Catadores de Resíduos Sólidos Urbanos: apontamentos sobre a profissão

CATADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS apontamentos sobre a profissão

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Universidade de Caxias do Sul

Área de Conhecimento de Ciências Jurídicas Programa de Pós-Graduação de Direito l Mestrado e Doutorado Núcleo de Estudos e Pesquisa em Políticas Públicas e Sociais Projeto Catadores de Resíduos: de papeleiro a protetores ambientais Coordenação: Ana Maria Paim Camardelo

Redação

Ana Maria Paim Camardelo Lucas Knerek de Bitencourt Nilva Lúcia Rech Stedile

Revisão

Denise Feldmann Flores Kátia Cardoso Nostrane Lucas Garcia Battisti

Fotos

Arquivo do projeto Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR)

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...................................................................................... 5 QUEM SÃO OS CATADORES?................................................................. 6 LIXO NÃO É LIXO: OS RESÍDUOS COMO OBJETO DE TRABALHO............................................................. 8 COMO FUNCIONA UMA ASSOCIAÇÃO?............................................10 MOVIMENTO NACIONAL DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS...........................................................................................12 MARCOS NA HISTÓRIA DO MOVIMENTO...........................................................................................13 CONQUISTAS POLÍTICAS DOS CATADORES............................................................................................14 O QUE É LOGÍSTICA REVERSA?..........................................................16 O QUE É ECONOMIA SOLIDÁRIA?.......................................................17 CATADORES CONTRA A INCINERAÇÃO DOS RESÍDUOS.......................................................................................18 DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS CATADORES............................................................................................20 MENSAGENS DOS CATADORES..........................................................24

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APRESENTAÇÃO Esta publicação parte do projeto Catadores de Resíduos: de “papeleiros” a protetores ambientais, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Políticas Públicas e Sociais, com financiamento do CNPq (Edital 01/2016), e tem o objetivo de resgatar a história dos catadores de resíduos sólidos da cidade de Caxias do Sul, com vistas a dar visibilidade aos (des)compassos na construção de identidade social destes trabalhadores. Para isso, esta cartilha inicia primeiramente com um breve perfil dos catadores e com informações pertinentes às características do trabalho, como os materiais que manuseiam e a organização das associações. Desse ponto de partida, parte-se para uma visão dos catadores enquanto categoria profissional, tratando principalmente do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, sua história e suas conquistas. Também são descritas as principais dificuldades que os catadores associados de Caxias do Sul enfrentam. Por fim, a voz dos próprios trabalhadores: os catadores que participaram de entrevistas realizadas para o projeto registraram mensagens que gostariam de chegassem à sociedade para que seu trabalho seja reconhecido e suas demandas postas em pauta.

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QUEM SÃO OS CATADORES?

Inicialmente vale ressaltar que os trabalhadores da coleta e seleção de material reciclável são caracterizados com essa denominação pelo Ministério do Trabalho e Emprego (2002) por meio da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sob o Código 5192 e englobam os Catadores, os Selecionadores e os Operadores de prensa. Nesta produção utiliza-se a designação Catador, considerando que as atividades funcionais dos/as entrevistados/as referem-se às de catação, de seleção compreendendo a separação e a triagem, e de operador de prensa, conforme definidas pelo CBO: “Catador de material reciclável: catador de ferro-velho, catador de papel e papelão, catador de sucata, catador de vasilhame, enfardador de sucata (cooperativa). Selecionador de material reciclável: separador de material reciclável, separador de sucata, triador de material reciclável, triador de sucata. Operador de prensa de material reciclável: enfardador de material de sucata (cooperativa), prenseiro, prensista” (BRASIL, 2002)¹. Na descrição sumária, a CBO define da seguinte forma: “trabalhadores da coleta e seleção de material reciclável são responsáveis por coletar material reciclável e reaproveitável, vender material coletado, selecionar material coletado, preparar o material para expedição, realizar manutenção do ambiente

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e equipamentos de trabalho, divulgar o trabalho de reciclagem, administrar o trabalho e trabalhar com segurança”.

(BRASIL, 2002).

