Luis athouguia

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LUIS ATHOUGUIA

NOTAS BIOGRÁFICAS / COMENTÁRIOS E CONSIDERAÇÕES SOBRE A SUA OBRA



LUIS ATHOUGUIA, considerado um dos grandes talentos no mundo artístico da sua geração, nasceu em Cascais, Portugal, em 1953. Diplomado pelo IADE, Instituto Superior de Arte e Design - Lisboa, participou em relevantes exposições internacionais, Bienais de Arte e encontros de Arte Postal. Com um longo percurso expositivo, desde 1983 realizou mais de noventa exposições individuais e conta com centenas de participações em colectivas e feiras de arte. Está representado em museus, instituições e importantes colecções nacionais e estrangeiras. Com viagens de estudo e pesquisa nos EUA, Rússia, Europa e norte de Àfrica, foi distinguido com o Prémio Vespeira na Bienal do Montijo (1997), o Prémio Internacional de Artes Plásticas “Valentín Ruiz Aznar”, Granada, Espanha (2004), e o Prémio da Sociedade Nacional de Belas Artes, Salão dos Sócios (2011). EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS 2017 Galeria da Ordem dos Médicos, Secção Regional Norte – Visões Pretéritas Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I – Apocalipse ou Revelação Galeria Municipal Artur Bual, Casa Aprígio Gomes, Amadora – Firmamentos Revisitados (Retrospectiva) 2016 Tinturaria - Centro de Exposições da Covilhã – Geografias Inventadas Galeria CNAP, Lisboa – Jardins Clandestinos 2015 Galeria Municipal do Montijo - Compulsão Metafórica Galeria dos Antigos Paços do Concelho, Viana do Castelo - Manifestações Ficcionais Casa de Cultura Jaime Lobo e Silva, Ericeira - Inscapes Galeria Municipal Casa Mantero, Sintra - Batalhão de Iluminuras Centro Cultural Elvino Pereira, Mação – Exaltação Metafórica 2014 Ordem dos Médicos - Galeria de Exposições, Lisboa - Laboratório de Impossibilidades Casa de Artes e Cultura do Tejo, Vila Velha de Ródão - Triunfo da Parábola Castelo de Portalegre - Hipóteses de Prodígio - Pinturas com Enigma Galeria Municipal de Albufeira - Testemunhos de Milagre Oficinas de Formação e Animação Cultural, Aljustrel - Pedaços de Firmamento - Uma Deflagração Visionária 2013 Espaço Cultural Mercês, Lisboa - Quadrante Fragmentário Galeria do Auditório Municipal de Vila do Conde - Cenografias com Feitiço Centro de Exposições de Odivelas - Tratado Ilusionista 2012 Clube Literário do Porto - Atmosferas e Fábulas Galeria Municipal de Almeirim - Navegação Antípoda ao Som da Eternidade Galeria Lucília Guimarães - Firmamentos por Acontecer Galeria Municipal de Ourém - Wonderlandscapes 2011 Galeria Arte Na Linha, Estoril - Revelação do Delírio Casa Mantero, Galeria Municipal de Sintra - Ideogramas Galeria Lucília Guimarães, Guimarães - Ideário Manipulado Biblioteca Municipal de Ourique Jorge Sampaio - Intempéries do Sonho 2010 ALA - Academia de Letras e Artes, Estoril - Reinado das Transmutações Centro Cultural de Vila Nova da Barquinha - Anagramas no Tempo 2009 Galeria da Capitania, Aveiro - Dissonância Surreal Convento de São José, Lagoa - Narrativa Visionária Casa de Cultura D. Pedro V, Mafra - Crónicas do Indizível Casa Senhorial d’ El Rei D. Miguel, Rio Maior - Universo Reconfigurado Galeria Municipal de Montemor-o-Velho - Uma tempestade Imagética


Centro Cultural Equuspolis, Golegã - Silhuetas Abstrusas 2008 Tinturaria - Centro de Exposições da Covilhã - Onirismos: Outras Aventuras Surreais Galeria Lucília Guimarães, Guimarães - Remix Onírico Centro de Artes da Figueira da Foz - Onirismo em Contramão Paço da Cultura da Guarda - Visões Incorpóreas Casa de Artes e Cultura do Tejo, Vila Velha de Ródão - Hemisfério Onírico Centro Cultural do Morgado, Arruda dos Vinhos - Léxico Encriptado Galeria Municipal do Cartaxo - Imponderáveis e Outros ALA - Academia de Letras e Artes, Estoril - Códigos de Paradoxo 2007 Casa Municipal da Cultura, Coimbra - Opção Surreal Galeria Municipal Paços do Concelho, Torres Vedras - Génese de um Mundo a Haver Galeria São José, Lisboa - Miragens Galeria do Castelo de Ourém - Obra Plástica: Pintura e Desenho Galeria Municipal de Fitares, Sintra - Fragmentos de Ficção Edifício Cultural da Câmara Municipal de Peniche - Pintura Biblioteca Municipal de Tomar - Obra Plástica: Pintura e Desenho Leituras da Praça - Galeria / Livraria, Tomar - Universo Onírico 2006 Museu da Água, Estação Elevatória dos Barbadinhos, Lisboa - Figuração Onírica Museu Municipal de Estremoz - Figuração Onírica Galeria Municipal, Teatro-Cine, Pombal - Figuração Onírica Biblioteca Municipal de Ponte de Sor - Vislumbres Centro Cultural do Entroncamento - Lúcidas Sombras 2005 Galeria Pepper’s, Caldas da Rainha - Pintura Galeria Municipal de Leiria - Imaterialidades Galeria Ayala, Óbidos - Sobressaltos do Imaginário Galeria Aquarius, Guarda - Pedaços de Sonho 2004 Galeria Titara, Sobreiro, Mafra - Eu contra Mim 2003 Galeria MAC – Movimento de Arte Contemporânea, Lisboa - Spectrum Galeria Municipal de Almeirim - Pinturas Galeria 4 Montras, Viseu - Clivagens 2002 Galeria BCN – Art Directe, Barcelona, Espanha - Manifesto Palácio Quintela, IADE, Lisboa - Pintura Galeria Artur Bual, Amadora - Ícones de Ruptura Museu Martins Correia, Golegã - Redutos Oníricos Ordem dos Médicos – Galeria de exposições, Lisboa - Pintura Galeria CTT, Lisboa - Rasgos no Horizonte Galeria Quadrante, Odivelas - Contra-Luz Chá no Deserto – Galeria / Livraria, Sintra - Pintura 2001 Galeria Fábrica das Artes, Torres Vedras - Imaterialidades Centro Cultural de Lagos - Na Rota da Luz Museu de Electricidade, Lisboa - Trevas Capela da Misericórdia, Sines - Magnitude Incontrolável do Ser Convento de São José, Lagoa - A Anos-Luz Galeria do Turismo Regional, Cascais - Pintura Galeria Municipal de Albufeira - Pintura Carlton Hotel, Alvor - Imaterialidades 2000 Galeria Municipal de Arte de Abrantes - Pintura

Dedicatórias em catálogos na exposição da Amadora


Galeria Pepper’s, Caldas da Rainha - Pintura Galeria Municipal do Barreiro - Estridências Galeria Vincent, Lisboa - Pintura Galeria de Corroios, Seixal - Tonalidades do Sonho Galeria Municipal de Sobral de Monte Agraço - Pintura 1999 Biblioteca Camões (Pintura em parceria com Herbert Gerhardt), Lisboa - Identidade Rarefeita Galeria Vieira Guimarães, Tomar - Transitoriedade da Vida Galeria de Fitares, Sintra - Obstinação Desenfreada da Luz Galeria de Arte de Arruda dos Vinhos - Impermanência do Sonho 1997 Galeria dos Escudeiros, Beja - Pintura 1996 Galeria Maria Lebre, Tomar - Pintura 1995 Galeria de São Mamede, Lisboa - Pintura 1993 Galeria Velásquez, Valladolid, Espanha - Pintura Paços do Concelho de Ponta Delgada - S. Miguel /S. Vicente Galeria 12 A, Lisboa - Fotocolagens

Atelier Athouguia, Cascais

Professores da Virginia University, USA (2ª visita, conduzida por Paulo Machado Jesus, 2005)


EXPOSIÇÕES COLECTIVAS 2017 Oficinas de Formação e Animação Cultural, Aljustrel – Exposição comemorativa do 10º Aniversário VIII Feira de Arte Contemporânea da Amadora 2016 Palácio de D. Manuel, Évora – Una Mirada al Mundo (Colectivo Cillero) Galeria Artur Bual, Casa Aprígio Gomes, Amadora - Homenagem a Fernanda Páscoa Centro de Exposições de Odivelas – Paiã em Arte Hotel Cidadela, Cascais - XIII Exposição Colectiva ALA - Academia de Letras e Artes Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão dos Sócios 2015 Hotel Cidadela, Cascais - XII Exposição Colectiva ALA - Academia de Letras e Artes Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão dos Sócios Galeria Artur Bual, Casa Aprígio Gomes, Amadora - Homenagem a Gil Teixeira Lopes 2014 Centro Cultural de la Asuncion, Albacete, Espanha - Horizontes de silêncio (Colectivo Cillero) Casa Heredia, Graus, Huesca, Espanha - Horizontes de silêncio (Colectivo Cillero) Solplay Hotel, Lisboa - Exposição de Arte Galeria Artur Bual, Casa Aprígio Gomes, Amadora - Homenagem a José Pádua Hotel Cidadela, Cascais - XI Exposição Colectiva ALA - Academia de Letras e Artes Centro de Exposições de Odivelas, Galeria D. Dinis - Odivel’arte (XVI aniversário do Município) Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão dos Sócios 2013 Centro de Congressos de Barbastro, Huesca, Espanha - Horizontes de silêncio (Colectivo Cillero) Centro Cívico Cultural José Saramago, Leganés, Madrid - Horizontes de silêncio (Colectivo Cillero) Casa da Cultura Jaime Lobo e Silva, Ericeira, Mafra - Surrealismo Português do século XXI Oficinas de Formação e Animação Cultural, Aljustrel - Visões submersas em Azul (Utopia Azul) ALA - Academia de Artes e Letras, Estoril - X Exposição Colectiva de Pintura Casa Roque Gameiro, Amadora - International Surrealism Now Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão dos Sócios 2012 Museu da Água, Lisboa - Horizontes de silêncio: sonho ou Tragédia da humanidade? (Colectivo Cillero) Centro Cultural Isabel la Católica, Medina del Campo, Espanha - Horizontes de silêncio (Colectivo Cillero) Galeria EMMA emoción&madrid, Madrid, Espanha - Surrealismo Russo Ibérico Museu Arte Contemporânea Senhor do Bonfim, Bahía, Brasil - Acervo Permanente Galeria de Arte da Direcção-Geral da Administração da Justiça, Lisboa - 14º Aniversário Teatro José Lucio da Silva, Leiria - Utopia Azul Galeria Pepper’s, Caldas da Rainha - Colectiva Galeria Pepper’s, Caldas da Rainha - Colectiva II Casa da Cultura de Mira Sintra - Arte Fantástica e Surrealismo 2 Galeria Artur Bual, Amadora - Homenagem a Victor Lages Galeria S. Miguel, Fátima - Arte Sacra Contemporânea ALA - Academia de Artes e Letras, Estoril - IX Exposição Colectiva de Pintura Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão dos Sócios 2011 Fundación Frax, Alicante - De lo que llamamos Paz (Colectivo Cillero) Museu Municipal de Albacete, Espanha - De lo que llamamos Paz (Colectivo Cillero) Museu Monográfico de Conímbriga - Surrealismo e Arte Fantástica Museu Municipal João Carpinteiro, Elvas - Utopia Azul ALA - Academia de Artes e Letras, Estoril - VII Exposição Colectiva de Pintura ALA - Academia de Artes e Letras, Estoril - VIII Exposição Colectiva de Pintura Galeria Arte Contempo, Lisboa - Iniciativa X CNAP - Clube Nacional de Artes Plásticas, Lisboa Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão dos Sócios (distinguido com o Prémio SNBA) Recreios da Amadora - Prémio Utopia, Arte Fantástica 2010 Century 21, Caldas da Rainha - Colectiva Pepper’s Cabral Moncada Leilões, Lisboa - Leilão de Arte Moderna e Contemporânea Veritas Leilões, Lisboa - 1º Leilão, Antiguidades e Obras de Arte


