Revista rota do som

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01 ano 1

março 2014

Editora SONATA

Rádio MEC à beira da extinção?

Lixão recupera sonhos de

Crianças Paraguaias Você sabe o que é um e o que faz?

Luthier

12 34 56 78 91 01 91 MARÇO 2014 nº 01R

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A música na era

VARGAS

2 014 $ 21,00

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EDITORIAL

Prezado Leitor

Um instrumento musical é um objecto, ou objeto, construído com o propósito de produzir música. Os vários tipos de instrumentos podem ser classificados de diversas formas, sendo uma das mais comuns, a divisão de acordo com a forma pela qual o som é produzido. O estudo dos instrumentos musicais designa-se pororganologia. A data e a origem do primeiro aparelho considerado como instrumento musical é objecto de debates. Arqueologistas tendem a debater o assunto referindo a validade de várias evidências como artefactos e trabalhos culturais. Instrumentista é aquele músico que toca algum instrumento. Observação: Pode soar estranho mas, na verdade, nem todo músico é um instrumentista (também chamado de concertista, na música erudita). Alguns músicos seguem uma carreira sem tocar instrumento algum, como a de: Bibliotecário; Terapia Musical;Engenheiro de Som; Produtor Musical; Historiador; Educação Musical; Direito Musical; Jornalismo em Música;Empresário Musical; Disc ou Video Jockey; Diretor de Programação; Designer de Software ou Hardware de Música; Musicologia; Musicografia; até mesmo o Compositor pode saber tudo sobre os instrumentos, mas não tocar nada; Estes não são intérpretes, mas os maiores estudiosos acadêmicos do campo de Música, noutras especializações. Em princípio, qualquer objeto pode ser usado para produzir sons e utilizado na música, mas costumase utilizar este termo para designar objetos feitos especificamente com este objetivo. Isso se deve ao fato de que, em um instrumento musical, é possível controlar com mais precisão as características do som produzido. Em geral considera-se um som como musical quando podemos controlar uma ou mais de suas características: timbre, altura (grave, médio e agudo),duração (do som e/ ou do silêncio) e intensidade.

Expediente: Direção Geral: Mxxxx Lxxxx Tavares de Lxxx

Edição: Naaaaaaa Daaaaa Comercial: Sxxxxxx Bxxxxxx de Queiroz jornalista Responsável: Naxxxxxx Dxxxxx Revisão: Mxxxx Lxxxx Txxxxxx de Lxxx Projeto Gráfico: LucD’Frei Designers Diagramação: LucD”Frei Designers Foto da Capa: Stúdio DEC Imagens Impressão: Gráfica MaxPrint

Editora Sonata Av. Desembargador Moreira, 21 Empresarial Partenon Aldeota Fortaleza - CE CEP: 50.000-000

A ROTA DO SOM consciente das questões ambientais e sociais utiliza papéis com certificação FSC (Forest Stewardship Council) na impressão deste material. A certificação FSC garante que uma matéria prima florestal provenha de um manejo mconsiderado social, ambiental e economicamente adequado e outras fontes controladas. Impresso Paper Gráfica Ltda. certificada na cadeia de custódia - FSC.

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Sumário

01 ano 1

março 2014

Editora SONATA

Rádio MEC à beira da extinção?

Lixão recupera sonhos de

12 Rádio MEC Comunidade reunem-se na tentativa de salvar a Rádio MEC.

Crianças Paraguaias Você sabe o que é um e o que faz?

Luthier

1 234 567 891 019 MARÇO 2014 nº 01

A música na era

VARGAS

2 0141 R$ 21 00

04 Profissão Saiba o que é um Luthier e onde encontrar um na capital Pernambucana.

05 Instrumentos Recurso natural, a madeira é usada como inclusão social.

08 Coros Meninos cantores de Petrópolis fazendo da música uma profissão.

09 O encanto da música A conexão com a música toca o íntimo das pessoas, inclusive com comprovação científica.

16 Era Vargas O comportamento da música popular no segundo governo de Getúlio Vargas

14 Instrumentos do lixão Lixão alimenta os sonhos de crianças da periferia.

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Profissão

Você sabe o que é um Luthier? O que faz? E a origem da palavra?

L

uthier é uma palavra de origem francesa, que significa “fabricante de alaúde”.Com o passar do tempo, a palavra passou a designar a profissão de todo aquele que constrói um instrumento musical, apesar de muitos não concordarem com esse uso genérico, achando que ela deve ser associada apenas aos que fabricam artesanalmente instrumentos de corda. o Brasil o profissional que conserta instrumentos musicais também é chamado de luthier, mesmo não fabricando nehum tipo de instrumento. Na verdade a luteria é uma arte que agrega conhecimentos de outras artes, marchetaria, marcenaria, desenho, química, pintura, matemática, eletrônica, etc. Um bom luthier deverá ainda, dominar várias técnicas de construção do instrumento.

