Revista "Fome de Quê?"

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Cardápio

Cardápio

Fome de que?

A América Latina e as Artes............................................. Pág 6 A estética modernista nas artes e o Cinema Novo brasileiro.............................................. Pág 9 Literatura, Política e Artes.............................................. Pág 13 Pandemia, Literatura e Artes.......................................... Pág 16 A arte e as questões sociais: Encontro entre o século XX e XXI.................................. Pág 18 Fome de Informação....................................................... pág 22 Carta dos Leitores........................................................... pág 26 Os dois lados da moeda: Nesta edição, traremos comentários positivos e negativos referentes à edição anterior.

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Fome de que?

Editorial

Editorial

B

ebida é água, comida é pasto.

Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? Nós da revista “Fome de quê?” não queremos só comida, a gente quer alimentar nossos leitores com a rica literatura que o Brasil tem pra nos oferecer, e fazemos isso com diversão e arte. No momento em que a população sente a necessidade de uma saída para qualquer parte, diferente do que nos oferecem aqueles que nos governam, sentimos fome de informação, de liberdade, de vacina, de comida.

Nossa equipe editorial se divertiu muito fazendo essa revista. Não faltou risada, carinho e comprometimento durante as reuniões organizadas. Somos um chefe de cozinha de 6 braços. Sem um desses braços a revista não seria a mesma. Mas precisamos de bocas! Ficaremos feliz por cada leitor que coma nossas revista com os olhos.

Nesta edição iremos colocar um avental, ligar o rádio, e abrir o livro de receitas. Na mistura teremos cinema, literatura, política, artes, diversidade cultural, entre outros assuntos. O ingrediente principal dessa refeição será Modernismos.

Depois de mexer bastante, por muitos e muitos minutos, servimos a você essa revista como um grupo, que trabalhou com muita diversão, entusiasmo e seriedade.

Pedimos para que saboreie com calma, talvez até acompanhado de uma taça de vinho, pra matar sua sede.

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A América Latina e as Artes

A América Latina e as Artes

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aro leitor, a título de início tenho uma proposta! Pense em um prato de comida bem quente, prato esse que está mais quente no centro e mais frio nas bordas, agora lhe pergunto: Por onde você começaria a comer seu prato? E se invertermos as temperaturas?

Por onde começaria a comer seu prato?

Acredito que sua resposta possa depender de diversos fatores, como o que tem nesse prato, o quanto de fome sente e assim por diante…

Pensemos juntos que seu consumo desse prato dependa da sua fome e eu diria a você que pouco importa a temperatura do prato, uma vez que a fome faria com que todo seu conteúdo fosse devorado em instantes. Independente de onde foi plantado o alimento, como foi produzido, se está quente, se está frio, quem entregou a comida a você, a fome faz comer, a fome faz devorar.

Bom, agora sugiro que, depois de saciada a fome, comendo pelo centro, pelas beiradas ou avidamente sem distinção de temperatura, pense sobre de onde veio esse prato de comida, quem plantou, onde plantou, o que saiu do pedacinho da terra para que o plantio fosse feito, o que aconteceu com a terra depois que o insumo foi retirado e quais são as consequências para aquele pedacinho de terra. Não tenho intenção de alarmar ninguém, leitor, é apenas o caminho tortuoso de uma tentativa de analogia, tal qual espero que entenda e a leia criticamente.

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Fome de que?

Na Revista TECNO-LÓGICA, um artigo intitulado “Contaminação de solo e da água pelo uso de agrotóxicos”, escrito por G. Steffen, R. Steffen e Z. Antoniolli, todos do Departamento de Solos, Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, falam sobre as consequências do uso de agrotóxicos e é possível perceber, caro leitor, que o uso de tais foi necessário pelo aumento da população m u n dial e a maior demanda de alimentos. Segundo o texto, com o início da “utilização de modernas técnicas nos sistemas de produção agrícola provocou a introdução de uma grande variedade de substâncias sintéticas no meio ambiente”, assim representando grande risco ambiental. Sabemos também através da leitura que o solo e a água são essenciais para todo tipo de produção agrícola.

Fome de que?

Pode estar se perguntando, “ora, bastante simples, uma vez detectados os efeitos negativos desses agrotóxicos no solo e na água, suspendemos o uso e partimos para uma outra maneira de se cultivar, não?”, pois bem, caro leitor, as coisas não são tão simples assim. Como mencionado no texto original do qual retiro essas informações, as pragas que assolam as plantações são de grande prejuízo econômico para as lavouras e assim, o uso do agrotóxico se tornou tão popular, causando assim, a poluição e a contaminação do solo e, “Como o solo reage lentamente às ações d o s agentes externos, muitas vezes esconde o iminente perigo de substâncias e elementos nocivos que podem, freqüentemente, atingir os seres vivos e provocar a poluição das águas de maneira geral.” E como fica o pedacinho de terra? Ele fica contaminado, seu alimento cresce a partir de um processo de intoxicação do solo e da água.

A América Latina e as Artes

Mas o que isso tem a ver com a nossa conversa? O que agrotóxicos fazem dentro da nossa coluna sobre arte e América Latina? Gostaria de dar continuidade a analogia tortuosa e perguntar a você o que entende como Modernismo? A Semana de Arte Moderna, Antropofagia e São Paulo são coisas que habitam seus pensamentos por alguns instantes. Repetindo-me em demasia, porém com intencionalidade, mais uma vez à sua frente aquela mesma comida, comeria pelas beiradas ou pelo centro? Se eu lhe desse a função de envenená-la e contasse que no centro existe a parte mais rica e valorosa do que contém ali, deixaria o veneno contaminá-la a partir do centro ou das beiradas? Bom, acredito que agiria desta maneira, contaminando a periferia primeiramente porque foi induzido por mim a tal, contei-lhe que me importa mais a parte central e lhe perguntei o que faria, só tem duas opções.

Sabe, caro leitor, talvez envenenar pelas beiradas, pelo centro ou até mesmo aceitar meu comando e não envenená-la sejam questionamentos inúteis uma vez que a comida do seu prato já contém contaminação, já destrói o solo, já polui, então por que a pergunta? E como isso conversa com todos os meus questionamentos sobre Modernismo?