2010 Galeria Municipal de Sintra - A que chamamos Paz (Colectivo Cillero) Sala Expometro, Madrid, Espanha - De lo que llamamos Paz (Colectivo Cillero) Escuela Julián Besteiro, Madrid, Espanha - Solidários com Haiti Recreios da Amadora - Prémio Utopia, Arte Fantástica 2009 Palácio D. Manuel, Évora - Utopia Azul ALA - Academia de Artes e Letras, Estoril - VI Exposição Colectiva de Pintura Galeria Arte Contempo, Lisboa - Iniciativa X Tinturaria - Centro de Exposições da Covilhã - Convite ao Sonho Hotel Wellington, Figueira da Foz - Convite ao Sonho Casa Pia, CED D. Maria Pia, Lisboa - Arte 10x15 Arte Postal, Buenos Aires, Argentina - Santa Fe La Provincia Que Camina Centro Cultural de Estremoz - Utopia, Arte Fantástica 3 Biblioteca José Saramago, Almada - Visões Recíprocas Encontro Anual de Artistas Plásticos, Qta Nova da Assunção, Belas - Jardim Sem Limites Feira de Arte e Antiguidades na Marina de Cascais Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão dos Sócios Galeria Artur Bual, Amadora - Homenagem a Laranjeira Santos Casa Roque Gameiro, Amadora - Utopia, Arte Fantástica 4 Galeria Municipal de Sobral de Monte Agraço - “Sobral nas Linhas de Torres: Olhares e Perspectivas” 2009 Fórum Municipal Romeu Correia, Almada - Projecto “Repensar - Las meninas” Altes Amtshaus, Bad Neustadt, Alemanha - Wir sind Europa! (Colectivo Cillero) Tinturaria - Centro de Exposições da Covilhã - Cidades, o Artista e sua envolvência (Colectivo Cillero) Museo Comarcal de Hellín, Espanha - Ciudades, el Artista y su Entorno (Colectivo Cillero) Museo Civico d'Arte Contemporanea di San Cesario di Lecce, Itália - Transiti Nomadi Pieksämäen kulttuurikeskus Poleeni (AVA Galeria), Finlândia - Um Olhar Português Galeria Municipal de Sintra - Utopia, Arte Fantástica 2 Palácio dos Aciprestes, Oeiras - Utopia, Arte Fantástica 1 Recreios da Amadora - Prémio Utopia, Arte Fantástica 2008 Galeria S. Miguel, Fátima - A contemporaneidade da Arte Sacra (jan) Galeria S. Miguel, Fátima - Exposição de Arte Sacra Contemporânea (jul) Marina Cruz, Espaço de Artes, Lisboa - Círculo Artístico e Cultural Artur Bual Caixa de Crédito Agrícola, Sede em Lisboa - Círculo Artístico e Cultural Artur Bual Encontro Anual de Artistas Plásticos, Qta Nova da Assunção, Belas - Imagens em Construção Galeria Arte Contempo, Lisboa - Iniciativa X Biblioteca Municipal de Peso da Régua - Festa da Língua Portuguesa Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão dos Sócios ALA - Academia de Letras e Artes, Estoril - V Exposição Colectiva de Pintura 2008 Círculo de Arte de Toledo, Espanha - Ciudades, el Artista y su entorno (Colectivo Cillero) Escuela Julián Besteiro, Madrid, Espanha - Ciudades, el Artista y su entorno (Colectivo Cillero) Galeria Arte Contempo, Lisboa - Iniciativa X Galeria S. Miguel, Fátima - Maria na Arte Colégio de S. Miguel, Fátima - Encontro de Arte Sacra Galeria Artur Bual, Amadora - Homenagem a José Garcês Espaço +, Município de Aljezur - Homenagem a António Inverno Espaço +, Município de Aljezur - Homenagem a Artur Bual Encontro Anual de Artistas Plásticos, Galeria Municipal de Fitares, Sintra - Tradições (re)inventadas Comune di Palazzo Pignano, Mail Art, Cremona, Itália Palácio de Exposições Villa Maria, Mail Art, Quiliano, Itália - FuturEnergie Academia de Belas Artes de Lecce, Mail Art, Itália - Communicating Vases 2007 Centro de Arte L’Espinoa, Baignes, França - Projecto ARS nueve (Colectivo Cillero) Fundación Progreso y Cultura, Madrid, Espanha - Projecto ARS nueve (Colectivo Cillero) Centro Puerta de Toledo, Madrid, Espanha - Projecto ARS nueve (Colectivo Cillero) Antigua Fábrica de Harinas, Albacete, Espanha - Projecto ARS nueve (Colectivo Cillero) ALA - Academia de Letras e Artes, Estoril - IV Exposição Colectiva de Pintura Museu de São Brás de Alportel - Fantasia e Misticismo Galeria Artur Bual, Amadora - Homenagem ao Mestre Cruzeiro Seixas Centro de Congressos de Lisboa - Feira de Antiguidades e Obras de Arte Galeria Arte Contempo, Lisboa - Iniciativa X


XIII Exposição Internacional de Artes Plásticas, Vendas Novas Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão dos Sócios Clube de Golfe Bela Vista, Galeria de Arte, Lisboa - Colectiva de Acervo Encontro Anual de Artistas Plásticos, Galeria Municipal de Fitares, Sintra - Cartas cheias de tudo ou coisa nenhuma Mail Art, Lugoj, Roménia - Children of Europe 2006 II Exposição Arte na Planície, Monte do Cortiço, Montemor-o-Novo Arte G – Galeria, Viseu - Emoções Revisitadas Galeria L M, Sintra - Colectiva de Novo Ano Galeria Arte Contempo, Lisboa - Iniciativa X Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão Convívio Arte Covilhã 2006, Pavilhão Anil (c/ Gal. Arte G e Gal. Aquariu’s) Convento do Beato, Lisboa - Antiguidades e Colecção Galeria da Biblioteca Afonso Lopes Vieira, Leiria - ArtBib Centro Cultural de Belém (c/ Merck Sharp Dohme) - State of the Arts in Cardiology Encontro Anual de Artistas Plásticos, Galeria de Fitares, Sintra - Música no Coração Galeria Aquarius, Guarda 2005 Bienal de Artes Plásticas da Cidade de Montijo (8ª) II Bienal de Artes Plásticas de Mafra 10 Anos do Museu Jorge Vieira, Galeria dos Escudeiros, Beja - Reencontros FAIM, VI Feira de Arte Independente em Madrid, Espanha Galeria Arte Contempo, Lisboa - Iniciativa X Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão Convívio Sharjah Museum of Contemporary Art, Emirados Árabes Unidos II Exposição Internacional de Artes Plásticas de Sesimbra Encontro Anual de Artistas Plásticos, Galeria de Fitares, Sintra - Auto-retrato Atelier Athouguia, Cascais - Virginia University Guests Bled Art Society, Eslovénia - Searching for Contemporary XI Exposição Internacional de Artes Plásticas, Vendas Novas Galeria Artur Bual, Amadora - Homenagem a José Ruy Galeria Aquarius, Guarda - Colectiva de Natal 2004 Galeria Linhares, Lisboa - Colectiva Feira Internacional de Arte Contemporânea do Estoril (c/ Câmara da Amadora) Sala Aires de Córdoba – Asociación Cultural, Espanha - II Certamen Internacional Asociación Cultural Valentin Ruiz Aznar, Granada, Espanha - Prémio Internacional de Artes Plásticas Galeria Pedra do Guilhim, Nazaré - Cores e Formas Convento do Beato, Lisboa - Antiguidades e Colecção Paço da Cultura, ASTA, Guarda - Arte de Mãos dadas Atelier Athouguia, Cascais - Oakland Museum of California Guests Galeria Linhares, Lisboa - Arte no Desporto Galeria Linhares, Lisboa - Cidade, Rio e Mar Encontro Anual de Artistas Plásticos, Galeria de Fitares, Sintra - Diversidades Galeria Nicolai, Lourinhã - Pastel e Companhia Galeria Artur Bual, Amadora - Exposição do Espólio Municipal Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão Convívio X Exposição Internacional de Artes Plásticas, Vendas Novas Exposição-Leilão da Fundação Humberto Delgado, Machado Jesus Leiloeiros, Lisboa Galeria LM, Chão de Meninos, Sintra Gallery Sidac-Studio, Mail Art, Holanda - Living Casa delle Culture di Cosenza, Mail Art, Itália - Invadere le Invasioni Florean Museum, Mail Art, Roménia - The Landscape 2003 Galeria MAC – Movimento de Arte Contemporânea, Lisboa Galeria Pedra do Guilhim, Nazaré - Colectiva de Verão Galeria Artur Bual, Amadora - Inventário Cromático para os Pintores que começam Galeria de Arte do Carlton Hotel, Alvor - Vernus Recinto Ferial, Pontevedra, Espanha - Marea Negra “Prestige” Unesco Palace, Beirute, Líbano Galeria Pepper’s, Caldas da Rainha - Colectiva de Natal Galeria Titara, Sobreiro, Mafra - Artistas do Anuário da Universitária Editora


Galeria Abraço, Lisboa - Com Fio Marina Hotel, Congresso Nacional dos Médicos c/ Merck Sharp Dohme, Vilamoura Convento do Beato, c/ Galeria Arte In, Lisboa – Arte e Antiguidades Expo Batalha, c/ Galeria Arte In, Batalha Encontro Anual de Artistas Plásticos, Galeria Municipal de Fitares, Sintra - Flores e Frutos IX Exposição Internacional de Artes Plásticas de Vendas Novas Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão Convívio Atrium Saldanha, Abraço, Lisboa - Expo-venda de Natal Galeria MAC - Movimento de Arte Contemporânea, Lisboa - IX Aniversário Exposição Leilão na Machado Jesus Leiloeiros, Lisboa XV Exposição Internacional de Arte Postal, Barreiro - Cooperação entre os Povos Email Art, Vortice Argentina - Who is Samotracia Idea Museum - Modern Anthropology for Artists and other Anomalies - Edição de Verão Mail Art Day, Buenos Aires, Argentina - 5th Internacional Artiststamps Exhibition Royal Castle, Mail Art, Varsóvia, Polónia - Smiles 2002 VII Bienal de Artes Plásticas da Cidade de Montijo Museu Regional de Sintra - Colectiva de Pintura Museu de Arte Sacra, Alcochete - Artistas à beira-rio Galeria Maré d’Arte, Carvoeiro - Colectiva D’Arte Galeria Arteline, Lisboa - Exposição Inaugural Galeria Pepper’s, Caldas da Rainha - Colectiva de Natal BCN- Art Directe, Barcelona, Espanha - Colectiva de Natal Galeria Municipal Casal S. Domingos, Sintra - Tudo ainda é Pouco Galeria do Montepio Geral, Lisboa - Colectiva de Pintura Pousada S. Francisco, Cruz Vermelha Portuguesa de Beja - Campanha Salva-Vidas Centro Cultural da Damaia - Dia Mundial da Mulher Espaço Arco-íris, Ponta Delgada Exposição de Arte Sacra em Fátima (2008) Galeria Municipal do Montijo - Colectiva Final de Ano Galeria MAC – Movimento de Arte Contemporânea, Lisboa - Colectiva Pintura, Escultura e Joalharia Galeria MAC – Movimento de Arte Contemporânea, Lisboa - Movimento de Arte 2002 Recreios da Amadora - Campanha da Cruz Vermelha Portuguesa Exposição “Abraço”, Lisboa - 10º Aniversário Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão Convívio Encontro Anual de Artistas Plásticos, Galeria Municipal de Fitares, Sintra - A Alma 14ª Exposição Internacional de Arte Postal, Barreiro - Xilogravura Arpiac - Centro de Dia - Obra oferecida em exposição permanente Vortice Argentina, Dia del Arte Correo - Timeless Dreams Revista Vortice Argentina - Soul Engraving Revista Pense Aqui (Jan), Rio Claro, SP, Brasil Revista Pense Aqui (Jul), Rio Claro, SP, Brasil Revista Pense Aqui (Dez), Rio Claro, SP, Brasil Arte Postal, Sta. Gertrudes, S. Paulo, Brasil - The Love Arte Postal, Rio Claro, S. Paulo, Brasil Arte Postal, Berlim, Alemanha - A Rat Arte Postal Modedia, Argentina - Joker Arte Correo Muriel Frega, Argentina 2001 Galeria Pedro Sem, Lisboa Galeria Pepper’s, Caldas da Rainha Galeria Fábrica das Artes, Torres Vedras - Cristo e a Arte Museu de Electricidade, Lisboa - Reencontros Centro Cultural de Nazaré - Circunspecção Galeria Pirâmide, Lisboa - Colectiva de Pintura e Escultura Galeria Arte Directa, Lisboa Galeria do Ministério da Justiça, DGAJ, Lisboa - Pequeno Formato Galeria de Arte Edifício Heliantia, Valadares - Colectiva de Artes Plásticas Galeria Die Galerie, Ericeira Espaço Abraço, Lisboa Galeria Municipal de Torres Vedras Solar dos Salemas, Alcácer do Sal - Colectiva de Pintura Galeria Pepper’s, Caldas da Rainha - Exposição de Natal Casa do Marquês, Lisboa - Exposição da Liga pelos Direitos dos Animais Bienal Avante, Seixal