N

Quem deseja comprar um instrumento feito pelas mãos de um luthier precisa considerar que irá investir em um produto diferenciado. O acabamento especial e a utilização de materiais que dão mais conforto ao instrumentista são apenas alguns dos motivos que acabam diferenciando os instrumentos de alto padrão. Sobretudo, o luthier trabalha para que o instrumento produza os melhores timbres possíveis.

Onde encontrar um... 1 - APRENDA MÚSICA EM CASA

Av Dantas Barreto, 1336 São José Recife, PE | CEP: 50020-000 (81) 3224-9332 Instrumentos Musicais e Artigos - Lojas 2- ARAÚJO E BRANDÃO COM E SERVIÇOS Rua Frei Caneca, 59 Santo Antônio Recife, PE | CEP: 50010-912 (81) 3224-1299 Instrumentos Musicais e Artigos - Lojas 3- BAND MUSIC Rua Concórdia, 275 São José Recife, PE | CEP: 50020-050 (81) 3224-2015 Instrumentos Musicais e Artigos - Lojas 4 - BRITO, MARCO C O Rua Cruzeiro Forte, 574 Boa Viagem Recife, PE | CEP: 51030-620 (81) 3461-2686 Instrumentos Musicais e Artigos - Atacado e fabricação 5 - CASA DOS MÚSICOS Rua Palma, 417 São José Recife, PE | CEP: 50020-040 (81) 3224-1369 Instrumentos Musicais e Artigos - Lojas 6 - CLAVE INSTRUMENTOS MUSICAIS E ACESSÓRIOS Rua Concórdia, 382 São José Recife, PE | CEP: 50020-050 (81) 8859-3894 Som - Aparelhos, artigos e equipamentos - Conserto 7 - CLÍNICA DE INSTRUMENTOS MUSICAIS Av Sul, 138 São José Recife, PE | CEP: 50090-010 (81) 3424-7233 Instrumentos Musicais - Conserto 8 - COMÉRCIO DE APARELHOS MUSICAIS LTDA Rua Concórdia, 327 São José Recife, PE | CEP: 50020-050 (81) 3224-9901 Instrumentos Musicais e Artigos - Atacado e fabricação

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Ecológia

OS VIOLÕESda floresta Exemplo de casamento ideal, a união do conhecimento científico com o saber popular está promovendo um salto na qualidade de vida de algumas famílias da região Amazônica.

Acostumado à vida palaciana, o herdeiro do trono inglês, príncipe Charles, em visita ao Brasil em 2009, teve a chance de conhecer um local bem diferente: uma escola no bairro proletário de Zumbi II, na periferia de Manaus, Amazonas. Muito além de mero protocolo ou de simples curiosidade, o príncipe estava lá para ver de perto um projeto pioneiro, a Oficina Escola de Lutheria do Amazonas (OELA). Fundador e dirigente do Prince’s Rainforest Project, iniciativa dedicada à proteção das florestas tropicais do mundo, Charles estava no lugar certo. A OELA é uma organização não governamental que agrega várias ações em seu projeto, especialmente de caráter ambiental, social e educacional, e tem como atividade central o ensino da luteria - fabricação de instrumentos de cordas – a jovens de baixa renda, utilizando apenas resíduos de madeiras certificadas da Amazônia. Foi esse conjunto de atividades integradas que levou a entidade a vencer a etapa nacional do Prêmio FINEP de Inovação 2010, na categoria Tecnologia Social, a primeira vez que a região Norte foi contemplada com o troféu nacional. “Vencer foi uma grata satisfação. É muito estimulante ver que todo o nosso esforço foi reconhecido”, diz Rubens Gomes, fundador e diretor da organização. Durante o curso, com duração de um ano, os alunos da escola têm aulas de luteria, iniciação musical, informática e responsabilidade ambiental. Meninos e meninas entre 15 e 21 anos, em vez de desperdiçar seu tempo livre nas ruas, têm a chance de aprender um ofício e entender a importância da região onde vivem. As únicas exigências para ser aluno da OELA são ter entre 15 e 21 anos, ser de família de baixa renda e estar cursando ou ter concluído curso escolar, de acordo com sua faixa etária. A abordagem para captação de alunos novos é feita em escolas das redes municipal e estadual. bairro proletário de Zumbi II, na periferia de Manaus, Amazonas. Muito além de mero protocolo ou de simples curiosidade, o príncipe estava lá para ver de perto um projeto pioneiro, a Oficina Escola de Lutheria do Amazonas (OELA). Fundador e dirigente do Prince’s Rainforest Project, iniciativa dedicada à proteção das florestas tropicais do mundo, Charles estava no lugar certo. A OELA é uma organização não governamental que agrega várias  5 - ROTA DO SOM - 1ª EDIÇÃO

