O IMPACTO DA NEUROARQUITETURA RETRATADO EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL

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O

IMPACTO

DA NEUROARQUITETURA RETRATADO EM HABITAÇÕES DE INTERESSE

SOCIAL: a relação entre o comportamento humano e o ambiente que o envolve

Master em Neuroarquitetura

Instituto de Pós-Graduação - IPOG

Niterói, RJ, 20/04/2024

Resumo

O tema desta pesquisa se refere ao estudo da Neuroarquitetura aplicada nas habitações de interesse social, com a finalidade de promover maior qualidade de vida nas famílias que possuem baixas condições de renda e compreender como o ambiente pode influenciar no comportamento humano, e a partir disso, propor soluções qualitativas que contribuam para o bem-estar das pessoas. A metodologia empregada é qualitativa, realizada a partir de revisão bibliográfica sobre as habitações de interesse social do Brasil, as estratégias da neuroarquitetura e biofilia em ambiente construído e referências projetuais que trazem soluções para a flexibilidade e qualidade de vida em habitações de interesse social, e será utilizada a coleta de dados a partir de referências nacionais e estrangeiras, livros, normativas, periódicos, anais de eventos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, sites disponíveis na internet.Como resultado para habitações de interesse social com mais qualidade de vida, a aplicação das estratégias da neuroarquitetura e biofilia tem a capacidade de criar ambientes confortáveis para os seus residentes.

Palavras-chave: Habitação Social, Neuroarquitetura, Humanização, Comportamento, Conforto Ambiental.

1. Introdução

Neste trabalho de conclusão de curso, será abordado o tema do impacto da neuroarquitetura em habitações de interesse social, com foco na relação entre o comportamento humano e o ambiente que o envolve. Essa compreensão é fundamental para o desenvolvimento das condições de moradia oferecidas às populações em situação de vulnerabilidade.

Após o surgimento da pandemia da Covid-19, grandes impactos globais foram anunciados devido a velocidade de sua propagação e ausência de cuidados especiais no período inicial, o que resultou em milhares de casos e óbitos de forma descontrolada. O comércio de forma geral decretou encerramento de atividades presenciais, fecharam suas portas, gerando alto índice de desemprego e/ou passaram a desenvolver atividades remotas.

Ao terem que permanecer em completo isolamento social, as famílias formadas por várias pessoas em espaços pequenos, foram condicionadas a precariedade e além disso, um baixo desempenho das atividades domésticas e escolares em uma edificação com pouca flexibilidade de espaço. Essas alterações influenciaram

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diretamente no entrosamento entre eles e suas moradias, ressignificando o conceito de morar. (CAMPOS et al., 2023)

Em decorrência desse cenário, muitos indivíduos foram impactados drasticamente em relação ao seu estilo de vida, associado ao déficit habitacional no país, ao baixo salário-mínimo, à especulação imobiliária, aumentando a precariedade das condições habitacionais nos últimos anos.

No ano de 2020, o advento da pandemia de Covid-19 acrescentou urgência às discussões acerca da habitação saudável, especialmente em suas dimensões sanitárias. A pandemia somou-se aos problemas estruturais da sociedade brasileira (CANETTIERI, 2020, p. 51). Os quadros de precariedade prejudicam os cuidados de prevenção mínimos no contexto da pandemia, a saber, a higienização das mãos, de suprimentos e da habitação, bem como, expõe a necessidade de promover habitações saudáveis e seguras para a população de baixa renda: com habitabilidade, saneamento básico e condições mínimas para o cumprimento dos protocolos preventivos (SCOTTON; MIRON; LERSCH, 2021, p.86).

Nesse contexto, questões como desconforto térmico do ambiente que pode influenciar na realização de tarefas, desconforto lumínico, que causa cansaço ocular, qualidade do ar afetando a saúde, ruídos pode provocar irritabilidade, ansiedade e desatenção e a acessibilidade, manifestam muita importância quanto à qualidade da habitação e o bem-estar do usuário. (WHO, 2019) Além disso, a inadequação ergonômica dos ambientes de estudo e trabalho resultam em doenças osteomusculares e redução da produtividade. O espaço físico desempenha um papel essencial no comportamento, nas emoções, na tomada de decisões e no bem-estar.O ambiente construído afeta diretamente o comportamento dos indivíduos, tal relação ocorre não só de forma cognitiva, como também de forma emocional ou até mesmo instintiva (PAIVA, 2018). Atualmente a neuroarquitetura (estudo da neurociência aplicada à arquitetura) promove a possibilidade de arquitetos e pesquisadores descobrirem os impactos da interação entre o cérebro e o espaço construído (PAIVA; JEDON, 2019), transformando espaços físicos em locais acolhedores e agradáveis, suas interações e consequências aos usuários.

Infelizmente o conceito de habitar e o sentido de pertencimento das pessoas relacionadas com o meio ambiente não é a realidade de muitos. Com o aumento maciço da população, devido à demanda de mão de obra industrial, os espaços urbanos tiveram que ser adaptados para acomodar essas necessidades. (ALMEIDA, 2007). Este desenvolvimento e adaptação provocaram inúmeros problemas na área urbana, como a ausência de infraestrutura adequada, problemas no tráfego e mobilidade, a densificação desordenada das áreas centrais e principalmente, a segregação social. (MACHADO, 2010).