Bienal da Nazaré - Prémio Thomaz de Mello Bienal Goisarte 2001, CM de Góis - Sob o signo dos Valores Humanos Hotel Alvor, Algarve - Entre a Terra e o Mar Galeria Municipal de Loures Galeria Quadrante, Odivelas Convento do Beato, Lisboa - Arte e Antiguidades Galeria Municipal Casal de S. Domingos, Sintra - Deixem-Nus Pensar Galeria de Corroios, Seixal - Abraçando o Concelho do Seixal Galeria Fábrica das Artes, Torres Vedras - Leilão de Arte APECI Centro Cultural da Damaia - Dia Mundial da Mulher Salão Nobre Grupo Desportivo de Paço d’Arcos - XI Salão Primavera Salão Nobre do Forte da Casa, Vila Franca de Xira - 15 Artistas Plásticos Expo-Salão Batalha, c/ Lapa Gallery Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão Convívio Galeria do Auditório Municipal de Vendas Novas - Abril, 10000 dias de Liberdade Encontro Anual de Artistas Plásticos, Galeria Municipal de Fitares, Sintra - Dos Anjos a Beleza e Formosura Espaço Arco-Íris, Ponta Delgada Galeria do Turismo de Cascais - Cascais Antoniano VII Exposição Internacional de Vendas Novas Atrium Saldanha, Lisboa - Abraço Museu da Água, Lisboa - Exposição da Real Associação Cordoaria Nacional, Lisboa - Bazar Internacional do Corpo Diplomático Palácio Foz, Lisboa - Pintura em Portugal 2001 XIII Exposição Internacional de Arte Postal, Barreiro - Ano Europeu das Línguas Honoria Mail Art, Austin, USA - Clashing and Converging Mail Art and Internet Mail Art Magazine, S. Paulo, Brasil - Pense Aqui Mail Art, La Plata, Argentina - Ciudad de las Diagonales Mail Art, S. Paulo, Brasil - Ecological Equilibrium Who’s Who Gallery, Padru, Itália - Snak-y 2000 Centro Cultural de Vila Nova da Barquinha - Exposição Conjunta Museu Agrícola de Riachos - Exposição Conjunta - Comemorações do 11º Aniversário do Museu Quinta das Cruzadas, Linhó, Sintra - Ciclo de Exposições de Verão nas pequenas Galerias Igreja de Santiago, Monsaraz - Afinidades Museu da Electricidade, Lisboa - Electricidade Estética, Arte não Estática Galeria Iosephus, Lisboa INDEG – Iscte, Lisboa - Gestão e Arte Centro Cultural da Nazaré - 1ª Colectiva de Desenho e Fotografia Galeria Fábrica das Artes, Torres Vedras - 750 anos de Foral Galeria Maré D’Arte, Carvoeiro, Algarve - Observações Casa de Cultura D. Pedro V, Mafra - Colectiva de Pintura e Escultura Galeria Arthouse, Cascais - Contraste Galeria Municipal de Rio Maior - Colectiva de Artes Plásticas Galeria da DGSJ, Ministério da Justiça, Lisboa - Natal 2000 Cordoaria Nacional, Lisboa - 18º Bazar Internacional do Corpo Diplomático Galeria Atrium Saldanha, Lisboa - Exposição da Abraço Recreios da Amadora - Milénio Intemporal Fábrica Mundet, Seixal - Artes 2000 Galeria do CAOS, Odivelas - Colectiva Quadrante Galeria Nova Imagem - Colectiva de Acervo Galeria Fábrica das Artes, Torres Vedras - Erótika 2000 Bienal Cardoso Lopes, L’Acropole Rouge, Amadora Galeria LCR, Sintra - Primavera 2000 Galeria do CAOS, Odivelas - Aniversário Quadrante Galeria d’Arte AMG, Corroios, Seixal - Pequeno Formato Centro Cultural de Vila Real de Sto. António - Lançamento de livro de Eduardo Nascimento Expo Salão Batalha 2000 - c/ ArteAlternativa Museu Regional de Sintra - Espólio da Federação Portuguesa de Cultura Átrio do Hospital Júlio de Matos, Lisboa - Exposição/Leilão Galeria do Turismo, Cascais - Natividade VI Exposição de Artes Plásticas, Vendas Novas Feira do Oculto, Santarém Encontro Anual de Artistas Plásticos, Galeria Municipal de Fitares, Sintra - Com Amor envio um Postal de Sintra Centro Cultural da Damaia - A Mulher e a Paz Mostra Mundial de Arte Postal, Associação Fernão Mendes Pinto, Figueira da Foz - My City


XII Exposição de Arte Postal, Barreiro - A Arquitectura Industrial e a Arte Arte Postal, Terragona, Espanha Arte Postal, Amnistia Internacional, San Juan de Puerto Rico - No a la Pena de Muerte Arte Postal, La Plata, Argentina - La Plata, Ciudad de Vigo 1999 Galeria Ler Devagar, Lisboa - Exposição Inaugural Galeria Cólicas, Ponte de Rol, Torres Vedras - Exposição Inaugural Exposição no Espaço Pedralvas, Lisboa - Percursos de Arte Palácio Gorjão, Museu Municipal do Bombarral - Ideias para se Ver Convento de Cristo, Tomar - O Espírito e o Lugar 6ª Bienal do Montijo - Prémio Vespeira I Bienal da Nazaré - Prémio Thomaz de Mello Bienal de Artes do Alentejo Espaço Cultural Vitória, Lisboa - Exposição de Artes Plásticas Galeria Iosephus, Lisboa - Homenagem a Artur Bual Galeria Castelo Maior, Cascais - Pequeno Formato Galeria A Dega, Lisboa - Exposição Inaugural Galeria Municipal de Azambuja Galeria Municipal de Fitares, Sintra - Exposição Lusófona Tagus Park, Pólo Científico de Oeiras - Imagens e Criações Palácio Foz, Lisboa - 50 anos de Pintura/Escultura Casa da Cultura de Alcanena - Artistas de Lisboa Galeria de Arte em Queluz, Sintra - Colectiva Milénio Hotel Lezíria Parque, GART, Vila Franca de Xira Galeria Quadrante, Odivelas - Comemorações do 25 de Abril (25x25) Centro Cultural de Belém, Lisboa - Percepções perante a Doença de Alzheimer Galeria Municipal Casal de S. Domingos, Sintra - Entre Princesas, Fadas e Mouras Encantadas Federação Portuguesa de Cultura, Pólo de Vila Nova de Gaia V Exposição Internacional de Artes Plásticas de Vendas Novas Armazém 7, Lisboa - Artistas com Timor Galeria Quadrante, Odivelas - 1º Aniversário do Município Pavilhão de Portugal, Lisboa - Bazar Internacional do Corpo Diplomático Galeria Atrium Saldanha, Lisboa - Abraço contra a sida Galeria Cristallu, Faro - 2ª Exposição Colectiva Expo Salão Batalha - Arte 99 Espaço Farrel, Lisboa - Colectiva Galeria Cólicas, Ponte de Rol, Torres Vedras - 2ª Colectiva Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Salão Convívio XIII Exposição Internacional de Arte Postal, Casa do Olhar, São Paulo, Brasil Exposição Internacional de Arte Postal, Seia - Cine Eco'99 Exposição Internacional de Arte Postal, APPC, Porto Exposição Internacional de Arte Postal, Barreiro - Século XXI Exposição Internacional de Arte Postal, Ceará-Mirim, Brasil - Natal 400 Anos Exposição Internacional de Arte Postal, Comune di Senigallia, Itália - Progetto Presepe Exposição Internacional de Arte Postal, Vortice, Argentina - Mail Artist’s day 1998 Galeria Maria Lebre, Tomar Galeria 65 A, Lisboa - Exposição Conjunta Passeio Marítimo, Cascais - Expoarte 98 Galeria Arte-café e Moira, Lisboa - Pequeno Formato Galeria de São Mamede, Lisboa - Acervo Verão 98 Galeria Roca, Marinha Grande - Verão 98 Galeria Roca, Marinha Grande - Natal 98 Galeria Arte Directa, Lisboa Galeria Tabu, Torres Vedras Hotel Mercure, Porto II Prémio de Desenho Américo Marinho, Barreiro Palácio da Independência, Lisboa - Expocig, Arte Portuguesa sobre motivos Ciganos Celeiro da Patriarcal, GART, Vila Franca de Xira Novotel, Lisboa - Oceanos/Expo 98 IV Exposição Internacional de Artes Plásticas de Vendas Novas Fundação CEBI, Alverca - Exposição comemorativa dos 30 Anos Federação Portuguesa de Cultura, Cantanhede Federação Portuguesa de Cultura, Albergaria-a-Velha


Federação Portuguesa de Cultura, Vouzela Casa do Alentejo, Lisboa - Vamos Reconstruir a Casa do Alentejo Galeria Atrium Saldanha, Abraço, Lisboa - Exposição de Natal II Bienal de Pintura Cardoso Lopes, Amadora X Exposição Internacional de Arte Postal, Barreiro - A Terra 1997 Bienal do Montijo - Prémio Vespeira (L.A. distinguido com o Grande Prémio de Desenho) Bienal Internacional de Vila Nova de Cerveira Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Obras sobre Papel Galeria Arte Directa, Lisboa Bienal de Cascais, Casino do Estoril - Utopia 97 I Bienal do Alentejo Expo Salão Batalha Federação Portuguesa de Cultura, Hotel Ipanema Park, Porto Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Solidariedade com a Fundação Portuguesa de Cardiologia Feira Internacional de Lisboa - II Forum de cooperação e solidariedade – AMI Leilão a favor da Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21 1996 Exposição Internacional de Arte de Vendas Novas Palácio Quintela, Lisboa - Projecto Cais, Secretaria de Estado da Juventude 1995 Galeria Conventual, Alcobaça Galeria Potthoff, Lisboa - Colectiva de Primavera Galeria de São Mamede, Lisboa Casino do Estoril, c/ Jardim Zoológico - Gala do Zoo Centro Cultural de Belém, Lisboa - Dia Nacional do Engenheiro IX Bienal de Artes Plásticas do Avante, Seixal Bienal de Artes do Sabugal Galeria Municipal de Torres Vedras - Fixarte 1994 Galeria de São Mamede, Lisboa Convento de Cristo, Tomar - Nómadas no Convento Galeria Potthoff, Lisboa Galeria Municipal de Torres Vedras - Nómadas no Castelo de Música Galeria Margem, Faro 1ª Bienal de Artes Plásticas da Feira Popular de Lisboa Caixa Geral de Depósitos, Lisboa - Campanha África Amiga Galeria Municipal de Torres Vedras - Fixarte 1993 Centro Cultural de Belém, Lisboa - Projecto CRIARTE do Instituto de Apoio à Criança Convento da Graça, Museu Municipal de Torres Vedras - Nómadas Isabela´s Art, Estoril - Nómadas Bafureira, São Pedro do Estoril - Nómadas Casa de Arte, Lisboa - Objectos de Arte do Quotidiano Galeria Municipal de Torres Vedras - Fixarte Galeria da Casa da Imprensa, Lisboa - Arte Contra o Racismo 1992 Galeria de São Mamede, Lisboa - Colectiva de Pintura Galeria Municipal de Torres Vedras - Colectiva de Pintura e Escultura Antigo Mercado Municipal de Portimão - 2ª PortArte, Exposição Internacional de Pintura 1984 Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa - Pequeno Formato 1983 Galeria Metrópole, Lisboa - Winter Solstice "Sorriso", Bairro Alto, Lisboa - Fotocolagens


BIBLIOGRAFIA Cotação de Artistas Portugueses em Leilões, Jean Pierre Blanchon Programa Entre nós, RTP África, entrevista para Universidade Aberta 50 Anos de Pintura e Escultura em Portugal, Universitária Editora Pintura em Portugal 2001, Universitária Editora Artes Plásticas Portugal, Artista, Seu Mercado, Narciso Martins, Adrian Editora Catálogo Nacional de Antiquários e de Arte, Estar Editora Arte em Agenda 2004, Universitária Editora Jornal Nova Era, imagem da capa do nº 1 (Nov 2001) Magazine das Artes Plásticas – nº 1 (Out 2002), Editora Turispátria O Coral – (capa e design), Sophia Mello Breyner Andresen, Portugália Editora Os Sonhos – (imagem da capa e design) Pierre Daco, Portugália Editora Pecados de Philip Fleming – (capa e design) Irving Wallace, Portugália Editora Songs for no Voices – (imagem da capa) Nigel Mcloughlin 2004, Belfast, Irlanda Blood – (imagem da capa) Poemas de Nigel Mcloughlin 2005, Belfast, Irlanda Dissonances – (imagem da capa) Nigel Mcloughlin 2007, Belfast, Irlanda A Arte de Pensar – Compêndio de Filosofia 11º ano, 2004, Didáctica Editora Creadores – Edições Aires de Córdoba, 2004, Córdoba, Espanha Criative Minds – 2004, Art Slam Press, EUA Anuário Luso Brasileiro de Artes Plásticas, Edição Casa de Portugal, Brasil Jornal “El Mundo”, 30.09.2005, (com foto em destaque) por ocasião da FAIM, Madrid, Espanha Revista Casa & Jardim (Junho 2007), Artigo de Fundo - Lirismo Transcendente ALGUMAS REPRESENTAÇÕES Fundação D. Luís I, Cascais Fundação EDP, Lisboa Museu da Água, EPAL, Lisboa Museu da Fundação Cupertino de Miranda, Vila Nova de Famalicão Museu de Arte Contemporânea de Senhor do Bonfim, Salvador da Bahía, Brasil A. Menarini Portugal, Farmacêutica SA (28 obras) Merck Sharp & Dohme, Portugal (5 obras) Banco Internacional de Crédito, Agência de Leiria (Autor exclusivo com 13 obras) Sharjah Museum of Contemporary Art, Emirados Árabes Unidos Núcleo de Arte Contemporânea de Sines Fundação Portuguesa de Cardiologia Ordem dos Médicos, Lisboa ALA - Academia de Letras e Artes, Cascais Artes, Associação de Artistas do Seixal Asociación Cultural Valentin Ruiz Aznar, Granada, Espanha Aires de Córdoba – Asociación Cultural, Espanha Galeria de Arte Velásquez, Valladolid, Espanha Federação Portuguesa de Cultura Câmaras Municipais de Torres Vedras, Amadora, Figueira da Foz, Barreiro, Leiria, Arruda dos Vinhos, Mafra, Montemor-o-Velho, Alcanena, Montijo, Sintra, Pombal, Ponte de Sor, Ourique e Aveiro. Inúmeras colecções privadas em Portugal, Espanha, França, Suíça, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Itália, Suécia, Irlanda, Croácia, República Checa, Brasil, Guatemala, Uruguai, Argentina, Malásia, Líbano, Moçambique, USA e Canadá. COMENTÁRIOS / ENSAIOS CRÍTICOS (Escreveram sobre a sua obra): Artur do Cruzeiro Seixas (Pintor/Poeta), Carlos-Antero Ferreira (Escritor e Poeta - Catedrático da FAUL), Desidério Murcho (Filósofo/Catedrático), Fernando Grade (Pintor/Poeta), Álvaro Lobato Faria (Galerista), Manuela Gonzaga (Escritora/Jornalista), Vicente Borges de Sousa (Historiador), Manuel Rodrigues Vaz (Jornalista/Crítico de Arte), João Antero Ferreira (Jornalista), Zeferino Silva (Galerista), Pedro Rodrigues (Psicólogo), Hugo Guerreiro (Director Museu de Estremoz), José Eliseu (Ceramista), José Bívar, Paulo Machado de Jesus (Antiquário), Isabel Braga (Escritora/Jornalista), Francisco Arroyo Ceballos (Artista Plástico), Eduardo Nascimento (Artista Plástico), Joan Lluis Montané (Crítico de Arte), Ulises Tales, Margarida Ruas Gil Costa (Directora Museu da Àgua), José Inácio Marques Eduardo (Presidente Câmara de Lagoa), Maria Adelaide Marques Teixeira (Presidente Câmara de Portalegre), José Agostinho Marques (Vereador da Cultura Câmara Amadora), José Neto (Artista Plástico), Rui Matoso (Gestor Programador Cultural), Manuel da Silva Ramos