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Ecológia

A turma de aprendizes de luthiers do bairro de Zumbi II, em Manaus, que se formou em 2010

Mas a melhor divulgação do projeto é o boca a boca. “Eu só ficava na rua soltando papagaio ou não fazia nada mesmo. Depois que entrei aqui, até as minhas notas na escola melhoraram”, diz Maicon dos Santos Lima, formado em dezembro de 2010. No final de 12 meses, os jovens estão capacitados como aprendizes de luthier palavra francesa para designar o profissional que fabrica instrumentos de corda de ressonância, como violões, violas e cavaquinhos. As aulas acontecem três dias por semana, quatro horas por dia. O trabalho de conclusão de curso é a manufatura de um instrumento, que não fica com o aluno: é destinado à doação. Alguns seguem a profissão, após se especializarem; outros passam a viver como professores; já outros abandonam o ofício. Mas o que se mantém em todos é o fato de terem sido incluídos socialmente. “A sociedade brasileira, mesmo a que vive na Amazônia, está de costas para a floresta, de maneira alienada. As formas de produção são do século XIX, com baixo desempenho, nível tecnológico mínimo e altíssimo desperdício.

É inaceitável essa forma predatória em pleno século XXI”, afirma Rubens Gomes. Formado em música, inicialmente autodidata em luteria, Rubens especializouse nessa técnica na antiga fábrica de pianos Essenfeder, em Curitiba (PR) e depois na Fundação de Ensino Superior de São João Del Rei (FUNREI – MG). A inquietação de Rubens vem desde sua infância no Amapá, quando bservava a rápida degradação das montanhas de seu estado natal, devido à extração do manganês. Mais tarde, no Acre, Rubens iniciou um projeto de criação de um atelier dentro de uma casa de detenção para adolescentes delinquentes. No final dos anos 1990, já professor de luteria na Universidade Federal do Amazonas, decidiu iniciar um movimento no então violentíssimo bairro de Zumbi II. O local era dominado por gangues autointituladas “galeras”, nas quais drogas e conflitos armados eram a regra. Rubens então promoveu a criação de uma “galera positiva”, o embrião da OELA. Na mesma ocasião, deixava seu cargo na universidade e dedicava-se exclusivamente ao novo projeto.

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Ecológia

Madeira certificada Todo o conceito da OELA é baseado na manutenção de uma cadeia produtiva de base sustentável. Os instrumentos são fabricados apenas com madeira certificada da Amazônia. Por enquanto, a matéria-prima tilizada vem de doações da empresa Mil Madeireira, até ser organizada e capacitada para o manejo florestal familiar a comunidade ribeirinha do Aninga, do município de Boa Vista do Ramos, a 18 horas de barco da capital. Lá, os moradores contam com orientação de uma técnica florestal, que mora no local. As madeiras, de espécies não nobres e não ameaçadas, têm certificação internacional do FSC ( igla em inglês de Conselho de Manejo Florestal), organização não governamental e sem fins lucrativos, que tem como objetivo principal promover o manejo e a certificação florestal. Vinte e seis famílias estão em processo de treinamento e três delas já estão certificadas. “Procuramos somar o conhecimento científico com o saber popular dos moradores”, afirma Rubens. Morador de município, Francisco Moreira Valente participa do projeto desde o início: “ Aprendemos a conviver melhor com a natureza. Antes, a gente chegava a qualquer ponto de mata, retirava as madeiras que serviam, cortava e pronto. Hoje temos responsabilidade e técnica”, explica. Os moradores locais não só passaram a lidar com o ambiente onde vivem de maneira mais harmoniosa, mas também tiveram sua mão de obra mais valorizada: a diária de trabalho aumentou em mais de 100% em 12 anos. As comunidades da região vivem basica mente de plantio de roça de subsistência, comércio de guaraná e de madeira. Rubens esclarece que o problema da floresta não é o extrativismo em si, mas a forma como tem sido feito. “Mais de 2/3 de uma tora extraída sem cuidados se

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transforma em resíduo, por exemplo. Falta educação consciência e vontade pública para vencer o problema de como lidar com esta riqueza de modo equilibrado”, afirma. Daí o diferencial importante das comunidades que já trabalham com o manejo equilibrado, como as Rubens Gomes, fundador e diretor da ONG, no depósito de madeira certificada do atelier OELA.ww

Rubens Gomes, fundador e diretor da ONG, no depósito de madeira certificada do atelier OELA

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Oportunidade

Pela música,

uma possibilidade de futuro Quando se pensa em um grupo de mais de cem crianças é fácil imaginar risadas altas, gritos animados, muita bagunça e correria. No entanto, no Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis (IMCP), o que domina o ambiente é o som de flautas, piano e vozes muito afinadas. Sem deixar de lado as brincadeiras, essas crianças e jovens de 8 a 19 anos dedicam-se a um vasto repertório musical, que vai da música sacra à popular brasileira. O processo de seleção é rigoroso, mas compensador: boa formação, amparo social e participação em turnês internacionais, que lhes proporcionam experiências inéditas e a perspectiva de qualificação profissional no mundo da música. e dirigente do Prince’s Rainforest Project, iniciativa dedicada à proteção das florestas tropicais do mundo, Charles estava no lugar certo. A OELA é uma organização não governamental que agrega várias. O próximo passo é seleção para novos aprendizes. A professora de canto reúne todos os candidatos a cantores em uma fila silenciosa, porém agitada, antes de levar as crianças aos andares superiores onde aí terão aulas três vezes por semana.

