Parecer Técnico de Avaliação para tombamento do Cemitério dos Caboclos Paiçandu-PR

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Parecer Técnico nº. 01/2020 - Comissão Especial para avaliação de tombamento do Cemitério dos Caboclos.

Prefeitura Municipal de Paiçandu.

Texto: Luciano Scuissatto da Cruz.

Equipe técnica: Laís Marjorie Tessaro Samária Crystiane Bicalho de Castro Luciano Scuissatto da Cruz.

Revisão: Aline Santos Conceição

Paiçandu - PR, 2020.

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Sumário Introdução -------------------------------------------------------------------------------------- 3 Histórico ------------------------------------------------------------------------------------------- 3 Os Sutis Caboclos.----------------------------------------------------------------------------- 4 O Cemitérios dos Caboclos -------------------------------------------------------- 7 Imagens Localização Geográfica.----------------------------------------------------------- 9 Imagens do Cemitério dos Caboclos.--------------------------------------------------- 12 Referencias Bibliográficas:------------------------------------------------------------------ 14

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INTRODUÇÃO O presente Parecer Técnico objetiva a criação de subsídios para Tombamento e preservação do Sítio Arqueológico “Cemitério dos Caboclos”.

Construído na altura do KM 157, à beira da PR 323, o local se consolidou como um dos mais importantes monumentos históricos do município de Paiçandu e de seu distrito Água Boa. Reconhecido por todos os moradores do município, o local preserva a memória e as origens da nossa região, de famílias e histórias que ainda são contadas. Acima de tudo, preserva a história de um povo, àqueles que foram os primeiros a andar por essas terras e que precisam ter suas histórias memorias resgatadas e valorizadas.

Desta forma, pretendemos, a partir deste documento, apresentar informações que contribuam para o melhor conhecimento do espaço, reconhecendo seu valor histórico, simbólico, destacando a relevância da sua preservação, e contribuindo para sua valorização.

Tendo em vista as impactantes obras que estão acontecendo ao seu entorno, o tombamento e trabalho para sua preservação se tornam urgentes e imprescindíveis.

HISTÓRICO A história de nossa formação social é marcada pela incorporação de diversos povos, etnias e culturas; no estado do Paraná, tal característica se apresenta de forma mais evidenciada, pois as políticas de incentivo à criação de novas cidades, que foram implementadas a partir segunda metade do século XIX, contribuíram diretamente para chegada de imigrantes de todas as partes do Brasil e, de forma mais específica, para formação do município de Paiçandu.

O município teve sua fundação em 19 de novembro de 1961, através da Lei estadual N° 4245 de 25 de julho de 1960, e há décadas anteriores à sua 3

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emancipação política, a região já contava com a presença de diversas famílias, quais se instalaram no processo de colonização implementado pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná.

Os primeiros relatos sobre o Cemitério dos Caboclos datam da década de 1930 e 1940, sendo o local utilizado para sepultamento dos moradores da região nessa época, conforme entrevista realizada pela professora Nadir Alves1 com a senhora Joana da Costa Bolognesi, moradora do distrito de Água Boa: Nadir Alves - A senhora teve alguém da sua família sepultado no cemitério?

Joana da Costa Bolognesi -- Sim, eu tenho dois irmãozinhos. Mas eles eram assim, "fora de tempo" sabe (prematuros). Mas foram sepultados lá.

Nadar Alves -- Onde eles foram sepultados?

Joana da Costa Bolognesi -- Um ficou bem lá no fim do cemitério. O outro bem ali na pedra grande da entrada. Ali perto tinha uma árvore que depois eles arrancaram quando construíram a estrada.

Nadir Alves -- A senhora lembra se quando eles construíram a estrada os corpos foram retirados ali do local? .

Joana da Costa Bolognesi-- Não foi tirado nada. Por que quando a gente veio pra cá não tinha cemitério em Maringá. AÍ o povo enterrava ali mesmo sem documento nem nada. Quando a gente veio tinha só um "cobertinho" de palmito ali. O cemitério já era todo cheio de gente.

AÍ eles enterravam as pessoas tudo sem caixão. Os caixõezinhos de crianças ficavam tudo ali. E as pessoas de idade já eram enterradas e direto sem nada na terra. (SAPIENZA, 2014, p.272).

Não é possível precisar a data de construção do Cemitério dos Caboclos, o que se sabe é que fora construído muito antes da data de fundação do município de Paiçandu, sendo os primeiros moradores aqueles que vieram com incentivos da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, já relatavam sua existência, e que o local sempre foi uma referência para toda a região.

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Nadir Alves, jornalista e professora do município de Paiçandu-PR, colaborou com a empresa Sapienza no processo de entrevistas para elaboração do relatório sobre duplicação da PR 323, com foco sobre importância cemitério dos caboclos.

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Os Sutis Caboclos.

Muito antes da chegada da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná e das famílias conhecidas como “pioneiras” essas terras já eram habitadas: os relatos históricos demonstram que nossa região foi local de moradia dos sutis, que ficaram conhecidos na cidade como os caboclos.