(Escritor), Jesús Díaz Hernández (Poeta), Américo Carneiro (Pintor), João Aníbal Henriques (Historiador/Escritor), Isabel Braga (Jornalista/Escritora), Paulo Morais-Alexandre (Doutor em Letras, especialidade de História da Arte), José Manuel Ferreira Coelho (MD; PhD; FACS; HE; KL-J) e Madalena Braz Teixeira (Directora do Museu do Traje) GRUPOS / ASSOCIAÇÕES DE ARTES QUE INTEGROU ALA - Academia de Letras e Artes, Cascais, Portugal COLECTIVO CILLERO, Grupo Artístico Internacional, Madrid, Espanha CÍRCULO ARTÍSTICO E CULTURAL ARTUR BUAL, Portugal COLECTIVO CERO, Grupo Artístico Internacional, Córdoba, Espanha FREE INTERNATIONAL ARTISTS, Itália NÚCLEO PORTUGUÊS DE ARTE FANTÁSTICA, Portugal NÓMADAS, Grupo Artístico Internacional, Portugal QUADRANTE, Associação de Artistas de Loures e Odivelas GART, Grupo de Artistas e Amigos da Arte, Vila Franca de Xira ARTES, Associação Cultural do Seixal ARCOARTIS, Associação de Artistas Plásticos, Damaia SOCIEDADE PORTUGUESA DE AUTORES SOCIEDADE NACIONAL DE BELAS ARTES MEMBRO DE JÚRIS DE SELECÇÃO EM CERTAMES DE ARTE CONTEMPORÂNEA Prémio de Pintura e Escultura Artur Bual, CM Amadora, 2007 Prémio de Pintura Médicos Pintores, A. Menarini Portugal, Farmacêutica, 2007 CONTACTOS:

LUIS ATHOUGUIA RUA DOS PLÁTANOS, 85 - 5 E 2775-353 PAREDE - CASCAIS PORTUGAL (+351) 91 789 27 03 athouguia@gmail.com http://athouguia.exto.org/ www.athouguia.com www.facebook.com/luis.athouguia


LUIS ATHOUGUIA COMENTÁRIOS E CONSIDERAÇÕES SOBRE A SUA PINTURA

ARTUR CRUZEIRO SEIXAS - Lisboa, 1995 IN CATÁLOGO GALERIA SÃO MAMEDE Há por certo uma grave crise na pintura, como a há na política. Muita gente pinta para ganhar dinheiro; e, outros haverá que estão convencidos que as coisas corriqueiras que fazem estão perto da genialidade. Mas de facto NOVO há realmente muito pouco – ou é novo, este tão prolongado e tão dolorosamente evidente NÃO HAVER, reflexo de uma crise das mais excepcionais da história, que não permite qualquer hipótese de amanhã. A Bósnia, a SIDA, a droga, ou o metropolitano de Tóquio são horrores do nosso dia a dia; mas mesmo sem se ser parvamente optimista, se torna evidente que o mundo não vai acabar, que ao fim do túnel a luz vai irromper – com que intensidade e quando e com que exigências, é que ninguém pode prever. Entretanto encontra-se gente que pinta ainda fora dos circuitos da celebridade real ou fictícia, e seria sobre estes que eu gostaria de escrever, mas é sobre os que das mil e uma maneiras possíveis já atingiram a celebridade, que insistentemente se escreve e reescreve. O Luís Athouguia quis mostrar-me a sua pintura; trata-se de pedaços de sonho, jardins para os nossos olhos passearem, lembranças obscuras, iluminações intermitentes, palavras tresmalhadas, janelas da sua alma, a sua natural respiração. É evidente que esta minha linguagem não é a que se adequa à circunstância de um prefácio. E de resto quem, sem algum risco, pode entre milhões de pretendentes eleger hoje um único? Por isso se diz de uma qualquer pintura aquilo que se podia dizer de uma qualquer outra. Quanto a mim, é nada sabendo, que tento apresentar este pintor à vossa sensibilidade. Sempre agradecerei, entre as coisas mais belas que me aconteceram, o ter sido das primeiras vozes a referir o Raul Perez, a Paula Rego, o Mário Botas ou o Manuel Amado. A eles o agradeço, pois de forma tão excelente, souberam confirmar a cegueira da minha paixão. A pintura do Luís é encontro e desencontro, é uma certa dose de solidão, é um eco, uma ténue ponte, a luz da madrugada, o discreto marulhar da água na secura da paisagem, a fronteira entre o ontem e o hoje, um projecto de viagem. A verdade é que já não há coluna gótica que não tenha a sua motorizada, como se fossem irmãos de sangue, ou mesmo amantes. E

Athouguia na exposição na São Mamede (1995)

reconhecido está, que os nossos pés são sempre terra estrangeira. Por vezes naquilo que o Luís guarda em pastas, e por certo aparecerá noutras exposições suas, há momentos exaltantes, como o da beleza dos seus desenhos de 1985, que são manuelinos como alguns desenhos do Areal, e pedem um editor que infelizmente por agora não temos. Sei lá o que vai acontecer a esta pintura amanhã? Mas hoje, não posso deixar de homenagear nela gente que é desconhecida, e deveria ser conhecida. Quero referir as quatro paredes deste atelier onde há pintura de familiares do Luís, que por estranha maquinação do meio ou da estória não nos foi mostrada ainda. No Luís cumpriu talvez, essa pintura, uma parte da sua missão. É evidente que isto não é um prefácio, que não o sei fazer, e que me vanglorio disso. Sensatamente quando do nosso encontro, disse-lhe que não contasse comigo para prefaciar esta sua primeira exposição individual em Lisboa, mas regressado a minha casa foi-me impossível manter esta prudente intenção, e aqui lhe deixo este abraço algo amargo, de que me desculpo. Não posso deixar de lhe pedir, ou de lhe exigir, sempre mais liberdade e invenção; mas o mais difícil é saber ir até onde a liberdade e a invenção não nos escravizem. Se o ter-me pedido algumas palavras me dá algum direito, tomo-o para lhe pedir que não tenha pressa de ser reconhecido, e que não vista a sua pintura à última moda de Paris ou NovaYorque. Quantos anos esperou Picasso para ser mostrado em museu? Pois hoje mal terminado o quadro, há logo quem vá bater apressadamente à porta do museu, o que não posso deixar de interpretar como o fim lamentável de todo o impulso revolucionário.


CARLOS-ANTERO FERREIRA Vila do Conde 2013 Poeta, Académico, Professor Catedrático FAUL PEQUENO ENSAIO PARA LUÍS ATHOUGUIA LUÍS ATHOUGUIA chega de Cascais, sua pátria, a Vila do Conde, que nos calores luminosos de Julho se olha e refresca, na esteira das águas do Ave a seus pés. No Auditório Municipal inaugura-se a sua nova Exposição - “Cenografias com Feitiço”. É uma dádiva. É uma dádiva e uma festa. Sim, uma festa! Pagã ou como queiram, invocadora de todos os inícios e todos os fins, acedendo a todos os ritos e aos limites do apreensível e do inteligível. As obras de Athouguia confrontam-se, pelos argumentos consistentes da abstracção, com o universo visível das formas e das cores, tal qual as vemos por toda a nossa volta, nos seres e nas coisas da breve passagem. É assim mesmo! Imperador do império da cor e das formas! Ei-lo já há muito a prodigalizar a oferta dos signos e dos símbolos que inventa ou recolhe no limbo dos sonhos: formas que ora se isolam, ciosas da sua original singularidade, ora se repetem e reinventam, se cruzam ou justapõem, formas que pressentimos a quererem derrubar as barreiras físicas das molduras, e invadir e iluminar o vazio do negro galáctico. Na Obra de Luís Athouguia, a aproximação à dimensão infinita da criação, desperta os sentidos e apela à nossa cumplicidade. O Pintor provoca-nos e solicita-nos para a descoberta do processo poético das suas invenções e reinvenções, exige a nossa visão mais atenta e o esforço da nossa leitura do jogo formal, múltiplo e de múltiplos significados, numa pintura de geografia magistralmente convulsa e atormentada, sabiamente disciplinada na ordem do fazer. Na orquestração da sua Obra, instala-se um léxico original, vigoroso e inconfundível, do abstraccionismo mais estreme, em que os lemas enfrentam a tragédia da sua própria inexistência, num texto cromático e formal que se sustenta da imponderabilidade de todos os mistérios, por ele sugeridos mas nunca revelados. As sínteses insondáveis da matéria e através dela, os excursos da alma. A consagração do imprevisto. A aparente negação da geometria reguladora dos gestos, num halo esplêndido de intemporalidade.

E tudo isto (e o mais que não sei dizer), evocando o espaço de epopeia a que Athouguia nos convoca, pelo ritual da cor que veste as formas da sua narrativa sublinhada de neologismos - cores originais do espectro, ora como intocadas, ora transfiguradas, que se isolam, se misturam e se recompõem, em acordes harmónicos ou em dissonâncias, assentes no domínio dos arquétipos culturais e na mestria gestual do exercício oficinal constante. Diagramas de fenómenos desconhecidos, as formas do vocabulário athouguiano organizamse como crisálidas de um metamorfismo encantatório, de um oráculo revelador, de um rito impenetrável. A pintura de Luís Athouguia é lugar de visões oníricas, lugar de muitos cerimoniais, lugar iconográfico das abstracções das formas e dos conteúdos. Nela convergem alegorias, sugestões e alusões a uma escrita que se escreve por figurações no corpo do texto abstracto, no qual nos atrevemos a identificar (ou só entrever) pássaros, peixes, rostos ou máscaras deles, emblemas, signos, perífrases e paráfrases, silêncios marinhos, meias-luas, eflorescências e cristalizações orgânicas, um olho alado, um olho escorpião, um olho dinossauro, um olho alga… E valerá decerto o conselho para uma viagem de descoberta pelos títulos das obras de Athouguia: um repertório perturbador que abre uma janela toda, sobre o território poético - poético, sim senhor! - do processo criador do Artista, antes e depois das suas pinturas. Eis alguns desses títulos, transcritos sem razão de ordem, cronológica ou outra: Trajectória Indecifrável, Horizontes do Silêncio, Oficina de Símbolos, Outro Lado da Farsa, Cápsula Primordial, Serpente Telúrica, Sonhando até por Detrás dos Cântaros, Visão para ser Entregue a uma Rainha, Vértice do Feitiço, Horizons of the Silence: Dream or Tragedy of Humankind, Blow Up, Estruturas Sub-visíveis do Ser, Ornato de Antemundo Gestual, Totem de Sangue, Alerta Messiânico, Atlante Mediúnica… - títulos que são frestas iniciáticas e convidam a perscrutar, nos vieirianos “horizontes do tempo” em que vivemos, o universo esotérico e tão singular da criatividade de Athouguia, um universo muito pessoal, vigoroso, feito como que de fragmentos aleatórios do espaço cósmico e aliterações de um imaginário primordial ― o seu “Primordial Abstraccionism”. No final da tarde, o sol do poente marinho da foz do Ave, desliza suavemente para montante, sobre a manta tranquila do rio, e vem iluminar o rosto sorridente de José Régio - poeta do “Romance de Vila do Conde”, seu chão natal - que veio da eternidade para sabiamente conferir as “Cenografias do Feitiço”, de Luís Athouguia.


