Revista Bairro - As Histórias Orais do Bairro Senhor dos Montes (SJDR-MG)

BAIRRO PASSADO E PRESENTE: O FUTURO É O AGORA.

SENHOR DOS MONTES

O BAIRRO SENHOR DOS MONTES DEDICAMOS ESSES REGISTROS À COMUNIDADE DO BAIRRO SENHOR DOS MONTES, QUE NOS RECEBEU COM CARINHO IMENSO AO LONGO DAS PESQUISA. AGRADECEMOS A TODOS VOCÊS QUE ACREDITARAM EM NÓS E NO NOSSO TRABALHO, ABRINDO NÃO SÓ AS PORTAS DE SUAS CASAS, MAS TAMBÉM DIVIDINDO CONOSCO PARTE DE SUAS VIDAS E HISTÓRIAS. PELA CONFIANÇA, UM MUITO OBRIGADA ESPECIAL AO TIO LELÉU, AO DINGAS, À DONA MARIA DAS GRAÇAS, À NATÁLIA, À JANAÍNA, À DONA APARECIDA, À DONA MARIA DAS DORES, AO FRANCISCO, AO GEPHIS E À UFSJ.

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O QUE É E COMO FIZEMOS? O SENHOR DOS MONTES E A CIDADE ATIVIDADES CULTURAIS: GRES BATE PAUS, CRUZEIRO E A QUADRILHA O CRISTO E A CAPELA O RIBEIRÃO A MINERAÇÃO, AS FÁBRICAS E AS CASAS QUEM CONSTRÓI O BAIRRO?

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O QUE É E COMO FIZEMOS ?

DONA MARIA DAS GRAÇAS

A HISTÓRIA DO BAIRRO NARRADA EM PRIMEIRA PESSOA NATÁLIA

SEU LELÉU

DONA APARECIDA DINGAS DONA MARIA DAS DORES

FRANCISCO

Olá, tudo bem? Você pode estar se perguntando do por quê dessa revista estar bem agora, nas suas mãos. Não é mesmo? Essa revista aconteceu em parceria com a Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) e foi feita graças aos moradores que estão bem aí em cima - O Seu Leléu, a Dona Aparecida, o Francisco, a Natália, a Dona Maria das Dores, a Janaína, o Seu Dingas e a Dona Maria das Dores- juntamente com algumas estudantes e professoras do curso de Arquitetura e Urbanismo. Juntos, conversamos e papeamos muito e entendemos que a história das coisas e dos lugares é viva e está presente em praticamente tudo o que vemos. E isso é extremamente poderoso, não é mesmo? Daí, papeando um pouco mais e fazendo algumas buscas aqui e outras acolá, percebemos que encontramos pouquíssima coisa sobre o bairro Senhor dos Montes nos registros oficiais da cidade. E isso foi muito estranho, porque o bairro tem uma importância enorme pra cidade de São João del Rei, mas isso deixamos para as próximas páginas. Com isso, juntamos todas as nossas forças e buscamos tentar montar a partir dos relatos e histórias do cotidiano de todo mundo que foi entrevistado, e por meio de busca em fotografias de moradores, a história do bairro.

Acabamos entendendo que a história também pode e é contada pelas próprias construções do bairro. Já parou para pensar nos nomes das ruas, há quanto tempo tem aquela capela ali ou mesmo a escola?

E o Cristo? Entender essas coisas pode nos permitir entender mais o bairro e até mesmo a nossa própria vida e sua relação com ele. Está pronta/o? Topa embarcar nessa? Ah, só pra não ficar com coisas não faladas, colocamos também alguns dados que encontramos de outras formas, mas vai estar bem explicado nas próximas páginas. E mais uma coisa, isso de sentar e conversar e contar histórias, gravá-las e depois colocar para o mundo se chama História Oral, você conhece?

JANAÍNA

O QUE É HISTÓRIA ORAL? A história oral começou em 1950, logo após a invenção do gravador, que permitiu registrar entrevistas contendo testemunhos sobre diversos aspectos da história contemporânea. Aqui no Brasil ela foi introduzida um pouco mais tarde, na década de 1970, com a criação do Programa de História Oral do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. A História Oral é uma forma de pesquisa que busca ouvir e registrar as vozes das pessoas que geralmente não estão na história oficial, e assim de algum jeito tentar inseri-las dentro dela. As entrevistas servem como fonte para compreensão do passado, em conjunto com documentos escritos, imagens ou outros tipos de registros.

