5 minute read

Relato de uma MÃErinheira deprimeiraviagem

Por Marcela Heitor, mãe da Cecília

É tudo muito natural. Quando nasce um bebê, nasce uma mãe. E ele mama direitinho logo de cara, o leite sai sem dor (como nas novelas), as noites são longas, mas nunca exaustivas o suficiente para tirar do nosso rosto aquele sorriso de quem descobriu a plenitude pelo resto da vida. Tudo sai como o esperado.

Advertisement

Quando a equipe da LORD permitiu que eu contasse minha experiência como mãe de primeira viagem (minha filha, Cecília, nasceu em março deste ano), queria começar assim este texto. Mas seria leviano demais da minha parte.

Confesso que, no meu caso, não foi o caos que eu esperava e fui premiada em muitos aspectos, inclusive o do sono e da amamentação, ambos tranquilos.

Mas quem é mãe sabe que nem sempre a melhor fase da vida vem sem percalços – e quem ainda não é deve esperar o maior amor do mundo com os pés no chão, para evitar frustrações. A receita é persistência e paciência.

Ser mãe é cilada então? De jeito nenhum. Não há experiência mais transformadora na vida. Nem mais gratificante. E isso vale para mãe e pai. Felizmente, hoje temos bastante conteúdo produzido sobre isso: científico, médico, psicológico e compartilhado entre “gente como a gente na mesma situação”, no mundo real e virtual. Tudo isso facilita – e muito! – uma entrada mais leve no universo dos que tem filhos.

Mas, já que os meus conselhos foram autorizados, deixo aqui algumas dicas que, como mãe de primeiríssima viagem, recebi, testei e achei que foram válidas. Minha filha não tem nem dois meses, mas a intensidade desses primeiros dias já trouxe alguns ensinamentos – que, como jornalista, prezei por checar com fontes confiáveis antes de repassar, como a Sociedade Brasileira de Pediatria. Não custa compartilhar para tentar deixar a vida de outras mães mais leves. Mesmo porque, se tem uma coisa que a maternidade traz é empatia. A gente quer ajudar quem puder – e se coloca muito mais no lugar do outro. Eis os dez mantras que eu passaria para frente.

1. Não seja mãe neurótica

Recebi este conselho de uma amiga quando Cecília ainda estava na minha barriga. “Todo mundo quer ajudar a mãe no começo. É instintivo e natural. Mas ninguém quer ajudar mãe neurótica.

É tanta recomendação e instrução que desestimula aquela boa vontade inicial”. Isso ficou na minha cabeça e fez todo sentido.

Sabe quando você pede pra segurar o bebê daquela amiga, mas ela fica corrigindo a posição da criança no seu colo, dizendo pra você não fazer isso ou aquilo? Por mais inexperiente que o “ajudante” seja, o principal é que ele está ali para tentar ser útil, dar carinho, paparicar e ficar perto daquele ser tão indefeso que faz as pessoas transbordarem amor. Valorize isso. Pense mais na intenção do que na execução. Sem contar que, você tentando ser mais leve, tudo flui com mais tranquilidade para todos. Cuidados são necessários, claro, mas o extremo não é benéfico para ninguém.

2. Aceite ajuda

Uma boa rede de proteção é fundamental, principalmente nos primeiros dias após o nascimento. Mais do que pessoas experientes no assunto, é preciso ter por perto gente que você confia. Minha mãe, por exemplo, ficou lá em casa na semana do parto e nos primeiros 20 dias da Cecília. Além de ajudar na logística exaustiva de dar banho, fazer arrotar, ninar e trocar fralda, ela cuidou da parte que a mãe que recém nasceu naquele momento nem lembrava: lavar roupa, preparar café-almoço-jantar, geladeira, faxina, enfim... o dia a dia da casa. E cuidou de mim. Porque, sim, nos primeiros dias de adaptação à nova rotina, à amamentação e ao bebê, a gente esquece da gente. Ter contado com ajuda da família e dos amigos, nem que seja para dormir uma horinha enquanto eles olham a criança, foi essencial para um pós-parto fisicamente e psicologicamente mais tranquilo.

