No Compasso da Estácio

NO

C O M PA S S O D A

E S TÁ C I O

12 - 08 1927

“Tudo começou com a Deixa Falar Passou pelo Cada Ano, Paraíso das Morenas Hoje é Estácio de Sá!” É assim que começa uma das canções mais

importantes da escola, Semente de Uma Raíz.

Composta por Faísca, Ivo Elias e Dominguinhos do Estácio, ela homenageia a agremiação a

Estácio de Sá, escola de samba fundada em 12 de agosto de 1927, com o nome “Deixa Falar”.

Apesar de não figurar o grupo das grandes

escolas na atualidade, ela tem grande importância histórica, não só para o carnaval carioca, mas

principalmente pro que entendemos como samba atualmente. E essa importância se dá pelo fato

dela ser a primeira escola de samba da história, recebendo até o reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

VEM DE LÁ

Mas, muito se engana

Ela estudou e deu aula

quem acha que o bairro se

no local. Iniciou os estudos

também o Morro do São

de Educação, antiga

resume só a isso. O Estácio sempre teve como ícone

Carlos. Outra curiosidade

que poucos sabem é que a grande poetisa brasileira

Cecília Meireles, nasceu no bairro, mais precisamente nas encostas da favela já mencionada, em 1901.

na escola pública Estácio de Sá, e se formou no Instituto Escola Normal (ambas nas proximidades do Largo do

Estácio), onde recebeu das mãos de Olavo Bilac, outro grande poeta e inspetor

de ensino da região, seu

primeiro prêmio de poesia.

Cecília relembra sua

infância no local, em seu

livro Olhinhos de Gato. Já em seu livro Batuques, Samba e Macumbas, ela descreve sobre o nascimento do

samba de sambar e sua influência. A escritora

vivenciou e registrou esse momento importante pra

cultura do país. Ela viveu na região até seus 34 anos.

No livro, Cecília Meireles ilustra estes estudos de gesto e de ritmo analisando e fixando os ritmos de samba e da macumba e suas figuras típicas, através de aquarelas e desenhos, que revelam para muitos esse outro lado de sua produção artística; o trabalho de folclorista e o dom da autora para o desenho.

“Deixa falar, deixa falar... Eles tem que respeitar! Escola de samba é aqui! É aqui que saem os professores do samba, então deixa falar.” Esta analogia se dava pelo fato da reunião das rodas de samba serem em frente à Escola Normal, situada onde hoje é a Rua Joaquim Palhares, próximo ao metrô do Estácio.

ZONA

MANGUE

Nesta época, pessoas influentes no mundo artístico se

reuniam nos bairros da Lapa e do Estácio. A música boa, as

belas mulheres, as bebidas de qualidade e a “malandragem” criavam o contexto perfeito para a boemia. O Rio de Janeiro era a capital do país nessa época, logo, era a entrada de tendências europeias. Foi aí que começaram a entrar

as prostitutas, de diferentes países da Europa, fugidas

da 1ª Guerra Mundial. Mulheres que almejavam novos

horizontes em um novo país, e traziam consigo o prazer,

a sedução e as fantasias do Velho Continente. Da reunião

destas mulheres surgiu a Zona do Mangue (hoje, conhecida como Vila Mimosa). Localizado próximo onde hoje é o

prédio da prefeitura do Rio de Janeiro, o Mangue, como era conhecido, era a fonte de inspiração para diversos artistas.

Eles buscavam, além do prazer carnal, um novo modo de

arte. O Mangue teve seu auge nas décadas de 1920 e 1930,

quando reuniu malandros, sambistas, intelectuais, artistas, trabalhadores manuais, prostitutas, a fim de trazer uma nova cultura para a cidade. E o bairro, que já tinha essa

herança de criar e propagar a música popular, foi local de mais uma revolução musical.

DOS VERSOS DE

ISMAEL

Um grupo de jovens se reune próximo à Escola Normal,

no Largo do Estácio. Mal sabiam que estavam prestes a

ensinar à sociedade uma criação revolucionária. Por isso, a

proximidade com a Escola Normal os inspirava. Fundariam uma escola e ensinariam o samba para a cidade.