A professora Mônica Bueno em uma edição da Revista Gragoatá, da Universidade Federal Fluminense, escreve uma conversa ficcional entre o brasileiro Mário de Andrade e o argentino Macedonio Fernández para falar sobre o Modernismo brasileiro e a vanguarda argentina. Em seu texto, menciona a relação de experimentação de Mário e Macedonio com o gênero, é evidente na vanguarda argentina aquela mesma atitude e vontade do novo presentes em toda a história do período vanguardista moderno no

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A América Latina e as Artes

Brasil. Dentro de sua construção textual, a professora menciona a possibilidade citada por Silviano Santiago, essas literaturas de margem podem “por un lado, la posibilidad de entrar en una relación particular con el conjunto de la cultura europea y, por otro lado, la posibilidad de fundar un origen y una tradición propia a partir de los usos locales y de la especificidad de la situación de lectura.” Aqui, a contaminação desse solo, feita por toda o processo de colonização europeia, produz certos parâmetros e tradições, como vanguardistas, Macedonio e Mário questionam a tradição, pegam o seu produto já nascido com a contaminação e o envenenam com sua irreverência: “Mário e o modernismo brasileiro mostram explicitamente sua irreverência pela tradição. Sua irreverência em relação à tradição. A ficção torna possível a construção, no âmbito do gênero, de um novo lugar para a intelectual em relação às culturas populares. Macunaíma prova que o de uma sincronia cultural e espaço-temporal na forma de resolver as tensões entre a subjetividade e as tensões entre a subjetividade e a objetividade, a cidade e o campo, a civilização européia e A civilização européia e a cultura nacional. Está no caminho de ler os materiais de uma tradição e também os dispositivos epocais e o e estratégias teóricas que Andrade e Macedônio se impuseram contra a se colocam contra a verossimilhança realista.”

Niterói, n. 22, p. 133-144, 1. sem. 2007 Se induzido pelo meu juízo de valor você envenena pelas beiradas o seu prato,

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Fome de que?

Mário e Macedonio envenenam o prato por inteiro, remexem-o e consomem, consomem o alimento contaminado, regurgitam um novo produto, um produto que é a mistura de si, dos outros, vem das beiradas e consomem o todo, tendo assim uma expressão diferente da tradicional contaminação, uma experimentação de Mário que para muitos beira o plágio, mas é a mistura do veneno com o já contaminado na intencionalidade de ser. Na fome do novo, da ruptura, o movimento de vanguarda modernista e todas as experimentações literárias fora da tradição europeia presentes aqui no pedaço de terra latino-americano, nosso pedaço de terra contaminado são tentativas e sucessos em tomar-lhe pra si a autonomia de se envenenar por conta própria, de se matar a fome do que somos nós e queremos nós, não ignorando é claro, toda a profunda e intensa contaminação do solo.

Fome de que?

A estética modernista nas artes e o Cinema Novo brasileiro

no brasileiro, define que durante o contexto histórico de eclosão do modernismo no Brasil, o cinema ainda existia como uma atividade iniciante, sem formas/padrões estéticos originais definidos. Algo que cerModernismo e o cinema nacional. tamente mudaria de rumo com o cinema novo na década de 60.

A estética modernista nas artes e o Cinema Novo brasileiro

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Modernismo brasileiro eclodiu na primeira metade do século XX a partir da necessidade de uma renovação estética e de conteúdo, afetando produções em múltiplos campos artísticos, como na pintura e literatura (poesia e prosa). Com exceção do filme “Limite”, de Mário de Peixoto, lançado em 1931 que pertence ao movimento modernista, somente trinta anos depois da eclosão do modernismo no brasil que tendências semelhantes foram amplamente atribuídas ao cinema nacional, fato que só foi possível através do movimento Cinema Novo durante a década de 60.

Gustavo Batista Gregio em A revolução modernista nas artes e no cinema moder-

Vanguardas europeias e a busca por uma identidade nacional.

O cinema novo surge na década de 60 com ideias centrais análogas às do idealismo modernista, afirmar uma quebra com padrões externos e usá-los (vanguardas) ao mesmo tempo como referência para desenvolver uma estética nacional e essencialmente modernista dentro das artes.

Na década de 20, o movimento antropofágico, pertencente à primeira geração do modernismo, teve como principal objetivo promover uma renovação estética dentro das produções literárias/artísticas brasileiras, fazendo isso através da absorção cul-

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A estética modernista nas artes e o Cinema Novo brasileiro

tural de elementos provenientes dos movimentos das vanguardas européias. No Brasil, grandes nomes do Cinema Novo, como Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha foram influenciados pelo neorrealismo italiano de Roberto Rossellini e Vittorio de Sica, pela “nouvelle vague” (nova onda), de Godard e Truffaut no cinema francês e pelas técnicas de montagem do cinema sovietico.

Assim, tanto na literatura quanto no cinema, com o movimento cinemanovista, o termo “antropofagia” se justifica ao configurar a ideia de engolir/absorver esses elementos externos, técnicas e influências, e a partir deles remoldar as produções nacionais, conferindo-as uma nova estética visual, narrativa e literária. O que acaba por também alavancar a desejada exclusão da noção eurocêntrica sobre as obras produzidas em território brasileiro, conferindo a elas maior senso de nacionalidade.

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Fome de que?

Vidas Secas: romance (38) e película (63) O romance Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos, explora e denuncia com maestria uma melancólica face da realidade brasileira. Ramos apresenta ao leitor a trajetória de Fabiano e sua família, entretanto, por mais pessoal e íntima que seja a narrativa, esta não deve ser considerada de forma alguma singular e/ou incomum. A renomada obra modernista de Graciliano Ramos faz uso de uma escrita regionalista e aponta de forma aguda para as problemáticas da vida no sertão, da vida pobre no sertão. O romance apresenta uma qualidade segmentada, bem como diz Rubem Braga ao definir a obra como um “romance desmontável” devido a seu caráter fragmentado, como acrescenta Thiago Mio Salla ao dar também importância a ordem e organização definida por Ramos, “O modo como Graciliano articula os capítulos confere unicidade

Fome de que?

ao todo. Creio que perdem força se lidos em separado, sobretudo quando se considera o caráter a um só tempo caleidoscópico e cíclico da obra. Ou seja, a família foge da seca no início e ao final do livro.”

Essa característica fragmentada aproxima ainda mais o romance de sua realidade cinematográfica com a adaptação de 1963 de Nelson Pereira dos Santos, diretor cinemanovista que adaptou a obra de Ramos e a dirigiu para a tela grande, transportando Fabiano e sua jornada, da página para a película. É possível dizer que o tema central do romance, e posteriormente do filme de 63, é ditado pela necessidade humana mais básica, a fome, esta é apresentada na narrativa como uma personagem, assim como a seca.

A estética modernista nas artes e o Cinema Novo brasileiro

baiano, Glauber coloca em prática toda a construção estética e temática desenvolvida pelo Cinema novo, trazendo para a tela uma narrativa, como dito por ele mesmo, feia, crua, visceral e cruel, mas talvez o melhor adjetivo a se usar seja “real”. Glauber retrata com maestria a relação do explorador e do explorado, da fome e de sua principal consequência, a violência, que segundo Rocha, existe como uma manifestação cultural da fome. Esta violência, além de fatal e sangrenta, é principalmente um sintoma de uma doença grave, é um problema político que Glauber fotografa e denuncia com certa urgência. A fim de se entender a visão cinemanovista na década de

Glauber Rocha e a Eztetyka da Fome.