São trabalhadores livres, sem exigências de escolaridade ou formação profissional, que catam, selecionam e vendem materiais recicláveis como papel, papelão, vidro, materiais ferrosos e outros recicláveis. Geralmente são pessoas que possuem baixa a média escolaridade, sem formação profissional específica ou que perderam seus empregos e não conseguem entrar novamente no mercado de trabalho. Então, o trabalho do catador se torna uma resistência perante o desemprego estrutural e a necessária batalha pela sobrevivência.

No caso dos catadores de Caxias do Sul, esses se dividem em três grupos: um deles formado legalmente por meio de associação, cujos catadores são chamados catadores formais; outro, os que não constituíram ainda uma associação, mas estão organizados de alguma forma e ainda não estão legalmente constituídos e; ainda aqueles que exercem o trabalho de forma individualizada, denominados catadores informais. Os informais exercem o trabalho de forma autônoma: utilizam uma carroça para carregar os resíduos recicláveis que encontram pelas ruas da cidade e vendem a preços baixos para núcleos de reciclagem ou atravessadores, sujeitos que compram os materiais e revendem por preços maiores que aqueles repassados aos catadores.

Já nas associações, o trabalho se organiza em uma lógica mais formal.

Os materiais recicláveis recicláveis que chegam até as associações são provenientes da coleta seletiva municipal, realizada pela Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul - CODECA, e então é feito um processo de triagem e o produto final é expedido para a comercialização. ¹ BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Classificação Brasileira de Ocupações 2002. Brasília: MTE, 2002.

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LIXO NÃO É LIXO: OS RESÍDUOS COMO OBJETO DE TRABALHO “Lixo” é um termo usado para definir tudo aquilo que não tem uso e deve ser descartado. É uma visão que elimina o ciclo de vida de um produto qualquer; elimina as etapas que envolvem seu desenvolvimento, sua produção e sua disposição final.

Para alguns consumidores, o que importa é seu consumo; para alguns vendedores, o que importa é sua venda. Nessa lógica, o “lixo” é descartado sem consciência alguma sobre seu futuro. A lixeira é a divisão entre a posse e a responsabilidade sobre um produto e o seu destino final. Assim, quando

descartado, o produto já não é de responsabilidade do consumidor e o seu destino não interessa a ele. É sobre essa lógica que o trabalho dos catadores se opõe.

A atuação profissional dos catadores em relação à reciclagem é um exemplo que expressa o ciclo de vida dos resíduos que são considerados, por alguns, como “lixo”, pois mostra que tais materiais não se restringem apenas ao seu uso ou à sua venda. Envolvem um ciclo de vida que inicia na retirada da matéria-prima da natureza até seu retorno de forma ambientalmente correta. Esse percurso engloba o reuso e a reciclagem como possibilidades preferenciais.

Então, se o “lixo” não é a forma assumida cotidianamente por grande parte da população, do que se trata?

As definições da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305/2010, servem para compreender como estes materiais e produtos devem ser vistos: em sua forma total, abrangendo desde sua produção até os possíveis descartes.

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ASSIM, PODEMOS SEPARAR O QUE DESCARTAMOS EM TRÊS TIPOS DE MATERIAL: REJEITO É o material que não pode ser reutilizado ou reaproveitado a partir dos recursos tecnológicos existentes, restando apenas a disposição final ambientalmente adequada. Na Figura 1, fraldas em meio aos resíduos sólidos exemplificam o que são rejeitos.

FIGURA 1 RESÍDUO SÓLIDO É o material gerado pela atividade humana em sociedade, e que não deve ser descartado no ambiente natural, pois suas particularidades permitem uma outra destinação final. São exemplos os copos descartáveis a Figura 2. Aqui, destaca-se os recicláveis, mas os resíduos sólidos tambÉm podem ser orgânicos.

FIGURA 2 RESÍDUO ORGÂNICO Tem origem vegetal ou animal.

Este tipo de resíduo pode, além de outros finais ambientalmente adequados, ser disposto em uma composteira para produção de adubo. Na Figura 3, cascas de batatas são um exemplificam os resíduos orgânicos.

FIGURA 3

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COMO FUNCIONA UMA ASSOCIAÇÃO?