A SELEÇÃO Todos os anos, durante os meses de agosto e setembro, crianças entre oito e nove anos são testadas para ingressar no curso dos aprendizes. Durante um ano, os selecionados estudam canto, teoria musical, ritmo, leitura de partituras e flauta doce. Ao final do curso, os mais talentosos são escolhidos para integrar o Coral dos Canarinhos de Petrópolis e o Coral das Meninas dos Canarinhos de Petrópolis, onde continuam sua formação musical. Desde os primeiros meses de estudo, os alunos e cantores são acompanhados de perto pela professora de técnica vocal, Cláudia Ribeiro. O coro dos meninos foi fundado em 1942 pelo frei alemão Leto Bienias e, assim como o coral das meninas, fundado em 1988, é instrumento de inclusão social. O IMCP atende a mais de 150 crianças e adolescentes, a maioria vindas da rede pública de ensino. Além de receberem excelente formação musical gratuita, os alunos não precisam pagar nenhuma despesa em turnês e também recebem alimentação (nos dias de atividade), uniformes, material didático e seguro de vida e saúde. Ao chegar ao ensino médio, os cantores dos dois coros têm direito a uma bolsa de 50% na mensalidade do colégio particular Bom Jesus Canarinhos, que leva o nome do coro embora seja uma instituição independente. Em 2010, 17 novas crianças entraram nos coros: 10 meninas e sete meninos. O dever principal dos dois coros é cantar em cultos católicos, por isso a cerimônia de acolhimento dos novatos é sempre realizada na Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Petrópolis. As crianças recebem as boas-vindas dos maestros Marcelo Vizani Calazans e Marco Aurélio Lischt e passam a usar suas vestes oficialmente.  8 - ROTA DO SOM - 1ª EDIÇÃO

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Comportamento

Encantos da música Novas pesquisas explicam o poder dos sons sobre o que sentimos e os benefícios para o bem-estar físico e mental; entre seus efeitos estão o favorecimento da coesão social e de conexões empáticas entre os membros de um grupo

Passei alguns dos momentos mais emocionantes de minha vida conectada à música. Na Faculdade, meus olhos frequentemente se enchiam d’água durante os ensaios do coral duas vezes por semana. Eu me sentia relaxada e em paz, mas, ainda assim, excitada e alegre e, ocasionalmente, a emoção era tanta que sentia uma espécie de arrepio. E me sentia ligada aos meus companheiros de música de uma maneira que não acontecia com amigos que não cantavam comigo. Frequentemente, eu me questionava por que sons melodiosos desencadeavam tais sentimentos e sensações. Filósofos e biólogos têm feito essa mesma pergunta por séculos, considerando que os

humanos são atraídos de forma universal para a música. Ela nos consola, anima, marca momentos especiais e favorece a criação de laços – mesmo não sendo necessária para a sobrevivência ou a reprodução. Cientistas já concluíram que a influência da música pode ser um evento casual, que surge de sua

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capacidade de mobilizar sistemas do cérebro que foram constituídos com outros objetivos – como dar conta da linguagem, da emoção e do movimento. Em seu livro Como a mente funciona(Companhia das Letras, 1998), o psicólogo Steven Pinker, da Universidade Harvard, compara a música a uma “guloseima auditiva”, feita para “pinicar” áreas cerebrais envolvidas em funções importantes. Mas, como resultado desse acaso, os sons harmoniosos oferecem um novo sistema de comunicação, com base mais em percepções sutis que em significados. Pesquisas recentes mostram, por exemplo, que a música conduz certas emoções de forma consistente: o que sentimos ao ouvir algumas canções e melodias é bastante similar ao que todas as outras pessoas na mesma sala sentem. Evidências também indicam que a música faz aflorar respostas previsíveis em pessoas de culturas diversas, com capacidades intelectuais e sensoriais variadas.

