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Cultura
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José ARCHINTO (1652-1712), cardeal e arcebispo de Milão, muito viajado por quase toda a Europa para conhecer os costumes e índoles destes povos; depois veio para Roma, onde Inocêncio XI (1676-1688) o fez vice-legado de Bolonha; seguidamente foi-lhe concedida a nunciatura de Florença, na Toscana (1686-89); com Alexandre VIII (1689-1691) obteve a de Veneza (1689-95) e com Inocêncio XII (1691-1700) a de Madrid [aqui em 1696, sucedendo a D. Frederico Caccia, arcebispo de Laodiceia (1693), e sucedendo-lhe em 1700 D. Francisco Aquaviva, arcebispo de Larissa], sendo sagrado arcebispo de Tessalónica. Tendo-se mostrado muito fiel à Santa Sé no desempenho das suas funções, Inocêncio XII nomeou-o arcebispo de Milão e cardeal-presbítero do título de Santa Prisca em, respetivamente, 18 de maio e 14 de dezembro de 1699, tendo sido adscrito à Congregação dos Bispos e Regulares, do Concílio, da Propaganda e outras. O zelo, a constância e a firmeza cativaram-lhe o amor e a estima de todos. Presente ao conclave de Clemente XI (1700-1721), convocado a 12 de outubro e composto de 64 cardeais, este despachou-o ao imperador Carlos VI na qualidade de legado a latere e convidou-o depois para assistir às bodas entre Filipe V de Espanha e a princesa de Sabóia, Maria Luísa Gabriela de Sabóia, em novembro de 1701. Por breve de 18 de agosto de 1701 Clemente XI ofereceu a esta a rosa de ouro, nomeando legado a latere o arcebispo de Milão. Faleceu aqui, estando sepultado na sua catedral. Esta célebre e antiga família italiana descende dos reis lombardos (Enciclopedia Cattolica, Città del Vaticano, I, 1948, coll. 1815-1816; Enciclopedia Universal Ilustrada, XXIII, pp. 606-609 e XXXIII, p. 48; Gaetano Moroni ROMANO, Di-
zionario di Erudizione storico-ecclesiastica da S. Pietro sino ai nostri giorni. Venezia: Dalla Tipografia Emiliana, 1840, vols. 2, p. 276; 45, pp. 51 e 80; 59, p. 139; 68, p. 141; e 92, p. 556; Ludovico PASTOR, Historia de los Papas. Barcelona: Editorial Gili, S A., vols. XXXII, 1952, p. 524 e XXXIII, 1958, pp. 5 e 22). 4 Note-se na sua biografia a referência, por duas vezes, a comungar outras tantas vezes em Roma. Isto exige saber-se que até Pio X não havia comunhão frequente e, muito menos, comunhão de crianças. 5 A tradição medieval fala da vinda da Virgem em carne mortal a Saragoça, junto do Ebro, para dar ao apóstolo Santiago o seu apoio maternal, simbolizado na coluna ou pilar trazido pelos anjos (fuste de coluna cilíndrica, sem molduras nem adorno algum, de jaspe, de 1,67 m. de altura e 25 cm. de diâmetro); a difusão deste culto chegou também ao Brasil, onde há dois municípios desse nome: um no Estado da Paraíba e outro no de Alagoas (A. ORTIZ GARCÍA, “PILAR (Virgen del)” in Stefano de FIORES y Salvatore MEO (dir.), Nuevo Diccionario de Mariología. Madrid: Ediciones Paulinas, 1988, pp. 1615-1623). 6 Vicente de LA FUENTE, Historia Eclesiástica de España, segunda edición corregida y aumentada. Madrid: Compañia de Impresores y Libreros del Reino, 1875, VI, p. 449: D. José Archinto, arcebispo de Tessalónica, núncio em 1696; D. Francisco Aquaviva, arcebispo de Larissa, núncio em 1700. 7 Em todo caso há sempre a possibilidade de ter sido despachado legado a latere para qualquer missão especial junto da corte de Madrid, no primeiro semestre de 1700, dada a delicada conjuntura, mas isto exigia um estudo especializado que não fiz nem conheço neste momento. Mas com outros intervenientes e não pelos referidos por Gaetano Moroni Romano. Ou dar-se o caso de se ter utilizado folha timbrada do tempo do anterior núncio, mas assinada pelo novo. 8
QUARTA-FEIRA, 16 de abril de 2014
Solenidades foram relançadas em 1950 por Monsenhor Joaquim Fernandes
Semana Santa de Famalicão oferece pão-de-ló e amêndoas ao Arcebispo Primaz É uma tradição com 60 anos: o Arcebispo de Braga vai à Semana Santa de Vila Nova de Famalicão e recebe como lembrança um pão-de-ló e amêndoas. Foi assim que Monsenhor Joaquim Fernandes gratificou D. Bento Martins Júnior quando, em meados da década de 1950, foi prestigiar o relançamento das solenidades, como conta o sacerdote famalicense no seu livro de memórias. A tradição manteve-se até hoje. Quem não gostou da ida do Arcebispo a Famalicão foi o presidente da Câmara de Braga Santos da Cunha...