MANUEL DA SILVA RAMOS - Aveiro, 2009 Escritor UMA PINTURA RICA E ONÍRICA Fui ao atelier do Luís Athouguia na Parede num dia de Maio de intenso calor. No caminho, passámos os dois à beira das praias que inusitadamente regurgitavam de gente. Ainda não era Verão e já as pessoas se despiam num arrojo automático. A estranheza destas perturbações climáticas acabou no atelier do Luís Athouguia onde levei com um banho de frescura. Na realidade, o que vi naquela tarde, pastel e aguarelas, deixou-me mais vivo e cheio de esperança. O frescor dos sonhos vinha ao meu encontro. O grande poeta francês Gérard de Nerval, que viveu uma vida estranha mas muito coerente, disse antes de morrer: «Le rêve est une seconde vie» (O sonho é uma segunda vida). Há já muitos e muitos anos (precisamente desde a sua primeira exposição em 1983) que Luís Athouguia persegue esta via onírica para o seu bem e para o nosso. Mas nele, o sonho é genético. Nascido numa família de pintores, ele não faz mais que continuar essa tendência natural que conduz à mais emotiva das realizações artísticas – a beleza absoluta que transporta. Basta só vermos o inaudito quadro “Carnaval Quotidiano”, para ficarmos subjugados pelo poder mágico do pintor. Apoiando-se sobre umas cores soberbas, onde o real esforço parece despenhado (na realidade ele só está escondido), Athouguia obriga-nos a parar na vida. Tal é o choque pictórico que se materializa diante dos nossos olhos. Emoção e saber. Força criativa. Presença volantim que se renova. O espectador adquire todos os direitos importados. Max Ernst não está longe, mas o valor de Luís Athouguia não fica desmentido, pelo contrário, o pintor da Parede fica muito bem, independente e só, ao lado do pintor surrealista amigo de Breton. «Só gosto de considerar um quadro como uma janela; e a partir daí a minha única preocupação é de saber para onde é que ela dá» dizia André Breton. Não só o quadro “Carnaval Quotidiano”, mas todos os quadros onde reina o formidável pastel de Luís Athouguia, são janelas abertas para a emoção. São janelas que nos fazem ver vidas guilhotinadas mas que gozam de uma faculdade de locomoção desmesurada. São janelas essenciais que deixando para trás o quotidiano

Aveiro, Galeria da Capitania (2009)

Aveiro, Galeria da Capitania (2009)

Aveiro, Galeria da Capitania (2009)

mais prático se abrem a velozes mares de pensamento. São janelas incessantes que dão para montanhas movediças de sonhos. Não tenhamos medo de o dizer: o pastel substancial de Athouguia ilumina a nossa noite e traz-nos a pureza dos primitivos tempos em que podíamos tocar as estrelas com as mãos. Mostrando-se como um modo adjacente, e não secundário, em relação ao fantástico geral dos quadros de maior dimensão em pastel, as pequenas aguarelas de “Imaterialidades” são pequenos pensamentos elásticos. Maravilhas da filigrana dos sonhos. São materialidades esboroadas à maneira de André Masson e como este pintor que trabalhou com a areia nos seus quadros também Athouguia se arquetipa aqui numa posição criativa que esfacela o tempo minúsculo dos devaneios. Assim cada uma das suas pequenas aguarelas é um relógio de areia que nos paralisa. E nos faz sonhar. A chuva miudinha dos sonhos tranquilizadores. Assim são estes quadrozinhos. Poderosos tranquilizadores contra a austeridade do nosso mundo. Em resumo. Esta exposição de Luís Athouguia, “Dissonância Surreal”, que se dirige para o país do sal é um verdadeiro acontecimento num momento em que o mundo da pintura vive uma crise de valores e uma crise de críticos de pintura, num universo onde reina o artifício, o oportunismo, a mediocridade e, claro, a uniformização. Diga-se: ninguém actualmente em Portugal faz uma pintura destas. O Luís Athouguia é único e inclassificável não é surrealista nem deixa de ser quando afirma a sua reticência!) e é toda esta volúpia do sonho que faz a sua força. E também o seu equilíbrio. Agora que morreram o Mário Botas, o Cesariny, o Álvaro Lapa, resta-nos o Luís Athouguia para nos conduzir ao país onde os coelhos usam relógios de pulso e as meninas têm mais de dois seios no peito.


PAULO MORAIS-ALEXANDRE - Viana Castelo 2014 Doutor em Letras, especialidade de História da Arte ARTE COMO QUESTÃO

«Abstract artists tell their stories with shapes, color, edges, movement, and value - just like when one is painting a beautiful scene. The difference is, of course, there is no scene. The scene is within the artist. I often get asked, 'How do you know when you are done?' I am done when the story is told.» Gwen Fox

Luís Athouguia continua a produzir pintura de cavalete no momento em que um grande movimento nihilista, mas ao mesmo tempo um dos momentos mais regeneradores da Arte que recebeu o absurdo nome de Dada, está prestes a fazer cem anos e depois dos seus principais intérpretes terem declarado oficialmente que a Arte havia fenecido, a este respeito leia-se a fabulosa entrevista de Marcel Duchamp a Pierre Cabanne, titulada de Engenheiro do Tempo Perdido, onde este por um lado diz que perante a morte da Arte não faria sentido produzir, mas que posteriormente se verificaria ser uma mera bravata, na qual o próprio não acreditava, pelo que às escondidas havia sempre continuado a criar, fazendo assim uma última declaração post mortem onde renegava tudo o que havia afirmado, assumindo sim a imortalidade da Arte. Agora que os filhos do Dada são já nossos avós, será que ainda será relevante falar de Arte em geral e de Pintura, sobretudo a de cavalete, em particular? Sim! Não há dúvidas que sim e cada vez

e inconfundível de pintar, não como “receita”, não como uma fórmula que mereceu o reconhecimento do público e na qual estagnou, optando pela via do facilitismo, como infelizmente tantos fazem, mas antes como um desenvolvimento de um modo muito próprio de pintar. Assim, é muito fácil atribuir-lhe uma determinada autoria, de tal forma as suas pinturas são reconhecíveis através de um jogo cromático absolutamente próprio à linguagem da pintura a pastel onde, embora todo o espectro seja aplicado, há clara predominância dos vermelhos e azuis, bem como as suas construções espaciais densas de particulares geometrias, onde as linhas são modeladas de forma singularmente lírica, resultando composições muito equilibradas com uma luminosidade e um brilho emocionantes que remetem para realidades paralelas, onde a influência do sonho, do sonho do Pintor, é marcante e nós somos chamados a partilhar essa experiência onírica. Por fim, para melhor se compreender o que Luís Athouguia pinta e as histórias que nos conta, cruze-se o supracitado pensamento de Gwen Fox com a afirmação do mestre de Málaga, Pablo Picasso, que afirmava que «El arte abstracto no existe. Siempre tienes que empezar por algo. Después de eso puedes cambiar todos los trazos de realidad.» É apenas isso que é feito. Parece simples, não é…

AMÉRICO CARNEIRO - Viana do Castelo, 2015 Pintor MANIFESTAÇÕES FICCIONAIS

mais! Luís Athouguia e a sua obra podem perfeitamente servir de pretexto para tal. Efectivamente nos dias que correm, onde persistem experimentalismos perfeitamente esclerosados que já só espantam os burgueses mais distraídos, é fulcral debater uma coisa tão prosaica como a Pintura, algo que vai contra a espuma dos dias e que é de alguma forma inovadora. A aprendizagem de Luís Athouguia foi marcada por um grupo notável, mais do que professores, de mestres, onde pontuavam Lima de Freitas, João Vieira, Rafael Calado ou o importante pensador António Quadros, aliando de alguma forma à prática artística a necessária reflexão teórica, o que lhe permitiu lançar-se na experimentação plástica e marcar a diferença através das suas propostas tão próprias. Há efectivamente uma vontade artística muito específica que permite algo que nem sempre é habitual: as suas pinturas são facilmente identificáveis, ou seja, tem um modo muito próprio

A Pintura de Luís Athouguia eleva-nos ao patamar da ciência da arte pictórica e da “praxis” artística: Desde logo, pelo cuidado extremado posto na assunção das pesquisas ao nível da Estética e das suas regras universais, nas descobertas ao nível das estruturas (composição) e da dimensionalidade entrecruzada entre seus vários planos existenciais (materialidade), na observância atenta da Simbólica e do fluxo e refluxo dos símbolos (mitologia), na fluência discorrente dos diálogos plásticos das massas cromáticas e suas temperaturas (poética); No trabalho que privilegia a Mão, a Química, a Oficina do artista-criador e pensador, ao longo de um Tempo estranho que, até há poucos anos, parecia querer ditar a Morte de Deus e da História, e, consequentemente, o Fim do Homem como Ser Criado, dotado de Inspiração e de Ideais - E, assim, favorecida com um corpo ágil, vertiginosa e aberta como um vórtice perante os corpos (que não apenas os olhos) dos observadores-participantes, a Arte de Luís Athouguia é Vida e é, de novo…Pintura!


JOSÉ MANUEL MARTINS FERREIRA COELHO MD; PhD; FACS; HE; KL-J Lisboa, 2016 LUÍS ATHOUGUIA Pintor Modernista – Surrealista (Escola Actual Portuguesa)

Considero Luís Athouguia na sua essência complexa, um notável Surrealista. Mergulha nos princípios básicos desta escola, do modernismo internacional, seguindo os critérios filosóficos literários (1924 de André Breton) em que a psicanálise não fora descurada, assentando em dois pilares construtivos, um a do automatismo criador das (suas) experiências criadoras, outro a do mundo do sonho, a do mundo imaginário, em que na sequência das suas obras, a (sua) pintura automática evidencia o afastamento ou mesmo eliminação de qualquer controle da razão ou do pensamento libertando assim os impulsos criadores que habitam o subconsciente. Relembro “Freud, na sua psicanálise, e Bergson, na sua filosofia, tinham sublinhado a importância relativamente secundária do pensamento sensível, racional e consciente, em relação às riquezas escondidas nas profundezas da alma.” Quererá Luís Athouguia, no seu surrealismo “provocar a erupção dessa vida secreta, alcançar o «maravilhoso» ausente da vida consciente” ? Quadro curioso e apelativo, classificado na sua iconografia de “Apocalipse ou Revelação – Capítulo IV”, Fig.-1, associa a conjugação do consciente e do subconsciente, do real e do onírico.

Interpreto, o sentimento do autor numa inteligente alegoria à vida, não esquecendo a sua forma inicial, (óvulo ou ovo), forçando e imprimindo nesse esferóide elíptico uma carga interior intensa (carga genética), configurando tudo o que se possa imaginar neste planeta, da atmosfera gasosa, ao estado líquido como na mitologia grega o fogo na

senda de Vulcano, ( erupções em regurgitações de humanóides virtuais). Curioso se torna na complementaridade desta obra, o sentido da fecundação não ao acaso, a sucessão de figuras bípedes, todas portadoras de estandartes, embora só uma, a polar superior de maiores dimensões e firmada num figurante ortostático erecto portador da victória – o tal espermatozóide glorioso, penetrante no óvulo, agora fecundado, seguindo o triunfo da espermatenogénese. Luís Athouguia, além do seu Surrealismo próprio, afirma-se na utilização de “certos símbolos que constituem uma certa linguagem hieroglífica em que os sinais adquirem um sentido preciso pelas relações que estabelecem entre si. Em suma o Surrealismo é o resultado contemporâneo da arte fantástica”. Há quem designe esta última tendência como “Surrealismo não figurativo” e exponente marcante, Joan Miró. Athouguia, inspira-se e na sua expressão de algumas visões “caleidoscópicas” compondo: “imagens descontínuas e irracionais que são como sonhos luminosos e visionários, onde o mundo parece sem densidade, opacidade ou peso físico. As cores são espantosas pelo seu brilho e irrealidade. As formas são vivas e, contudo, não representam a natureza. É um mundo de fantasmas familiares, e é por isso que um crítico contemporâneo lhe chamou «sobrenatural».” Será pois, aqui, na sua fiel corrente a Chagall que Athouguia se demarca nas suas cores, próprias, bem conseguidas num tingimento regular e homogéneo, harmonioso, comparado à difracção básica dos raios luminosos pela acção prismática, sabendo conjugá-las, na filosofia precursora dos jovens pintores “nabis” capitaneados por Murice Denis, Pierre Bonard, Vuillard e Roussel. Será que a corrente ironicamente designada por “Fauves”(Feras), “interpretação muito livre da natureza, ao gosto pelo apontamento espontâneo em vez da perspectiva para criar a profundidade, e principalmente devido às suas cores violentas”, terão lugar no sentimento deste pintor ? Athouguia não esquece e, revela numa integração fitomórfica perfeita, natural e selvática numa simbiose a dissociação das formas em figuras geométricas, feita por análise intelectual, sendo aliás estas figuras fragmentadas pelo jogo das linhas e dos planos. Estamos pois em sintonia com o “Cubismo Analítico”, que Pablo Picasso focou nas suas imagens mentais ou conceptuais do real. “Apocalipse ou Revelação – Capítulo III” – Fig.-2; “Apocalipse ou Revelação – Capítulo V” – Fig.-3; são exemplos marcantes em que, triângulos escalenos, simples ou integrados, em flâmulas, estandartes ou pseudo-cristas, integram-se igualmente na composição máxima dos livros sapienciais, em rectângulos convergentes, aludindo a obras escritas abertas, em que, a lombada pertencente ao universo negro do quadro, dando lugar à vida vegetal, explicitamente marcada no ramo de oliveira, não descurando o firmamento de sete estrelas interactivas, não faltando, uma possível fonte de luz, numa lua cheia branca homogénea.


essência espiritual da expressão, seria dada espontânea e intuitivamente por meio de cores e de composições de elevado poder emotivo, numa temática, de Kandinsky e de Paul Klee, «actividade do espírito», em que o artista deve criar «em si próprio a partir das suas emoções, da sua percepção espiritual e do seu poder imaginativo interior» “As linhas e os planos, muitas vezes transparentes, inclinados, justapostos ou imbricados, dão todos os aspectos dum objecto de que o artista se lembra no momento em que pinta.” Luís Athouguia, na sua obra “Apocalipse ou Revelação - Capítulo I” – Fig.-5, confunde-nos com a implantação alfabética grega “Alfa e Beta”, condicionando a sua vertente de um cubismo analítico para um “Cubismo Sintético”, como “Braque e Picasso (cerca de 1911) começam a introduzir nas suas pinturas letras e números para que pareçam menos abstractos”.