Até mesmo recém-nascidos e adultos com cognição prejudicada apreciam a musicalidade. “A música parece ser a forma mais direta de comunicação emocional, uma parte importante da vida humana, como a linguagem e os gestos”, afirma o neurologista Oliver Sacks, da Universidade Colúmbia, autor de Alucinações musicais – Relatos sobre a música e o cérebro (Companhia das Letras, 2007) e Musicofilia (Relógio D’água, 2008). Tais comunicações fornecem um meio para as pessoas se conectar emocionalmente e, assim, reforçar os vínculos que são a base da formação das sociedades humanas – o que certamente favorece a sobrevivência. Ritmos podem facilitar interações sociais, como marchar ou dançar juntos, solidificando relações. Além disso, os tons nos afetam individualmente manipulando nosso humor e, até mesmo, a psicologia humana de forma mais efetiva do que palavras – para excitar, energizar, acalmar  9 - ROTA DO SOM - 1ª EDIÇÃO

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Comportamento

Desde a década de 50, muitos psicólogos tentaram explicar o poder da música, comparando a apreciação musical com a fala. Afinal, tanto para o entendimento da música quanto do discurso é necessária a capacidade de detectar sons, em seu nível mais primitivo. O córtex cerebral auditivo é reconhecido hoje como responsável pelo processamento dos elementos musicais mais básicos como a altura (frequência de uma nota) e volume; as áreas auditivas secundárias vizinhas digerem padrões musicais mais complexos, como harmonia e ritmo. Além disso, tanto a música quanto a linguagem contêm uma gramática que as organiza em componentes menores, como palavras e acordes, frases feitas de prosódia (a linha melodiosa da fala), tensão e resolução. De fato, a música excita regiões cerebrais responsáveis pelo entendimento e pela produção da linguagem, incluindo a área de Broca e a de Wernicke, ambas localizadas no hemisfério esquerdo, na superfície do cérebro. (Embora a maioria das pessoas processe a linguagem principalmente no hemisfério esquerdo, mas codifique aspectos da musicalidade em regiões análogas no direito.) Sendo assim, a sintaxe musical – a ordem de acordes

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numa frase, por exemplo – poderia levar ao aparecimento de mecanismos ligados à organização e ao entendimento da gramática. Mas os tons recrutam outros sistemas cerebrais – principalmente os que governam as emoções como medo, alegria e tristeza. Por exemplo, danos à amígdala prejudicam a capacidade de sentir temor e tristeza em resposta à música. “Há uma grande possibilidade de que a música seja simplesmente um efeito colateral de sistemas que evoluíram por outros motivos”, diz o cientista auditivo Josh McDermott, da Universidade de Nova York. A ativação simultânea que a música causa em diversos circuitos neurais parece produzir efeitos notáveis. Em vez de facilitar um diálogo amplamente semântico, como faz a linguagem, a melodia media a comunicação emotiva. Quando um compositor escreve uma lamentação, ou pancadas com ritmo empolgante, revela não só seu estado emocional, mas faz com que os ouvintes sintam o mesmo. Diversas pesquisas indicam que a música conduz a emoção pretendida para aqueles que a escutam. No final dos anos 90, a neurocientista Isabelle Peretz e seus colegas da Universidade de Montreal, no Canadá, descobriram que ouvintes do Ocidente concordam, universalmente, sobre o fato de uma música que usa elementos

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Comportamento

tônicos ocidentais ser alegre, triste, assustadora ou tranquilizante.

O conteúdo emocional da música pode ser culturalmente transparente. No ano passado, o neurocientista Tom Fritz, do Instituto Max Planck para Cognição Humana e Ciências Cerebrais, em Lípsia, Alemanha, e seus colegas expuseram membros do grupo étnico Mafa, de Camarões, que nunca haviam ouvido música ocidental, a trechos de peças clássicas de piano. Os pesquisadores descobriram que os adultos que apreciaram essas obras identificavam-nas como animadas, melancólicas ou capazes de causar medo, da mesma maneira que os ocidentais fariam. Logo, a capacidade de uma música de transmitir determinada emoção particular não depende, necessariamente, de uma base cultural. A língua musical também pode transcender barreiras de comunicação mais fundamentais. Em estudos conduzidos na última década, a psicóloga cognitiva Pam Heaton, da Universidade de Londres, no Reino Unido, tocou musicas para crianças autistas e não autistas, comparando aquelas com habilidades linguísticas semelhantes. Os pesquisadores que participavam da equipe coordenada por Heaton pediram às crianças para fazer associações entre música e emoções. Nos estudos iniciais, as crianças deveriam simplesmente escolher entre alegre e triste. Em

estudos posteriores foi introduzida uma gama de emoções complexas, como triunfo, contentamento e raiva. Os cientistas descobriram então que a capacidade das crianças de identificar esses sentimentos independia de seu diagnóstico. Autistas ou não, com habilidades lingüísticas semelhantes, foram igualmente bem, indicando que a música pode conduzir consistentemente sentimentos, até mesmo em pessoas com a habilidade severamente comprometida para lidar com pistas socioemocionais, como expressões faciais, por exemplo.