O principal nome deste grupo era Ismael Silva. Nascido

em Niterói, se mudou para o bairro do Estácio com 4

anos. E foi lá que ele revolucionou o samba, introduzindo instrumentos de percussão, como surdo, cuíca e

tamborim, que embalavam sambas modernos cantados

por vozes potentes. Naquela época não havia uma letra de samba-enredo definida, mas apenas uma primeira parte

sobre a qual os sambistas improvisaram ao longo das rodas de samba. E foi Ismael Silva o responsável pela difusão do movimento das escolas de samba, que partiu do Estácio, com a criação da Deixa Falar, em 1928, bloco que ficou

conhecido como a primeira escola de samba do Brasil. O

samba ganhou outros locais do Rio de Janeiro, influenciando a criação de Mangueira, Portela, Salgueiro, entre outras.

Escola de samba foi o nome que consagrou por se referir aos professores do samba moderno.

Ismael até hoje é endeusado pelos adeptos da Estácio,

principalmente pela liderança que exercia na região. Era um patrono, todos admiravam de seu talento e sua importância para o mundo do samba.

A Deixa Falar desfilou carnavais memoráveis, que

renderam notícias maravilhosas da imprensa da época, entre 1929 a 1931. Mas, em 1932, resolveu se registrar

como rancho e concorrer num concurso promovido pelo

Jornal do Brasil. No mesmo ano, o jornal Mundo Sportivo, do jornalista Mario Filho, organizava o primeiro desfile oficial de escolas de samba, na Praça Onze. Por algum motivo,

provavelmente porque os ranchos ainda gozavam de maior

prestígio, o Deixa Falar preferiu participar da disputa criada

pelo JB. As consequências foram desastrosas, e o grupo foi

desclassificado nas etapas iniciais. Com o resultado, acabou caindo na obscuridade e desaparecendo. Mesmo com esse

desfecho, sua importância como primeira escola de samba, fundadora do novo ritmo, é reconhecida até hoje. Mas não

se pode negar que muitos pesquisadores não atribuem essa importância ao grupo de jovens do Estácio, que tinham

um lema que gostavam de usar para responder a críticos e adversários: Deixa falar.

COMEÇOU

T U D O C O M

A

DEIXA FA L A R

PA S S O U C A D A P E L O PARAÍSO N DA S H O J E É MORENAS O

E S T Á C I O DE

SÁ!

Em 1955, a Deixa Falar se une com três outros blocos da região: Cada

Ano Sai Melhor, Vê se Pode e Paraíso das Morenas. Então, juntas, criaram a

Unidos do São Carlos, desfilando a partir de 1958. Com apenas uma década de existência, já era campeã do Grupo 3. Dois anos mais tarde, alcançou o

primeiro grupo, ao vencer o campeonato do Grupo 2, com o enredo “Lendas e Costumes do Brasil”.

Em 1969, a escola fez um de seus carnavais mais emblemáticos: Com o

enredo “Gabriela, Cravo e Canela”, a Unidos do São Carlos fez um tremendo carnaval, levantou o público e, apesar do 6º lugar, foi a escola mais falada

no ano. Ali, a escola criada por Ismael se estabilizava no meio das grupo das grandes escolas de samba do Rio de Janeiro.

Após cair em 1971, venceu mais uma vez o Grupo de Acesso em 1972, com

o enredo “Trá, la, la, la, um hino ao carnaval brasileiro de Lamartine Babo”, voltando ao Grupo Especial, em 1973.

Em 1975, outro carnaval de grande porte. A Unidos do São Carlos chegou

com o enredo “A festa do Círio de Nazaré”. Este é considerado um de seus melhores carnavais, e seu samba, composto por Aderbal Moreira, Dario Marciano e Nilo Mendes “Esmera” se mantém até hoje na boca do povo.

Apesar disso, mais uma vez a escola tem um grande enredo sem resultados expressivos, alcançando somente o 10º lugar.

Em 1977, mais uma queda, com uma rápida volta em 1978, sendo campeã

com o enredo “Céu de Orestes no chão de estrelas”. Em 1980, trouxe de volta suas raízes e criou um samba inspirado na Deixa Falar, porém, a escola não empolgou e caiu para o Grupo de Acesso B. Subiu campeã em 1981, caiu

novamente em 1982 e, mais uma vez, venceu o campeonato de 1983, chegando à elite novamente.

CARNAVAIS

CARNAVAIS

CARNAVAIS

NOVO ESTACIO

EU SOU DO

No ano de 1983, uma

grande mudança ocorreu.

A escola, que se chamava Unidos do São Carlos,

recebeu o investimento de uma grande rede de

supermercados da época, a Casas da Banha. A

empresa, como principal patrocinadora, exigiu

mudanças. Uma nova escola.