POR
ARTUR SÁ DA COSTA E
LUÍS PAULO RODRIGUES AUTORES DO LIVRO “JOAQUIM FERNANDES – MEMÓRIAS DO SENHOR ARCIPRESTE”
Fr. António de Santa Maria JABOATAM, Novo Orbe
Serafico Brasilico, ou Chronica dos Frades Menores da Provincia do Brasil, Parte Segunda (inédita). Impressa por ordem do Instituto Histórico e Geografico Brasileiro. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense de Maximiliano Gomes Ribeiro, 1859, vol. I, pp. 285-289; Orlando CAPITÃO, “Frei João de Loreto Franciscano Brasileiro, de Mar” in Brisa de Mar, nº 324, Janeiro de 2012, p. 5. Agradeço ao Dr. Manuel António Sampaio Azevedo a cedência do texto de Fr. António de Santa Maria Jaboatam, sem o qual nunca seria tão completa esta biografia. Franquelim Neiva Soares, Memórias de S. Bartolomeu do Mar. Identificação geográfica da freguesia. Inquirições dos séculos XIII e XIV. Braga: Diário do
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Minho, 2001, pp. 11-20.
Diário do Minho
A Procissão “Ecce Homo”, na Quinta-Feira Santa, em Vila Nova de Famalicão, é das poucas cerimónias religiosas quaresmais realizadas fora da cidade de Braga que contam com a presença do Arcebispo Primaz ou um dos seus Bispos Auxiliares. A tradição já dura há cerca de 60 anos e deve-se a Monsenhor Joaquim Fernandes, atualmente
com 97 anos de idade – e de perfeita saúde –, que foi arcipreste de Vila Nova de Famalicão na segunda metade do século XX. A história é contada pelo próprio sacerdote famalicense no livro “Joaquim Fernandes – Memórias do Senhor Arcipreste”, lançado em setembro do ano passado, que agora está disponível em Braga, nomeadamente na Livraria “Diário do Minho”. Ao longo das 132 páginas, Mons. Joaquim Fernandes fala na primeira pessoa sobre cinco grandes temas: a vida da infância ao seminário; o arciprestado e a ação pastoral; a obra social no arciprestado; a velha e a nova igreja matriz de Vila Nova de Famalicão; e as relações entre o arciprestado e a sociedade civil. O livro resulta, sem dúvida, num singular e valioso testemunho sobre as últimas seis décadas da história de Vila Nova de Famalicão, inteligentemente amalgamadas entre a comunidade religiosa e a sociedade civil. A interação entre o poder civil e o religioso é, aliás, uma das preocupações centrais e uma das marcas mais relevantes do pensamento e da atividade de Monsenhor Joaquim Fernandes. Enquanto pároco e arcipreste, jamais se fechou na torre da igreja. Pelo contrário, interpretou de forma sábia a missão sacerdotal de levar o Evangelho à rua, pois a palavra de Deus não é coisa de se ter na sacristia, mas de se levar às pessoas. Ordenado em 1945, Joaquim Fernandes assumiu funções na paró-
quia de Santo Adrião (Vila Nova de Famalicão) em 6 de janeiro de 1946, como coadjutor, com plenos poderes paroquiais concedidos por Monsenhor Torres Carneiro, que estava doente. Em 1950, o padre Fernandes foi nomeado pároco; e em 1954 assumiu as funções de arcipreste, depois de ter sido vice-arcipreste. Duas décadas antes, as solenidades da Semana Santa tinham sido suspensas na vila e o jovem arcipreste Joaquim Fernandes tinha o relançamento das celebrações como um dos seus grandes objetivos pastorais e religiosos. “Para recomeçar teria de ser uma coisa em grande. Isto é, eu teria de ter em Famalicão a presença do senhor Arcebispo Primaz, D. António Bento Martins Júnior”, explica Monsenhor Joaquim Fernandes nas suas memórias, compiladas e editadas em livro por Artur Sá da Costa e Luís Paulo Rodrigues, autores deste texto. As “pressões” do presidente Santos da Cunha O Arcebispo Primaz “aceitou o convite, dizendo que Vila Nova de Famalicão era uma terra muito ativa e também integrava a diocese de Braga”, conta Monsenhor Joaquim Fernandes no livro de memórias. Assim, D. Bento Martins Júnior decidiu fazer-se representar na Procissão de Braga. Gerou-se, então, um “problema”: António Santos da Cunha, que era Presidente da Câmara Muni-