Recentemente, em um experimento bastante interessante, o pesquisador Roberto Bresin e seus colegas, do Instituto Real de Tecnologia, em Estocolmo, na Suécia, confirmaram a ideia de que a música é uma linguagem universal. Em vez de pedir aos voluntários para fazer julgamentos subjetivos sobre uma canção, solicitaram que manipulassem a música – em particular seu tempo, volume e frases – para enfatizar uma dada emoção. Para as peças alegres, por exemplo, o participante deveria ajustar a escala, de forma que soasse o mais feliz possível; depois, o mais triste, assustadora, tranquilizadora e por fim, neutra. Os cientistas descobriram que todos os voluntários especialistas em música e, em outro estudo similar, crianças de 7 anos alteravam da mesma forma o tempo, para arrancar de cada música a emoção pretendida. Essa descoberta, que Bresin apresentou em 2008 na III Conferência de Neuromúsica em Montreal, no Canadá, dá a ideia de que a música contém informações que deflagram resposta emocional específica no cérebro, independentemente da personalidade, gosto ou treinamento. Ou seja: a música pode de fato constituir uma forma única de comunicação. Estudos mostram também que quando as pessoas ouvem música, as regiões motoras do cérebro se ativam – provavelmente com o propósito de processar o ritmo. Esse processo inclui regiões pré-motoras, que preparam uma pessoa para a ação, e o cerebelo, que coordena o movimento físico.  11 - ROTA DO SOM - 1ª EDIÇÃO

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Comunidade

Ouvintes se mobilizam para salvar a Rádio MEC

Entidade reivindica que emissoras mais antigas do país, e que passa por um processo de sucateamento, volte a ser administrada pelo Ministério da Educação

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Comunidade

Rádio MEC à beira da extinção? fonte | A A A

A Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC (SOARMCE) aprovou proposta em assembléia reivindicando que a Rádio MEC volte a ser administrada pelo Ministério da Educação, órgão ao qual originalmente pertencia. Os integrantes da entidade acusam a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) de promover “em desmonte” da rádio de música clássica. Empregados e ex-funcionários pretendem recorrer à Justiça e ao Ministério Público do Trabalho (MPT) para garantir a volta ao antigo endereço. Para agravar a situação a emissora teve sua sede interditada em março deste ano, depois de um laudo do MP. Com isto, houve transferência para a sede da EBC, na Avenida Gomes Freire, no Centro. Alguns dos profissionais acusam a diretoria da EBC de “sugerirem” demissão voluntária para que sejam recontratados como pessoa jurídica e informaram que também pretendem buscar a Justiça. VÍTIMA DE SUCATEAMENTO A situação da emissora mais antiga do país foi revelada pelo DIA em maio deste ano. A Rádio MEC tem sido sucateada pelo poder público e está miguando, correndo o risco de ser extinta. O golpe mais recente foi dado em 25 de outubro, quando tiraram do ar o programa “Sala de Concerto”. Os profissionais estão sendo dispensados desde janeiro de 2012. Responsável pela manutenção da rádio, a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP), é quem cumpre o processo de “enxugamento”.

Por que isso é importante A RÁDIO MEC É PARTE IMPORTANTE NA CULTURA DO RIO DE JANEIRO. ELA FOI DOADA POR ROQUETTE PINTO AO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, E NESSE MOMENTO ESTÁ SENDO DESMANTELADA SEM QUALQUER EXPLICAÇÃO E VÁRIOS IMPORTANTES FUNCIONÁRIO JÁ FORAM DEMITIDOS. E TAMBÉM QUEREMOS A DEVOLUÇÃO DO PRÉDIO DA RÁDIO QUE É PATRIMÔNIO CARIOCA.

A Rádio MEC, é uma das poucas emissoras do Brasil com programação de música clássica

PETIÇÃO

3 MIL

--------------------------------------------Uma petiçãopara salvar a Rádio MEC já angariou mais de 3 mil assinaturas. O documento está disponível no site Avaaz e pode ser acessado por qualquer pessoa que queira contribuir com a causa da emissora  13 - ROTA DO SOM - 1ª EDIÇÃO

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Reciclagem

LIXÃO

recupera sonhos de crianças paraguaias Conheça a Orquestra de Reciclados de Cateura e a batuta mágica de um maestro fazedor de sonhos

Um lugar de lixo, pestilência e mau cheiro. Quem mora no centro de Assunção jamais iria ao bairro de Cateura. O que pode ser mais inusitado do que “Garota de Ipanema” sair justamente daqui? “É um som que me acalma. Se vou pra cama, durmo que só!”, conta a vendedora ambulante Victoria Ortiz. “Eu e minha família choramos de emoção. Os vizinhos correm à rua para ouvir”, diz a catadora de lixo Mirian Cardozo. “New York, New York” emana dos detritos de Cateura. E pelos caminhos do lixo, jovens aparecem empunhando estranhos instrumentos musicais. “As pessoas não sabem o que levo nas costas”, diz Brandon Aranda, de 16 anos. Brandon toca Beethoven no que parece ser um contrabaixo. Fantástico: Você já conhecia música clássica? Brandon: Não. Fantástico: Beethoven, Mozart? Brandon: Não, não conhecia.  14 - ROTA DO SOM - 1ª EDIÇÃO