(Informações do CPDOC)

O SENHOR DOS MONTES E A CIDADE

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MINAS GERAIS SÃO JOÃO DEL-REI

Uai, Minas Gerais (MG) é um dos maiores estados brasileiros com uma área de 586.522.111 km² e segundo o IBGE, onde vivem 20,5 milhões de pessoas, se encontra na região Sudeste do Brasil e faz divisa com outros sete estados. Em Minas há uma cidadezinha que se chama São João del Rei que possui uma área de 1464,327 km² e segundo o censo (IBGE/2017) 90 263 pessoas moram ali. Foi criada no século XVIII e é conhecida por suas construções antigas, é uma cidade que possui resquícios da colonização do Brasil, por isso apresenta uma arquitetura muito famosa, formada por construções religiosas, civis e oficiais, além disso, exala arte, cultura e história (SJDR TRANSPARENTE).

Dentro dessa cidade existem 74 bairros e nessa revista trataremos em específico do bairro Senhor dos Montes. Segundo o censo (IBGE/2010) tem 6.260 habitantes e por ele existir a muito tempo conta com um espaço equipado com: igreja, centro de umbanda, praças, posto de saúde, CRAS, escola, creche, farmácias, supermercados, padarias e ônibus de 20 em 20 minutos para o centro. É um bairro com ação coletiva muito ativa entre os próprios moradores, além disso, possui uma cultura marcante que conta com o bloco “Batepaus”, quadrilhas, festas religiosas e gincanas, descreveremos melhor sobre isso nas próximas páginas.

Fonte: Google Maps Fonte: Google Fotos “Eu nasci no bairro Sr. dos Montes” (Leléu) “A gente mudou pra cá.Já fazem trinta e sete anos que eu estou morando nessa casa aqui em cima.” (Maria das Dores) “Igual onde eu nasci, em frente a minha casa tinha projeto de ser rua, hoje não tem essa rua.” (Janaína) “Eu nasci nesse bairro. O que eu encontrei foram as ruas todas sem calçamento, chovia dava aqueles regos, aquelas valas que dava, as casinhas todas pobres só de telha, com cerca de bambu, sabe?”(Maria das Graças)

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ATIVIDADES CULTURAIS O GRES BATE-PAUS, O TIME DO CRUZEIRO E A QUADRILHA O que torna o Senhor dos Montes único na cidade? Aqui vamos mostrar os principais movimentos da cultura local nascidos e criados no bairro. Frutos da vontade, da criatividade e da união popular, essas três atividades fizeram (e ainda fazem) parte da vida dos moradores. Motivos de grande orgulho e alegria para a população, é importantíssimo que as futuras gerações conheçam e preservem a história local, responsável por moldar a realidade do presente.

Fonte: Acervo Dingas

Fonte: Acervo Dingas

GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA BATE-PAUS A Escola de Samba Bate-Paus surgiu oficialmente em 1933, com as cores verde e rosa. Quando começou a desfilar tinha características de rancho (agremiações carnavalescas anteriores aos blocos) e desfilava com as marchinhas de carnaval. Com o passar do tempo transformou-se em bloco carnavalesco, tendo suas próprias canções produzidas por Hélio Alex, Wilson Tirapelli, dentre outros. Passaram a não ser mais sambaenredos, mas sim temas livres. Os foliões desfilavam com qualquer tipo de fantasia, pois o importante era brincar com paz e alegria.

Não oficialmente, a tradição de bater paus começa no princípio de 1901, com uma turma de amigos que se reunia a fim de passar o tempo batendo paus junto com alguns instrumentos de sopro e percussão. As pessoas que presenciaram a dança na época, repassaram para as gerações posteriores.

Bate-Paus é a agremiação que possui mais títulos do Carnaval.

(Informações do site SJDR TRANSPARENTE)

“Meu pai se chamava José Pereira Andrade Filho, entendeu? Ele foi uma das pessoas do bairro que ajudava muito aqui. Ele que fundou o bloco do Bate-Paus [...] E eu fui dando continuidade, eu com meus irmãos.” (Leléu)

“Então... era uma escola de samba. Uma escola de samba aqui da comunidade.

