Balaclavas e os profetas do caos

Page 181

despencasse sobre nós, hereges. Não tive tempo de olhar para trás, coloquei toda a potencia de aceleração sobre meu fêmur esquerdo para tomar impulsão e cruzar a próxima quadra da Paulista o mais rápido possível. A tropa estava a menos de 150 metros de mim e a neblina ardente só fazia as coisas ficarem cada vez mais dançantes na minha cabeça. Disparei velozmente, mas antes que pudesse perceber algo entre a bruma branca, tropecei com violência na cabeça de um morador de rua que dormia na maior tranqüilidade bem no meio de todo aquele caos, de todo aquele gás de pimenta. Despenquei de quatro no chão e bati o queixo de leve na calçada. A adrenalina cauterizava a dor, só tive tempo de gritar um “perdão” e observar o bocejo do homem virando de lado, como se vagamente despertasse de um sonho ruim para entrar em outro ainda pior. Giramos novamente em uma perpendicular à Paulista. Um desentendimento interno aquecia os ânimos: um daqueles punks de boutique destruía carros populares estacionados na rua. Eram Uno´s e Pálios, os demais tentavam o segurar, até o instante que perderam a paciência e chutaram aquele maldito idiota pra longe do grupo com toda a violência gratuita que ele merecia desde o começo daquela marcha. Marcha que ele ajudou a foder. Já era hora! “REAGRUPA! AINDA DÁ PRA VOLTAR! REAGRUPA!”, as vozes iam reorganizando-se a medida que os ânimos se tornavam coesos. Voltamos a juntar-nos em bloco e subimos a rua dispostos a recomeçar o confronto. Porém, quando passei a esquina nada estava visível, havia aquela nuvem branca e ardente cobrindo desde o asfalto ambos os flancos, foi quando alguém gritou:

181


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.