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A nota grave sai de dentro de um tonel de óleo. “As pessoas pensam que barril velho não serve para nada. Mas para nós, serve.” O responsável por tirar música de sucata é Fávio Chavez. Ele é técnico ambiental de uma fundação e foi trabalhar em Cateura, onde fica o lixão da capital do Paraguai. Cinco mil famílias sobrevivem catando lixo num imenso aterro. “A metade das 25 mil pessoas que vivem em Cateura são crianças”, diz Fávio. “Crianças de 11 ou 12 anos que aprendem a ser pais e mães de seus irmãos menores”. Como também é músico amador, Fávio resolveu ensinar o que sabe a quem quisesse aprender. Mas com que instrumentos, se um bom violino custa US$ 300? “Todo violino tem uma parte da frente e uma parte de trás. No meu violino, a parte da frente é uma lata de tinta. E a parte de trás é uma assadeira de pão”, mostra Ada, de 14 anos. “O rastilho de prender as cordas é um garfo”. Ada, uma das melhores alunas de Fávio, toca Vivaldi com as amigas em violinos de lata. “Quando Fávio me mostrou esse violino, achei genial! Era muito colorido”. A Noelia é irmã da Ada. Ela tem 13

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Reciclagem

anos e, de tanto ouvir a irmã mais velha tocar, quis aprender um instrumento também. Ela escolheu o violoncelo. No dela, a caixa de ressonância é feita de uma lata de azeite. Todo o sistema de sustentação das cordas foi encontrado no lixo: uma escova de cabelo, duas colheres de pau e um martelo de bater bife. Daqui pode sair o mais puro Mozart. “Como faltavam instrumentos, houve necessidade de improvisar e fabricar instrumentos alternativos com o material que tínhamos a mão”, explica o maestro. Fávio montou uma pequena oficina nos fundos da casa dele. Nicolás Gomez, catador de lixo em Cateura, e carpinteiro de mão cheia, se ofereceu pra ajudar. “Quem imaginaria que sai música do lixo? É fenomenal!” É ele próprio quem escolhe, no lixão, o material que vai usar. “Olho para o entulho e já vejo um violoncelo numa lata de tinta”. Um violino fica pronto em um dia. Um sax soprano é mais complicado. Leva dois dias para ajustar botões, moedas e tampas de garrafa nas chaves das notas de sopro. Fávio mostra o seu próprio instrumento. É um violão como outro qualquer. Só que a caixa de ressonância são duas latas de doce. Uma de baunilha e outra de chocolate. Mas dá pra dizer que é um som perfeito? “O som está marcado pelo material que

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o produz. Se ele é feito de lata, produz um som ‘latoso’. Mas tem a mesma afinação de um violão”. E som ‘latoso’ dá música clássica? “Claro! Um Beethoven ‘latoso’”, responde Fávio. O coral da Nona Sinfonia em som de lata. “O que nós fazemos é transformar a curiosidade de toda criança num interesse pela música. Mostramos que a música não é algo que esteja longe deles”. O interesse foi tamanho, que Fávio teve de montar uma orquestra. Assim nasceu a Orquestra de Reciclados de Cateura. Maria Cardozo, 16 anos, é uma das 30 componentes. “A música é minha vida”, ela diz. “Se você tira música do lixo, você sabe que tudo é possível. Podemos realizar nossos sonhos, seguir adiante”. E o sonho impossível da comunidade inteira aos poucos foi se transformando em convites reais para viajar. “Até para Buenos Aires a minha filha já foi”. “Ninguém acreditou quando eles foram se apresentar em Amsterdã”. Foram dezenas de concertos mundo afora. Inclusive no Rio de Janeiro, como nesta apresentação em que Fávio fez um arranjo da primavera de Vivaldi. Se Fávio considera essa uma apresentação perfeita? “Depende do que você chama de perfeição”, diz. “Uma orquestra pode ser perfeita como expressão musical. Mas, para nós, importa que seja perfeita socialmente falando. Com a música a criança aprende outras expressões de sensibilidade. Porque, estando numa orquestra, aprendem a ser solidários, responsáveis, respeitosos”. Senhoras e senhores, com vocês a Orquestra de Reciclados de Cateura, e a batuta mágica de um maestro fazedor de sonhos.  15 - ROTA DO SOM - 1ª EDIÇÃO

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Era

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A música popular no segundo governo