De alguma maneira é preciso morar. No campo, na pequena cidade, na metrópole, morar, como vestir, alimentar, é uma das necessidades básicas dos indivíduos. Historicamente mudam as características da habitação

No entanto, é sempre preciso morar, pois não é possível viver sem ocupar espaço. (RODRIGUES, 1988).

As péssimas condições habitacionais, o aumento do preço do custo de vida e a segregação das classes no espaço são as principais marcas da urbanização. A falta

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de planejamento urbano no Brasil é recorrente e suas consequências têm grande influência na dinâmica da cidade. Uma destas consequências são as ocupações irregulares, que ocasionam uma série de problemas urbanos, ambientais e sociais. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a atual forma de concepção da habitação de interesse social, questionar os processos construtivos que são estagnados e debater as estratégias com o intuito de propor alguma mudança na concepção atual, partindo das necessidades que se relacionam com o morar contemporâneo, proporcionando assim a qualificação habitacional, a fim de viabilizar à população de baixa renda o acesso à moradia adequada e regular e promover novas relações, conexões e experiências, onde existe infraestrutura e emprego, além de muito espaço subutilizado.

2. Metodologia

Para desenvolver o objetivo deste trabalho foi necessário um estudo qualitativo bibliográfico sobre a importância de tratar o bem-estar nas habitações de interesse social no Brasil e as estratégias da neuroarquitetura que pode ser inserida nessas residências.Teve como método a pesquisa em artigos científicos nacionais, disponíveis em repositórios online, além de sites sobre o tema disponíveis na internet. Após análise das leituras, as questões foram discutidas e em seguida foram feitas as considerações finais.

Para a coleta de dados, primeiro foi realizado uma pesquisa sobre: desenvolvimento das habitações sociais no Brasil, como é importante existir qualidade e flexibilidade nessas residências e as estratégias da neuroarquitetura e biofilia que podem melhorar o ambiente construído para os usuários.

3. Desenvolvimento

Segundo o relatório de 2016 do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT), existem 881 milhões de pessoas vivendo em favelas nas cidades dos países em desenvolvimento, e se estima que até 2025 é provável que outras 1,6 bilhão de pessoas precisem de moradia adequada e acessível. Com essas perspectivas, muito se tem discutido sobre Habitação de Interesse Social (HIS) e sobre como projetos realizados nesse âmbito podem ser uma solução para o déficit habitacional.No Brasil, ela surgiu com a Revolução Industrial e o crescimento massivo da população urbana, que se deu pela significativa migração do campo para a cidade a partir de 1950, gerando uma enorme demanda por moradia.(REIS 1, 1992 apud REIS; LAY, 2010).

Ao longo do século XX, soluções como blocos de moradia cercados por jardins, tipicamente modernos, como os exemplos de “Unité d’Habitation” de Le Corbusier, se tornaram comuns e se consolidaram como um modelo durante muitos anos para esse tipo de habitação no contexto mundial.

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3.1. O que é habitação social?

A Habitação de Interesse Social é aquela voltada à população de baixa renda que não possui acesso à moradia formal e nem condições para contratar os serviços de profissionais ligados à construção civil. Segundo o ONU-HABITAT, habitação acessível é aquela adequada em qualidade e localização, que não custa tanto a ponto de impedir seus moradores de arcar com outros custos básicos de vida ou ameaçar seu gozo de direitos humanos básicos.

Quando se fala em Habitação de Interesse Social, entra em jogo uma série de interesses e interessados. Nessa perspectiva, os protagonistas são os futuros moradores, não apenas enquanto indivíduos, que precisam de casas para morar, mas também como parte da sociedade, na qual a rede de relações estabelecida com a vizinhança e com a cidade assume grande relevância no projeto. No Brasil, desde 2005, existe uma Lei que dispõe sobre Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, com o objetivo de democratizar o acesso à terra urbanizada, habitação digna e sustentável através de políticas e programas de investimentos e subsídios; além de articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das instituições e órgãos que desempenham funções no setor da habitação. Um dos resultados dessa lei é o programa Minha Casa Minha Vida, criado em 2009, talvez o mais conhecido no contexto da HIS no Brasil. As principais críticas ao programa são o seu foco na quantidade de habitações, o que não reflete na sua qualidade de espaços, materiais e ou técnicas construtivas; a falta de participação popular no processo de concepção do projeto; falta de incentivos que promovam reconhecimento, identidade e vizinhança; desarticulação com o contexto urbano.

( MOREIRA,2020)

Além disso, o programa também encontrou dificuldade em atender a parcela da população com a menor renda, que correspondia a quase 90% do déficit habitacional, que foi consequência do avanço do crédito e do aumento da produção habitacional da época. O preço dos imóveis e terrenos nas regiões metropolitanas disparou, causando grandes dificuldades para a produção de moradias em áreas bem localizadas, afirma Rolnik (2018).

Essa situação resultou na construção de habitações distantes dos centros, isoladas do ambiente urbano e sem acesso a serviços essenciais como transporte eficiente, saúde, educação e infraestrutura, repetindo parte da situação no período do BNH. (ROLNIK, et al, 2015).

Os conjuntos habitacionais de grande porte, eram implantados normalmente nos limites da mancha urbana e os complexos menores,remanescentes em periferias

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Figura 1 – Unidade Habitacional de Marselha de Le Corbusier Fonte: Foto Victor Hugo Mori

consolidadas do município, evidenciando ainda mais a segregação socioespacial, pois fornecia moradias para a população de baixa renda longe dos principais meios de mobilidade urbana e dos equipamentos urbanos já existentes na cidade. (ROLNIK, et al, 2015).