3. seuReorganize tempo

Esta é uma dica que já pode ser executada na gravidez. Mas você só saberá onde e quanto do seu tempo terá que ser reorganizado quando o bebê nascer. Cada criança é de um jeito, assim como cada mãe. Logo, tudo tem que ser analisado na prática, não adianta muito ter planejamento prévio. As madrugadas serão mais puxadas? Durma mais durante o dia. O pai só fica em casa de manhã? Então veja quais tarefas podem ficar com ele neste período. Não dá mais tempo de almoçar? Veja opções de entrega de comida, faça marmitas para congelar. Diante das demandas da criança você vai adaptando a rotina e logo tudo volta a fluir com mais tranquilidade. Não adianta, ela que manda agora. O começo realmente exige dos pais uma dedicação integral e exclusiva ao bebê, então quanto mais organizado for seu tempo, melhor ele será aproveitado. E isso pode significar mais horinhas para dormir.

4. Não romantize nem terrorize

Acredite: a maternidade não é o tempo todo aquele mar de flores que a gente viu na TV, mas também não é nenhum bicho papão. Vai ter coisa mais fácil do que você imaginou e ouviu falar – e vai ter coisa bem mais difícil do que você esperava também. Não criar expectativas evita muitas frustrações, mas não deixe que isso te endureça ou diminua sua empolgação com o processo. No fim, por mais depoimentos que tenha escutado ou lido, só dá para saber como você se sairá como mãe na prática, então mentalize que a sua experiência será A SUA EXPERIÊNCIA. Inspire-se naquelas pessoas que considera bons exemplos, mas siga o que acredita e vá de coração aberto.

5. Se informe, mas saiba escolher suas fontes

Em tempos de Google, tudo pode ser explicado com um clique. Mas não caia nessa armadilha muitas vezes criadora de neuroses desnecessárias. Vai pesquisar? Cheque a fonte. Quer um conselho? Peça a pessoas que você confia. É para tomar algum remédio ou decisão em relação à saúde do seu filho? Pergunte a um médico. A maternidade traz muitas dúvidas – MUITAS! Toda hora a gente terá que tomar uma decisão sobre algo novo ou entender assuntos, doenças e desafios nunca vividos antes. O Google terá diferentes respostas para todos eles, então seja crítico na hora de ver em qual delas confiar.

Um livro que me ajudou muito e ainda me ajuda é o “FILHOS – Da gravidez aos 2 anos de idade”, escrito pelos pediatras da Sociedade Brasileira de Pediatria. Traz muitas dicas de forma didática, é de fonte confiável e pode ser comprado em livrarias ou na versão virtual, para salvar em PDF no próprio celular. Uma mão na roda!

6. Se informe, mas saiba que imprevistos surgirão no caminho

Pesquisou bastante sobre maternidade, leu muito, pegou somente dicas de fontes confiáveis? Ótimo, você com certeza está mais preparada do que antes para a chegada do seu bebê. Mesmo assim, saiba que isso não garante uma maternidade tranquila e sem percalços. Móveis e itens do enxoval podem atrasar, o bebê talvez chegue antes ou depois da data prevista, o tão esperado parto normal pode ter que virar cesárea, há o risco de uma internação inesperada e por aí vai. Nada será EXATAMENTE como você planejou – e esse é um dos grandes ensinamentos da maternidade. Informação é ótimo, mas não é sinônimo de que você está no controle total da situação. O que é absolutamente normal. Não sofra por isso.

7. Aceite que quando nasce uma mãe nasce uma culpa - e saiba lidar com isso

Eu achava essa frase super negativa, mas ela é verdadeira. Não conheço nenhuma mãe que, por mais que tenha dado o seu melhor, não pensou que poderia ter mudado o curso de algo se tivesse feito isso ou aquilo diferente. A gente se cobra muito – e o tempo todo – na tentativa de ser a melhor mãe, de não deixar faltar nada para o filho, de atendê-lo 100% em todas as suas necessidades. E como hoje temos que ser mãe, mulher, trabalhadora, filha e mais um monte de atribuições numa mesma pessoa, uma hora algo não vai sair exatamente como queríamos. É o tal do cobertor curto. Ação e reação. Escolha e consequência. O segredo está em fazer o seu melhor e não entrar na neura de perfeição o tempo todo.

This article is from: