Balaclavas e os profetas do caos

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O cardápio do dia era bem interessante, nós realmente estávamos evoluindo no tocante gastronômico. Pra quem havia criado a pipoca com ovo, salada Tietê-pinheiros e pão com bosta, misturar pêra, maçã, aveia, corn flackes e Sprite não era nada sobrenatural. Havia também aquela farinha com óleo do Timóteo que lembrava vagamente um pão dormido se mastigado com muita manteiga e boa vontade. “Tá! Tudo bem! Mas a gente tem que pensar nos TP´s”, essa é uma frase temerosa pela influência que isso terá em minha formação. “Junior, eu tenho orgulho de ter um amigo tão... idiota”, Rodolfo falou aquilo com tanta sinceridade que, naquele breve instante, eu realmente parei para repensar meus valores, e, sem muito esforço reflexivo, me dei conta do que tinha se transformado minha vida: Valdez peidando alto ao meu lado, Rodolfo arrotando a cada meio segundo e Timóteo tirando fotos do próprio pinto. Eu me sentia em casa. Timóteo pôs as sinapses pra esquentar os pneus: “E se a gente saísse de OB na rua? Ou melhor, pendurássemos umas calcinhas nos mastros, pra simbolizar a exploração feminina?”. “Essa piada é velha, guri”, eu precisava de idéias produtivas, como a próxima que surgiu do mesmo mineiro. “Tá, agora é sério. Que tal se fossemos em um lugar estúpido onde as pessoas estivessem comendo coisas estúpidas, como o Mc Donalds, claro, então a gente sobe no banheiro, caga no chão, pisa nele e sai andando pelo meio do pessoal?”. Com isso, Timóteo fez acender em minha memória uma sábia advertência que recebi de Valdez há um tempo atráz, depois de ele ter passado pela difícil experiência de presenciar o Rodolfo cagando no mato — e sentir o cheiro que de lá flutuava —, uma

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