Glauber Rocha, considerado o diretor mais influente do movimento, é responsável pelo manifesto mais importante do cinema brasileiro, este intitulado Uma estética da fome, foi apresentado pelo cineasta baiano em 1965 durante o congresso Terceiro Mundo e Comunidade Mundial, em Gênova, Itália. Neste manifesto, Glauber sumariza o contexto e intenções do Cinema novo, apresentando para o público internacional uma justificativa da estética cinemanovista, explicando também como surge a necessidade da existência de tal estética e qual seu objetivo como ferramenta de mudança social, encontrando na fome a originalidade estética almejada pelo movimento, somada também a estética da violência como manifestação cultural da fome, expressa pela relação explorador e explorado.

Em Deus e o diabo na terra sol de 1964, filme mais influente do diretor

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A estética modernista nas artes e o Cinema Novo brasileiro

60 é importantíssimo assimilar a relação do cinema com o público e como a arte era recepcionada por esse espectador, seja ele brasileiro ou estrangeiro.

Para Rocha, a representação cinemanovista da estética da fome e o mundo ao qual ela se insere, não devem ser confundidas com um estranho “surrealismo tropical”, como de fato era visto pelo público europeu da época. Contudo, essa estética da fome representada na película, par-

Fome de que?

te como um manifesto político-social, anti exploração, como forma de resistência e luta contra o colonizador, que de forma incansável estabelece sua influência, padronização e sistematização dentro da arte. Portanto, através da lente e do celulóide de grandes mentes do cinema brasileiro, tornou-se possível transformar a arte que vigorava, tornando-a mais verossímil à realidade miserável, dando vida ao famoso bordão do movimento, dito por Glauber Rocha: “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.

Estímulo à Agroecologia e Agricultura Familiar.

Somos uma associação sem fins lucrativos que promove o acesso a produtos orgânicos de maneira transparente e sustentável: sem agrotóxicos e sem especulação.

Nossa proposta é estabelecer relações comerciais justas com todos os atores da cadeia produtiva, conectando quem produz com quem consome.

Contato: institutofeiralivre@gmail.com https://www.facebook.com/institutofeiralivre/ https://www.instagram.com/institutofeiralivre/

Fome de que?

Literatura, Política, Artes

“Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.”1 Às vésperas da Copa de 1958, tal conceito, creditado ao dramaturgo Nelson Rodrigues, surgiu diante do “trauma” sofrido pelo povo brasileiro quando nossa seleção foi derrotada no final da Copa do Mundo em 1950, pelo Uruguai, no estádio do Maracanã. Ou seja, dentro da nossa própria casa.

Para o escritor, esse complexo estaria presente sobretudo em relação ao futebol (Alô, 7x1?), mas também se aplica a todos os setores. E é bastante comum, diante de alguma situação embaraçosa, ouvirmos frases como “o brasileiro sempre deixa para última hora”, “o brasileiro tem memória curta”, entre outras. No entanto, ainda que, dentro de determinados contexto isso seja verdade, ou até mesmo possa soar engraçado as vezes, esse fato é trágico. Digo mais: com todo respeito ao autor do pensamento em destaque, mas devo discordar quando caracteriza o comportamento como 1 RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais.

São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p.51 -52: Complexo de vira-latas.

Grifo meu.

Literatura, Política e Artes

voluntário.

Ora, para ser classificada assim, seria necessário que essa conduta estivesse livre de coações e induções. E não é esta a realidade. Em toda a nossa história, o povo brasileiro esteve sob cabresto, no âmbito nacional e internacional. Portanto, não houve uma escolha na postura servil por parte da nação, mas uma covarde imposição e a sua manutenção ocorre justamente na sugestão de que escolhemos e merecemos a posição de subordinados. Nas artes, na política... na vida.

Fartos dessa submissão, a primeira geração do Modernismo Brasileiro, não atoa pertencentes à chamada “fase heroica”, lançou o Manifesto Antropofágico. Neste, é oferecida uma única saída para o bombardeio de influencias do estrangeiro e das elites: “devorar” todas as influências e criar uma produção efetivamente brasileira, com as nossas marcas, nossos traços. No entanto, as pesadas correntes da doutrinação e manipulação nos impedem de ir ao encontro da nossa identidade e efetiva independência – que não virá, de forma alguma, da restrição de direitos, das armas e daqueles que se consideram conservadores e autoritários. O povo foi ludibriado tantas e tantas vezes. Hoje também não é diferente. Nesse sentido, a peça “O Rei da Vela” (Oswald de Andrade, 1933) se faz presente na História de tal maneira que, do ponto de vista artístico, representa justamente o rompimento dessas amarras, mas, ao mesmo tempo, leva-nos a observar a política brasileira como se fosse um palco em que apenas uma única peça foi/é apresentada. E, cá entre nós, que “espetáculo” maçante, monótono, cheio de falhas no roteiro, com os mesmos atores decadentes e sem talento algum. Somente ainda se

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Literatura, Política e Artes

encontra em cartaz por conta dos altos investimentos de influentes patrocinadores.

O mesmo não pode ser dito da genial obra modernista: ao contrário do dito por um senso comum bastante alienado, é uma das inúmeras provas do quanto nossa produção artística e literária é também de excelência! Publicada no ano de 1937 e encenada pela primeira vez em 1967 pelo Teatro Oficina, voltando com a sua montagem original em 2017, ainda que escrita há oitenta e quatro anos atrás, apresenta-se como uma verdadeira fotografia do Brasil atual: se no Estado Novo (1937-1943), a barbárie foi institucionalizada diante da “ameaça da tomada do poder pelos comunistas”, o espectro do “Plano Cohen” segue ludibriando nossa sociedade, concretizado nas famosas “Fake News”.

O intenso compartilhamento de informações mentirosas nas redes sociais – geralmente carregadas de calúnias, difamações e injúrias – é responsável por adestrar a população com as mais diversas (e insanas) teorias da conspiração.

Esse padrão também foi seguido no período da Ditadura Militar (1964-1985), representando um dos tempos mais sombrios da nossa história, refletida na restrição da liberdade e dos demais direitos, sob a mesma tosca justificativa de se proteger a nação do “comunismo”. Assim, os contextos em que a obra se insere nos ajudam a observar a espiral na qual o Brasil segue, em meio às diversas manifestações da luta de classes, em um trágico conflito entre a fome dos detentores do poder e da fome do povo, sendo que a barriga do segundo na maioria esmagadora – senão sempre, de um jeito ou de outro – acaba vazia, deixando-o enfraquecido, lutando “sol a sol” para dar “farra e conforto” aos poderosos (representados na peça e na vida real pela tríade burguesia, elites agrárias e monopólio internacional).