Quando organizados e associados, os catadores alcançam uma melhor posição na cadeia de reciclagem, pois participar de uma associação possibilita algumas vantagens, como: um maior volume de materiais para trabalhar e comercializar; a participação em projetos governamentais; a comercialização direta dos produtos; a contratação por instituições públicas e a participação na luta da categoria pelo reconhecimento do trabalho e a garantia de direitos. Ainda, trabalhar em conjunto dentro de uma associação é uma maneira de integração social, que abre portas para o relacionamento e acolhimento entre pessoas que se encontram na mesma posição dentro da sociedade. A associação, portanto, se torna um espaço de reconhecimento e valorização social, que pode conferir ao catador o sentimento de conquista, honestidade e dignidade.

Pode-se dizer que as associações realizam o intermédio entre população e indústria. Os resíduos recicláveis são encaminhados até as associações por uma parceria com o sistema de coleta seletiva municipal ou por catadores autônomos. Então, geralmente, os recicladores organizados operam seu trabalho na seguinte ordem: - os materiais são armazenados em silos ou em outros locais, e

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aqui já ocorre uma pré-triagem entre os resíduos de pequeno e os de grande volume; - a triagem em si ocorre por meio de esteiras e os materiais são separados por tipologia e qualidade; - separados, os materiais são armazenados em duas categorias: o que podem ser prensados e os que não podem, portanto são guardados em bags; - os materiais são prensados por uma prensa hidráulica que forma grandes fardos compactos com os recicláveis do mesmo tipo; e - os fardos são carregados com a utilização de talha manual ou mecânica para a expedição.

Apesar das dificuldades que o trabalhador enfrenta, as associações são fundamentais no processo de reciclagem porque possibilitam a redução de resíduos sólidos descartados de forma inadequada em aterros ou a perda do potencial de reciclagem de um grande contingente de material. Além de que a venda de resíduos sólidos para as indústrias que realizam a reciclagem contribui para a redução de demanda por matéria-prima virgem originária de recursos naturais, pois os resíduos reciclados se transformam em novas mercadorias que retornam ao ciclo produtivo. Ambientalmente, portanto, esse trabalho pode ser considerado protetivo e em acordo com a lógica do desenvolvimento sustentável.

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MOVIMENTO NACIONAL DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

Foto: MNCR

O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) está há quase 20 anos na construção da organização política dos catadores, administrada, planejada e gerida pelos próprios agentes que realizam o trabalho. O Movimento não tem o objetivo de alterar a atividade econômica dos catadores, mas sim de garantir a cidadania dos que a realizam por meio do reconhecimento, da melhoria, da conquista de direitos e do avanço nas condições materiais de trabalho dos catadores. O que fortalece o Movimento é o conhecimento construído por meio das lutas, encontros, formações e articulações nacionais e internacionais, além da resistência pessoal de de cada catador na profissão.

O MNCR é guiado pelos princípios da inclusão e valorização do trabalho dos catadores organizados, e contrapõem-se à incineração e à privatização dos materiais recicláveis para minimizar os impactos ambientais, contribuindo para a vida útil dos materiais e do próprio planeta.

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Foto: MNCR

MARCOS NA HISTÓRIA DO MOVIMENTO

Em meados de 1999, o MNCR foi proposto durante o 1º Encontro Nacional de Catadores de Papel, sendo fundado em junho de 2001, no 1º Congresso Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis, em Brasília - DF. Esse evento reuniu mais de 1.700 catadores e catadoras de todo país.

Em 2003, aconteceu o I Congresso Latino Americano de Catadores (as) em Caxias do Sul - RS. O II Congresso Latino Americano de Catadores(as) ocorreu em 2005, em São Leopoldo - RS, com 1.050 pessoas de todo o Brasil e de países latinos. Em março de 2006, o MNCR realizou uma marcha até Brasília levando suas demandas para o Governo Federal e contou com a presença de 1.200 catadores(as) que marcharam na Esplanada dos Ministérios. O III Congresso Latino Americano de Catadores de Materiais Recicláveis ocorreu em Bogotá - COL, em março de 2008.