Esse nome bate-paus, é a única escola que tem, é uma roda [...] tem um significado né. “(Natália)

“Eu desfilei até grávida. Eu desfilei de 8 meses grávida. A gente ia pra Tiradentes, ia pra Belo Horizonte, que todo mundo queria ver.” (Janaína)

Bate-Paus tem história. (Dingas)

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Fonte: Acervo Dingas

“Nós custamos muito para construir o clube lá, né? A sede, né? Com muita dificuldade, com ajuda política e esforço de cada um para poder trabalhar na mão-de-obra e pedir material.

Daí conseguimos construir a sede. Hoje a sede quase não funciona mais. Funciona mais como academia. [...] Eles sempre davam baile...”

(Leléu)

“O Cruzeiro mesmo, time de futebol, acabou.

Porque passou por vários presidentes e inclusive eu fui um deles, e quando eu fui eu fiz a sede. A sede tá lá até hoje, ao lado daquele supermercado, tem a sede do Cruzeiro.” (Dingas)

“Era conhecido o time do Cruzeiro. Ele disputava aí com todo mundo. Ia aquela galera junto, pra torcer né.” (Natália)

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CRUZEIRO ESPORTE CLUBE Fundado aproximadamente no ano de 1935, dois anos depois do GRES Bate-Paus, o Cruzeiro Esporte Clube realizava suas partidas no lugar onde atualmente está o Cristo, bem no alto do bairro. Depois, quando o Monumento foi colocado (em 1942), foi construída a sede para abrigar os jogadores e torcedores, que funciona até hoje. Mas infelizmente, não se vê mais a mesma atuação do Cruzeiro do Senhor dos Montes do passado.

(RELATO LELÉU) Notícias encontradas da década de 1990 mostram a atividade de um time formado por veteranos para disputar o “Campeonato Master”.

Sendo o Cruzeiro campeão da edição de 1992. (GAZETASJDR, 2019 O Clube chegou a participar de um concurso para eleger o time mais popular da cidade, em 1952, ficando na 8ª colocação.

“Eu mexi com a quadrilha, festa junina. [...] Sou marcador de quadrilha, marquei todos os colégios da cidade, inclusive na Funrei, onde eu era chamado eu ia. Formavase os grupos dentro das próprias escolas e eu tinha o meu grupo particular, que era aqui no bairro Senhor dos Montes. Era a quadrilha mais histórica, mais famosa e mais falada da cidade. [...] A gente arrumava uns vestidos bonitos para as meninas, que eram vestidos de chitão, vestidos de quadrilha e usava aquelas marcações “Anarriê, balancê, tu”, tudo são coisas francesas. [...] Todos vinham aqui me chamar e eu ensinava como se marca quadrilha e ensinei para os colégios também, muitas professoras sabem marcar quadrilha, inclusive na Funrei também.”

(Dingas)

“A quadrilha era... eu lembro dela fazer parte de concurso. [...] a daqui era uma das melhores, ela rodava aí tudo.” (Natália)

“Nossa, era coisa boa, a quadrilha era boa mesmo. [...] você tinha o prazer de vir ver a quadrilha. [...] era importante, deixou... morreu... acabou tudo.” (Dona Aparecida)

Fonte: Acervo Dingas

QUADRILHA DO SENHOR DOS MONTES

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O grupo de quadrilha do Senhor dos Montes surgiu graças aos esfoços de José Fernando Borges, que aprendeu a marcar os passos com o Senhor Geraldo Napoleão, enquanto trabalhava na cidade de Barroso-MG. Assim começou a “carreira de marcador” do Seu Dingas, primeiro em Barroso, e logo em seguida em São João del-Rei, onde, além de criar a importante quadrilha do Senhor dos Montes, também foi responsável por passar esse conhecimento adiante.

A quadrilha do bairro ficou tão famosa que chegou a se apresentar em diversas cidades vizinhas. (RELATO DINGAS)

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O CRISTO “instalado primeiro o tronco, depois veio a imagem, o pedestal e depois veio a imagem em cima [...] Ele ficou guardado quase 5 anos na igreja. [...]

Isso aqui era uma gincana que eu fazia no alto do Cristo, tá eu aqui né. Então eu colocava um mutirão de pessoas e fazia festas no alto “do Cristo” (Dingas)

“Deve ter uns sessenta, cinquenta e oito a sessenta e dois anos que o Cristo foi lá pra cima. Lá antes só era o morro.” (Leléu)

Você sabe como foi que o Cristo chegou até aqui?