Sem dúvida consideramos Luís Athouguia, na Escola do Modernismo Português, um valor da geração presente, não esquecendo grandes vultos antecedentes como: Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana, Almada Negreiros, Santa-Rita, Maria Helena Vieira da Silva, Paula Rego, Luís Pinto-Coelho, Júlio Pomar, Manuel Gargaleiro, João Manuel Navarro Hogan, Carlos Botelho, Artur Bual, Mário Cesariny de Vasconcelos, Nadir Afonso, Nikias Skapinakis, Jaime Silva, Edmundo Cruz ou Acácio Malhador.

Interpreto a obra “Apocalipse ou Revelação – Capítulo II”, Fig.-4, um forte expressionismo abstracto na qual, à primeira

Como referência a este artista e amigo transcrevo que: “a representação já não é um fim em si, e que para eles os problemas essenciais são, de maneira racional ou não, os problemas da forma, da composição, da matéria ou do conteúdo psicológico. Ligados ou não a escolas bem determinadas, exprimem o seu universo com um máximo de individualismo, contribuindo assim – por vezes com experiências ocasionais – para um indubitável enriquecimento certo da arte, e propondo que a criação artística seja considerada de maneira completamente nova”.


MANUEL DA SILVA RAMOS Cascais, 2017 Escritor UM APOCALIPSE CROMÁTICO MUITO SENSÍVEL

Pela segunda vez visitei o atelier do Luís Athouguia, na Parede, e desta vez para ver os seus 22 quadros temáticos sobre “O Apocalipse de S. João”. O choque que produziu em mim foi brutal. Sendo eu ateu, nada sensível às palavras expostas, guiei-me pela explosão de cores, pelo virtuosismo da sua junção e, claro, pelo encantamento estético. Não perdi o meu tempo pois este conjunto miraculoso de quadros é não só um fogo-de-artifício de cores sem paralelo como também um tournant na obra do pintor. Explico. Luís Athouguia pode facilmente apropriar-se de um universo alheio sem perder a sua individualidade. A partir de agora podemos esperar tudo da pintura de Luís Athouguia pois a sua surpreendente criação não tem fim à vista. Perguntaram um dia a André Breton qual a sua opinião sobre a pintura. Ele disse simplesmente isto: «que o olho existe em estado selvagem e que é o instrumento de uma apreensão imediata do mundo; e que a linguagem pictórica foi dada ao homem para que ele faça um uso surrealista». À luz destas opiniáticas, podemos considerar a pintura de Luís Athouguia como um convite inaudito ao olho. A um olho essencial e não subalterno. A um olho que está pronto para todos os confrontos e guerras. Um olho que pode ser tanto metafísico como superonírico. Porque no final está sempre o êxtase sublime. Esta exposição de Luís Athouguia reflecte, de uma maneira geral, o que já antes todos sabíamos do seu universo tão particular: a invasão dos sonhos mais improváveis vem ao nosso encontro e leva-nos por trilhos e caminhos nunca dantes percorridos. São estranhos fornicadores audazes, são monstros cujas línguas parecem vir de mundos subterrâneos; são caras do mundo do além que nos interrogam para deixarmos de ser deste presente; são estrelas que vogam pela eternidade dos nossos olhos; são caminhantes que vão em direcção ao nada; são bestas que lançam pela boca a chuva da sapiência; são lábios que vogam pelo universo como flores tocadas pelo vento; são anjos voadores tão especiais que às vezes nos ameaçam com uma foice duradoira; são mulheres que cavalgam baios ruivos; são quatro cavaleiros em cima de cavalos de várias cores e não se sabe se conjuram outro apocalipse; é o ovo da inocência e quatro anciãos que não sabem quem são; é um universo pejado de estrelas que às vezes caem; etc. Do lado propriamente técnico do desenho (uma espécie de canevas muito sumário) são enredamentos, circunvoluções, implosões, movimentos galácticos que as cores cobrem sempre para o bom lado. Pois é precisamente neste cromatismo mágico e sensorial que está o segredo do pintor. É tal a mestria de Luís Athouguia que não há nenhum destes 22 quadros que não seja tocado pela pureza sensível da cor e

imediatamente nos tornamos cúmplices deles. Não é preciso ter andado por muitos museus do mundo ou ter visto pintura em Londres ou Paris, para considerar esta criação de Luís Athouguia um portento cromático. Não conheço actualmente em Portugal alguém que vá assim tão deliberadamente para um erotismo vital das cores, que se exponha com uma atitude surrealista de tanta intensidade, que nos transmita tanta impressão de deslumbrante irrealidade. Cada êxtase de sonho convoca o seguinte e o seguinte pode até apelar ao último em data que nós ficamos irremediavelmente tranquilos: sabemos que nada se perde nos quadros de Luís Athouguia pois tudo se transforma em magia. Seria necessário recuarmos no tempo para encontrarmos na pintura de alguns surrealistas tais como Max Ernst, Wilfredo Lam ou Tanguy, alguma accointance pictórica com o nosso pintor. Luís Athouguia é um pintor que eu admiro pela sua independência de espírito. Gosto dos artistas que criam em total liberdade de movimentos e que não pertencem a nenhum areópago. Vão firmes pelos caminhos que escolheram, e a sua mensagem é só uma: «só o sonho traz a felicidade artística». Já uma vez dissemos, falando da pintura deste artista nascido em Cascais, que ela vai sempre no coruto da vaga, vive por ela própria, voga em veleiro solitário em exposições constantes em vários pontos do país, num momento grave em que a pintura é desleixada em Portugal por falta de galeristas, inatenção dos críticos e uma evidente perda de poder financeiro dos amantes de arte. Já outra vez afirmámos que depois dos desaparecimentos de Mário Botas, Álvaro Lapa, Mário Cesariny, só nos resta o Luís Athouguia para nos levar para lá do espelho onde os coelhos têm relógios de pulso e não chegam nunca a horas. Hoje confirmo isso. Despachem-se pois para ver esta apoteose de cores de um artista que se abriu à aventura fascinante. E, claro, conhecer um pintor que tem por missão de transformar o quotidiano ou a literatura religiosa em poesia. É que, com Luís Athouguia, os sonhos ficam sempre disponíveis, após boa ou má cobrança.


CARLOS-ANTERO FERREIRA Montijo 2015 Poeta, Académico, Professor Catedrático FAUL A SECRETA PINTURA - Para o Luís Athouguia

NO DIA PRIMEIRO O OLHO RECEBEU o esplendor original e tudo que mostrava ser fruto da criação: possuir forma e cor, enquanto as divindades nasciam inventadas de afluente maternidade em intrépidas sagas e imponderáveis alcovas de antiquíssimas mitologias. Mais tarde, mais tarde, os séculos e os milénios agenciariam, ― como se hoje fora, rigorosamente arrolar as existências e disciplinadamente organizar o património dos seres e das coisas, segundo normas e regras rígidas e severos critérios. Ninguém aliás se deu conta E ninguém ainda sabe, De quem foi a ideia original E a ordem para que assim se cumprisse! Na aurora mais que primitiva, de pé no cimo da Montanha, tendo na mão aberta e estendida o olho que recebera o esplendor primordial, e das nove Musas rodeado, um jovem cuja nudez uma leve túnica cobria, recebia a revelação de que toda a matéria terá forma e terá cor. Perante macia folha de papel de algodão e tendo nas mãos suaves pastéis, o mesmo jovem que uma leve túnica cobria havia de criar sem saber que o fazia, em magnífica desordem ― mas com sábia sabedoria! o léxico de todos os mistérios o inventário de todos os enigmas. No laboratório da secreta pintura, acumulam-se códigos e referências a rituais, sacrifícios, oferendas, oráculos, ficções de magia, oníricas visões, cintilações do cosmo, epopeias. Passeiam-se Orfeu e os argonautas, ciclopes e titãs, e os imortais, e os deuses dos ventos enlouquecidos, e as quatro idades e os dois hemisférios, e todos os engenhos, e antes de todos o Alfa e o Ómega, o infinito no finito,

Pássaros bisnaus insinuam-se pela gula dos incautos e nas funduras dos mares de Poseidon chocam-se fragmentos de coral e seres de todo inexplicáveis movimentam-se no silêncio pesado do tempo circular e um cometa ― ou será Pégaso? passa fora dos limites do quadro! Não é casual ou fortuito o fogo das forjas de Hefesto, e pela fome de imortalidade antagonizam-se e lutam os arquétipos, levantam-se tótemes, invocam-se as divindades. Há muito Epimeteu abriu a boceta de Pandora, mas com a esperança que ficou no fundo há-de redescobrir-se o perfume das flores e o fresco orvalho nas manhãs dos bosques ― mas atenção! que apesar das felizes dádivas das Ninfas, há lágrimas ocultas prontas a despenhar-se no abismo pelas faces lívidas de máscaras venezianas, enquanto o Pintor, das formas muitas universal inventor, e deveras prevenido do fatal exemplo de Babel pede de empréstimo a fundo perdido ― máxima ousadia! inspiração maior aos 22 capítulos do grande mural do Livro do Apocalipse, que o apóstolo João em Patmos escreveu.


ISABEL BRAGA - Lisboa, 2018 Jornalista (Público) / Escritora

PAULO MACHADO JESUS - Lisboa, 2018 Antiquário APOCALIPSE OU REVELAÇÃO

Conheci o Luís Athouguia aos vinte e tal anos, quando ambos trabalhávamos nos escritórios de uma editora em Lisboa. Lembro-me de começar por olhar com curiosidade para aquele jovem amável, discreto, e extremamente bem educado, que passava horas debruçado sobre o seu cavalete de desenho, num silêncio sereno. Ficámos amigos e, ao longo dos anos, fui-me apercebendo de que a serenidade do Luís ocultava uma personalidade multifacetada, uma vida interior rica e algo enigmática, que se traduzia, então, numa necessidade de isolamento, de silêncio, de contacto com a natureza. Como artista, começou por revelar-se timidamente através da fotografia e do desenho. Digo timidamente porque as linhas complexas do seu trabalho, nessa época de juventude, embora de uma plasticidade atraente e sugestiva, pareciam de alguém que procurava, mas ainda não tinha encontrado, o vocabulário certo para exprimir as suas emoções. E, no caso do Luís Athouguia, tratava-se de emoções poderosas, que, finalmente, se revelaram quando ele começou a pintar. A partir dos anos 80, começou a criar telas ainda pejadas de sombras e sem formas muito definidas a animá-las. Mas, a pouco e pouco, esse universo iluminou-se de luz e cor, e figuras misteriosas e bem definidas começaram a surgir, remetendo para uma estética surrealista. A cada nova exposição, os quadros do Luís surgem mais vibrantes, mais luminosos e coloridos, num discurso complexo e contrastante com o lado sombrio de muitas das criações figurativas que os povoam, gerando esse contraste mundos realmente estranhos, e até algo ameaçadores. O expoente máximo desta dicotomia de luz e sombras, em que o bem e o mal parecem em confronto constante, surge materializado na sua última exposição, inspirada no Livro do Apocalipse, onde a imaginação do pintor parece voar mais alto e mais livre do que nunca, servida por uma apurada técnica no que toca ao domínio da cor e da luz. Não sendo uma crítica de arte, não sei que mais posso dizer sobre o trabalho deste pintor que é também um grande amigo, a não ser que ele me transmite uma estranha sensação de felicidade. Como se, em cada tela, a luz conseguisse sempre expulsar as sombras. O que sei, de certeza, é que a história vai continuar, o Luís ainda não acabou de contá-la, e eu vou querer segui-la até ao fim.

