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Atualmente, o número de IES insurgentes, que nasceram visando atuar com as classes C e D, já é bem significativo, a ponto de exigir do mercado novos elementos de inovação disruptiva. Espera-se a entrada de novos disruptores no setor educacional, provavelmente embasados em elementos da tecnologia da informação. Atualmente, o setor privado encontra-se no início de uma polarização, definindo dois perfis de IES que terão vida longa. De um lado, as IES que conseguem inovar disruptivamente e se tornam competitivas para um enorme contingente de pessoas que ainda são pouco críticas e priorizam a conveniência (preço, localização, acesso e demais facilidades). Do outro lado, as IES que são bem-sucedidas na complexa tarefa de mostrar ao público que possuem diferenciais qualitativos que justifiquem seu preço mais alto. Como já foi dito, nos últimos dez anos, o setor de ensino superior privado teve sua expansão favorecida por uma demanda significativa de clientes que, até então, eram excluídos do processo educacional nesse nível. Para essas pessoas, nessas circunstâncias, fazer um curso superior, qualquer que fosse e onde fosse, era uma excelente opção, pois elas representavam uma geração em que eram as primeiras de suas famílias a cursarem o ensino superior. O objetivo, a meta e o desafio eram conseguir concluir um curso superior. O restante (qualidade da IES, tipo de curso etc.) era apenas um plus, não era significativo. Este fenômeno ocorreu com boa parte da classe C em todo o Brasil, e agora começa a ocorrer com a classe D. São empregados da construção civil, porteiros, domésticas, babás, camelôs, vigias, entre outros, que passam a ter a possibilidade de fazer um curso superior, pois há instituições disruptivas se preparando para atendê-los. Por outro lado, teremos em breve uma segunda geração de pessoas da classe C demandando o ensino superior. Com toda a certeza, essa nova geração será mais criteriosa, exigirá mais elementos qualitativos, já terá amigos e parentes que fizeram um curso superior lhes fornecendo abundantes elementos comparativos sobre as IES. Portanto, o padrão da IES disruptiva que obteve grande sucesso em atrair alunos da classe C nos últimos oito anos não será mais suficiente para continuar atraindo alunos dessa classe socioeconômica, dentro de alguns anos. É preciso entender, no entanto, que o mais importante não é se o cliente é da classe A, B ou C, mas sim as circunstâncias em que se encontra, e que estão em constantes mudanças. Em síntese: até agora, o principal concorrente das IES era a incapacidade de se fazer um curso (pagar por ele). Elas concorriam contra o não-consumo. Quando chegar ao limite esta nova demanda de mercado (e já chegou), a concorrência será essencialmente pela conveniência (circunstâncias assim determinam). Após uma ou duas gerações que escolheram pela conveniência, as demais gerações estarão aptas a perceberem que o mercado de trabalho não considera que os diplomas sejam todos iguais, e que seu valor relativo (do diploma) já não é tão significativo. Nesse momento, a competição vai se dar mais por atributos qualitativos e diferenciadores. Referências bibliográficas BOLETIM EDUCAÇÃO & CONJUNTURA. São Paulo: Paulo Renato Souza Consultores, v. 3 a 17, 2006. BRAGA, Ryon. Análise setorial do ensino superior privado no Brasil. Vitória: Editora Hoper, 2006. CENSO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 1999 – 2004. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 2005. PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS (Pnad). IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2004. 134


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