja quando partilham uma garrafa de água, contagiando- -nos com as suas gargalhadas. São um reflexo do que fomos e que gostaríamos de voltar a ser, sem preocupações, seguros de uma vitória contra uma baleia branca que qualquer pescador sabe que existe.

Mas Rui Miguel Cunha, ao contrário de Ahab de Moby Dick, sabe que o branco, quando oposto ao negro, representa o bem e o mal, em matizes de cin- zento envolvendo os temporais e as paixões, num tur- bilhão de amor pela Fotografia. Com F grande.

António Pedro Ferreira, fotógrafo

Uma boa parte daquilo que sou, devo ao Futebol de Formação. O meu primeiro sonho de criança foi ser jogador de futebol. Recordo, com enorme saudade, todos os momentos de futebol que vivi durante a minha formação. Os jogos de rua, os jogos nos pelados, o jogo pelo jogo, os convívios, os erros, as aprendizagens, as amizades, os “rivais”, as derrotas, as conquistas e sobretudo, o ambiente de comunidade que se vivia no seio do futebol de formação. Sinto falta, confesso.

O futebol é um desporto que move multidões, cria ódio e sustenta paixões. Deu-me muitas alegrias e também desilusões. Por isso, escrevo sem hesitar,

boa parte daquilo que sou devo às experiências vividas enquanto atleta, sobretudo durante o período de formação. Nos últimos anos, o futebol evoluiu muito e as dinâmicas alteraram-se. Os atletas são menos protagonistas, o jogo perdeu criatividade e um pouco da sua essência. O que podemos fazer para a recupe- rar? Talvez, promovendo ambientes mais “genuínos” que permitam aos nossos atletas as condições necessárias ao seu desenvolvimento quer humano, quer desportivo. As fotografias apresentadas nesta coleção demonstram-nos a “pureza e genuinidade” das crianças em ambiente formativo. Um documento único que retrata, de forma fantástica, o coração e a alma do futebol de formação: as crianças.

Casaca, ex-jogador

TIAGO CERVEIRA É LICENCIADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL. DOCUMENTA PESSOAS E LUGARES ATRAVÉS

DA FOTOGRAFIA E VÍDEO.

REALIZADOR DE VÁRIOS DOCUMENTÁRIOS EXIBIDOS E PREMIADOS EM FESTIVAIS DE CINEMA NACIONAIS E INTERNACIONAIS.

JÁ MOSTROU O SEU TRABALHO EM VÁRIAS EXPOSIÇÕES DE FOTOGRAFIA INDIVIDUAIS E COLECTIVAS.

CONTA COM INÚMERAS PUBLICAÇÕES EM ÓRGÃOS

DE COMUNICAÇÃO NACIONAIS E

GALERIA DE AUTOR

Num espaço de tensão e resiliência, dois performers, um artista plástico e um fotógrafo unem-se num ensaio que é tanto um rito quanto uma narrativa visual. O corpo, pulsante e efêmero, desenha no ar sua própria geografia, traçando gestos de pertença e deslocamento.

A LINHA, TRAÇADA, ROMPIDA, RECONSTRUÍDA, TORNA-SE SÍMBOLO DA FRONTEIRA ENTRE A PERMANÊNCIA E O EXÍLIO.

Em busca da luz, os movimentos revelam o confronto entre fragilidade e resistência, onde cada gesto é um ato de afirmação.

O ensaio fotográfico captura este diálogo entre corpos que se moldam ao espaço, entre sombras que dançam e matéria que se insurge. Um estudo sobre a luta, não apenas pela existência, mas pelo direito de chamar um lugar de seu.

E MORREREI EM SONO, RESPIRANDO ENORME

PARA MIM, A FOTOGRAFIA NUNCA FOI APENAS UM DISPOSITIVO DE REGISTO DA REALIDADE, MAS UM OLHAR, UMA INTERPRETAÇÃO SINGULAR SOBRE ELA.

Carla Fragata

O que me move é a simbologia, o que a imagem expressa e o que desperta em mim e nos outros. Desta forma, cada fotografia carrega a minha visão, uma expressão subjetiva do instante. É um ato de escolha: um momento, um enquadramento, uma expressão que só existe porque decidi registá-la. E o mundo nasce de novo em cada pessoa, na medida em que somos todos universos individuais que coexistem e se comunicam, mas nunca se tocam por completo. E é esse mundo pessoal, esse olhar subjetivo, que me interessa na fotografia. Como Zizek dizia, nossa realidade está construída simbolicamente.

SEI QUE A EXPERIÊNCIA DE CADA IMAGEM

TAMBÉM É UM REFLEXO DE MIM MESMA, DA

MINHA PRÓPRIA CONSTRUÇÃO COMO SER

HUMANO E ARTISTA.

A imagem não é apenas um reflexo da realidade, mas uma construção simbólica. Assim, a fotografia não apenas representa a realidade, mas também a cria…

Para mim, a construção imagética é um espaço interpretativo. Uma fotografia é o que sobra da realidade, um fragmento dela. É muito mais do que um mero registo visual; é sobretudo uma vivência interior. Quando fotografo, preciso aceder a lugares dentro de mim, uma dimensão onírica moldada pelas minhas memórias e emoções.

Cada imagem carrega em si um paradoxo: ao mesmo tempo em que interrompe a linha do tempo, também sugere movimentos mentais e ficcionais que nunca se fecham por completo. O tempo da fotografia é descontínuo, elástico, atravessado por diferentes dimensões.