Uma exposição da arte de Luís Athouguia é sempre um evento especial, mas esta é-o ainda mais porque nos convida a partilhar da sua interpretação, por desafio ou inspiração, de uma obra tão complexa e estranha como é o Apocalipse de São João. Ao entrar naquela sala do Centro Cultural de Cascais, uma sala comprida e de tecto abobadado, tive a sensação de estar num lugar litúrgico, decorado pela inspiração do transe de um xaman. As palavras, as evocações, são substituídas por cores, formas, sinais que se multiplicam em desenhos, por vezes fragmentados, como pedaços de espelhos em que se percebe uma passagem para outra realidade de que apenas adivinhamos a possibilidade de existência, talvez mais poética, e por isso mais verdadeira, no dizer de Novalis. Somos conduzidos pela vertigem da psyche do artista-xaman que, abandonando a compreensão intelectual, transfere a consciência para o mundo dos símbolos e ícones, mitos e arquétipos, fazendo-se taça vazia para o cumprimento de uma missão: a de nos desafiar a aproximarmo-nos desse limiar onde se inicia a viagem sem retorno em que a esfinge deixa o corpo de animal… e convidando-nos à mesma viagem. Quem procurar “ler” o Apocalipse, esse livro tão estranho, nestes quadros de Athouguia desenganese porque ficará sempre aquém dessa “realidade” outra que se esconde na segunda metade do título da exposição: Revelação. Há quem diga que revelar é recobrir com um véu, esconder um mistério parecendo esclarecê-lo, calar a palavra no silêncio de um sinal ou símbolo. Uma outra linguagem que pode dizer mais do que as palavras podem dizer. Athouguia faz o seu caminho com uma linguagem que lhe é própria como artista! E as imagens do visionário são imunes às barreiras de todas as línguas. À saída, senti a alegria de quem acabava de apreciar um conjunto de obras raro e altamente significativo no contexto da verdadeira arte, um conjunto de obras de um artista que consegue fazer-nos reunir e reencontrar-nos com o significado profundo da arte de todos os tempos -desde as gravuras de Foz-Côa. O fim da tarde esteve chuvoso, mas à saída a noite estava límpida. Lá no alto a Lua-Isis pontificava transmutando a luz do Sol-Ra que há horas mergulhara no horizonte marítimo do Occidente da Europa, esta ponta de terra onde se pressente o Mistério. Apocalipse, talvez. De certeza: Revelação!


JOAN LLUÍS MONTANÉ - Madrid, 2005 Associação Internacional de Críticos de Arte DA PERCEPÇÃO Á FORMA, ONIRISMO E TRANSCENDÊNCIA A sua obra está dividida em duas vertentes: a geométrico-abstracta e a deliquescente, gestual. Na primeira desestrutura temáticas, realidades que se convertem em outras realidades que não têm necessariamente que ver com a real, em partes de um puzzle que muda a cada momento, mas mantém a sensualidade cromática, a força da divisão produzida pela introdução da cor negra, enquanto a sua outra produção artística é mais densa, deliquescente, desligada de estruturas formais, produto das suas elucubrações abstractas. A sua produção pictórica move-se entre mundos diferentes, um, o real, o que se nutre de referências directas, precisas, de uma realidade que não é a nossa mas que procede da que partilhamos, ainda que a desestruture, mediatize, avançando das essências que a conduzem, porque não lhe interessa a descrição, procurando outras inscrições procedentes do mundo onírico, do submundo dos interstícios da fenomenologia da própria variabilidade da existência. Tudo está sujeito a mudanças, não há virar de página, porque não existe o real estático, senão uma visão dinamizada da mesma, em que tudo é mudança e daí a presença de fragmentos, de realidades formais que nos conduzem a outras realidades inventadas, mentais, neuronais ou até procedentes de outros mundos. Não está neste mundo, mas num intermédio, entre a vigília e o sonho, a meio caminho entre a viagem astral e a proposta visceral de uma maneira de visionar a existência mais além das condicionantes biológicas. Esta sensação aumenta na sua obra mais abstracta, na qual tudo parece fluir, ser produto de circunstâncias e momentos que transformam cores, formas e conceitos, que viajam com a força da luz, que se desintegram e se voltam a integrar. Não há nada de estranho nisso, porque o importante não é o que se vislumbra, mas sim o que o artista quer dizer-nos. Quer dizer que a sua mensagem é complexa, quer comunicar muitas coisas, todavia não é transparente, mas sim produto da acção de diferentes energias que acedem e se ligam à sua própria infra-estrutura.

Exposição “Imponderáveis e Outros” - Cartaxo (2008)

No seu Atelier em Cascais (2006)

Quer, a todo o momento, propiciar uma reflexão em torno da realidade existente, dotar-nos de uma visão distinta, de um pensamento referente à própria vontade de ser transparente, lúcido, de veicular-se em linha com propósitos que se baseiam na profilaxia do sistema de geometria surreal abstracta que se encontra no cosmos da sua micro realidade. Ordenado, calculador, deixa fluir mas controla as energias, dirigindo-as aos objectivos plásticos que lhe interessam, procurando controlar o descontrolo das formas, incidindo nas possibilidades de expressão das linhas plasmáticas que interligam as energias que nutrem cores e formas. Visiona a realidade a partir dessa outra existência, fomentando a ideia de liberdade contida no onirismo da sua temática, baseada nos prolegómenos da sua vidência. Não está neste mundo, mas num intermédio, entre a vigília e o sonho, a meio caminho entre a viagem astral e a proposta visceral de uma maneira de visionar a existência mais estruturada em torno da fragmentação das partículas. RUI MATOSO - Torres Vedras, 2007 Gestor e Programador Cultural A GÉNESE DE UM MUNDO A HAVER A adolescência do fogo incendeia a solidão nua e respira a rosácea de um permanente limiar em que a lava se torna cristal e a agonia ..plácida volúpia. António Ramos Rosa

1. Nada parece ser tão óbvio e consensual como a metamorfose do trabalho de um artista. Ao longo da sua vida a obra transmuta-se em direcções por vezes inesperadas, novos materiais e suportes podem surgir trazendo consigo a possibilidade da descoberta de visões ainda inéditas. A produção artística de Luís Athouguia não é alheia a esta transformação vital, mesmo enquanto perduram os materiais ou as técnicas que a suportam. Mantendo-se numa rigorosa, mas dupla, fidelidade ao pastel seco e à aguarela, as mutações plásticas do seu trabalho são suficientemente visíveis e, vêm percorrendo uma subtil viagem da forma sobre a superfície áspera do papel.


Exposição com o grupo Internacional Colectivo Cillero, Madrid 2007

Como no caminhar cujo destino ainda se desconhece, a obra de Athouguia move-se naturalmente por si mesma, entregue a um saberfazer manual e quotidiano. Mas é só a partir de uma perspectiva abrangente da sua produção – desenho e pintura – que se torna possível observar essa deslocação do traço, que nasce com um registo mais abstracto e orgânico, para se inscrever agora – nas mais recentes pinturas – como representação e narrativa. 2. A fase actual da obra de Athouguia alterou radicalmente as regras da relação com o observador, a comunicação metafórica tornou-se um imperativo quando antes era apenas mera hipótese. Estas pinturas exigem uma forma peculiar de interacção simbólica e lúdica, propondo-nos cenários para todas as encenações que conseguirmos manter entre os personagens que nelas habitam. Em contraponto com os trabalhos mais antigos e viscerais, onde a imagem provinha de um gesto informal (sem objectivos premeditados de representação ou figuração), a produção actual faz uso de uma linguagem plástica elaborada, com uma sintaxe e uma semântica bem desenvolvidas e muito específicas. Há mesmo um repertório de figuras, de símbolos ou de acções que vão sendo manipulados de forma persistente, fazendo e refazendo múltiplas ficções em torno daquilo que parece ser uma única mitologia. E se há mitologia é porque há mundo, mundo metaforicamente transfigurado em visão. Ou seja, aquilo que de fundamental Luís Athouguia nos propõe é a partilha da sua mundividência, da sua concepção estética do cosmos, apresentada e fragmentada em cada obra materializada a pastel seco sobre papel. Se numa etapa anterior o artista nos propunha um acesso à sua obra recorrendo quase exclusivamente a um virtuosismo retiniano e alucinatório, desenhando ou pintando num registo que me atrevo a designar como abstraccionismoorgânico (visceral-vegetal), solicitando do observador pouco mais do que o olhar atento, actualmente algo mais está em jogo. 3. Se admitirmos então como natural a metamorfose plástica da obra, podemos também aceitar a mudança operada no artista da ideia de

arte, da sua arte. É possível passar de uma crença baseada na suposta beleza visual da obra – as cores, as formas, as texturas que exprimiriam as emoções do artista –, ou na beleza convulsiva se quisermos atender aos predicados de origem surrealista, para uma compreensão onde se inclua ainda uma dimensão cognitiva, e consequentemente, uma tarefa de interpretação. Nesse caso, compreender uma obra de arte é interpretá-la tão correctamente quanto possível, perceber que ela é portadora de uma determinada organização do mundo. Esta corresponderia a uma perspectiva não apenas experiencial da emoção estética mas também cognitivista da arte. O que estes novos trabalhos de Athouguia trazem a campo é essa inaudita possibilidade, a possibilidade de, através de um sistema simbólico próprio, o observador poder desenvolver por si uma teia de conexões entre os diversos elementos simbólicos pertencentes a um mesmo alfabeto pictórico (sistema) relativamente decifrável. Qualquer sistema simbólico consiste num conjunto de símbolos que interagem entre si, a que podemos também chamar esquema, e numa função simbolizante do símbolo que é a que permite identificar o seu referente. Apesar de a manipulação de símbolos não ser exclusivo das artes – a ciência também os usa em abundância –, a história da arte é fecunda no uso de esquemas simbólicos, designadamente no período maneirista e barroco (anagramas, emblemas, alegorias), estando bem patente na obra gráfica e no desenho de alguns dos maiores mestres, cujos elementos referentes constituíam uma segunda leitura, hermética, das obras. No caso de Luís Athouguia, a simbologia utilizada é constante e idêntica, daí a certeza de estarmos perante um sistema, ou se se preferir, um alfabeto. Alguns desses caracteres (figuras) são facilmente identificáveis: o cedro, a escada (degraus), montanhas, o homem, o peixe ou a seta, formam, em cada pintura, uma rede de significados interdependentes, um horizonte onde se desenrola um jogo – ou vários jogos – entre as figurassímbolo, suscitando micro-narrativas de índole mitológica: a génese de um mundo a haver. Há, portanto, muitos sistemas simbólicos diferentes, cujas convenções internas são a chave que nos fornece a identificação daquilo que é representado. Como as convenções (regras) não nos são fornecidas a priori, surge normalmente o

Athouguia e Fernando Grade na Galeria de Arruda dos Vinhos (1999)


Arruda dos Vinhos (1999)

problema da interpretação dos códigos subentendidos em cada símbolo ou sistema. A única solução passa pela aprendizagem, pela iniciação em determinado contexto cultural, científico ou artístico. Daí que, em obras com estas características, sejam sempre úteis todas as pistas deixadas pelo autor, e uma das mais importantes é sem dúvida o título dado à obra. Através de uma operação de nomeação é possível accionar a dimensão poética do símbolo-palavra, cujas características funcionais acrescem às do símbolopintura, permitindo assim uma melhor, mais completa, aproximação ao enigma do objecto artístico colocado diante do olhar. Na pintura cujo título é “limiar de fenómeno” (2005) a denominação presta-se a conferir uma característica temporal à acção representada, uma suspensão na duração do tempo – um limiar para um acontecimento prestes a ocorrer –, a partir desse momento todo um imaginário de tipo apocalíptico (como sinal do fim dos tempos ou da revelação eminente) é convocado para engendrar um lugar virtual destinado aos elementos figurados que constituem a pintura em si. Este é apenas um exemplo de como a metáfora escrita pode contribuir para a tarefa de decifração que o observador/investigador terá de enfrentar em cada um dos cenários propostos pelo artista. FERNANDO GRADE - Seixal, 2000 O FUNDO DO MAR PERTENCE AOS FUNDOS DO UNIVERSO. Há muitos anos, em Amsterdam, no Dam, travei conhecimento com um casal exótico (ele mulato do Senegal; ela - francesa de Ardennes). Aqueles dois e eu éramos, ao tempo, balzaquianos, mas por baixo, ou seja, idades de 30 e pouco, e falávamos em Francês sobre pintura e seus arredores. A rapariga chamava-se Francine, nunca esqueci; o senegalês, cujo nome não me lembro, era de Dakar, isso fixei. O jovem pretendia ganhar a Holanda em arte, tinha cabelos esbaforidos de hippy e, no bolso, uma mancheia de travel-cheques do papá africano. Soba do mundo. O jovem viageiro mostrou-me alguns desenhos e aguarelas, e eu disse-lhe:

Eduardo Nascimento, Jorge Carreira, L A, Jorge Andrade, M. Fazenda Júri do Prémio Artur Bual (2007)

Com o escultor Nuno Vasa numa exposição conjunta (2000)