VARGAS

Ary Barroso com Getúlio Vargas e Benedito Lacerda

Presidente Getúlio Vargas e Linda Batista

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Início dos anos 1950 foi marcado pela diversidade na criação de sons populares no Brasil. Por um lado, a forte sensibilidade nacionalista, característica de compositores e intérpretes que iniciaram suas carreiras nas décadas de 1920, 30 e 40, como é o caso de Ari Barroso e Araci de Almeida, passou a conviver com o gosto de novos músicos e cantores pelas canções norte-americanas de Cole Porter, George Gershwin e tantos outros, e também pelo estilo interpretativo do brasileiro Dick Farney, que, em sua estada nos Estados Unidos, em 1946, fez contatos e se apresentou com músicos americanos importantes, como Nat “King” Cole, David Brubeck e Bill Evans. O samba, desde o período modernista símbolo de brasilidade por excelência, passou a admitir cada vez mais subcategorizações, que vão do samba-canção surgido nos anos 1920 ao sambablue, denominação pejorativa cunhada por críticos de viés nacionalista para designar uma modalidade de samba que creditavam à influência de baladas norte-americanas e à maneira de cantar de Bing Crosby. Johnny Alf, o principal seguidor desta tendência iniciada por Dick Farney, começou a carreira de pianista em 1952 e integrou em seguida o conjunto formado pelo violonista Fafá Lemos, apresentando-se na boate Monte Carlo. Também nesse ano gravou seu primeiro disco, “De cigarro em cigarro”, com Luís Bonfá. A recepção da música popular tornou-se cada vez mais segmentada, pois se o público do samba considerado tradicional continuou fiel ao estilo, havia audiência também para as diferentes estilizações do samba,

e um largo espectro da população absorvia os ritmos regionais, tanto nacionais quanto estrangeiros. O baião, por exemplo, criado por Luís Gonzaga nos anos 1940, foi recriado em 1952 por Humberto Teixeira com a composição “Kalu”, interpretada por Dalva de Oliveira. As canções regionais do Centro-Sul, como a moda caipira, mantiveram o seu público cativo, o que não impediu a entrada no país da guarânia paraguaia e do bolero mexicano. Alguns compositores e intérpretes que mais tarde se tornaram importantes no cenário musical iniciaram suas carreiras no início dos anos 1950. É o caso de Tom Jobim, que começou a trabalhar como pianista de boate, e em 1952, junto com Radamés Gnattali, tornou-se arranjador na Continental. Foi também nesse momento que Tom compôs as suas primeiras músicas, como o samba-canção “Incerteza”, com Newton Mendonça. m 1953, Tom Jobim e Billy Blanco escreveram a “Sinfonia do Rio de Janeiro”,

de cuja gravação participaram vários músicos. Em 1954, em parceria com Billy Blanco, Tom obteve seu primeiro sucesso, “Teresa da praia”, gravada na Continental nesse mesmo ano por Dick Farney e Lúcio Alves, com acompanhamento de Tom e seu conjunto e coro.

Ângela Maria - Rainha do Rádio  17 - ROTA DO SOM - 1ª EDIÇÃO

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Antônio Maria foi figura marcante no cenário carioca desse período. Além de programas de televisão e rádio em que atuava desde 1951, exercia as atividades de compositor, roteirista de shows e espetáculos de revista e principalmente jornalista, pois foi um importante cronista das noites da boate Vogue, que apresentava grandes nomes da música popular e reunia a boemia da Zona Sul. Como compositor, destacou-se com o samba-canção “Ninguém me ama”, parceria com Fernando Lobo, interpretado por Nora Ney em 1952. Nora Ney, que criou um estilo sofisticado e dramático

de interpretar sambas-canções, lançou seu primeiro disco em 1952, depois de cantar em boates do Rio. Dolores Duran fez um percurso semelhante, embora se destacasse também como compositora. Outra figura marcante foi Ari Barroso, que, já conhecido como pianista e compositor desde as décadas de 1920 e 30, manteve o seu prestígio na década de 1950. Ari tinha em comum com Antônio Maria a versatilidade, atuando como músico, locutor esportivo e ativista sindical, entre outras atividades. Contraditório, compôs em 1952 o samba-canção “Risque”,

depois de passar anos atacando esse estilo musical por considerálo um estrangeirismo no samba. Em 16 de março de 1953, à frente de uma delegação de dirigentes da SBACEM, teve um encontro com Getúlio Vargas no Palácio do Catete. Nesse ano comemorou seus 50 anos com uma grande festa em sua casa, à qual compareceu, entre outras pessoas conhecidas, o então ministro da Justiça Tancredo Neves. Algumas cantoras tiveram forte presença no período. Elisete Cardoso, por exemplo, conhecida desde os anos 1940, fez sua estréia na televisão no início da década.

Durante a Era Vargas, o rádio adquiriu maior força política e cultural com os discursos de Getúlio que cativavam o público e com as radionovelas que conquistaram uma audiência fiel, composta principalmente de mulheres.

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