De acordo com o portal São João del Rei transparente, ele foi colocado no dia 8 de dezembro de 1942, quando o prefeito era o Antônio das Chagas Viegas. Desde então, o Cristo é um ponto de encontro no bairro e um lugar que abriga e já abrigou muita festa, várias gincanas e encontros. Para além disso, ele possui uma das vistas mais bonitas da cidade, sendo considerado um ponto turístico de São João del Rei. VOCÊ SABIA?

“Até que fizesse o pedestal dele, de pedra sabão”.

Dona Maria.

Fonte: SJDR Transparente

Ele mede 4 metros e meio de altura e pesa duas toneladas e meia. Ele está sobre um pedestal de 13 metros de altura, que foi feito pelo Rosino Baccarini e pelo Tarcilo Tolentino.

Costumava existir um portal na entrada de baixo para o Monumento, mas ele acabou sendo demolido.

Fonte: Acervo Dingas

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A CAPELA Você sabia que a Capela foi a primeira grande construção do bairro? Ela foi feita no ano de 1800 segundo o site SJDR Transparente e é um bem tombado pelo Município, ela possui um grande papel, promove festas e ações sociais para a população. Recentemente ela passou por uma reforma e isso só foi possível graças a ação da população, (leia mais na página 12 - Quem Constrói o Bairro).

“já mexi com a igreja durante muitos anos e agora que ultimamente eu parei. Com a igreja eu já mexi, já fui tesoureiro.” (Leléu)

“Com o trabalho de várias pessoas”. (Dingas)

“Tinha gente que cantava no largo da igreja, todas as tardes tinha música boa mesmo. Que era a Olívia, a Conceição, a minha madrinha Raimunda. Nossa era show bom que tinha mesmo... Violão, sanfona.” (Dona Aparecida)

“Era uma igreja velhinha, agora é uma igreja reformada, agora ela tá linda” (Maria das Graças)

Fonte: Acervo Ana Luiza

Fonte: SJDR Transparente

O RIBEIRÃO O rio São Francisco Xavier, nome oficial do famoso Ribeirão está ligado às origens da cidade de São João del-Rei. Vamos falar mais um pouco nas páginas seguintes.

O Ribeirão sempre representou uma fonte de sobrevivência para a cidade e, especialmente para população próxima, que vai muito além da extração do ouro.

Ele já foi a única forma que se tinha para conseguir água, lavar roupas, tomar banho.

Desde a década de 1970, aproximadamente, são canos que transportam essa mesma água para dentro das casas do bairro. Sempre foi um lugar de lazer, onde as pessoas podiam tirar um pouco do peso de um dia de trabalho, ou aproveitar um final de semana com a família e amigos, ou se refrescar em um dia quente.

(RELATOS DAS ENTREVISTAS) De umas décadas para cá o Ribeirão vem sofrendo com a poluição, devido ao esgoto despejado nele. O grande aumento de casas e empreendimentos na região, apoiado pela falta de infraestrutura urbana e descaso do poder público, reduziu muito os lugares limpos do rio. Não é mais possível nadar em qualquer ponto de suas águas, como se fazia antigamente. Mas, mesmo assim, nunca deixou de ser frequentado pelos moradores do Senhor dos Montes, de outros bairros e até por turistas, ainda bem! Um lugar como esse não pode ser abandonado.

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“Daí tinha uma água lá, tanto é que tinha uma bomba lá que manda água pro bairro do Sr. dos Montes, Araçá, Dom Bosco, entendeu? Pro lado de lá, tudo. Essa mina. Depois que fizeram a rede de esgoto lá pras casas do lado do Ribeirão, né? E não tem como vir aqui pro lado da cidade, daí desce lá pro córrego. Daí acabou a água. Acabou. Corre a água, mas um tantinho e toda fedorenta, né? Por conta do esgoto mal feito, né? [...] Porque o pessoal vinha da cidade, lá do bairro Dom Bosco, São Geraldo, Alto das Mercês, tudo vinha pra tomar banho. A nascente era bastante água. E dava aqueles poços fundo, os poços eram da altura da gente. Foi lá que eu aprendi a nadar. ” (Leléu)

“A gente lavava roupa, quando faltava água nós íamos pra tomar banho era lá. Que não tinha sujeira na água. [...] e era bom que gente levava, lavava e tinha que esperar secar, então nesse período de secar a gente brincava.“ (Janaína)

“Lavei muita roupa pra fora e trabalhei muito lá, graças a Deus. [...] Eles iam nadar lá, eles iam, era limpinho, nadava, depois que botaram esgoto... [...]