De acordo com Freitas (2007), as crises geradas pela falta de habitação nas cidades brasileiras são de difíceis soluções devido ao fato de o assunto abranger fatores de ordem social, política e tecnológica.

Segundo pesquisa realizada pelo CAU/BR e pelo Instituto DataFolha em 2015, mais de 85% da população brasileira constrói e reforma sem orientação de arquitetos e urbanistas ou engenheiros. Somando esse dado a milhões de pessoas sem acesso à moradia no país, é de fato importante levar em consideração a quantidade de famílias atendidas por um programa de habitação social, mas soluções desconectadas a redes de transporte e serviços básicos, que negam o direito à cidade desses moradores, são, no mínimo, paradoxais. As ocupações em prédios abandonados, a autoconstrução e a presença de vazios urbanos no Brasil são reflexos de uma sociedade com déficit habitacional.

Morar no centro das cidades, com acesso a transporte e serviços públicos é um direito de todos, que pode ser atendido através de estratégias e projetos de habitação social, já que estes não se restringem à criação de novas casas ou conjuntos habitacionais, mas também podem se apresentar como requalificação de espaços já existentes, como é o caso da urbanização de favelas (a exemplo do programa Favela-Bairro no Rio de Janeiro); consultorias técnicas; reuso adaptativo de edifícios abandonados etc

“Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.” (ONU, 1948)

3.2. Resultados

3.2.1 Neuroarquitetura residencial

A Arquitetura e Urbanismo é a arte e a técnica que delimitam espaços e criam ambientes edificados. É compreendido que tais práticas permitem a concepção de áreas tanto públicas quanto privadas, que servem de abrigo e conforto aos seus usuários. Assim sendo, os projetos arquitetônicos e urbanos impactam diretamente o cotidiano de quem os habita. Logo, cabe aos responsáveis técnicos utilizarem de premissas construtivas para as composições projetuais que irão dignificar a vida das pessoas. Contudo, é preciso observar que esses locais necessários de intervenção arquitetônica, passam muitas vezes a serem as principais áreas de convivência e lazer dos seus utilizadores. Portanto, a arquitetura e o urbanismo deixam de ser apenas métodos e tornam-se aliados ao comportamento humano. O projeto dos condomínios para população de baixa renda, de forma geral, é feito por arquitetos e outros profissionais que não moram nesses condomínios de habitação popular. Por outro lado, sabe-se que, os cérebros seguem alguns padrões de comportamento pré-programados, o ser humano ainda assim sofre influências, tanto genética, como das experiências de vida. Ou seja, a cultura e vivências particulares

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estão o tempo todo gerando transformações no cérebro (neuroplasticidade) e, consequentemente, impactando no comportamento. Sendo assim, na hora de projetar algo para alguém ou para um grupo, é preciso procurar entender o mindset dessas pessoas. Uma solução que foi bem-sucedida para um tipo de público não necessariamente vai funcionar para todos. Por isso é tão importante que arquitetos, dentre outros profissionais, desenvolvam habilidades relacionadas à empatia. É preciso saber se colocar no lugar do outro, procurar sentir o que o outro sente para criar produtos que atendam às necessidades de cada público alvo e não a si próprio.

Enquanto a arquitetura for pensada apenas sob a ótica econômica e da produção industrial em larga escala, ela estará perdendo seu caráter humano. Uma arquitetura desumana não gera identificação, apego nem pertencimento, elementos essenciais para a qualidade de vida habitacional. Uma arquitetura assim, desumana, apenas estimula comportamentos igualmente desumanos. Uma coisa leva à outra e, enquanto esse ciclo não for interrompido, a qualidade de vida dos moradores continuará sofrendo consequências graves como as que testemunhamos naqueles conjuntos populares.(PAIVA, 2018)

A Neuroarquitetura aliada à diversas pesquisas relacionadas ao ambiente e como ele afeta os usuários, apontam que muitos fatores fazem com que o meio físico influencie o comportamento e o bem-estar dos indivíduos. Entre todos eles, o tempo de ocupação é considerado um dos mais relevantes. Na maior parte dos casos, quanto mais tempo a pessoa se expõe a um certo estímulo, maiores são as possibilidades dele afetá-la de modo mais prolongado. E os estímulos prolongados e frequentes são os que possuem maior potencial de provocar transformações permanentes. Assim, o ambiente é capaz de gerar dois tipos principais de efeito no organismo humano: efeitos de curto prazo, são os mais imediatos e passageiros e os efeitos de longo prazo, que são alterações mais estruturais que levam mais tempo para aparecer e também permanecem por mais tempo. (PAIVA; JEDON, 2019)

Nesse contexto, há estratégias da neuroarquitetura que podem ser aplicadas nas edificações com o intuito de potencializar a vivência oferecendo subsídios positivos aos seus usuários como, por exemplo:

• Iluminação natural, instrumento essencial para regulação do ciclo circadiano;

• Alteração do layout dos ambientes;

• Adaptação dos ambientes para realizar as novas atividades;

• Aplicação do design biofílico.

A arquitetura é um campo bastante dinâmico, sempre surgem novas práticas que concluem gerando resultados inovadores. A neuroarquitetura e a biofilia são técnicas inovadoras que têm alcançado lugar nos projetos de arquitetos, a aplicação desses métodos em projetos de habitações de interesse social, podem criar ambientes confortáveis para os moradores dessas residências.

