Brasil Periferias: a Comunicaçao Insurgente do Hip Hop

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a determinados grupos subalternos, entre os quais, as mulheres, como analisado por Bourdieu. Concernente à produção e circulação de sentidos na sociedade atual de consumo, a mídia hegemônica constitui um dos aparelhos mais eficientes de imposição simbólica. Em outras palavras, a imposição acontece quando a produção de sentidos, ao invés de ser negociada coletivamente, é determinada autoritariamente por um grupo restrito e submetida de modo compulsório a toda a sociedade. Para além da mídia, não se pode descartar outros mecanismos também eficientes de imposição simbólida como a publicidade, as formas dominantes de produção artístico-cultural, o material didático escolar e a racionalidade cognitivo-instrumental da ciência. Estes são, portanto, os quatro vetores principais de produção e reprodução de imposições simbólicas a que estamos imersos nos dias atuais: (a) mídia / publicidade; (b) escola; (c) ciências; (d) cultura. Todos estes vetores são pautados pelos valores de mercado, de controle do Estado e da ideologia, entrelaçados de modo a garantir a hegemonia da classe dominante, conforme descreveu Flavio Villaça ao analisar a perpetuação da segregação espacial urbana (VILLAÇA, 2001: 35). A manutenção da segregação tanto espacial, como apontada por Villaça, quanto social, pressupõe condições fortemente desequilibradas nas negociações de acesso às riquezas produzidas social e coletivamente. Em circunstâncias de extrema desigualdade nestas negociações, com o completo ocultamento das tensões envolvidas, sequer percebidas pelo lado mais fraco, há uma adequação metafórica do termo “fascismo”, proposto por Santos e ora alargado para o que denominamos “fascismo simbólico”. A produção de sentidos, sob esta ótica, é totalmente regulada pela lógica do mercado, do lucro, do consumo e do individualismo, construídos ao mesmo tempo em que qualquer outra forma de cultura é destruída, seja pelo seu silenciamento, seja pela sua distorção e categorização como inferior ou perigosa. Deste modo, são naturalizadas diversas formas de preconceito cujo efeito devastador são as violências cotidianas sofridas pelos grupos objetos usuais desta construção simbólica tais como pobres, negros, homossexuais, entre outros. O racismo, por exemplo, atravessa a vida e a obra do hiphopper carioca MV Bill. Entre os diversos episódios narrados em entrevista à revista Caros Amigos, Bill conta do lançamento de seu livro, em co-autoria com Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares Cabeça de Porco (2005), na Bienal de São Paulo. Naquela ocasião, descreve a reportagem, por três vezes organizadores do evento dirigiram-se a um branco que estava ao lado de Bill, como se aquele fosse o escritor. Bill sorria, pois isso acontece com freqüência: ‘Pra eles, sou no máximo um segurança’. Duro de engolir, mas é a verdade. Até a curadora do evento achou que Bill fosse o branco (CAROS AMIGOS, 2005: 08)

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