Balaclavas e os profetas do caos

Page 204

mijar numa mesa de sinuca num desrespeito despretensioso ao pudor; alguns incidentes com necessidade de glicose por conta do álcool; e o consumo de algumas substâncias irresponsáveis e degradantes como ilex paraguariensis, canabis sativa e suco de limão. Rodolfo chegou a cruzar a fronteira Brasil — Uruguai e Uruguai — Brasil com protótipos individuais de marijuana, o que para um proto-anarquista não passa de um horizonte onde as culturas se mesclam, mas para nossas malditas leis é conhecido como tráfico internacional de drogas. “Cara, enquanto esse babaca tava aí duas viaturas passaram pela gente e dobraram a direita na primeira rua”. “É, também vi. Deixa eu terminar de preparar o lance aqui”, e me ajoelhei para pegar o rolinho. “Não, melhor não! Faz isso mais ali pra frente, embaixo de alguma árvore. Aqui é marcar demais”. “Você tá certo”, joguei a mochila nas costas e levei a tinta na mão enquanto nos afastávamos ainda mais do posto. “Bom, andando por aqui o máximo que vão pensar é que a gente é dois maconheiros atrás de droga”. “Bom, sem problemas quanto a isso. A gente ta limpo, infelizmente”. “É, infelizmente”, e sorriu. “Acho que aqui já rola, enquanto você ajeita as coisas aí eu vou arrumando o celular”. “Beleza”. Tinta no rolo, molde na mão e fone no ouvido: tudo estava pronto, a ligação já marcava os primeiros segundos (00’01’’, 00’02’’, 00’03’’...). Era hora de botar o pé no peito. Abracei meu comparsa, que me desejou boa sorte. “Relaxa, vai dar tudo certo, cara”, mas seus olhos geminavam um vendaval de incertezas.

204


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.