Esse fato é reconhecido pelo protagonista, Abelardo I – interpretado por Renato Borghi, em 1967 e 2017 – dono de uma empresa de agiotagem. No entanto, o personagem encara isso com

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naturalidade, chegando a afirmar com todas as letras que países pobres devem servir aos países mais ricos e se identificar como um mero “feitor” do capital estrangeiro – “Um lacaio, se quiserem! “ Assim, é possível compreender que a submissão às potências também se estende aos empresários e a chamada elite brasileira. Dessa forma, ambos se juntam para matar a fome desses “donos do mundo” e se manterem no poder. Esse dado é escancarado na peça através da relação entre a noiva de Abelardo I, Heloísa de Lesbos, pertencente à uma família tradicional e falida, com Mr. Jones, um empresário estadunidense e o consentimento – quase como uma benção – do agiota para o adultério, pensando nas vantagens que teria com isso.

Enquanto a farra ocorre na ilha cenário do segundo ato da peça, imersos em uma total liberdade sexual e até mesmo adultérios para aqueles que nela se hospedam, outra face dos poderosos é revelada: a hipocrisia. Sim, enquanto seguem vivendo suas vidas como querem, tirando proveito de tudo e todos, satisfazendo seus instintos, desejos,... diante do mundo, muitos desses poderosos se apresentam como baluartes da moral e dos bons costumes – ou melhor, daquilo que é considerado assim. E, em nome da proteção da família, da ordem social, assim como pretendia expurgam todos aqueles que não se enquadram nesses “valores” e incitam um ódio infundado na população. Desde a perseguição a manifestações artísticas, como a “criminalização” do funk, reflexo, inclusive, de questões como racismo e a marginalização das camadas mais populares, até a prática de todo tipo de violência contra seres humanos, tanto a exemplo da justificativa do assédio sexual à uma mulher por sua vestimenta, quanto a perseguições contra pessoas LGBTQIA+.

Assim, o povo é jogado contra o próprio povo. O inferno se instaura mais uma vez. Assistimos até reproduções da patética “Marcha com Deus, pátria e família” que, embora representem uma coreografia chata e repetitiva, devemos ficar atentos ao impacto que possuem nos espectadores, sendo um dos momentos mais tensos do show de horror que se tornou nossa realidade. E mais uma vez o “Rei da Vela” se apresenta como um sinal de alento e alerta em um cenário de golpe e ditadura. Sob a direção de José Celso Martinez Corrêa, trazendo para a montagem a influência do tropicalismo, movimento que surgiu naquela época. Assim como o Modernismo, trazia, por meio de uma aparente leveza refletida nas letras das músicas e nas roupas coloridas, o desejo por mudanças e rupturas. No contexto da Guerra Fria, mais uma vez é notória a aproximação com os

Fome de que?

EUA, ou melhor, a submissão do Brasil à Super Potência em questão, moldando o caráter ditatorial e constante à saciedade das “fomes” de uma minoria às custas do sofrimento e da restrição da liberdade do povo – um ano após a estreia do “Rei da Vela” nos palcos, entrou em vigor o AI-5, tornando mais séria a situação da Ditadura no Brasil.

Todos os períodos de opressão têm um fim, cedo ou tarde: a ditadura de Vargas teve seu fim e, no caso da Ditadura Militar, tivemos um recomeço de esperança a partir da aprovação da Constituição de 1988. O povo foi libertado, como no terceiro ato, à beira da morte, Abelardo I determina que a jaula, na qual estão seus devedores, seja aberta. No entanto, a democracia requer constante vigilância, pois o autoritarismo e os “Reis da Vela” podem sempre retornar com nomes até já conhecidos, como no caso do sócio, Abelardo II, que assume o posto do antigo proprietário na firma de agiotagem e se casa com Heloísa.

Do mesmo modo, na atualidade, a democracia se encontra ameaçada mais uma vez: no fim da segunda/ início da terceira década do século XXI, ao contrário de tudo o que está previsto na Constituição, observamos um processo de intensa relativização das barbáries cometidas, sobretudo, na Ditadura Militar. Assim, retornamos ao primeiro ato de “O Rei da Vela” é incentivada a regressão, como pode ser notada com a volta da vela ao mercado, promovida pelo agiota Abelardo I, devido à crise financeira – retratada na obra como a crise de 29 – e do fato das pessoas não conseguirem pagar a conta de luz.

Em momentos como o atual, brasileiro, exausto e faminto, é alimentado novamente com todos aqueles delírios e teorias da conspiração, além da persistência em nos venderem uma ideia

Literatura, Política e Artes

de que os EUA ou países europeus, como França e Inglaterra, seriam melhores, superiores. Quando isso ocorre, o complexo de vira-lata volta a nos atormentar, fazendo-nos olhar para fora ou apenas fechar os olhos, quando deveríamos prestar atenção no que está ocorrendo em nosso país, valorizar e nos apegar às nossas raízes. Nunca foi tão importante nos nutrirmos com nossas produções artísticas e literárias, mastigando com calma e atenção para não perder um único detalhe.

Somente assim nossa identidade será valorizada, primeiramente, entre nós, o povo brasileiro. Caso contrário, perderemos mais uma vez todas as nossas forças. A sensação de náusea e fraqueza de uma população desnutrida (agora também no sentido denotativo da palavra) nos impedem de romper com as correntes da submissão impedem a sociedade de acordar e reagir, pensar de forma crítica.

Sabemos que este não é o desejo de quem nos controla. Eles, por sua vez, estão embriagados e empanzinados com a busca pelo poder, mas parecem passar por um processo de desagradável má ingestão, representado pelos discursos mais absurdos e delirantes que já vimos em todos os tempos. E, por consequência, sob as mais diversas justificativas, a própria vida foi posta em segundo plano em nome do poder e da dominação.

Dentro do atual cenário pandêmico, até o fechamento desta matéria, mais de 582 mil velas foram acesas e os nossos “reis” seguem herdando “um tostão de cada morto nacional”. Não podemos ignorar que já estamos em meio ao caos, mais uma vez. E, mesmo não podendo, por enquanto, estarmos fisicamente de mãos dadas, estamos sempre juntos, tendo em mente que, como bem observado pelo tropicalista Chico Buarque, apesar de certos governantes, “amanhã há de ser outro dia”.