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CONQUISTAS POLÍTICAS DOS CATADORES 2002

A primeira delas foi o registro da atividade de catação no Código Brasileiro das Ocupações (CBO). Este passo representou o reconhecimento formal da profissão, que hoje conta com a divisão entre três tipos de atividades: o catador de material reciclável (código 5192-05), o selecionador de material reciclável (código 5192-10)e o operador de prensa de material reciclável (código 5192-15).

2003

2006

Foi criado o Comitê Interministerial de Inclusão dos Catadores de Lixo que implementou o Projeto Interministerial Lixo e Cidadania, a fim de garantir condições dignas de vida e trabalho ao catadores e apoiar a gestão e destinação adequada de resíduos sólidos nos Municípios.

Centenas de catadores estiveram presentes no salão do Palácio do Planalto para a assinatura do Decreto nº 5.940 que instituiu a obrigatoriedade da coleta seletiva pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta para destinar os materiais aos catadores.

2008

A Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (Senaes/MTE) e a Fundação Banco do Brasil (FBB) lançaram o Programa Cataforte, dando início a ações de capacitação, de assessoramento técnico para consolidação de empreendimentos e a elaboração de um plano de atuação em rede. O programa contou com mais duas fases: na segunda, foram doados cerca de 140 caminhões para 35 redes em 15 Estados e a terceira fase contou com R$ 200 milhões em capacitação, aquisição de equipamentos, construção e reforma de galpões e assessoramento técnico para as redes de associações de catadores.

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2010

Foi lançado o Decreto nº 7.405, que cria o Programa Pró-Catador para incluir e articular as medidas do governo federal direcionadas ao apoio e ao fomento à organização produtiva dos catadores de materiais recicláveis, à melhoria das condições de trabalho, à ampliação das oportunidades de inclusão social e econômica e à expansão da coleta seletiva de resíduos sólidos. Este programa redimensionou o Comitê Interministerial para a Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Recicláveis pela avesão voluntária de órgãos federais ao Programa Pró-Catador.

2010

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305/10, regulamentada pelo Decreto nº 7.404/10, representa o reconhecimento jurídico do valor do trabalho dos catadores de materiais reutilizáveis. Os três pilares para a consolidação da lei foram a participação do MNCR guiado pelos seus princípios; o reconhecimento do valor social do resíduo sólido reutilizável e reciclável enquanto um bem econômico; e a integração dos catadores para eliminar as diversas formas de exploração encontradas na cadeia produtiva da reciclagem. A PNRS prevê a inclusão dos catadores na responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos por meio da integração na logística reversa e na coleta seletiva. A PNRS, além de tudo, traz como obrigação do Poder Público Municipal promover a organização dos catadores em formato de associações ou cooperativas o incentivo à sua emancipação econômica mediante a sua contratação para realização da coleta seletiva.

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O QUE É LOGÍSTICA REVERSA? Um dos destaques da Política Nacional de Resíduos Sólidos PNRS é a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos que, como é descrito na Lei, são atribuições encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e responsáveis pelos serviços públicos de limpeza urbana, visando diminuir o acúmulo de resíduos sólidos e rejeitos e seus impactos para a vida humana e a natureza. Resumidamente, todos que participam do ciclo de vida de um produto compartilham responsabilidade pelo seu destino ambientalmente correto.

A logística reversa, definida no Art. 3º, inciso XII, constitui-se em um dos instrumentos que busca essa responsabilidade pois compreende um conjunto de ações, procedimentos e meios para coletar e restituir os resíduos sólidos perigosos ao setor empresarial a fim de aproveitá-los ou encaminhá-los para uma destinação final ambientalmente adequada.

A imagem a seguir exemplifica como funciona a logística reversa: os consumidores devolvem produtos e embalagens aos comerciantes e distribuidores para que estes efetuem a devolução para que os fabricantes e importadores deem uma destinação ambientalmente adequada aos produtos e embalagens devolvidos. Também pode ocorrer a devolução direta do consumidor para o fabricante e importador.

FABRICANTE E IMPORTADOR

COMERCIANTE E DISTRIBUIDOR

CONSUMIDOR

Na logística reversa, o ciclo de vida dos materiais é um conceito central. O fim de um produto não é sua entrega ao cliente e seu uso.

Constantemente, produtos vão se tornando obsoletos, danificados, vão sendo substituídos por novos e devem retornar ao seu ponto de origem para o adequado descarte, reparo ou reaproveitamento.