Um novo nome. Novas

cores. A Unidos do São

Carlos passava a se chamar

Grêmio Recreativo Escola de Samba Estácio de

Sá. O motivo foi que, com este novo nome, a escola

pudesse representar não só

a comunidade do São Carlos, mas também o bairro e as regiões próximas, como a Praça Onze, Cidade Nova, Catumbi, Rio Comprido e

Praça da Bandeira. Regiões essas que fazem parte da história do samba atual,

por ser o local onde tudo

começou.

As cores da escola

também mudaram. Agora, a escola se vestiria de

vermelho e branco, cores da Casas da Banha.

Após alguns anos se

mantendo, em 1987 trouxe um enredo descontraído e que agitou o carnaval

da época: O Ti-Ti-Ti do

Sapoti. Composto por Darcy do Nascimento, Djalma

Branco e Dominguinhos do Estácio, o enredo até

hoje é considerado um dos

grandes da escola, e um dos

mais conhecidos. O alvoroço criado pela Estácio foi tão

grande que ela conseguiu o

4º lugar no Grupo Especial,

melhor colocação até então.

Enfim, após 5 anos se

sustentando no grupo das grandes escolas, chegou a

hora da estrela da Estácio brilhar. E isso aconteceu em 1992.

EU VI, AI MEU DEUS,

EU VI A MINHA ESCOLA

LEVANTAR A

MULTIDÃO

Em 1992 a Estácio veio com com o enredo Paulicéia

Desvairada - 70 anos de Modernismo. Composto por

Caruso, Déo, Djalma Branco e Maneco, interpretado por

Dominguinhos do Estácio, a escola fez um desfile brilhante, desenvolvido por Mário Monteiro e Chico Spinosa.

Empolgação não faltou à Estácio, que já vinha alcançando

posições de destaque em carnavais passados e prometia

bastante com o enredo sobre os 70 anos da Semana de Arte

Moderna de São Paulo. A escola cumpriu com o prometido e fez uma apresentação memorável.

O enredo popular levantou o público desde os primeiros

versos entoados por Dominguinhos. Sua letra homenageava grandes artistas do Modernismo brasileiro, como Villa

Lobos, Di Cavalcanti, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Ronald de Carvalho, e outros grandes da época. O nome do

enredo “Pauliceia Desvairada” fazia homenagem ao título de um livro de Mário de Andrade.

A comissão de frente era formada por componentes de

perna de pau. Outra alegoria marcante foi o Trem Caipira.

Este carro, era muito bem resolvido e, apesar de não ser

tão grande, dava um grande efeito, por fazer o tradicional

“piuí” no meio da avenida. A escola veio bastante colorida,

sem deixar o vermelho e branco de lado, e permitiam uma evolução eufórica da escola sem que seus integrantes

cansassem. As crianças vieram fantasiadas de pierrots, com

uma alegria comovente, demonstrando o que é a essência do carnaval.

NA PAULICÉIA DESV FAZER POEMAS, E CAN

VAIRADA LÁ VOU EU NTAR MINHA EMOÇÃ0

QUERO A ARTE PRO MEU POVO

SER FELIZ

DE NOVO E FLUTUAR NAS ASAS DA

IL US ÃO

Me dê, me dá, me dá, me dê Onde você for eu vou com você

A alegria da escola era cativante, o público

nas arquibancadas faziam coreografia

para acompanhar o samba, que, além de empolgante, tinha um refrão fácil e que grudava na cabeça.

Tamanha era a euforia que, mesmo com um

problema em um dos carros, a falha passou

despercebida. Ao final do desfile, parecia que

estava só começando. O público não parava de cantar “é campeã”. A Estácio nesse carnaval

desbancou a grande Mocidade Independente de Padre Miguel, campeã dos carnavais de

1990 e 1991, que apesar de também fazer um

excelente desfile e dos integrantes da diretoria já falarem em tri-campeonato, foi vice com 1,5 ponto a menos que a escola de Ismael. Não

teve jeito, o carnaval de 1992 era da Estácio.

Foi um campeonato vencido na emoção e um

merecido prêmio à primeira escola de samba da história.

Nos carnavais seguintes a Estácio não conseguiu manter o nível do ano

de 1992, chegando à um 7º lugar em 1995, com um enredo homenageando o centenário do Flamengo. Este samba, até hoje é entoado pela torcida do time nos jogos.