No dia que eu fui lá com Zé Luiz eu sentei lá onde eu lavava roupa, como é que eu chorei. Eu lembrei do passado todo. [...] Até então a gente ia lá no Ribeirão, tinha uma mina lá sozinha, ai a gente ia lá buscar, ia lá lavar roupa.” (Maria das Dores)

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“Ribeirão acho que é um marco aqui, né. [...]

Nadavam no ribeirão todinho. [...]

To falando assim, era uma diversão das crianças, hoje as crianças não tem essa diversão que a gente tinha, de ir no ribeirão.” (Natália)

“Nossa tudo de bom, né, o ribeirão, né. [...] Antes não tinha esse tanto de casa que tem agora. Porque cresceu muito o bairro, muito muito muito. Antes era pouca casa que tinha, você podia contar. Mas era mato, pra você brincar, lavar roupa. “ (Dona Aparecida)

A MINERAÇÃO, AS FÁBRICAS E AS CASAS Você sabia que a exploração do ouro em São João del Rei começou junto com o criação das casas, das ruas, com a formação da própria cidade mesmo? A descoberta do ouro aqui aconteceu por volta do século XVIII, ou seja nos anos de 1700, no Ribeirão, o Rio São Francisco Xavier (lembra da página 09?). Antigamente São João del Rei era formada pelo Arraial Novo do Rio das Mortes e depois pela Vila de São João del Rei e isso aconteceu por conta da mineração . Dessa forma, as pessoas fizeram da cidade a sua morada - construindo casas, igrejas, comércios e etc - e trabalhando com isso. É importante lembrar, que muita gente que estava nas betas e trabalhando como mineradores - e não só com isso - eram forçados a trabalhar. Isso porque nesse período, havia a escravização.

(BBTMUNICIPALSJDR) Mas o que isso tem a ver com o Senhor dos Montes?

Isso é um jeito de começar a pensar em como podem ter surgido as primeiras casas do bairro. Sendo a atividade mineradora tão próxima, no Ribeirão e no Alto das Mercês é possível pensar que as primeiras pessoas que vieram a ocupar o bairro podem ter ligação com essa atividade, não é mesmo?

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ESCRAVIZAÇÃO? A escravização no Brasil foi um regime social violento que explorava a utilização da força de trabalho e saberes de pessoas - a maioria delas vindas do continente africano que possuiam seus modos de vida, a sua cultura, sua própria história, com inúmeras habilidades e línguas.

Era a partir desse sistema que pessoas ricas, a maioria delas vindas ou então descendentes do continente europeu enriqueciam - explorando a mão-de-obra dos escravizados em especial na mineração e na agricultura. É importante ressaltar que esse sitema foi muito complexo e que a população escravizada lutou muito para colocar fim a esse processo.

“Naquela época o pessoal mexia muito com a tiração de ouro. E o pessoal ficava escavacando pela rua para aproveitar, ficava batendo pra tirar ouro.“ (Leléu)

[As primeiras igrejas da cidade] “foi construída em cima de betas, já ouviram falar em betas? É umas escavação que se faz no meio da rocha, no meio da pedra.“(Dingas)

“Essas Igrejas ai tudo são feitas em cima de ouro.” (Dona Maria das Graças)

Além da mineração, uma outra coisa que pode ser pensada é a a vinda das fábricas para São João del Rei. Essa vinda, em especial das ligadas à tecelagem aconteceu lá pro final do século XIX - nos anos de 1800 . Isso se deu por conta de um desenvolvimento industrial que já estava acontecendo no Brasil inteiro. Nessa época, com a diminuição da exploração do ouro e com o fim do processo de escravidão, muitas pessoas ficaram sem trabalho o que incentivou a chegada da Companhia Industrial São Joanense, isso em 1891. Essas pessoas que começaram a trabalhar na fábrica têxtil - e nas outras que surgiram na cidade - começaram a construir casas nas proximidades delas (SJDR TRANSPARENTE).

Mas e o Senhor dos Montes, o que tem a ver com isso? Uma hipótese é que ainda que o bairro não seja tão próximo das fábricas, possibilitou que os trabalhadores fizessem do bairro sua morada, facilitando suas idas ao trabalho.