Os Sutis passaram por praticamente todas as regiões do estado do Paraná por serem hábeis construtores, produtores de alimentos e criação de animais. Há (sentido de existir) registros e vestígios consistentes do povo Sutil em todas regiões do Paraná, e em cidades próximas, tais como: Londrina, Apucarana, Itambé, Barbosa Ferraz, Cianorte, Paiçandu, Água Boa, entre outras.

Em Paiçandu, os relatos demonstram que por aqui fora estabelecida uma ampla e importante comunidade, que ficou reconhecida regionalmente devido ao Cemitério dos Caboclos.

No livro "Cianorte: Sua história contada pelos pioneiros” com autoria de Helena Cioffi, Irene Gimenes Praxedes, Izaura Varella, Wilma Mesquista, foi abordada a construção da cidade de Cianorte2 relata a relação com o povo sutil, intercambio entre as regiões e reconhecimento/importância do Cemitério dos Caboclos.

Tinha uma chácara que se chamava CEMITÉRIO DOS CABOCLOS, perto de Maringá. Lá eles faziam sepultamento diferente do sistema que conheço. Levavam o defunto no caixão, mas punham dentro da sepultura o corpo e caixão por cima. Era o costume. Onde tinha o cemitério havia um bruxo que morava.

Em direção ao cemitério tinha vários picadões que formavam um triangulo e que convergiam no cemitério. Eram vários grupos.

(CIOFFI, PRAXEDES, VARELLA & MESQUITA, 1995, p.48)

Os sutis Caboclos possuíam um modo específico de viver e prosperar, tinham uma relação de uso e extração de recursos da natureza, criavam 2

Elevado a município no ano e 1955, aproximadamente 67km de distancia de Paiçandu; Cianorte foi uma das cidades-polo para colonização da região, seu nome corresponde a uma sigla de referência à Companhia Melhoramentos Norte do Paraná.

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animais - com destaque especial a criação de porcos -, possuíam lavouras de milho, produziam farinha; apesar de seu isolamento e de terem suas casas no “meio da mata” os Sutis, se deslocavam por toda região do estado do Paraná e mantinham comércio com outros grupos sociais, compravam e vendiam produtos de sua subsistência.

Em ocasião do aniversário de 50 anos da cidade de Paiçandu, diversos moradores foram entrevistados, entre eles o senhor Luciano Contardi, à época com 86 anos. Quando questionado sobre a existência dos caboclos e como eles eram, relatou: Os Caboclos moravam em bando. Eles faziam os ranchinhos todos juntos e faziam a roça deles. Derrubavam o mato, plantavam abóbora, criavam porco solto. Tinha outro bando lá no Ribeirão Bandeirantes. Quando tinha festa eles iam todos juntos através das picadas abertas no mato. O caminho era até fundo de tanto cavalo que andava na trilha. Iam as mulheres na garupa e os homens na rédea. As festas duravam até 03 dias.

(PAIÇANDU, 2011, p.24)

Ainda, quando questionado sobre o Cemitério dos Caboclos: Já existia naquela época (1950) Ele chamava assim porque só se enterrava os caboclos. Quando Morria um caboclo, eles enrolavam o corpo em um lençol, amarravam numa vara e traziam pendurado nos cavalos. Eles abriam um pequeno buraco onde só cabia o corpo e puxava a terra por cima. Era aberto, não tinha cerca, não tinha nada para proteger. Para as crianças eles faziam uma caixinha de pau e enterravam do mesmo jeito.

Os sutis Caboclos tinham uma relação de uso da natureza e não de posse, por isso, são comuns relatos de deslocamento de toda comunidade para novas regiões, como nômades, que de forma cíclicas (ou safrista como eram chamados) usavam os recursos da natureza ao seu favor. (PAIÇANDU, 2011, p.24)

O processo de colonização implantado pela Companhia Melhoramento do Paraná, acometeu de forma determinante o povo sutil, pois o avanço da companhia significou remoção das famílias, vistos como “obstáculos ao

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progresso”, conforme relato de Celso Antonio Broetto3, presente no livro “Cianorte: Sua história contada pelos pioneiros”: Eu cheguei a ter contato com os SUTIS bem no início de Cianorte. A companhia tinha interesse em removê-los daqui porque a presença deles criava obstáculos à colonização da região de Japurá, local onde se encontravam. Uma ocasião, fomos com funcionários da companhia, com tropas de mulas, levar presentes, ferramentas, objetos, brinquedos a eles. O objetivo principal era tentar aplicar vacinas nos caboclos que ai moravam. (CIOFFI, PRAXEDES, VARELLA & MESQUITA, 1995)

O relato demonstra a percepção que os colonizadores e especificamente a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná tinha sobre os sutis, assim como as suas intenções de retirá-los de suas terras para assim avançar com as construções e loteamento do estado. Neste sentido, o povo sutil foi removido de suas casas e de suas terras, em diversos e diferentes momentos, o avanço da companhia significava a mudança dos sutis.