Após alguns resultados regulares, a escola chega à 1997 com um enredo

em homenagem à história do perfume. A Estácio enfrentava uma gigantesca

crise, se encontrava sem quadra. A escola sofreu muito pra colocar o carnaval na avenida. A emoção dos integrantes de conseguir pelo menos desfilar

era enorme e foi contagiante. Eles fizeram de tudo, mas os problemas de estrutura da escola eram visíveis. Enfim, aconteceu o que todos temiam:

o rebaixamento para o grupo de acesso. A escola, em grande parte de sua história, passava curtos períodos no grupo de acesso. Mas dessa vez era diferente. Iniciava-se o pior período da história da Estácio de Sá.

Os anos seguintes foram péssimos. A escola passou 7 anos no Grupo de

Acesso A. O melhor resultado foi um 3º lugar em 1999. Em 2004, a escola, com o enredo “A Estácio é dez, o Brasil é mil e a fome é zero”, retorna ao Grupo de

Acesso B, depois de 40 anos longe. O rebaixamento foi uma surpresa, pois, a Estácio chegou a ser apontada como favorita ao título.

DA QUEDA...

AOS DIAS ATUAIS

Em 2005, a escola começa a se reabilitar, sendo

campeã do Grupo de Acesso B, com o tema “Arte Negra na Legendária Bahia”, conquistando todas as notas 10. Em

2006, a Estácio reeditou o enredo “Quem é Você?”, de 1984.

Com um desfile correto e uma bela comissão de frente, a

escola foi campeã e voltou ao Grupo Especial, após 10 anos fora.

Na sua volta à elite, a Estácio levou novamente o enredo

“O ti-ti-ti do Sapoti”, fazendo um desfile compacto, porém bem desenvolvido. Entretanto, não foi o suficiente pra

manter a escola no Grupo Especial. A Estácio terminou o

carnaval em último e rebaixada, mais uma vez, para o Grupo de Acesso.

Nos anos seguintes, a escola não empolgou e teve resultados medianos.

Os melhores carnavais foram em 2010, mais uma vez homenageando a Deixa Falar, e 2011, com o enredo sobre rosas. Em ambos, chegou ao 3º lugar.

Em 2014, a Estácio trouxe de volta Dominguinhos do Estácio, 18 anos longe

da escola. Com um enredo sobre as mudanças na Zona Portuária do Rio, a

escola fez um desfile impecável, alcançando o vice-campeonato daquele ano.

A frustração por não subir em 2014 se transformou em alegria em 2015.

Com o enredo “De braços abertos, de janeiro a janeiro, sorrio, sou Rio, sou

Estácio de Sá!”, que homenageava os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, a escola, apesar de alguns problemas no desfile, se sagrou campeã e voltou à elite do carnaval carioca.

Z E C A

C U Í C A

“Eu sou do município de Nova Friburgo, mas eu cheguei ali (na comunidade

do São Carlos) em 1937, com 3 anos, com minha mãe, meu pai né… Aí adorei o Morro do São Carlos… Gostei e tô ali até hoje, com meus filhos, netos, bisnetos…”

“A minha relação com a escola de samba se dá muito pela minha mãe né,

que ela gostava muito de samba… E aí na época eu ia pra três escolas de samba que tinham ali: A Paraíso das Morenas, a Cada Ano Sai Melhor e a Vê Se Pode.

Só que a Vê Se Pode era um nome muito pejorativo… Aí passou pra Recreio do São Carlos. Aí no fim as três se uniram e criaram uma escola de samba só, que foi a Unidos do São Carlos. Mas a Unidos do São Carlos nunca decolou não…

Aí depois passou pra Estácio. Foi uma briga do caramba pra trocar o nome. E

a escola de samba era azul e branca né… Mudou por causa da Casas da Banha, que eles davam uma força pra escola. Aí mudou pra vermelho e branco.”

“Ali o samba sempre foi penalizado, porque tem tudo de bom ali na Estácio.

Tem bons compositores, tem bons tocadores de percussão, tem mestre-sala, tem passistas… Mas não vai pra frente…”

“Eu sou Estandarte de Ouro em 1982, já ganhei vários festivais com

Elis Regina, eu sou fundador dos Originais do Samba… (...) Já rodei esse

Brasil quase todo, fui pra Europa, Ásia… Trabalhei com Chico Buarque de

Holanda, Diogo Nogueira, Martinho da Vila, Luiz Melodia, toquei com Nelson

Cavaquinho, toquei no finalzinho do Ismael Silva… (...) Eu sou Comendador ali

no Estácio né, fui condecorado com a Medalha Pedro Ernesto. (...) Eu vou ser o enredo da escola mirim no ano de 2018 e eu já fui enredo do bloco Muvuca do São Carlos. Pô, aquele Estácio ali ficou lotado, lotado, lotado de ponta a ponta.