O habitar é uma concepção que ultrapassa o objeto construído, estendendo-se ao entorno imediato da habitação, envolvendo-se de atributos subjetivos pertencentes à relação estabelecida entre o morador e o espaço sócio físico que o acolhe/recebe

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(VILLA; ORNSTEIN, 2013).

Para Villa e Ornstein (2013), deve-se ressaltar que uma edificação não se define somente por suas características de construção, requisito considerado ainda mais claro no contexto habitacional, que, como construção estipulada para acolher o indivíduo ou grupo familiar, assume relevante valor para a qualidade de vida e bem estar de seus moradores.

De acordo com Pinheiro e Günther (2008), em todos os âmbitos de conhecimento, o foco principal é o ser humano. A procura contínua por qualidade de vida e ideologias do ser humano desencadeia o aprofundamento a respeito da temática por estudos de variadas áreas.

Para Pimenta (2013), a razão ideal para o equilíbrio físico e psíquico do ser humano está relacionada às investigações entre ambiente x comportamento e, assim, o ambiente confortável é fundamental para a saúde e bem estar do indivíduo que o ocupa. A necessidade dos cidadãos de estar bem e ter qualidade de vida, principalmente, nos ambientes construídos, vem se intensificando de forma rápida, em virtude do desenvolvimento cultural da população e do crescimento de diversas fontes de incômodo, como também do estresse do dia a dia. Nesse contexto, é fundamental a participação do usuário como fonte de investigação, assim como é importante evidenciar o que é essencial para seu conforto ao longo de sua permanência no espaço construído.

Conforme Paiva (2020), para aplicar a neuroarquitetura nos projetos o arquiteto deve procurar resolver problemas através de intervenções no espaço físico que ocorra de uma forma suave no subconsciente dos usuários, por meio de soluções visíveis e invisíveis. Já para Bertoletti (2010), o profissional tem que pensar nos indicadores de qualidade de vida referentes ao ambiente construído e ao contentamento dos seus usuários. Para auxiliar os arquitetos na execução de projetos com resultados positivos no que diz respeito à relação do usuário no ambiente construído a neurociência atribui técnicas.

De acordo com Tegra (2020), o arquiteto pode elaborar projetos nos quais essa ciência pode melhorar a experiência do usuário e a eficiência dos ambientes.

Dessa forma,a neuroarquitetura dispõe de técnicas que podem adaptar o ambiente de acordo com as necessidades dos usuários, criando espaços que podem trazer conforto lumínico, térmico, acústico e visual.

Conforme Boni e Meira (2018), o conforto lumínico nas habitações está associado aos incentivos ambientais à visão que são incentivados pela quantia de iluminação, seja ela natural ou artificial, se relacionando também com a sua variedade e organização dentro dos espaços. O conforto lumínico ambiental é influenciado por diversos aspectos, como por exemplo: a intensidade da incidência da luz, a distribuição da iluminação, a fonte de iluminação e a tonalidade e a cor dos focos de luz.

Para Inson (2021), a neuroarquitetura preza espaços que fazem uso da luz natural, visto que além dela estar ligada aos prós positivos sobre o ciclo fisiológico e psicológico dos indivíduos, também pode colaborar com a economia de energia elétrica. Segundo Marelli (2018), o uso da luz natural afeta diretamente o comportamento humano, sintoniza nosso ciclo biológico, influencia o ritmo cardíaco e a circulação sanguínea. Na sua presença, o corpo e a mente entendem que este é um momento de atividade e fortalecem sua função.

Outro ponto interessante a destacar se os benefícios da luz solar estão relacionados ao bem-estar, a luz natural torna as pessoas mais otimistas, traz muitos benefícios para a saúde é um antibiótico natural e provê vitamina D ao organismo.

Os ambientes que não possui tanta iluminação natural são mais desafiadores, mas

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com o uso das luzes artificiais é possível torná-las confortáveis e valorizadas, contudo, em excesso pode destruir visualmente um espaço. De acordo com Sage (2021), para obter conforto lumínico em ambientes com pouca entrada de luz natural, é necessário encontrar o tipo certo de luz e quantidade de pontos de lumínicos que serão necessários para alcançar o que deseja. Com algumas noções básicas, é capaz de usar a iluminação certa em um ambiente, a coloração da luz pode impactar várias questões na formação de um espaço mais confortável.

Bernal (2019) aborda que a iluminação da cor amarela deixa o local mais intimista e ajudar a criar uma atmosfera relaxante, nesse sentido, as luminárias em tons quentes são uma boa opção para quartos e áreas de descanso. Conforme os arquitetos Pereira e Pereira(2019), as luzes brancas e azuladas provocam sensação de amplitude, atenção, foco e limpeza. Por tanto, a iluminação fria deve ser colocada em locais com: escritórios (exigem mais concentração), cozinha e lavanderia (uma sensação de limpeza).

Outro recurso que complementa o design neuroarquitetônico são as cores e texturas, tendo potencial para transformar a atmosfera de um ambiente, uma vez que ela pode causar impacto no cérebro intensificando emoções e ações nas pessoas. No livro de Eva Heller (A Psicologia das Cores) fala que para entender os possíveis efeitos psicológicos de uma cor, é necessário observar o contexto em que ela está inserida e analisar todos os sistemas simbólicos que podem estar associados a ela.

