Relatório paralelo na CPI do Caos Aéreo

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

CORRUPÇÃO, INCOMPETÊNCIA E REPRESSÃO A CRISE AÉREA NÃO TERMINOU Comissão Parlamentar de Inquérito da Crise Aérea Voto em Separado – Deputada Luciana Genro e Deputado Ivan Valente PSOL

UMA BREVE RETROSPECTIVA O acidente ocorrido com o vôo Gol 1907, em setembro de 2006, mostrou à sociedade uma crise que já ocorria há muito tempo no setor aéreo brasileiro. Fatores essenciais que contribuíram àquele acidente já eram de conhecimento dos controladores de vôo que, no entanto, não podiam comunicálos, sob pena de prisão, devido à hierarquia militar. Esta hierarquia se sobrepõe até mesmo aos regulamentos de segurança aeronáuticos. Desta forma, falhas nos radares, nas comunicações e defeitos no software das telas de radar, que contribuíram decisivamente para aquele acidente, permaneciam ocultos pelos militares. Ainda assim, o Comando da Aeronáutica negou-se a reconhecer que estes problemas existiam, somou-se na culpabilização dos controladores e àqueles que ousaram denunciar as deficiências do sistema, reservou a prisão, a punição e as transferências. Obrigados a cumprir calados jornadas de trabalho excessivas, com falta de pessoal, excesso de aeronaves, radares e rádios com defeito, e ainda sendo responsabilizados pelas 154 mortes trágicas, os controladores passaram então a cumprir à risca as normas internacionais de controle aéreo, limitando o número de aeronaves de acordo com a quantidade de controladores disponíveis. Foi quando começaram os inúmeros atrasos registrados nos aeroportos brasileiros, pois passou a ser necessário estabelecer intervalos maiores entre as decolagens das aeronaves, chegando ao ponto de cancelar as decolagens em determinados momentos, até que o número de aeronaves nos setores voltasse a níveis considerados seguros. Em 30 de março de 2007, os controladores, trabalhando numa situação limite, e para denunciar as precariedades do sistema e das condições de trabalho, paralisaram suas atividades para defender a segurança de milhões de pessoas que utilizam o transporte aéreo no país. Em um gesto desesperado, um verdadeiro pedido de socorro, controladores anunciam uma greve de fome que acaba transformando-se em uma paralisação. Naquele dia, o governo chegou a firmar compromisso assinado pelo Ministro do Planejamento em não punir os controladores, e o mais importante: comprometeu –se a iniciar o processo de desmilitarização do controle de tráfego aéreo, medida esta também apoiada pelo Grupo de Trabalho Interministerial, que formulou uma série de propostas para o setor. Até mesmo o Comando da Aeronáutica havia considerado “fundamental que, de imediato, os controladores passem a exercer, independentemente da gestão militar, o controle do tráfego aéreo de natureza civil, a partir da criação de um novo órgão fora da estrutura da Aeronáutica” (conforme documento constante no Anexo 1). 11


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