Mas eu ainda estou aprendendo, porque a música é infinita.”

“Tudo começou nos anos de 1970, foi quando eu ingressei no samba.

Como eu nasci dentro da escola, comecei a me envolver com aquilo. Comecei a compor pra escola, nem eu sabia que sabia compor... Me juntei lá com o

pessoal e fui ganhando alguns sambas e hoje tenho 14 sambas só na Estácio.

E lá eu passei a vida inteira. Depois eu rodei no mundo do samba, passei pela

Imperatriz, pela Viradouro, que eu to hoje, passei pela fundação da Grande Rio, fui bicampeão lá... Pela Imperatriz fui campeão em 1980 e 1981. Fui campeão pela Estácio umas três ou quatro vezes no grupo de acesso, o único título que ela teve no grupo especial, eu também tava, que foi 1992.”

“No Estácio é toda minha família de lá, sou nascido e criado. Lá que eu

estudei um pouquinho, me transformei num bancário, fiquei muitos anos

num banco... Hoje que a violência tá no Rio de Janeiro todo. Eu to morando

em Niterói, mas tenho meus parentes lá e to sempre por lá. O Estácio sempre foi um lugar calmo, apesar de ser uma periferia, principalmente pro samba.

Foi berço de Luiz Melodia, Gonzaguinha... Mas sempre foi e ainda é um bairro muito carente. Não tem um patrono, não tem um cara de linha de frente pra erguer a escola... Tudo o que acontece lá, é por amor à comunidade.”

OMINGINHOS ES TÁ CIO

S O N E C A

“Gabriela Cravo e Canela até hoje tá na mémória, porque tirou a escola do

anonimato. A escola era muito pequena, porque ela veio do terceiro grupo...

Aí chegou no primeiro grupo com aquele carnavalzão. Na época foi o carnaval mais falado. Aí ela ficou onde dentro do conteúdo das grandes escolas.

Pra mim foi esse. Mas tiveram outros grandes carnavais, como o Paulicéia

Desvairada, Círio de Nazaré, Festa do Preto Forro. Mas pra mim, o melhor foi Gabriela Cravo e Canela. Mudou a história da escola completamente”

“Eu acho que a Estácio tinha que ser mais respeitada pelas pessoas que

dirigem o carnaval. Tinha que ter mais respeito pela nossa agremiação. Se existe a religião, é porque existe Deus. Se existem as escolas de samba, é

porque existe Estácio. Tudo começou aqui. Até hoje é aqui. Não passa dali.

Marquês de Sapucaí é Estácio. E ali só foi feita a passarela do samba por causa da quadra da escola e do Bafo da Onça (bloco de carnaval) que tinha ali. Uma

escola vem lá de Madureira, aí passa li, dá a volta e termina no Estácio. Vem lá a Beija-Flor, Nilópolis, passa aqui e termina no Estácio. Ali não tinha que ser

Sambódromo. Tinha que ser Avenida Estácio de Sá. E outra, botaram o nome

de várias pessoas, e não botaram o nome do mentor de tudo ali, o Ismael Silva.

Tinha que render uma homenagem à ele, um dia do samba, fazer um desfile só pra ele, igual 7 de setembro. A escola de samba é o carnaval brasileiro, é

o maior produto que o Brasil tem pra vender. Nem o petróleo vende mais do

que o Carnaval. Aqui as pessoas menosprezam...Botaram a estátua (de Ismael Silva) num lugar escondido, esconderam o cara. Aquela estátua era pra tá em

frente à igreja (Divino Espírito Santo), na praça do metrô... Botaram a estátua de qualquer um lá e não botaram a do Ismael. Essa avenida aqui tá morta,

Avenida Frei Caneca. Esse pedaço todinho aqui tinha que ser Avenida Ismael

Silva. Todo mundo tem história, e a da Estácio tá no anonimato. A gente perde pra Madureira, dizem que é o berço do samba, mas eles fizeram a criança. O berço é nosso, e a gente tem que viver o berço: Eu sou o berço e acabou! A gente tem que reviver, renascer o Estácio.”