As cores podem produzir diversos efeitos (figura 2), é preciso entender que elas nunca estão sozinhas no espaço, e por isto recebem outras diversas interferências e isso modifica completamente o contexto. A cor na arquitetura sempre esteve intimamente relacionada à criação de um espaço aconchegante e agradável, e embora esteja intimamente relacionada ao conceito de decoração, a escolha da cor é muito mais do que isso: diferentes tonalidades podem transmitir emoções e aguçar diferentes sentidos. Por isso, é fundamental escolher o tom de cada cômodo com sabedoria e estratégia.

Deve-se procurar sempre aliar a neuroarquitetura com o ciclo cromático, para que as cores tenham efeito nas sensações das pessoas. Já as texturas, ajudam a destacar e diferenciar vários objetos e superfícies, transformar a luz e influenciar a escala e

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Figura 2 – Efeitos das cores no cérebro Fonte: www.desygner.com/pt

comunicar projetos específicos. É importante entender os diferentes tipos de texturas e como tirar o máximo proveito de cada um para determinar se é o ajuste certo para o cenário do seu projeto. Poucas pessoas sabem o que é ou como usar a textura, mas quando decidem aplicar seu conceito, é óbvio ver a surpresa em seus rostos, resultado de estar em um ambiente agradável, confortável e animado.

Além disso, a neuroarquitetura também explora a importância da acessibilidade, tanto física quanto sensorial, nas habitações de interesse social. Adaptar os espaços para atender às necessidades de pessoas com deficiências físicas ou sensoriais é fundamental para garantir a inclusão e a autonomia desses indivíduos.Nas residências além da importância do conforto lumínico, existe outro fator fundamental para conseguir o bem-estar de um morador, que é o conforto térmico interno.

Conforme Labeee (2022), o conforto térmico pode afetar o consumo de energia, como também desempenha um papel importante na forma que o ser humano vive, isto é, pode influenciar na produtividade, bem-estar físico e emocional. Labeee (2022), fala que o conforto térmico é o estado geral de um indivíduo que prefere não sentir nem calor nem frio, isto é, a condição absoluta de bem-estar físico que emite contentamento com o ambiente térmico a sua volta,isso pode estar ligado à individualidade de cada pessoa, ou seja, um ambiente agradável pode ser considerado confortável para alguns e desconfortável para outros.

Os meios naturais são preferíveis, visto que, um lugar sufocante sem renovação de ar é desvantajoso para a saúde. De acordo com Júnior (2020), lugares com ventilação natural proporcionam para o ser humano uma sensação de relaxamento, retira os maus odores e permite um contato maior com o exterior. Além disso, um espaço bem ventilado economiza mais energia e favorece a sustentabilidade na obra.

3.2.2

Design Biofílico

Na arquitetura biofílica propõe estratégias que incorporem características da natureza aos espaços construídos, como água, vegetação, luz natural e elementos como madeira e pedra. O design biofílico surgiu como forma de suprir a necessidade que o homem tem em estar conectado com a natureza. O objetivo do design biofílico é criar ambientes artificiais que sejam o mais semelhantes possível ao ambiente natural para garantir que a natureza tenha um impacto positivo na saúde e no bemestar das pessoas. (Söderlund, 2019; Browning e Ryan, 2020). De acordo com (Orians 1986; Buss 2016), seguindo os princípios de adaptação evolutiva desenvolvidos por nossa espécie em sua busca por habitats seguros e ricos em recursos, os elementos de design biofílicos podem ser divididos em dois grupos básicos. O primeiro grupo (iluminação, proteção e controle, ar e paisagismo) parece satisfazer o tema “encontrar um lugar seguro para morar”. O segundo conjunto de elementos (vegetação, curiosidades, materiais e decorações, e cores) parece ser mais relevante para o tema “busca de recursos e aquisição de alimentos”. Para Grinde e Patil (2009), a adição de elementos do design biofílico aos espaços de vida pode presumivelmente induzir mudanças positivas na cognição e emoção, que novamente podem impactar no nível de estresse, saúde e bem-estar.

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Ulrich (1999), fala que o ambiente visual é importante para a recuperação do estresse e que a redução do estresse é mais rápida na natureza em comparação com ambientes urbanos. Para Grinde (2005), a ativação do estresse evoluiu ao longo da evolução como uma estratégia para lidar com situações que ameaçam o bem-estar. Muito estresse pode levar a várias doenças, incluindo transtornos relacionados à ansiedade. A presença visual de plantas pode ser um desses fatores redutores de estresse, pois as respostas afetivas a estímulos visuais considerados estéticos podem liberar tensão.

Conforme Silva e Holanda (2021), alguns estudos apontam que os usuários se sentem mais satisfeitos e inspirados quando estão em espaços verdes, deixando evidente a relação do uso da vegetação com a saúde e satisfação do usuário, mas o conceito da biofilia vai muito além do contato com a vegetação. Segundo Nicolau (2021), existem 3 tipos de experimento que expõem estratégias para uma prática bem-sucedida da biofilia na arquitetura, esses tipos são: experiência direta da natureza, experiência indireta da natureza e experiência de espaço e lugar.

A experiência direta da natureza recorre aos elementos naturais como: a luz, ar puro por meio da ventilação conveniente e a utilização de recursos naturais como água, fogo e vegetação. Da mesma forma que a presença de animais e a apreensão do clima e da paisagem através da visibilidade que o espaço construído dispõe. Como também, soluções como jardim vertical, jardim de inverno, espelhos d’água e aberturas são exemplos da experiência direta da natureza.

