BanjoLoko

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Banjo Loko Fauvismo Sonoro AmazĂ´nico



Banjo Loko Fauvismo Sonoro AmazĂ´nico


REALIZAÇÃO : Luiz Antônio de A. Lins Filho Pesquisa realizada dentro do projeto SEIVA

2016


O projeto é um estudo/pesquisa de experimento conceitual, sonoro e poético convergindo as características dos ritmos amazônicos ao fauvismo. Mesclando esses elementos em composições autorais, que terão no banjo amazônico sua base de inspiração, utilizando­se de recursos técnicos inéditos nesse campo regional, como afinação, pedais de efeitos e captação na pele do instrumento. Evidenciando as similaridades características entre a cultura sonora amazônica ao fauvismo. Promovendo a valorização do instrumento e os ritmos do Pará, além de enriquecer a bibliografia do tema e o campo conceitual da nossa arte musical com o registro desse estudo/pesquisa. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS Fauvismo – movimento da pintura que surge no início do século XX, que tem como proposta uma maneira mais dinâmica de representar a natureza, cores puras, vibrantes, detalhes “simplificados” em pinceladas marcadas de vigor e "rudeza", sendo esse considerado o movimento que rompeu com o conceito clássico da pintura dando margem ao cubismo e outros, segundo nos conta Muller(1976) Amazônia Sonora ­ A cultura popular na Amazônia sempre esteve entre as que mais se destacam no Brasil, tanto pelo pioneirismo quanto pela rica diversidade de manifestações culturais. O Batuque é a nossa raíz que desencadeia toda a rítmica que o Brasil percussivo e popular possui hoje, o carimbó, lundu, xote, banguê, samba e outros ritmos, são todos conectos ao batuque, bem como aos tambores e as mãos africanas. A características do fauvismo já fervia entre esses ritmos bem antes do próprio movimento ser declarado por Louis Vauxcelles em Paris. Com base nessas características que abrimos as noções introdutórias, onde a seguir traçaremos um contexto que evidenciará essas características do fauvismo dentro do universo sonoro da pesquisa e nas músicas criadas para o projeto Banjo Loko – fauvismo sonoro amazônico.


Conceitos O caminho percorrido do estudo/pesquisa feito no projeto, foi, no primeiro momento, a busca de bibliografia que pudesse evidenciar as características convergentes entre o fauvismo e a cultura musical popular amazônica dentro do projeto. Vicente Salles, Bruno de Menezes e Alfredo Oliveira e seus estudos sobre a música amazônica, além da própria vivência o autor deste trabalho teve com os mestres e mestras de carimbó do Pará ao qual já teve ao longo da carreira e Joseph Emile Muller sobre o fauvismo. Após o estudo conceitual o projeto partiu para delinear sua lina de ação que foi partir da inspiração em cinco pintores do fauvismo e desenvolver, para cada pintor, composições que retratassem suas características artísticas dentro do universo sonoro, rítmico e poético das composições, para evidenciar as convergência conceituais do fauvismo e sonoridades amazônicas autorais do projeto.


Festa de Carimbó (Luizinho Lins) O vento que embala a flor No zimba roda mulher seu requebrado, o sabor, o gosto de bem me quer Tambor deitado no chão Sentado vai tocador Espalha o som no salão Faz girar pano com flor A noite tira o seu chapéu Na roda tirando canção A lua brilhando no céu e o meu amor no salão A festa é a gente que faz A festa vem da emoção É um riacho que nasce no coração

Arranjos: Luizinho Lins , Silvio Barbosa e Charles Matos Luizinho Lins ­ Voz, Banjo, Banjo com wha­wha Silvio Babosa ­ Flauta transversal Charles Matos ­ Bateria

A primeira composição titulada "Festa de Carimbó" tem no seu arranjo a mescla de ritmos, do originário batuque ao carimbó, com uma letra que busca trazer um sentido de caráter filosófico sobre as festas de carimbó. Esse tema foi inspirado em Maurice de Vlaminck, pintor fauvista, descrito por Joseph Muller como de "estilo denso, compacto e carnudo, os seus quadros ecoavam fanfarras e, por vezes, a música ensurdecedora das quermesses" (p.58, 1976)


Incante Amazônia ( Luizinho Lins ) Flora !... um mundo divino na amazônia Verdejando em inexorável paralelo. Na metafisica do maravilhoso Onde estrangeiros se renderam a mais virtuosa forma, de viver a floresta e sua sabedoria

A segunda composição surge no ritmo do Lundu e tem com o titulo "Incante Amazônia", que retrata em sua letra a diversidade do universo sagrado e sobrenatural da região como o tambor de mina, pajelança e as encantarias. A base para imprimir a dinâmica e a rítmica na harmonia da gravação, veio da inspiração no estilo do fauvista André Derain que "[...]aplica as cores com mão mais leve, e que de boa vontade imprime ao pincel um movimento ondulante[...]"(p.72, 1976) conservando algo de gentileza, doçura e elegância como nos conta Muller.

