Susana Souto Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP). Doutora em Estudos Literários
pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
João Silvério Trevisan Escritor, ativista, cineasta, roteirista e jornalista
ISBN 978856401356-8
9 788564 013568
vigilante
À memória das vítimas dessa violência é dedicado este livro, que se fez como grito de protesto e delicada análise, como celebração de conquistas e indicação de impasses. Obra que se fez, ainda e principalmente, como apelo para buscarmos juntos a cura da homofobia/transfobia, que, cotidianamente, oprime, silencia e mata.
in visibilidade
Com exatidão, mas sem perder a leveza jamais, Steven Butterman – pesquisador canadense e americano que é, por paixão e ofício, também brasileiro – devora os pontos de tensão dessa história ligada a um país que, simultaneamente, é palco do maior evento LGBT do mundo e arena de alarmante violência homofóbica, desde as suas formas mais dissimuladas até as mais letais.
Mesmo para quem acompanha a evolução dos direitos civis para os homossexuais no país, o fenômeno das Paradas do Orgulho LGBT no Brasil é surpreendente. Ele aparece no vácuo provocado pelo esvaziamento dos grupos de ativismo, graças às disputas políticas e à eclosão da AIDS na década de 1980. É intrigante buscar as condições que amadureceram o momento histórico da eclosão de um evento de massas na contramão de um movimento homossexual que só militara num exíguo entorno de classe média. A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo representa um exemplo emblemático, se olharmos a magnitude que tomou esse evento num prazo de tempo tão curto. Ela vicejou durante uma gestão conservadora da cidade, com míngua de recursos materiais e inexistência de fatores mínimos que sugerissem políticas para a comunidade homossexual. Ao contrário do que vem acontecendo na atualidade, com a cooptação política dos governos e a mentalidade lobista das ONGs, este não se tratava de um movimento vindo de cima. Basta tomar o metrô em direção à Avenida Paulista, antes do início da Parada, para se constatar o oposto. Existe ali um mar de diversidade, no qual se destacam bandos de jovens partindo das periferias para tomar o seu espaço público, ao som de palavras de ordem espontâneas, num clima de franca alegria. Mesmo para quem tenta desmerecer as Paradas como mero carnaval fora de época, perdura a pergunta: como se chegou a uma consciência coletiva que leva multidões a essa festa celebratória, carregando bandeiras ou vestindo as cores do arco íris? Fica claro que o protagonismo de um novo grupo social aconteceu num processo de aprendizado das ruas. E isso se desdobrou socialmente até contaminar os próprios meios de comunicação, que foram despertados para compreenderem um fenômeno novo. É nesse ângulo preciso que a análise de Steven Butterman sobre a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo vem iluminar um ciclo evolutivo não previsto nem nas bíblias ideológicas, nem nos manuais de redações.
Steven Butterman
pretensa normalidade visível. Pelo ponto de vista de dentro, Steven colhe e articula todos os slogans que levaram multidões à rua, a partir dos quais discute os modos como a Parada se pensa. Pelo de fora, seleciona representações midiáticas, poderosas operadoras de consenso, ambivalentes difusoras de estereótipos. Os pontos de dentro e de fora misturam-se aqui, assim como se misturam projetos políticos, estéticos e eróticos na avenida lotada.
steven butterman
visibilidade vigilante representações midiáticas da maior parada gay do planeta
Esse não é um texto-gueto. É um texto-convite destinado a um público tão vasto e variado em sua multiplicidade contraditória quanto aquele da maior Parada de Orgulho LGBT do mundo, alegre passeata e sério carnaval. Convite aberto para reflexão a quem deseja compreender(-se) (n)a contemporaneidade. Steven Butterman percorre, em suas páginas, quinze anos de um fenômeno cultural, político e social feito em diálogo com os movimentos civis norte-americanos, fenômeno este também devorado e copiado por várias cidades brasileiras, uma vez que o crescimento da Parada não se limita, hoje em dia, ao número de participantes que ocupa a Avenida Paulista, mudando sua paisagem sonora, visual, olfativa, tátil. Esse crescimento estende-se aos quatro cantos do Brasil, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, chegando às grandes, médias e pequenas cidades, mudando a programação do calendário cívico e alterando a agenda de pesquisadores, ativistas, políticos... É a escrita dessa história, sua historiografia, que Steven se propõe a analisar apoiado num vasto repertório teórico. Concentrando-se em São Paulo, sua singular interpretação busca discursos diversos que tecem o grande texto chamado Parada e traça interessantes rotas para entrar nessa narrativa feita com palavras, gestos e corpos que se insurgem contra as normas da