A experiência indireta com a natureza é empregada quando o ambiente construído não tem visão para a paisagem natural ou quando o proprietário não tem dinheiro para investir em soluções com um preço um pouco elevado, como: paredes verdes, jardins internos ou espelhos d’água. As experiências indiretas possibilitam soluções acessíveis, como por exemplos, imagens, pinturas ou fotografias da natureza, o uso de plantas artificiais também colabora para compor espaços mais aconchegantes. No entanto, o uso das experiências indiretas não terá o mesmo efeito sensorial que a experiência direta.

A experiência de espaço e lugar é quando o indivíduo se encontra em um lugar onde a natureza é muito presente, e que essa experiência não se trata apenas de elementos naturais, mas sim da união de todos os elementos. Por esse motivo, além das experiências diretas e indiretas da natureza, a associação os atributos gerais do ambiente também são importantes, como: a combinação de espaços mais amplos, integrados, com variedade sensorial organizada e a conexão ecológica e cultural do local com o projeto.

3.2.3 Avaliação Pós-Ocupação em ambientes residenciais

Para analisar e determinar parâmetros de conforto dos espaços construídos há diversas técnicas e metodologias de avaliação e uma delas é a Avaliação Pós Ocupação (APO). A APO se estabelece em uma área de conhecimento multidisciplinar conforme mostra-se na Figura 2, por meio de investigações realizadas nos campos da antropologia, psicologia, sociologia, arquitetura, dentre

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outros, cujo intuito principal é buscar um método de natureza científica que possibilite a relação entre o ambiente construído e o comportamento de seu usuário, segundo sugere-se, dentro da equação, indivíduo + comportamento, a adição de uma terceira incógnita: o ambiente (ORNSTEIN; ROMERO, 1992).

2003.

Para Villa, Saramago e Garcia (2015), a APO possui como diferencial a intenção de avaliar o desempenho em uso de edifícios, levando em consideração a opinião de especialistas e a satisfação dos usuários, apresentando como resultados diagnósticos completos e coerentes quanto aos fatores positivos e negativos nos ambientes construídos. De acordo com os resultados obtidos, podem se embasar orientações e intervenções para as edificações estudadas e também para o desenvolvimento de futuros projetos similares.

De acordo com Pinheiro (2007), a maneira como os indivíduos se comportam nos espaços não depende somente dos elementos de construção desse espaço; quanto mais tempo a pessoa vive em um determinado local, mais os componentes subjetivos são determinantes para a ação final do usuário. Em cada novo ambiente é exigido do usuário atenção às suas especificidades, em um comportamento de percepção denominado bottom-up (de fora para dentro), circunstância em que os componentes sensoriais apresentam grande relevância. Quando o usuário habita por muitos anos o mesmo lugar, ele se familiariza sentindo-se confortável naquele ambiente e, consequentemente, as percepções passam a acontecer de dentro para fora (top-down). O subprocesso bottom-up é motivado principalmente por estímulos sensoriais e, em contrapartida, o top-down se fundamenta nas expectativas dos indivíduos (cognições); ambos subprocessos agem ativamente na percepção direta dos ambientes, frequentemente operando de modo integral e compensatório.

Desse modo, a interação do indivíduo com o ambiente pode acontecer em um grau puramente sensorial ou abranger elementos assimilados e codificados em sua mente como os relacionados aos estímulos sensoriais. Esses processos constituem o circuito psicológico da experiência ambiental, na qual a atuação necessita das especificidades biológicas básicas (como espécie e indivíduo), como também da

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Figura 3 – Caráter multidisciplinar da APO Fonte: Adaptado de Günther,

habilidade de representação mental, que possibilita aos usuários inúmeras formas de experienciar e compreender os ambientes (VILLA; ORNSTEIN, 2013).

Na Figura 3 ilustra-se de forma esquemática o modo como um indivíduo recebe a informação do ambiente e, conforme os variados níveis de complexidade de processamento psicológico, reage com atitudes no ambiente.

Figura 4 – Circuito psicológico da experiência ambiental – esquema geral

Fonte: Adaptado de VILLA; ORNSTEIN, 2013.

A importância de cada um desses níveis na investigação das relações entre os ambientes residenciais e os usuários depende dos quesitos em avaliação. Desse modo, a rotina das experiências ambientais do indivíduo se forma mediante reações que possuem variados níveis de complexidade, a começar das mais instintivas até as altamente sofisticadas, na ocasião em que os processos sensoriais, cognitivos e perceptivos se misturam e inclusive se confundem (VILLA; ORNSTEIN, 2013).

Ademais, a experiência ambiental não ocorre em um vácuo de conceitos e valores. Alguns espaços são mais admirados e contemplados que outros: alguns lugares podem fazer com que o usuário se sinta bem, outros nem tanto. O ser humano controla e é controlado, em um movimento de esforços constantemente presente na apropriação que é feita dos espaços que os contornam. Sendo assim, a resposta final do usuário depende dos filtros afetivos que articulam a rede de subprocessos, mediante processos psicológicos, que o influenciam, definindo reações ambientais psicologicamente mais complexas ou sofisticadas (VILLA; ORNSTEIN, 2013).