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O QUE É ECONOMIA SOLIDÁRIA? É uma organização baseada na autogestão coletiva e cooperação entre os trabalhadores. O objetivo principal é que o trabalho associativo e a propriedade coletiva dos meios de produção sirvam como pilares para a atividade não reproduzir as deformidades dos trabalhos em que vigora a competitividade, a individualidade e a exclusão de trabalhadores.

Na I Conferência Nacional de Economia Solidária (2010)¹, o conceito foi expressado como:

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concepções e práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano na sua integralidade ética e lúdica e como sujeito e finalidade da atividade econômica, ambientalmente sustentável e socialmente justa, ao invés da acumulação privada do capital. Essa prática de produção, comercialização, finanças e consumo, privilegia a autogestão, a cooperação, o desenvolvimento comunitário e humano, a satisfação das necessidades humanas, a justiça social, a igualdade de gênero, raça, etnia, acesso igualitário à informação, ao conhecimento e a segurança alimentar, preservação dos recursos naturais pelo manejo sustentável e responsabilidade com as gerações, presente e futuro, construindo uma nova forma de inclusão social com a participação de todos.

A economia solidária é adotada em muitas organizações de reciclagem, associações e cooperativas de catadores. Nesses espaços, os sujeitos objetivam conquistar coletivamente o que lhes foi negado pela espoliação típica de uma sociedade em que problemas sociais são individualizados. Então, é promovida a autonomia dos trabalhadores a partir da gerência do seu próprio trabalho e da repartição das receitas. É uma construção horizontal, com a participação de todos os envolvidos; é orgânica e endógena, pois se desenvolve a partir dos próprios catadores para os catadores; e é uma forma de resistência organizada pelos excluídos da sociedade.

BRASIL. Economia solidária: caderno pedagógico educadoras e educadores.

Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2010.

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CATADORES CONTRA A INCINERAÇÃO DOS RESÍDUOS

Outra forma de dar um destino final aos resíduos sólidos é a incineração para reaproveitamento energético. O material mais comum a ser incinerado é o papel e o plástico, que são utilizados para alimentar o forno das caldeiras e gerar calor e energia. Outros, como materiais ferrosos e vidros, não podem ser utilizados, pois não têm potencial calorífico, além de se tratar de uma tecnologia cara e limitada.

A incineração para geração de energia necessitaria de um sistema completo, que deve compreender o tratamento dos gases que são gerados com a incineração; da água contaminada residual; e dos rejeitos da incineração, como cinzas e escórias, que devem ser descartados de acordo com suas características. Assim, o sistema de incineração se torna menos agressivo à natureza, como é feito em alguns países que utilizam o método para a geração de energia.

No entanto, em um país com uma configuração social como a do Brasil, a incineração pode não ser a melhor opção. A implantação dessa tecnologia fecharia diversos postos de trabalho de catadores de materiais recicláveis, indo contra a inclusão social e produtiva dessa categoria inscrita na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ainda, a queima de resíduos recicláveis desonera os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes da responsabilidade pós-consumo, incentivando o comportamento social consumista. Assim, a incineração não elimina os resíduos, mas transforma-os em inúmeras partículas, o que exige um permanente controle dos gases gerados e do acondicionamento da escória e das cinzas tóxicas. Os materiais perdem seu potencial reciclável e se transformam em resíduos perigosos dispostos em aterros podendo afetar as futuras gerações.

Foto: MNCR

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DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS CATADORES

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O trabalho do catador autônomo consiste em transportar uma espécie de carroça para armazenar os materiais recicláveis coletados pela cidade. Em sua rotina, este trabalhador está exposto às intempéries do tempo, a acidentes de trânsito, à falta de respeito com que os demais que o tratam, e às consequências do enorme esforço que o trabalho demanda, como o adoecimento físico e o cansaço que o toma no restante do seu tempo. Em contrapartida, selecionam o material de interesse, especialmente econômico.

