Livro o santo e a porca

Page 56

EURICÃO — Pra fora! Pra fora daqui, conversador! Que devoção foi essa que lhe deu de repente? Você pensa que me engana, mas eu sei quem você é! E agora você me paga! (Agarra-o pelo pescoço.) PINHÃO — Mas afinal, que diabo é isso? A todo instante é pancada, esbregue, bofete, o diabo! Que diabo o senhor tem? EURICÃO — O que é que tenho, é? E o que é que você tem com isso, seu ladrão? PINHÃO — Mas ladrão por quê? O que foi que eu roubei? EURICÃO — Bote já aí, ponha já aí! PINHÃO — O senhor pensa que eu sou alguma galinha? O que é que eu posso botar, o que é que eu posso pôr, o que é que o senhor quer? EURICÃO — (Irônico.) Você não sabe! PINHÃO — Como é que eu posso saber, se não tirei nada? EURICÃO — Você não tirou porque não pôde. Mas tenho certeza de que você tem. Que é isso? Está com as mãos para trás? Mostre a mão direita! PINHÃO — Veja. EURICÃO — Agora, a esquerda. PINHÃO — Veja. EURICÃO — Mostrou a primeira? PINHÃO — Mostrei. EURICÃO — E a segunda? PINHÃO — Mostrei. EURICÃO — Mostre a terceira. PINHÃO — O senhor está é doido! EURICÃO — Estou mesmo, porque o que eu devia era ter lhe dado um tiro! E é o que hei de fazer se você não confessar! PINHÃO — Mas confessar o quê? EURICÃO — Que foi que você tirou daqui? PINHÃO — Santo Antônio me cegue se eu tirei alguma coisa! EURICÃO — Sacuda o paletó. PINHÃO — À vontade. EURICÃO — E capaz de estar no fundo das calças. 56

O SANTO E A PORCA - ARIANO SUASSUNA


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.