A moradia é fundamental por conectar as pessoas (gerações e indivíduos), tempos (passado e futuro dos moradores), além de vários elementos referentes ao contexto socioambiental em que está inserida, correspondendo a uma das fontes de contribuição para se definir a identidade do indivíduo ou da família (VILLA; ORNSTEIN, 2013). Nessa pesquisa, utilizou-se os termos moradia, habitação e residência como sinônimos.

Segundo Rapoport (1972), a residência, também pode ser entendida como um artefato cultural. Considerada um reflexo do estágio evolutivo de uma civilização, representando a fase tecnológica em que um grupo se encontra, a forma de interação dele com o meio ambiente e as particularidades de seus relacionamentos internos (entre membros) e externos (com quem não pertence a ele) (VILLA; ORNSTEIN, 2013). Assim, para a elaboração de uma pesquisa no campo habitacional que não esteja restrita à busca por informações referentes aos aspectos construtivos da residência, impõem-se demandas de ordem subjetiva, relativas ao modo de vida dos usuários e ao tipo de convívio que eles possuem com aquele ambiente (VILLA; ORNSTEIN, 2013).

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A produção de Habitação de Interesse Social também tem sido fomentada por concursos como os promovidos pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (CODHAB-DF), que promovem a criação e divulgação de possibilidades arquitetônicas, que podem ser utilizadas em novas prospecções da Companhia, e também, através da divulgação, servir de base para outras ideias e projetos de HIS.

3.2.4 Comportamento socioespacial humano

De acordo com Pinheiro e Elali (1998), a experiência espacial humana ocorre em função tanto de seus atributos biológicos, quanto da sua habilidade de representar informações, o que permite ao indivíduo se desenvolver de várias maneiras, conhecer diversos lugares onde vive ou pelos quais se desloca. Como parcela do processo de interação entre pessoa e ambiente, o comportamento espacial humano utiliza de gestos, orientação corporal, toque, estabelecimento de distâncias interpessoais e postura, além de outros elementos não-verbais. Ademais, ele comumente ocorre de modo pouco consciente, o que torna difícil seu estudo (ELALI, 2009).

• Espaço pessoal

O espaço pessoal – é considerado por (Sommer, 1973), uma zona carregada emocionalmente ao redor de cada pessoa, que auxilia no regulamento do espaçamento entre os indivíduos. Para Villa e Ornstein (2013), caracteriza-se como uma área na qual a maioria das interações pessoais ocorrem. Apesar de não possuir limites visíveis, estranhos não podem adentrar nesse ambiente sem causar desconforto, já que, é uma área fortemente defendida.

• Proxêmica

Ao reconhecer o dinamismo da percepção e uso do espaço pelo ser humano, Hall (1977), define os espaços ao redor dos indivíduos como de características fixas (quando um local é raramente modificável, como ocorre em um banheiro), semifixas

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Figura 5 - Primeiro lugar no concurso CODHAB-DF de projetos de Arquitetura para HIS 2017 Fonte: Archdaily

(quando a composição física é facilmente modificável, como em salas de aula) e informais (que correspondem às distâncias mantidas entre as pessoas) (ELALI, 2009).

Apesar de os indivíduos não possuírem muita compreensão das distâncias que são estabelecidas entre si e os demais, a oscilação das distâncias interpessoais relaciona-se a aspectos como possibilidade de toque e sentimento de calor; odores corporais; monitorização de campo visual/auditivo (ajuste de volume, tom de voz e conteúdo verbalizado); movimentação provável/admissível, entre outros elementos intimamente ligados ao tipo e à qualidade das interações sociais (ELALI, 2009).

• Territorialidade

O conceito de territorialidade, define-se como uma área que possui delimitações físicas, utilizada frequentemente e ativamente defendida, relacionando-se ao sentimento de posse. Também associada ao tempo de ocupação de um local, a territorialidade refere-se à imposição de exclusividade no seu uso e, consequentemente, à adoção de conduta de defesa do mesmo, cujo reconhecimento guia a maioria do comportamento de outras pessoas que se movam pela área (Martinez-Torvisco, 1998).

A territorialidade humana pode se manifestar em várias escalas temporais e ambientais, para definir seu alcance físico utilizam-se marcadores reconhecidos culturalmente, como as cercas e muros em terrenos localizados em área urbana, os objetos pessoais que personalizam a mesa de um escritório, entre outros (ELALI, 2009).

• Aglomeração

A aglomeração refere-se à percepção do espaço disponível como em quantia inferior à que os indivíduos necessitam em determinado momento ou situação (Tuan, 1983, p.69) ou quando sente-se que há um excesso de pessoas no local, mesmo que não se comprove isso numericamente. O sentir-se aglomerado é capaz de influenciar, entre outros, a percepção e satisfação de um indivíduo com um ambiente (VILLA; ORNSTEIN, 2013).

• Privacidade

Já a privacidade, é considerada um fenômeno dinâmico, relacionado à regulação das fronteiras interpessoais, pressupondo-se o equilíbrio momentâneo ideal entre as tendências de um indivíduo isolar-se e tornar-se acessível aos outros (Altman, 1975). Esse controle seletivo pode ser praticado por meio de algum aspecto do ambiente construído, como acontece ao se possuir um recinto exclusivo (quarto, casa etc.) ou somente como um elemento comportamental. “Assim, conhecer um ambiente significa, entre outras coisas, compreender as funções desse espaço, reconhecendo e aplicando táticas culturalmente adequadas de defesa da privacidade.” (PINHEIRO; ELALI, 2011, p.155)

• Apropriação

O conceito de apropriação está diretamente relacionado à territorialidade. Envolvese a ideia de posse do território, acerca da identificação e apego de uma pessoa ao ambiente e sua liberdade de interferência no mesmo, deixando nele a sua “marca pessoal” (ELALI, 2009).