Já em associações, um dos problemas é a variação do preço dos recicláveis, com o excesso de trabalho para atingir uma meta mínima para a partilha, e ainda com a

dependência dos atravessadores sujeitos que realizam o intermédio da venda dos materiais entre as recicladoras e as empresas, pois para vender diretamente ao setor empresarial seria necessário uma quantidade superior à selecionada pela reciclagem.

O trabalho dos catadores também carece de uma melhor visibilidade pela sociedade. É comum que o trabalho dos catadores só seja lembrado quando as lixeiras residenciais se encontram abarrotadas de material reciclável ou bagunçadas. Por outro lado, além da falta de reconhecimento, o catador foi, e muitas vezes ainda é, vítima de preconceito e estigmatização. As duas situações evidenciam a falta de conhecimento sobre a profissão.

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Hoje em dia, determinadas associações e cooperativas que funcionam há mais tempo conquistaram uma estrutura física mais adequada à atividade, diferente de uma considerável parte das organizações de catadores, onde a precariedade do local de trabalho agrava as dificuldades do catador. Nesses casos, pode-se descrever o local de trabalho a um galpão coberto com zinco reutilizado; paredes feitas de compensados também reaproveitado ou sem qualquer tipo de parede; instalação elétrica precária; e ausência de sanitários, vestiários e refeitórios.

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No entanto, quando se pergunta a qualquer reciclador qual o fator que mais prejudica o trabalho, uma resposta é comum: parte considerável dos materiais que chega à reciclagem é misturado a resíduos de outra espécie além dos recicláveis. Os recicladores contam que a triagem feita nas associações serve, primeiramente, para separar os rejeitos daquilo que pode ou não ser aproveitado para a reciclagem, ao invés de servir para triar o material de acordo com seu tipo e qualidade. Nesse processo, os rejeitos encontrados variam de fraldas, papel higiênico, seringas usadas e alimentos já apodrecidos a cadáveres de animais e entulhos.

FIGURA 4

FIGURA 5

As fotos aqui apresentadas foram registradas em uma visita à uma determinada associação. Nelas vemos lâmpadas misturadas à recipientes de medicamentos (Figura 4), drágeas de remédios (Figura 5)e resíduos orgânicos misturados aos recicláveis (Figura 6)

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FIGURA 6

MENSAGENS DOS CATADORES ADÃO E LUCIANA

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Deve-se separar corretamente os materiais seletivos e orgânicos.

A população deve dar mais valor para os recicladores pois eles estão fazendo um favor para a cidade de Caxias do Sul. Deve-se tratar os recicladores como pessoas que trabalham com material reciclável e não como pessoas que trabalham no meio do lixo. Os recicladores querem mais consideração dos órgãos públicos em forma de ajuda. As associações estão sendo muito cobradas das fiscalizações, enquanto as reciclagens clandestinas não são.

MARIA LEITES A natureza é o pulmão do planeta, por isso é muito importante a reciclagem para que as futuras gerações tenham um futuro. O meio ambiente agradece e toda humanidade também. Nos meus quantos anos de reciclagem, credito que ajudei muito a preservar a natureza.

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SUELEN DE FREITAS Meu recado para sociedade é um grito de socorro: as Associações estão abandonadas, jogadas à sorte. Peço que a sociedade nos de suporte para atravessar esse momento tão difícil.

Ajude nós. É um alerta.

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ADROALDO FLORES Separe corretamente o seu lixo. Imagine que é seu filho que tá trabalhando.

TATIANE RIBEIRO CHAMPE E TRABALHADORES DA ASSOCIAÇÃO GIRASSOL

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“Lixo” resíduo reciclável! Uma fonte de renda “sustentável” preservação cuidado com nosso meio ambiente! O nosso maior legado para nossas futuras gerações!!

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TIAGO PAVELSKI Nosso foco é gerar emprego e girar a economia, mais do que preservar o meio ambiente, ou qualquer coisa. A reciclagem é aberta para qualquer pessoa que tenha vontade de trabalhar.

ONDINA PAVELSKI Uma coisa que seria muito boa seria se a sociedade ajudasse com o seletivo que viesse para a reciclagem, que separasse. Uma coisa que seria muito bom era que separassem o seletivo.

ELIANE PAIM BORGES

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Gostaríamos de ser mais visto pela sociedade, para que a sociedade valorize o nosso trabalho.

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