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Pandemia, Literatura e Artes

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Pandemia, Literatura e Artes

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que um poema escrito na década de 1940, por Manoel Bandeira, conhecido principalmente pelo seu vínculo com o modernismo brasileiro, tem em comum com a atual situação em que vivemos nos dias de hoje em meio a pandemia do corona vírus? A fome e a miséria. Fome e miséria que foram retratados no poema “O bicho” em 1947 e que infelizmente, continua sendo a realidade brasileira nos dias atuais.

A poesia e as outras artes no modernismo serviram como meio de protesto. A primeira fase do modernismo – conhecida como a geração de 30 – é tida como referência porque teve um grande viés político, religioso e social nas suas artes. A poesia modernista teve um papel fundamental na crítica social, por fazer as pessoas refletirem sobre o dia a dia e os problemas sociais existentes da época. Eles acreditavam que estavam a serviço da cultura popular e tinham como

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compromisso trazer essas reflexões para o público, utilizando a linguagem mais próxima do cotidiano na literatura, facilitando a compreensão do público leitor. Alguns dos poemas de Manoel Bandeira seguem essa temática de denunciar os problemas e abismos sociais existentes da sua época.

A pandemia da corona vírus, acentuou e escancarou os problemas já existentes na sociedade brasileira que é a fome e a pobreza. Batemos números recordes – que ao contrário da olimpíada e paraolimpíada – não são comemoráveis. Dados da FGV1 mostram que em seis meses – agosto de 2020 a fevereiro de 2021 –, a pobreza no Brasil triplicou.

E o número de brasileiros que passaram fome nos últimos meses de 2020 chegou a 19 milhões e mais da metade dos domicílios do país enfrentou algum grau de insegurança alimentar, segundo dados divulgados pela Rede Penssan2. Podemos associar esse número alarmante, com o número de desemprego, que bateu o recorde de 14,8 milhões de desempregados, recorde esse que foi 1 Fundação Getúlio Vargas 2 Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional

Fome de que? divulgado pelo IBGE3. E também, pelo aumento do preço dos alimentos nos supermercados, principalmente, os alimentos básicos, utilizados no dia a dia como o arroz, legumes e proteínas. Aumento que atingiu em cheio o consumidor, dificultando a vida de quem mais precisa. Como proposta para tentar diminuir a fome do povo brasileiro temos a fala elitista do atual ministro da Economia Paulo Guedes4, que propôs direcionar as sobras de restaurantes, dos pratos da “classe média” para os mais necessitados. Sabemos, caros leitores, que não é assim que resolveremos de fato o problema da fome e do desperdício existente no pais, seria uma maneira de camuflagem e que não daria nenhuma dignidade para essa população. No primeiro e segundo tercetos do poema, Bandeira faz essa crítica ao descaso, ao desperdício de comida existente. O bicho – que como sabemos é o ser humano – deixa de lado quaisquer regras morais impostas pela sociedade e age apenas por puro extinto de sobrevivência “catando comida entre os detritos” para conseguir se alimentar, vivendo das sobras, do desperdício, do lixo.

Falta comida, emprego e, até mesmo, um teto para morar. Na pandemia da covid-19 o número de pessoas em situação de rua aumentou. Segundo o último estudo realizado pelo IPEA5 em março de 2020 a estimativa de moradores de rua era de 222 mil, aumento que pode ser visivelmente percebido por todos nós. A pandemia desnudou os proble3 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 4 A fala foi feita dia 17/06/2021 durante o Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, promovido pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) 5 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Pandemia, Literatura e Artes mas sociais já existentes, como a falta de políticas públicas para essa população. E, na atual situação que vivemos, além dos problemas que sempre enfrentaram, atualmente eles se veem sem amparo para se proteger desse vírus. Como ficar em casa, se não tem moradia? Como usar a máscara, se muitos não têm dinheiro para comprar e nem lugar apropriado para lavar e assim poder reutilizar?

O abismo social só se intensifica e se mostra mais evidente para todos nós. Nesse sistema falido que estamos inseridos, mesmo durante a crise economia atual o Brasil conseguiu ter novos 42 bilionários6. E aí vem a nossa indignação com esse sistema capitalista.

Para cada um desses bilionários são necessários 27 milhões de pessoas em situação de pobreza? 19 milhões de pessoas que passam fome? Questionamentos que fazemos ao se deparar com essas notícias, ao vermos os problemas, já citados, que o povo está enfrentando, que o Brasil está vivendo.

Abismos que tão genialmente em sua poesia Manoel Bandeira conseguiu mostrar para os leitores e fazê-los refletir.

Encerro com o último verso do poema que mostra o espanto do poeta e do próprio leitor ao descobrir que aquele bicho, que nega o sentido literal da palavra encontrado no dicionário “designação comum a todos os animais, em especial os terrestres, exceto os pertencentes à raça humana” que é submetido a viver em tal situação para sobreviver era um ser-humano “O bicho, meu Deus, era um homem. ” 6

Ranking de bilionários de 2021 feito pela Forbes.

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A arte e as questões sociais: Encontro entre o século XX e XXI

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A arte e as questões sociais: Encontro entre o século XX e XXI

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uebra de padrões. Desconstrução. Paixão crítica. Revolução. Se engana quem pensa que princípios tão modernos são exclusividade do século XXI. Há quase 100 anos, artistas brasileiros se juntavam em prol da ruptura com a tradição, do acolhimento do novo e da experimentação artística. Intelectuais da literatura, das artes e até mesmo da música cansaram-se do velho e encantaram-se pela modernidade que expressava evolução por meio da rapidez. A ideia era se apegar ao desapego da coerência, a contradição, e, por meio desta, chegar à crítica.

Uma das mais fortes contradições é a paixão pela modernidade, associada ao avanço do capitalismo, que tanto reforçou desigualdades e injustiças sociais, pautas tão presentes e criticadas em obras modernistas.

Parte da missão do movimento foi também a expansão da literatura pelo Brasil além da região sudeste. Antes, à moda de Euclides da Cunha - um carioca escrevendo sobre o sertão -, nesse momento, surge Graciliano Ramos, alagoano escrevendo sobre a sua terra e o seu povo. Graciliano cresceu no Sertão nordestino e se tornou um grande crítico das realidades sociais brasileiras, regionais ou gerais. O escritor tinha fome de justiça. Apesar das múltiplas tentativas,

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suas obras não se encaixavam em rótulos simplórios e reducionistas de “romance intimista” ou “romance social”, como afirma Luna Filho (2021). O majestoso Graça, sem objetivo de servir a apenas um “deus”, uniu os dois aspectos em suas obras, em uma bem-sucedida experimentação modernista.