Pol (1996), aponta que a apropriação inclui dois componentes que se inter relacionam constantemente entre si: o simbólico (identificação com o local) e o de

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ação-transformação (oportunidade de personalizar os ambientes). Sendo assim, a perspectiva da Psicologia Ambiental, que analisa as inter relações do indivíduo com o ambiente, importa aos arquitetos os efeitos das condições ambientais sobre os comportamentos individuais. Isso ocorre em função de como a pessoa compreende seu entorno e atua nele, já que a inadequação de ambientes pode provocar efeitos prejudiciais à saúde (GÜNTHER; PINHEIRO; GUZZO, 2004). Portanto, faz-se importante que as pesquisas no ambiente residencial, considerem os conceitos ligados ao comportamento socioespacial humano, que é ampliado quando trata-se das moradias, local em que os indivíduos se sentem mais livres para expressarem quem são e o que necessitam (VILLA; ORNSTEIN, 2013).

3.2.5 Apropriação espacial

Alguns desses aspectos do espaço construído podem influenciar na saúde e bemestar do usuário, como por exemplo, a apropriação espacial ou territorialidade. A capacidade de reconhecimento de um determinado ambiente pode ser muito benéfica quando aplicada. Considera-se a relevância do indivíduo de personalizar o ambiente em que se encontra com objetos pessoais, por ser uma importante ferramenta para o cérebro reconhecer o ambiente como sendo dele. Tal como, em quartos individuais de pacientes com Alzheimer, a apropriação contribui para que os níveis de estresse, ansiedade e a agressividade diminuam; a altura do pé direito de um ambiente, pode influenciar no comportamento e na capacidade de resolução de problemas. Tetos mais baixos instigam a concentração, enquanto os tetos mais altos provocam no cérebro maior sentimento de liberdade. No ambiente, estruturas e elementos horizontais causam sensação de movimento, de locomoção no decorrer do espaço e do tempo e, por isso, relacionam-se mais ao córtex (área responsável pela capacidade motora); as verticais favorecem o medo ou a meditação, entre outros (GONÇALVES; PAIVA, 2018).

A fisiologia do corpo humano está relacionada ao funcionamento adequado de seus órgãos para que ele se mantenha vivo e com condições apropriadas à saúde e bemestar. Consequentemente, as demandas corporais dos indivíduos, enquanto usuários, precisam ser atendidas, a fim de que o espaço possa ser utilizado de modo harmônico com sua constituição fisiológica e biológica (SPINASSÉ, 2017). Portanto, ao pensar e projetar os ambientes, cabe ao arquiteto pesquisar a respeito das condições fisiológicas do indivíduo que possa ser um provável usuário do espaço. Pesquisas, estudos e os instrumentos das áreas da ciência podem ser utilizados como ferramentas para entender as demandas corporais das pessoas que irão experienciar os ambientes.

3.2.6 Apontamento de estratégias

Diante disso, alguns projetos que possuem ótimas estratégias que atendem flexibilidade familiar e o bem-estar dos usuários foram escolhidos, com o intuito de auxiliar no desenvolvimento de futuros projetos arquitetônicos de habitações de interesse social.

A habitação de interesse social deve ser entendida como uma maneira específica de integração do indivíduo na sociedade. Portanto, para ter habitabilidade nessas edificações é preciso atender às demandas dos indivíduos que nela vivem em termos de condições de moradia que considerem as necessidades sociais,

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econômicas e ambientais. Portanto, proporcionar condições habitacionais adequadas garante conforto ambiental, espacial, social e psicológico aos seus residentes. Dessa forma, a aplicação da neuroarquitetura e a biofilia vem como uma forma de repensar e ressignificar antigas soluções e transformar a forma de criar espaços humanizados, na busca pela elaboração de uma moradia de qualidade, já que essas duas teorias vão além de uma simples tendência, visto que, os seus princípios carregam potencial de trazer sensações de acolhimento e pertencimento para as pessoas.

Diante disso, espera-se que a realização deste estudo ajude a avançar nos temas de qualidade vida e bem-estar dos residentes das habitações de interesse social e subsidiar futuros projetos de HIS.

4. Conclusão

A habitação de interesse social deve ser entendida como uma maneira específica de integração do indivíduo na sociedade. Portanto, para ter habitabilidade nessas edificações é preciso atender às demandas dos indivíduos que nela vivem em termos de condições de moradia que considerem as necessidades sociais, econômicas e ambientais. Portanto,proporcionar condições habitacionais adequadas garante conforto ambiental, espacial, social e psicológico aos seus residentes. Dessa forma, a aplicação da neuroarquitetura e a biofilia vem como uma forma de repensar e ressignificar antigas soluções e transformar a forma de criar espaços humanizados, na busca pela elaboração de uma moradia de qualidade, já que essas duas teorias vão além de uma simples tendência, visto que, os seus princípios carregam potencial de trazer sensações de acolhimento e pertencimento para as pessoas. Diante disso, espera-se que a realização deste estudo ajude a avançar nos temas

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O IMPACTO DA NEUROARQUITETURA RETRATADO EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL by Luisa Branco - Issuu