Sei que a experiência de cada imagem também é um reflexo de mim mesma, da minha própria construção como ser humano e artista.

A minha obra é muito mais do que a técnica que aplico. Ela é o universo que construo através das minhas linguagens, das referências que me atravessam e do que decido transformar em imagem.

Fotografar é criar emoções, tanto em mim quanto nos outros. Antes do argumento, antes da simbologia, antes da técnica, existe a sensação. E ela é atemporal e universal. É um arquivo daquilo que foi, mas também uma promessa do que ainda será.

Acredito que, ao fotografar, buscamos formas que dialogam com o que sentimos. Sempre há algo de nós na imagem que criamos. Mas, ao mesmo tempo, cada observador tem um campo aberto de sentidos, um fluxo inesgotável de interpretações. Com a sua aparelhagem discursiva, a fotografia também me constrói. Permite-me sair dos arquétipos, romper com convenções e experimentar novas formas de linguagem. Como qualquer criador, estou numa busca constante de mim mesma. Expando a minha percepção de dentro para fora e de fora para dentro. Eu recebo o mundo e, ao recebê-lo, já o transformo.

NO

PENSAMENTO DIVERGENTE, A FLUIDEZ, A FLEXIBILIDADE E A ORIGINALIDADE PERMITEM-ME

CRIAR E REINVENTAR-ME MAIOR … EM CADA

TRABALHO E DE CADA VEZ…

E eu… “Sou os livros que leio, a música que ouço, as pinturas que admiro, os filmes a que assisto. Sou o que sinto e o que crio. Por isso, é essencial compreender como diferentes formas de arte se influenciam e se entrelaçam. Privilegio sempre o pensamento lateral e divergente. O pensamento lateral é aquele que procura novas direções e descobertas, entendendo o sistema criativo como um processo de possibilidades, e não como um caminho fixo.

Em vez de um pensamento linear, desejo expandir minha iconografia, explorar campos além da fotografia, registar todas as ideias que surgem. No pensamento divergente, a fluidez, a flexibilidade e a originalidade permitem-me criar e reinventar-me maior … em cada trabalho e de cada vez…

O trabalho aqui apresentado foi desenvolvido sob o tema Liberdade, a propósito das comemorações do cinquentenário do 25 de abril e exposto no Centro Cultural Penedo da Saudade em 11 de abril de 2025, numa exposição do coletivo Os escafandristas e intitulada “Alma que procura um nome”.

O meu trabalho foi inspirado na “Queixa das jovens almas censuradas", de Natália Correia, chegado a mim pela música de José Mário Branco.

O meu trabalho é um misto de dois processos criativos: um de pensamento - a antíteseprocurei trabalhar a privação da liberdade; e na materialização das imagens usei como processo criativo físico a abordagem literal - encontramos nas minhas imagens a procura da tridimensionalidade, uma fuga ao lado plano da imagem, combinando impressões de imagens com objetos físicos, que associamos literalmente à privação de uma liberdade, que é de expressão, mas que é, sobretudo, uma liberdade de pensamento. Uns olhos que não vêem, uma boca que não fala, mas principalmente, uma consciência que não se tem por falta de referências. Uma procura de liberdade intrínseca ao ser Humano, mas simultaneamente, uma incapacidade de perceber a liberdade na ausência da mesma. Um sonho intangível que se quer maior. Creio haver alguma atualidade nesta temática.

UNS OLHOS QUE

NÃO VÊEM, UMA

BOCA QUE NÃO

FALA, MAS

PRINCIPALMENTE, UMA CONSCIÊNCIA

QUE NÃO SE TEM POR FALTA DE REFERÊNCIAS.

O processo materializou-se na construção de imagens anteriores a 74, na recolha de arquivo fotográfico, combinadas então com elementos que nos privam dessa liberdade: cadeados, dobradiças e a pedra - a pedra peso quando se tem a leveza das flores como pão. O processo passou inclusivamente pela utilização de outros objetos mais acutilantes, porventura. Chegou-me também pela desconstrução do texto do poema “Queixa das jovens almas censuradas” em que eu encontro uma imagem metafórica que foi, para mim, também a inspiração para todo este trabalho - “olhos de hélices e espaços” - sendo a hélice um elemento cortante e, quando na privação da liberdade de expressão, os olhos dificilmente conseguem conter a tristeza, a frustração e a ânsia de um espaço que se quer maior e de liberdade. Antecipadores. Imensos. Construtores.

Essa foi a base do meu trabalho. Outras imagens também estiveram presentes, nomeadamente, excertos do próprio poema: “alma que procura o corpo” na necessidade de ter existência física para ser real; ou “para jamais nos parecermos connosco quando estamos sós” - O que é isto de estarmos sós com a nossa liberdade ou com a ausência da mesma. O que sabemos nós da Liberdade, quando presos a nós, não a temos? Saberemos nós imaginar o que não vivemos… e concretizar?

Ficha Técnica

DIRECTOR Rui Miguel Cunha REDACÇÃO Vanessa Pereira DESENHO GRÁFICO E PAGINAÇÃO Rui Miguel Cunha

FOTOGRAFIA Rui Miguel Cunha REVISÃO Nuno Guerreiro . Go4Word ERC n.125433

EDIÇÃO E PROPRIEDADE Rui Miguel Cunha

SEDE DE REDACÇÃO Rua Jorge Barradas, 14 Almoinha . 2970-001 Sesimbra

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