Em 1933, o primeiro romance de Graciliano Ramos foi publicado. Caetés abriu espaço para o debate sobre as diferenças entre “selvagens” e “civilizados”, muito bem desenvolvido pelo antropólogo Roger Bartra no livro “O selvagem no espelho”, originalmente em espanhol. A selvageria está ligada aos instintos e à irracionalidade animal e é usada para menosprezar certos povos. Apesar disso, a conclusão do personagem principal, João Valério, é a de que não somos nada além de selvagens ligeiramente polidos. Em 2021, no Cuiabá, homens que participam da imaginária civilização ocidental ocupam extensas filas para receberem doação de ossos animais e uns chegam a comer assim mesmo, cru, como fazem os mesmos animais. Esse é o retrato da fome de hoje, nesses tempos tão atuais e modernos com problemas tão antigos e persistentes.

Por falar em fome, é impossível deixar de lado a obra mais conhecida de Graciliano Ramos. “Vidas Secas”, publicado em 1938, consiste no suprassumo da

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expressão simultânea do caráter social e intimista, marca registrada do nosso Graça, “porque as misérias sociais se entranham no espírito de maneira pessoal e intransferível”, escreve Luna Filho. O romance, ficcional, traduz a realidade da insegurança alimentar (no sentido mais puro do termo, afinal, a fome ou alimento da família de Fabiano vinha de ciclos de seca e chuva) que atormenta milhões de brasileiros até hoje, seja pela seca, seja pelas injustiças cruéis. No artigo “O mundo coberto de penas: o vínculo entre ser humano e terra como problema em Vidas Secas”, José Roberto de Luna Filho analisa a relação entre homem e terra como problemática não só pela plantação e pela seca, mas também por ser a causa inicial dos problemas sociais, em razão de uma relação conturbada de posse, que resulta no poder e dominação de uns sobre outros. Não necessa-

riamente são essas as únicas opções de relação com a terra. A agricultura familiar, por exemplo, constitui uma alternativa de relacionamento saudável e mais sus-

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tentável e, principalmente em tempos de fome e desemprego tão drásticos como esses, uma maneira de alimentar uma população sem cegar-se pelo lucro que, para as indústrias, é justificativa para toda e qualquer catástrofe ambiental, desde o desmatamento até alterações genéticas que acelerem os processos da natureza. A realização de hortas comunitárias, espaço onde indivíduos participam voluntariamente na produção de alimentos para a comunidade que se inserem, é também outra forma de relação com a terra que não produz relações de poder, pelo contrário, atua pela inclusão social e segurança familiar da comunidade como um todo, além da possibilidade de geração de renda, para sobrevivência dentro do capitalismo. Porque é impossível falar da fome de justiça, de representação e de mudança, sem resolver a fome em seu sentido literal, a de comida.

Todas essas análises, feitas anos depois das obras, revelam e comprovam a importância da literatura como espaço de registro e crítica da realidade social.

Graciliano sabia disso, por isso utilizava o romance como denúncia, de forma majestosa e consciente, não só da existência humana nos aspectos materiais, mas também das

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subjetividades do ser, a Angústia que compartilhamos enquanto brasileiros e, indo além, enquanto humanidade. Em meio ao desmatamento desenfreado, às mudanças climáticas, ao aumento da fome e subnutrição em tantos lugares, humanos sendo tratados como nem animais deveriam ser e ao sequestro da cultura alimentar pelas grandes indústrias, a literatura e as artes continuam com o papel importante de crítica e revolta, na tentativa de desafogar e interromper a Roda Viva que nos impede de ter voz ativa e no nosso destino mandar.

Marisa Schincariol descreve Graciliano Ramos como o modernista engajado, por todos os motivos expostos aqui e muito mais. Graça tinha fome de justiça, então que hoje tenhamos também.

Hoje, com 19 milhões de pessoas passando fome de alimento. No Brasil, grande exportador de alimentos, que em 2014 havia saído do conhecido Mapa da Fome da ONU. Com o fim do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) no governo Bolsonaro, é difícil acreditar que há vontade pública de que esse quadro mude. O louvável rapper Emicida, em 2009, nomeou o seu primeiro mixtape (compilação de canções) de “Pra quem já mordeu um cachorro por comida até que eu cheguei longe...”. O compositor, cantor, escritor e agora mestre do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra é uma grande referência do rap nacional e faz parte desse grupo de sobreviventes da fome, que embarcam no rap como um espaço de desabafo das tantas mazelas e motivação para a transformação delas.

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Em 2019, quando, em comparação aos dias atuais, contávamos com 10 milhões de pessoas na fome e 500 mil pessoas a mais (hoje vítimas do covid), cantou que o combustível de seu povo é a fome. O rap, assim como a literatura de Graciliano Ramos, é palco de denúncia social e instrumento de empoderamento dos que participam da periferia, da pobreza e da fome. “Que amanhã não seja só um ontem com um novo nome” e a arte brasileira seja capaz de impulsionar transformações sociais, como quis nosso Graça, o glorioso Emicida e tantos outros, entre as artes mais prestigiadas e as mais menosprezadas.

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Fome de que?

Instituto Chão: O Instituto Chão é uma associação sem fins lucrativos que se movimenta para o aprofundamento da consciência crítica, da democracia e da igualdade de direito, a fim de construir coletivamente uma sociedade que permita a cada um exercer sua liberdade.

Trabalhamos com os princípios da Economia Solidária, uma forma de organização que coloca o ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, articulando e integrando redes que fomentam a autonomia, o cooperativismo, o comércio justo e o consumo consciente.

Contato: (11) 3819-4205 contato@institutochao.org facebook.com/institutochao

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Fome de Informação Fome de Informação

“Agora sim, o mundo Durante a exibição do programa, internautas perceberam pode desabar” Polêmicas. Conflitos matrimoniais. Traições. Reality show. Com exceção da última, todas essas coisas são muito comuns no nosso cotidiano. Quem nunca soube de (ou viveu) um caso de infidelidade? A popularização da internet e das redes sociais permitiu a massiva divulgação de histórias assim, principalmente quando os envolvidos são pessoas famosas na mídia.

Um dos acontecimentos mais recentes, foi a iminente separação do casal Sammy e Pyong Lee. Este último, que já era famoso no youtube, ganhou mais destaque ao fazer parte do elenco do reality “Big Brother Brasil”, que foi ao ar em 2020. As polêmicas envolvendo o influenciador digital começaram desde o anúncio de sua entrada, visto que a gravação do programa ocorreu durante o terceiro trimestre de gravidez de sua então esposa Sammy Lee. Logo, a participação de Pyong no BBB20 implicava no possível não comparecimento no nascimento de seu filho (fato que realmente ocorreu). No entanto, se engana quem pensa que os problemas do casal pararam por aí.