“Meus irmãos mesmos trabalharam na fábrica, o pai dela, meu irmão que faleceu, o meu outro irmão Geraldo. Lá de casa acho que todo mundo trabalhou na fábrica, só eu que não.” (Dona Aparecida)

“Trabalhou na fábrica de tecido, Fábrica Brasil.” (Dingas)

“A Ana com a Mercês trabalhou na São Joanense, trabalhou muito tempo até fechar. Agora Lu foi na Brasil, Lu, Zé, Geraldo. Maria.”

(Dona Aparecida)

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QUEM CONSTRÓI O BAIRRO?

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Você sabia que a maioria das casas no bairro foram autoconstruídas sobre terrenos aforados? Foi graças aos esforços das próprias pessoas que o Senhor dos Montes se desenvolveu. Graças a pessoas como o Padre Paiva, que construiu a primeira creche da comunidade e também várias casas perto da capela. Não só ele, mas cada um dos moradores que se preocuparam em fazer um bairro melhor, não somente para eles, mas por um bem maior, que é o Senhor dos Montes. Quando vocês leêm isso, quais nomes vêm à cabeça? Durante as entrevistas, surgiram alguns, dê uma olhada direito, no canto inferior, da páxina ao lado.

Não só de construção se fez o bairro. Muitas festas fizeram parte de sua história, você conhece alguma?

Seu Dingas promovia as gincanas no Alto do Cristo, a festa do Senhor dos Montes, as festas do dia das mães e do dia das crianças, trazendo sempre diversão e união para a comunidade.

União é uma palavra importante, que descreve bem os moradores do Senhor dos Montes, você concorda? Um exemplo disso é o restauro da Igreja Sr. Bom Jesus do Monte, que só aconteceu pelo patrocínio do dinheiro do povo, com campanhas, jantares, almoços, bailes, bingos e o carnê do Bom Jesus, numa campanha chamada “Somos Todos Pelo Bom Jesus”. Quer poder de união maior que esse? A reforma só aconteceu pela boa vontade de todos em ajudar e ver a igreja reformada novamente.

Por falar em boa vontade, outra parte da história do bairro é a sopa distribuída no galpão ao lado da Igreja, você pode conhecer como a “sopa do Sô Mário”, que, ao que tudo indica, foi quem começou essa ação. Independente de como ela é chamada, uma coisa é certa: se não fosse a união, a organização e o empenho das pessoas, o Senhor dos Montes não teria conquistado tantas vitórias.

Fonte: Acervo Dingas

Fonte: Acervo Dingas O QUE É AUTOCONSTRUÇÃO? O QUE É AFORAMENTO? É uma forma de se conseguir a posse do terreno para moradia, embora não possua a sua propriedade.

Alguém da família procura a prefeitura municipal e solicita a posse do terreno, esses lotes costumam estar situados na faixa da zona rural que fica próxima da área urbana de acordo com Carneiro (2009, p.7).

“...não precisava comprar terreno. Era terreno da prefeitura. Se chama terreno aforado, né? Aí cercava e podia ser da gente.” (Leléu)

Você já parou para pensar em como a sua casa ou as casas dos seus vizinhos foram construídas? A forma que elas são feitas muda a sua relação com a casa. No bairro e no Brasil a forma mais comum é a autoconstrução. É uma maneira que as pessoas encontram de baratear e possibilitar que seja feita sua própria casa, construídas por eles mesmos, sem o acompanhamento de um profissional especializado.

“Comecei a construir um ano antes. Comecei a construir devagarzinho. Meu pai me ajudando, né? Eram quatro cômodos só. Eram esses dois cômodos, esse meu quarto aqui e a salinha aqui. Mas depois você tem um punhado de filhos, né? Eu tenho seis filhos, então foi aumentando devagarzinho. Aumentando a casinha pra lá.” (Leléu)

PESSOAS MARCANTES DA HISTÓRIA DO SENHOR DOS MONTES

Dona Carmélia Dona Gilda

“Depois o padre da nossa basílica, era um padre muito abençoado, ele fez a creche, fez aquelas casa daquela rua de baixo da igreja aquelas casas todas e a creche ele fez primeiro. Então tem a minas, as várias minas do Ribeirão lá nos olhos d’ água que chama.

Então o padre tirou o reservatório para a creche primeiro e depois mandou água para gente.”(Maria das Graças)

Seu Carlinhos Dona Marta Seu Lucas

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