Economia da arte e da Cultura

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Políticas culturais no Brasil: itinerários e atualidade As críticas a essa política de retirada do Estado da decisão sobre as políticas de cultura são muitas e diversas (Sarkovas, 2005; Olivieri, 2004; Castello, 2002): 1) o poder de deliberação de políticas culturais passa do Estado para as empresas e seus departamentos de marketing; 2) uso quase exclusivo de recursos públicos; 3) ausência de contrapartidas; 4) incapacidade de alavancar recursos privados novos; 5) concentração de recursos [em 1995, por exemplo, metade dos recursos (mais ou menos R$ 50 milhões) estava em apenas dez programas]; 6) projetos voltados para institutos criados pelas próprias empresas; 7) apoio equivocado à cultura mercantil, que tem retorno comercial; e 8) concentração regional dos recursos (um estudo realizado em 1998-1999 pela Fundação João Pinheiro indicou que a imensa maioria dos recursos da Lei Rouanet e da Lei do Audiovisual iam para regiões de São Paulo e do Rio de Janeiro). Assim, com exceção de algumas políticas setoriais, como a de bibliotecas e patrimônio (Projeto Monumenta) e a legislação acerca do patrimônio imaterial, o longo período de oito anos de estabilidade na direção do Ministério da Cultura, contraposto ao quadro anterior de instabilidade, pouco colaborou para a consolidação institucional do ministério. Não ocorreram concursos para expansão ou substituição do quadro funcional nem programas significativos para a qualificação do pessoal. Dos 2.640 funcionários do ministério em 2001, 49% estavam no Iphan. Alguns temas das políticas culturais tinham sido abandonados, sem mais. Por exemplo, o tema das identidades, inclusive nacional (Castello, 2002, p. 655-656). Apesar da reforma da Lei do Audiovisual e da criação da Agência Nacional do Cinema (Ancine), instalada institucionalmente fora do ministério, muito pouca atenção foi destinada ao audiovisual, em especial à televisão, que tem um peso cultural enorme no país. O mesmo pode ser dito acerca da nascente cultura digital. Quanto às informações culturais – apesar do patrocínio do ministério à pesquisa sobre economia da cultura realizada pela Fundação João Pinheiro, sem dúvida uma iniciativa importante –, nada foi acordado com os órgãos nacionais de estatística (IBGE) objetivando a confecção de dados culturais. Enfim, o orçamento destinado à cultura no último ano do governo FHC/Francisco Weffort sintetiza de modo sintomático a falta de importância do ministério e a ausência de uma política cultural ativa. Ele foi de apenas 0,14% do orçamento nacional. Outros autoritarismos A relação entre autoritarismo e cultura não se restringe aos momentos de políticas culturais dos regimes ditatoriais. Como muitos autores têm assinalado, em interpretações diferenciadas, o autoritarismo está impregnado na sociedade brasileira, dada sua estrutura desigual e elitista (Fernandes, 1975; Coutinho, 2000; Chaui, 2000). Esse elitismo se expressa, em um plano macrossocial, no desconhecimento, na perseguição e no aniquilamento de culturas e na exclusão cultural a que é submetida parte significativa da população. Ele está entranhado em quase todos os

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