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certas atitudes extremamente duvidosas e questionáveis por parte do youtuber com outras mulheres, chegando até a levantarem acusações de assédio sexual. Até aquele momento, sua esposa o dava total apoio e suporte.

Depois de ter sido eliminado do programa, Pyong continuou recebendo atenção na internet (mesmo que boa parte dela fossem comentários negativos) e isso o levou a ser convidado para um novo reality chamado “A Ilha”.

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A emissora Record, responsável por este novo programa, iniciou a divulgação com imagens do ex-bbb indo para debaixo de um edredom com outra mulher. A partir daí, iniciou-se uma reação em cadeia que culminou no público divórcio do casal Sammy e Pyong. Apesar de agora a cena já ter ido completa ao ar, mostrando que ele se deitou com outra participante na cama e não fez nada, muitos começaram a questionar o que seria uma traição. É inegável que essa história rendeu uma polêmica enorme.

Traçando um paralelo entre grandes polêmicas, divórcios e casamentos, podemos relembrar do conturbado relacionamento de Oswald de Andrade com Pagu. Bom, talvez tenhamos que chamar de triângulo amoroso, pelo

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menos no começo da história.

Oswald de Andrade foi um importante artista do modernismo brasileiro e junto com sua primeira esposa, Tarsila do Amaral (também extremamente relevante para o movimento), levantou a bandeira do movimento Antropofágico.

Pouco tempo depois, conheceram Pagu, que na época ainda se chamava Patrícia Galvão.

A menina mais jovem ficou encantada com o casal e começou a ficar cada vez mais íntima dos mesmos, passando até a escrever para a Revista Antopofagia. No primeiro momento, a relação entre eles eram de extrema admiração por parte da garota de 19 anos, mas ela não demorou a cair na sedução de Oswald, que estava determinado a ficar com ela.

E então, após três anos de casamento com Tarsila, Oswald de Andrade se divorcia para engatar em um novo matrimônio, dessa vez, com Pagu. Entretanto, as polêmicas que pipocaram neste período não foram apenas pela

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tos anos e crises de ciúmes depois sob acusações de infidelidade. O que será que a ativista pensaria da situação de Pyong Lee e Sammy? E se ela soubesse que os dois talvez reatem o relacionamento, mesmo depois de tantos escândalos? Se Pagu fosse viva e pudesse conversar com Sammy, que tipo de conselho ela ofereceria? Na minha opinião, o ex-bbb não separação (e pela possível sairia muito valorizado destraição que teria ocorrido da sa. parte de Oswald, já que muitos afirmam que ele se encontrava às escondidas com “Será que você não tem Pagu). Não, as principais fofocas se derivaram da estra- outra víscera para cannha cerimônia de casamento tar?” dos dois.

Essa observação foi feita por Foi uma celebração discre- João Cabral de Melo Neto ta, afinal, imagino eu, o local para o colega, tanto no canão era muito propício para minho da poesia quanto na agitações. O mais novo casal diplomacia, Vinícius de Moescolheu se casar num cemi- raes, ao questioná-lo sobre tério. A justificativa foi de que todas suas músicas somente o gesto serviu para contem- tratarem do coração. De fato, plar os familiares do noivo, cantar sobre o amor é muito que repousavam naquele ja- importante, mas o autor de zigo do Cemitério da Conso- “Morte e Vida Severina” pode lação. Entretanto, a alegação nos levar à uma reflexão nenão serviu para apaziguar cessária: não podemos peros comentários do povo. A manecer pensando apenas união foi escandalosa e me- nesse romantismo, sem olhar para o mundo que nos rodeia morável. e nos atentar às urgências da As duas histórias têm pa- sociedade, realizando, por ralelos claros como traição, conseguinte, um processo de divórcio e opiniões alheias pura alienação. Isso apenas interferindo diretamente no perpetua as crueldades e o acontecido. Porém também silenciamento das questões é possível levantar novas sociais.

questões a partir disso. Pagu, por exemplo, viria a se tornar Há dois meses, mais ou meum importante ícone feminis- nos, veio à tona o caso de ta da história do Brasil. E a violência praticada pelo DJ mesma, inclusive, terminou o Ivis à Pamella Holanda. A casamento com Oswald mui- arquiteta e digital influencer,

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que deu à luz a sua única filha, uma menina de 10 meses de idade, foi vítima das agressões do então marido desde a gravidez. Muitas pessoas souberam sair de suas “bolhas” para se solidarizar com a mulher, mas, em alguns casos, essa indignação veio carregada de outras violências, como no caso da Antonia Fontenelle.

A youtuber, mais uma vez, fez comentários xenofóbicos, afirmando com todas as letras que “Esses Paraíbas fazem um pouquinho de sucesso e acham que podem tudo”. Mais tarde, após ser cancelada nas redes sociais, Antonia se defendeu dizendo que seria apenas uma força de expressão, para falar sobre quem faz “paraibada”, e ainda acrescentou com um exemplo: “bater em mulher”.

Cremos (e esperamos) que os leitores estejam chocados e revoltados… pois esses comentários estão presentes em nosso cotidiano, sendo produtos de anos de uma história de exclusão e preconceitos que precisam ser combatidos. O pesticida para essa praga, recomendamos a atenta leitura das obras

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daquele que ficou conhecido como modernismo regionalista, que corajosamente tocou e cantou as vísceras abertas da vida dos “Severinos”, “Fabianos”, etc.

A Hora da(s) estrela(s) Ao comentar sobre o incêndio na Cinemateca Brasileira, que fica em São Paulo, Samantha Schmutz criticou o silêncio das atrizes influenciadoras, que estão sempre lindas e maravilhosas nos eventos, mas não lutam pela arte. A referência foi direta às famosas que marcaram presença no festival de Cannes.

Não foram citados nomes na postagem, mas sabemos que Marina Ruy Barbosa estava lá. A partir daí, a ruivinha se pronunciou, reconhecendo o problema do incêndio e a necessidade de cobrar atitudes por parte do Governo.

E também aproveitou para se defender, afirmando que sua ida ao festival “não deveria causar tamanha indignação de alguns”. E isso nos deve fazer (re) pensar sobre a presença da mulher na arte brasileira.

Sabemos bem que muitas das nossas atrizes, cantoras, etc. são colocadas para a mídia como rostos bonitos e corpos objeto de desejo - servindo também como instrumento de opressão às mulheres no geral, impondo padrões de beleza, por exemplo. Muitas vezes, essas estrelas não são respeitadas pelo seu desempenho profissional. E quando elas aparecem em eventos nacionais ou internacionais - como o Festival de Cannes -, apenas o físico parece ter foco, ainda mais com todos os preconceitos e fetiches acerca da mulher brasileira – e latina no geral.