nas terras do rio grande “Pará” o açu dos açus. Doutrinas e maracás para as Mães d'água e da mata que curam, castigam, ensinam Curupiras, botos, iaras, troirinha, rei Sabá, princesas, cabocos, fidalgos, voduns, orixás, Aruanda, Auí, Juremá o Marajó do grande peixe de 7 asas Aroeira, abre caminho, mucuracaá, manjericão Espadas de são jorge, comigo­ninguém­pode, cipó d'alho Ervas, ervas conexões do incrível, imerso phanteão cantem e dancem, cantem e dancem Pela paz se faz o mito De amor o rito Arranjo: Luizinho Lins, Silvio Barbosa e Charles Matos Luizinho Lins ­ Declamação, Banjo, Banjo com wha­wha Silvio Babosa ­ Flauta transversal Charles Matos ­ Bateria


Samba Bom ( Luizinho Lins ) Esse samba é bom Quero ver a moçada sambando No molejo do banjo Vai escorrendo o suor Vai esquentando o gogó e a moçada só vai parar Quando esse sambar acabar

Arranjo : Luizinho Lins, Silvio Barbosa e Charles Matos Arranjo vocal: Nanna Reis Participação Especial: Nanna Reis ­ Voz e backing Vocal Luizinho Lins ­ banjo Silvio Barbosa ­ Flauta transversal Charles Matos ­ Bateria

A terceira composição, de título "Samba Bom" incorporou molejo na poética e na rítmica em uma dinâmica crescente no ritmo do samba de cacete da região de Cametá. Sua forma sonora, que se caracteriza em deixar fluir o canto em improvisos melódicos numa base de melodias instintivas, assim comparando com a ideia da pintura como forma de expressão da visão particular dos pintores fauvistas. Encontrando no fauvista Henry Matisse e seu estudo sobre cores no qual sugere que seja feita de maneira puramente instintiva,


Minha Flor Bonita ( Luizinho Lins)

A quarta composição é um xote com titulo de "Minha Flor Bonita" feito com um arranjo que utiliza o banjo, reco reco como a base. E traz a referencia do Raoul Dufy que tinha por características pintar momentos festivos, espetáculos de ruas e praias animadas, observador mais distante e gostava de cores mais vivas e ricas. No Pará o xote é um dos ritmos mais tocados nas festas juninas, essas caracterizadas pelas comemorações nas ruas, com muita dança e cantoria e bem animada e um colorido especifico que as festas juninas possuem, bandeirinhas coloridas às roupas de pano de chita estampadas.

Minha flor bonita Da noite de luar Perfume que arrodeia Cheiroso e faz sonhar Sorriso mais faceiro Que acelera o coração Amor mais verdadeiro Cacimba da paixão O amor não vem De onde não há Ele nasce em fonte Ele é coisa de par O amor não vem De onde não há Ele é horizonte O sol, céu, terra e mar

Arranjo : Luizinho Lins, Silvio Barbosa e Nego Ray Mundé Luizinho Lins ­ Voz e backing Vocal, Banjo Silvio Barbosa ­ Flauta transversal Nego Ray Mundé ­ Reco Reco


A quinta composição é um tema instrumental titulada "Pikena" tem estilo do fauvista de Marquet, descritos por Muller como sendo um "estilo mais nervosos, mais voluntário, menos <<cuidado>>, directo. A transposição é mais livre [...] (p.93, 1976) para fazer suas obras . Assim figura o tema Pikena, composta no ritmo da guitarrada e gravada ao vivo, despreocupada e livre de normas convencionais de se pensar uma gravação musical, pois no início acontece um erro de execução mas que se torna inesperadamente harmoniosa.

Pikena ( Luizinho Lins ) Instrumental Arranjo: Luizinho Lins, Laerte Bastos, Michel Pimentel e John Bass Gravado Ao vivo no Espaço Cultural Coisas de Negro em 4 canais com mesa de som para aparelho de MD

Luizinho Lins ­ Guitarra Baiana John Bass ­ Contra Baixo Michel Pimentel ­ Bongô Laerte Bastos ­ Bateria


Ficha Técnica Design e texto do EP : Luizinho Lins Fotos: Laisa Kaos Imagens editadas no app Prisma ­ sistema android em Samsung J3 : Luizinho Lins Confecção de capa­encarte do EP : Gaia ( material em papel reciclado ) Local de ensaio e estudos: M stúdio e Espaço Cultural Coisas de Negro Local de Gravação: Estúdio Casarão Floresta Sonora Gravação e Edição: Leo Chermont e Dan Bordalo Mixagem : Carlos Vale Masterização : Casarão Floresta Sonora obs: a centralização dos textos acima busca diferenciar­se fugindo da normatização de preencheimento que a ferramenta justificar domina como norma. Realizado durante Outubro e Dezembro de 2016 em Icoaraci ­ Belém ­ Pará ­ Brasil


Luizinho Lins ­ Carimbozeiro, pesquisador, brincante de cultura popular e historiador. Inicou como integrante do Balé Folclórico da Amazônia ­ BFAM em 1998, fazendo tournee em França, Bélgica, Canadá, Portugal, Espanha e México. Faz estudos e diálogos sobre vivências culturais, ritmos amazônicos, banjo de carimbó, educação patrimonial e transdisciplinaridade e escreve poesias na fanpage Banjo Loko. Atualmente toca com o Trio Chamote no projeto Amazônia Instrumental e há 10 anos no Espaço Cultural Coisas de Negro com o grupo Carimbó de Icoaraci na vila de Icoaraci em Belém Pará


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