Não é possível consolidar o que efetivamente aconteceu com esse povo, partindo da constatação que na história oficial da construção do Estado do Paraná eles praticamente foram esquecidos, os registros oficiais pouco referenciam sua existência e contribuição no processo de formação social do estado do Paraná.

A história do povo Sutil e suas contribuições para a construção e formação do estado do Paraná precisar ser aprofundadas, no município de Paiçandu a mesma situação é necessária; quanto mais conhecermos a forma que o povo Sutil Caboclo viveu e prosperou em nossa cidade, mais teremos condições de nos conhecer e valorizar aqueles que primeiro tiveram a força de construir as bases de nossa cidade.

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Um dos pioneiros entrevistados para realização do livro, foi o primeiro funcionário do primeiro posto de saúde de Cianorte.

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CEMITERIOS DOS CABOCLOS. O Cemitério dos Caboclos está localizado as margens da PR323, na altura do KM 157, com coordenadas UTM 22K 389314/7402394; foi

registrado no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos CNSA – Iphan Processo/IPHAN: 01508.000380/20145 com a seguinte descrição:

CNSA PR01580 Nome do sítio: Cemitério dos Caboclos Outras designações e siglas:

CNSA: PR01580

Município: Paiçandu

UF: PR

Descrição sumária do sítio: Trata-se de um antigo cemitério, onde verificou-se uma construção quadrangular com gruta ao fundo, muros de pedra fixada com argamassa. Ao centro da estrutura verificou-se um círculo de pedra com argamassa e uma cruz de ferro.

É uma construção quadrangular de pedras sobreposta, com o tamanho aproximado de:

Comprimento: 11,55 m

Largura: 10,1m,

sem cobertura; Na entrada um caminho de pedra, no centro existe um círculo de pedra e uma cruz de ferro; ao fundo uma Gruta com armação de ferro e toda a estrutura está pintada na cor branca.

No atual contexto, o cemitério dos caboclos é um local ritualístico, principalmente para as religiões de matriz africana, sendo um importante local simbólico para realização de oferendas, ou despachos como são conhecidos.

A frequência e usos do local não se restringe aos moradores de Paiçandu e Água Boa, o cemitério recebe visita de pessoas de toda região, assim como no passado.

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Dados levantados pela empresa SAPIENZA Pesquisa e Gestão do Patrimônio Arqueológica – consta no documento “ Relatório Final - Diagnóstico e prospecção arqueológica na área de duplicação, restauração, manutenção, conservação e operação do corredor, PR 323, Entre Maringá e acesso Francisco Alves.

5 Documento original em ANEXO

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O local também mantém importância para diversas famílias da cidade de Paiçandu e Água boa. Existem muitos os relatos de sepultamentos no local de familiares, tendo em vista que durante certo período o mesmo era o único local para enterro.

Tendo em vista os levantamentos históricos, as diversas entrevistas realizadas, as histórias relatas ao longo dos anos, os usos históricos e atuais; e principalmente a importância e memória que toda população de Paiçandu e Água Boa tem referente ao espaço.

Diante do exposto, justifica-se seu tombamento por possibilitar a preservação, de um espaço, da nossa cultura, de nossa identidade, desta forma, a defesa de sua

preservação e seu tombamento,

é a

defesa de nossa história.

Imagens Localização Geográfica.

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Figura 1 - Imagem elaborada pela empresa SAPIENZA Arqueologia e Gestão do Patrimônio – Retiradas do Relatório Final - Diagnóstico e prospecção arqueológica na área de duplicação, restauração, manutenção, conservação e operação do corredor, PR 323.

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Figura 2 Imagem elaborada pela empresa SAPIENZA Arqueologia e Gestão do Patrimônio – Retiradas do Relatório Final - Diagnóstico e prospecção arqueológica na área de duplicação, restauração, manutenção, conservação e operação do corredor, PR 323.

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Figura 3Imagem elaborada pela empresa SAPIENZA Arqueologia e Gestão do Patrimônio – Retiradas do Relatório Final - Diagnóstico e prospecção arqueológica na área de duplicação, restauração, manutenção, conservação e operação do corredor, PR 323

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Imagens do Cemitério dos Caboclos.

Fotos por Luciano Scuissatto da cruz, em 05 de outubro de 2020.

Figura 4 - Detalhe vista frontal, lateral esquerda.

Figura 5 - Detalhe vista Gruta, Lateral esquerda.

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Figura 6 - Vista Frontal, Lateral direita.

Figura 7 - Detalhe vista Gruta pelo fundo.

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Referencias Bibliográficas: CIOFFI, Helena. Et AL. Cianorte: Sua história contada pelos pioneiros: Gráfica Ideal, 1995.

PAIÇANDU. Prefeitura Municipal de. Paiçandu 50 anos. Gráfica Caiuás. 2011.

SAPIENZA, Arqueologia e Gestão do Patrimônio.

Relatório Final -

Diagnóstico e prospecção arqueológica na área de duplicação, restauração, manutenção, conservação e operação do corredor, PR 323, Entre Maringá e acesso Francisco Alves. Relatório. Tubarão.

2014.

Comissão especial de avaliação Portaria N° 104/2020.

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