Estamos em um mundo machista, e parece que apenas sobrevivemos a ele (quando sobrevivemos). A mulher ainda é muito silenciada e por isso, torna-se mais grave quando uma mulher famosa não usa sua voz para falar sobre assuntos que interessam ao nosso povo: seja de cunho artístico, político ou social. Mas também não podemos ignorar a crueldade da cultura do cancelamento – Schmutz, por exemplo, já foi condenada pelo superior tribunal da internet diversas vezes por suas declarações.

Por isso muitas pessoas optam pelo silêncio – não que esse seja especificamente o caso da ruiva em questão.

Em contrapartida, ao optar por não se pronunciar - ou até mesmo aguardar para tanto - a pessoa também é atacada. É uma tortura, realmente. O que não quer dizer que

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Fome de que?

a omissão seja válida, isso nunca! Samantha Schmutz tem razão, principalmente quando fala sobre pessoas que vão para eventos até mesmo no exterior, e não se indignam com a quase nula valorização da arte nacional diante do seu próprio povo.

De qualquer forma, é inegável afirmar que as famosas de cinema e televisão representam referências para boa parte das moças. Não é à toa que Macabéa, em “A Hora da Estrela”, no momento da morte, sente-se uma estrela de cinema. E, quando uma delas está presente nesses locais, deveria ser motivo de vitória, pois seriam mulheres brasileiras ocupando espaços e tendo destaque internacional. Um momento para mostrar ao mundo a nossa face, nossa cultura. Deveria servir de encorajamento para darmos o próximo passo representado por uma maior abertura e inclusão efetiva da diversidade de mulheres

nesses lugares - pois sabemos bem que os padrões ainda se perpetuam e isso deve ser combatido por todas nós.

Esse momento deveria ser tão valioso quanto a indicação da nossa dama do teatro, Fernanda Montenegro, ao Oscar em 1999. São conquistas que vão se somando, mas, em meio à apelação midiática voltada para questões do capital, esse caráter revolucionário perde espaço para as meras vestimentas de grife, as joias e selfies.

Parece algo tão distante, tão fora da nossa realidade que chega até a desanimar, não é mesmo?

De tanto ficarmos de boca fechada, parece que vamos morrer de inanição. Mas, a hora das nossas estrelas, pelo menos por enquanto, não simbolizam a morte – como no caso da jovem Macabeia –, mas a nossa luz aqui mesmo na terra, iluminando umas às outras. Seria importante beber das fontes

das artes produzidas por aquelas que vieram antes e nós para que sejam cultivadas cidadãs fortes, guerreiras, vindas de todas as partes do Brasil, contando suas histórias, representando as múltiplas realidades de nosso país e sobre o que é ser mulher. Neste instante, convidamos vocês a fazer um exercício, pensando nas mulheres que fizeram parte dos Modernismos. Lembrem-se de toda coragem para enfrentar o machismo e outros preconceitos para se expressar e dar voz ao nosso povo.

Cada uma ao seu jeito, como a pluralidade marcante no próprio movimento: desde as obras de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, as lutas políticas travadas por Pagu, toda produção artística de Djanira da Mota e Silva, as produções literárias de Raquel de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Cecília Meireles e Clarice Lispector, entre outras.

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Carta dos Leitores

Fome de que?

Carta dos Petrolina, 18 de agosto de 2021.

Cara revista FOME DE QUÊ?, Em primeiro lugar, gostaria de parabenizá-los pelo ótimo trabalho que vem sendo feito. A edição desse mês sobre as vanguardas artísticas ampliou meus horizontes e estou muito ansiosa para a próxima sobre modernismo.

A relação que é possível estabelecer entre os modernistas e Freud (que também se afastou da necessidade de seguir à risca alguns paradigmas para inventar a psicanálise) muito me agradou. Aliás, eu não sabia que os próprios modernistas tinham tido contato com obras de Freud para que construíssem um certo olhar sobre a realidade do país (e talvez do Ocidente no geral).

Novamente os parabenizo pelos incríveis artigos apresentados. Estou ansiosa para a edição do mês que vem. Com certeza terá muito mais sobre esses assuntos que acabo de descobrir que muito me interessam.

A matéria sobre a resistência de uma parte da comunidade artística com relação ao padrão higienista europeu que estava em vigência no começo do século XX realmente me tocou. As vanguardas (e o modernismo, claro) tiveram um papel indiscutivelmente Atenciosamente, importante durante esse período sombrio, que ansiava por uma população acrítica e Carolina Campelo. aculturada.

Fico pensando em como poderíamos estar nos dias de hoje, caso o modernismo não tivesse sido tão emblemático. Será que muitos dos avanços que temos atualmente como sociedade não são frutos dos questionamentos e dos embates levantados pelos artistas já naquela época? Quantos direitos que temos hoje, no cotidiano, eram privilégios? E quantos deles estão intrinsecamente ligados com esse momento da história?

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d o p m é b m a t ê c Vo “Fome de Q a m g @ e u q e d e fom adiantamos que

Fome de que?

Carta dos Leitores

s Leitores Taubaté, 19 de agosto de 2021.

Consigo, com facilidade, estabelecer um paralelo entre os quadros pintados dentro Cara revista FOME DE QUÊ?, dos manicômios pelos pacientes com alguns dos quadros apresentados nessa ediEstou até agora chocado com o quão infe- ção. Todos são ilógicos, mesmo que nos das liz foram as colunas da edição desse mês. pessoas com transtornos isso seja fruto de Demonizaram a verdadeira arte e se chama- suas psicoses. ram de “críticos” por conta disso.

Apesar de alguns demonstrarem certos taNinguém está interessado em conceitos, lentos (em certos tipos de técnicas), não se queremos olhar um quadro e entendê-lo, ler trata do tipo de arte que o povo gosta de um poema e conseguir distinguir as rimas, consumir. É uma estética forçada e extravaos versos, as ideias. Isso de vanguardas não gante. E vocês trataram como uma “revolupassa de um movimento tosco criado por ção”. Detestei. Aguardo a próxima edição quem não tinha mais o que fazer. para ver se minha assinatura valerá a pena ou se a cancelarei.

Impressionante o descaso que tiveram ao não mostrar o outro lado. A edição do mês Atenciosamente, que vem promete ser sobre “modernismos”, mas duvido que abordem grandes Mauro Lobos. pensadores da época que verdadeiramente criticavam a modinha que alguns vinham trazendo da Europa.

a d o ã ç i d e a s s e e r b o s a t r a c a m u r a i de env a r a p l i a m e m u r a i v n e a t s a B . ” ? ê u , Q s e õ t s e g u s s a u s r a t i l i b i s s o p a r a ail.com. E p s ó P e r b o s s o m e r a l a f o ã ç i d e a na próxim -modernismo!

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