- Tu trabalhas pouco. O trabalho é o centro do universo! Não há pintor sem trabalho, manual ou mental. E ter os olhos abertos para. Por antinomia, lembrei-me do que vou dizer a seguir. O camarada d'artes Luís Athouguia apresenta-se como um trabalhador emérito. Procura. Impõe-se na luta pela forma. A pintura requer a aquisição de uma gramática pessoal. Mas quero fazer alguma história, começando por alfa. A primeira presença (quer individual quer colectivamente) de L. Athouguia, no concelho do Seixal, denota, da parte do Autor, as mesmas preocupações estético-espaciais que norteiam, desde o início da actividade, a sua obra plástica. Nascido em Cascais, no ano de 1953, L.A. começa a expor 30 anos depois. Reconhece-se que a linguagem esgrimida não tem sofrido sobressaltos ou abanões, porquanto, descoberto o trajecto próprio, gravitando numa zona de luz e sombra, de facto, peculiar e brandindo um entendimento transformista do acto estético, jamais Athouguia desmanchou esse equilíbrio formalista e vivencial, esse modo incomum de dispor os matizes no plano. Tais pinturas, muitas vezes soberbas, constroem-se no doseamento das cores, na interacção, tudo é conseguido a pulso, já que existe um labor muito consistente. Não existe presença humana, memórias de casas ou de corpos glorificados ou destruídos nos suportes de L.A. Tudo acontece (ufano ou soturno, embruxado ou luminar) nas profundezas do mundo marinho ou nos espaços siderais em fora, mormente nestes últimos referentes onde através dos quais - mais milhão ou menos milhão de anos a matéria irá cansar-se de criar, perderá eficácia e vai regressar ao ponto zero e quedo e misteriosamente pacato de que saiu. Para depois, decerto – decerto? - voltar a explodir... A linguagem do Autor serpenteia à volta e no âmago de uma meada cromática de matrizes fascinantes onde a luz (do étimo latino luce) é rainha, não consorte, não de par de cama, mas rainha-mor; trata-se de uma luz vivaz, que já fecundou o pó, pô-lo a caminho, rumo à pátria da


água. Abeiramo-nos, afirmativamente, de um sonho com maiúscula, mas, para lá da construção desse habitat onírico, descortina-se um adestramento superconseguido na combinatória das cores, que são fixadas ou impostas ao suporte impelidas pela força táctil das mãos. Porque é pintura a pastel seco. Daí que o modus faciendi nunca passe pela utilização de pincéis ou trinchas ou outros utensílios. A mão dá a cor e confere a dimensão desmedida. O espaço, mesmo pictórico preenchido no todo, respira sempre. Em termos judicativos, isso satisfaz-me muito. Por opção pessoal, agradame imenso, ou não fosse eu adepto da espacialidade, ou não fosse o autor destas linhas um dos fundadores (1964-1965) do Movimento Desintegracionista Português. A verdade é que a mão à solta significa trabalho. Perseverança. Arte. "...golpe de asa", parafraseando o genial poeta e suicida Mário de Sá-Carneiro. Foi o esforço e foi o trabalho que agigantaram o macaco e fizeram-no ascender a homem. Ao longo de muitas, muitíssimas eras. Os pintores vivem especialmente dos olhos e das técnicas pessoais que tenham conseguido desenvolver. Este paradigma constitui o cerne da estilística de Athouguia. Porque as boas intenções não bastam. Os conteúdos têm sido sempre os mesmos ao longo da História. Os autores originais são os que conseguem contar de jeito novo as histórias/estórias velhas. Luís Athouguia afigura-se-nos ser um artista renovado, com uma pulsão encantatória nos objectos visuais que desvenda. Acaba, outrossim, por mostrar-se cénica a sua proposta; em definitivo, situada entre um diapasão de ruptura e o gosto lavado que a Arte assumida no tempo confere, desde os Gregos (de notável qualidade de pensamento, mas profundamente ignorantes...) até ao signo dos foguetões sábios, dos beijos cibernautas e dos corações feitos de lata e arames.

No Universo de Cor de Luís Athouguia, essa investigação, deixa em suspenso os planos os contornos e as texturas para substancializar uma atmosfera de luz e cor, onde a profundidade, a superfície, o interior e o exterior se embrenham em reciprocidade total, concebendo um local esvaziado, um vácuo que cria no observador a sensação de vertigem ou de abismo. Um dia, Sir Walter Rayleigh disse: "O Homem não pode dar uma razão para que a relva seja verde e não vermelha ou de outra qualquer cor." É isso que Luís Athouguia nos transmite, circunscrevendo-nos a esses locais sem que para isso nos tenha de prescrever nada cumprindo o livre arbítrio. Bem Haja! PAULO MACHADO DE JESUS - Lisboa, 2006 CATÁLOGO DE PONTE DE SOR SOBRE O PINTOR LUIS ATHOUGUIA Conheci o Luís, há mais de vinte anos através de amigos comuns e desenvolveu-se o nosso convívio numa amizade que se entreteceu ao mesmo tempo que eu aprendia a conhecer e admirar a obra do pintor que ele também é. A pouco e pouco foi ganhando lugar a importância do pintor de tal forma que o que escrevi em 1997 continua, talvez com mais força, a ser verdade hoje. Relembro o que então escrevi sobre ele: "LUIS ATHOUGUIA é um Esteta e um Pintor. A ordem destes termos é impossível de definir pois a Estética confunde-se, na sua vida, com uma Ética cavalheiresca que rege todos os seus gestos, a sua postura perante a vida, perante a Arte, perante os privilegiados que o podem contar como Amigo. A pintura vive-a como quem precisa dela para respirar: vive com ela, vive para ela, vive nela." Herdeiro de uma família tradicional e ligada às artes, os Athouguia (Pinto Basto), ele é bem o reflexo desse húmus familiar de tradição aliada à modernidade. Tradição nutrida na família mas da qual ele, o artista, se liberta e, como um alquimista, transmuta nas visões que nos oferece, parecendo dizer-nos com um sorriso fraternal: tomem-nas, procurem nos meus devaneios os sinais dos vossos sonhos, nos caminhos da minha

MARGARIDA RUAS GIL COSTA - Lisboa, 2006 IN CATÁLOGO MUSEU DA ÀGUA Arte é uma investigação sobre instantes, acontecimentos e encontros a partir da circunscrição do espaço. É a memória da passagem do tempo e dos limites em que esse tempo acontece - morte e nascimento, princípio e fim.

Em Ponte de Sor, com Paulo Machado de Jesus e os Autarcas (2006)


liberdade os vossos próprios sinais. O pastel é o meio privilegiado da sua expressão plástica. Difícil e moroso tem pouca tradição na pintura portuguesa. Assim LUIS ATHOUGUIA cultiva esta técnica como um artista mas também como um artesão, como um antigo mestre de Ofício, trabalhando diariamente na sua oficina-atelier, sempre limpa e arrumada, sempre pronta, como uma taça, a recolher, com a alegria que transparece na sua obra, o néctar da inspiração. Das vibrações ora viscerais ora minerais que habitavam nas suas obras da década de noventa, LUIS ATHOUGUIA fez nascer paisagens novas, construídas com recurso a símbolos antigos que parecem, e insistem, em querer viver de novo em lugares ora oníricos, ora num mundo próprio, em algum outro lado de um qualquer espelho, luminoso e feliz, onde aos símbolos se juntam manchas de cores, com vida própria, criando espaço e volume em matizes de luz, característica tão própria da sua obra. Em 2005 ajudei-o a receber no seu estúdio um grupo de amigos do Colégio Washington & Lee, Universidade da Virgínia. Eles viveram a surpresa do encontro com a funcionalidade e luminosidade de uma oficina-atelier, sem dúvida a mais limpa e arrumada que já tinham visto. Curiosamente na Internet, na página da Washington & Lee, a viagem desse grupo americano era anunciada descrevendo Portugal como "Europe's hidden jewel" (a jóia oculta da Europa). Parafraseando os seus admiradores americanos eu classificaria a arte de LUIS ATHOUGUIA, sem dúvida, como uma jóia, felizmente cada vez menos oculta, da pintura portuguesa contemporânea. MANUEL RODRIGUES VAZ - Lisboa, 2004 LUÍS ATHOUGUIA: PAISAGENS DE ALMA Tendo surgido logo no começo da sua obra com um discurso que parte de uma necessidade que começa e termina com o quadro,

Com Rodrigues Vaz na Galeria dos CTT - Correios, em Lisboa (2002)

em que as emoções não só passam pelo crivo da pintura, mas também dimanam dela, convertendo a sua obra numa causa, Luís Athouguia prossegue num território pictural muito pessoal, inequivocamente singular, intensificando cada vez mais as razões que o levam à verbalização tanto de objectivos como de instantes transitórios inerentes ao processo da pintura. À medida que a sua obra se vai desenvolvendo, é crescentemente nítido que parece que esteve todos estes anos anteriores à procura do seu lugar no mundo, tentando adaptarnos às suas idiossincrasias, ao mesmo tempo que, como se de terra profunda se tratasse, a pele que percebemos da sua obra houvesse sido lavrada, preparada, semeando a extensão de emoções sobre a qual hoje se pintam os canais de um argumento sensitivo sobre o suporte de uma dimensão que conhecemos. A pintura de Luís Athouguia faz-se levantar, deste modo, a si mesma, deixando o fundo como linha de um horizonte que alivia esteticamente outras esferas de continuidade objectual. Objectual na medida em que, dentro do mesmo estrato, a intenção do artista concilia com a nossa percepção os diferentes planos. Tendo evoluído nos últimos anos para uma depuração cada vez mais carnal, a sua obra é cada vez mais pintura e sempre o será, os esquemas é que variaram. Vão deixando, no entanto, canais que animam o surgimento de elementos com corpo, plasmando através de manchas lineares e em ricas entoações cromáticas as inquietudes do mundo moderno. Expressionismo, geometrismo, colorismo; mediante eles o pintor propõe espaços plásticos nos quais junta o reflexivo e o poético e intuitivo, o geometrismo e rigor e o lirismo. As suas imagens pictóricas delineiam sobretudo uma unificação de formas, uma acumulação de traços/manchas de cor em distintas direcções, organizados de forma aparentemente aleatória, em vertical, horizontal, diagonal, numa reconstrução plástica e reflexiva do plano. O primeiro traço é o que marca a pauta à conformação do resto das manchas de cor, e a repetição e o horror ao vácuo é o resultado de construções abstractas que para o artista são algo também real, uma existência com todas as suas contradições e ambivalências.


Torres Vedras, Galeria Municipal (2007)

Nas suas elaborações plásticas, Luís Athouguia utiliza diferentes formatos e, a partir daí, adapta umas formas que se vão criando e transformando em visões plenas de dinamismo, caos, serenidade, força, negação ou afirmação... segundo a direcção do núcleo inicial, sobrepondo e confrontando cores distintas, criando velaturas e zonas opacas, iluminando e sombreando, jogando, enfim, com o elemento plástico e com todos os seus efeitos, isto é, manifestando o duplo aspecto da liberdade e da dimensão espiritual da cor e da abstracção. De certo modo as suas composições são estados de alma, ou por outro, paisagens de alma, sintetizando o real ao convertê-lo em linhas e planos, dois elementos essenciais que são suficientes para dizer tudo. Ou, o que é o mesmo, optando pela representação do universal submetendo o detalhe ao conjunto e desterrando toda a particularidade individual, mas sem deixar, no entanto, de preservar nas suas pinturas o lirismo, o espírito expressivo do interior.

Seguro do seu ofício, na obra de Luís Athouguia, não se localizam vestígios de submissão a aventuras inconsequentes, e com lugar de crescente destaque nas artes plásticas portuguesas, o seu trabalho, originário de profunda reflexão, fertiliza-se por força de um quotidiano artístico rigoroso, pairando sobre a sua criação aquela dimensão lírica e melancólica que só um artista subtil como Athouguia tem a graça e o poder de ostentar. Porém, se o artista é soberano sobre a sua obra, haverá, por certo, quem veja/invente, nas suas superfícies, um pouco de paisagens, de ruínas, de vegetais e mares. Antes, porém, o universo do artista prevalece. Luís Athouguia, apresenta-nos esse seu universo criativo onde se destaca a capacidade técnica e o talento de um bom artista da contemporaneidade portuguesa. Pintor das formas e da cor mostra-nos num clima alegórico, a sensibilidade crítica e pureza técnica. Sem grandes detalhes, ele recria os seus sonhos, com uma perfeita harmonia das cores e

ÁLVARO LOBATO FARIA, Lisboa, 2003 IN CATÁLOGO GALERIA MAC Uma rígida e estruturada disciplina, formaliza e geometriza a sua arte. No domínio da suavidade cromática, contrasta e harmoniza o intelecto do emotivo. Sentir a sua arte, é sentir o equilíbrio do movimento a sensatez da vida, o optimismo no amanhã, retratados linha por linha, forma por forma, cor por cor, nos seus desenhos figurativos esquemáticos, como também no abstracto geometrizado. Foi o que senti ao observar pela primeira vez a pintura de Luís Athouguia, comoveram-me as pulsações tensas, contidas, redutoramente serenas, que emanavam da sua obra. A matéria que ao mesmo tempo anunciava a sua substância secreta que despejava em torno de si próprio, os efeitos multiplicadores da sua linguagem. O límpido cromatismo de um universo cujo porvir da sua gramática se ajustava a novos conceitos, construía e desfazia ícones, mitos, sob o jugo de irrestrita fidelidade a uma certa sintaxe geométrica, atrás da qual se escondiam labirintos lógicos, previstos pelo artista.

Exposição no Museu da Água

sobriedade nos encantamentos que revela. Faz-nos parceiros de tanta beleza que cria, levando-nos ao mundo das fantasias que busca na incessante faina de criador, traduzindo assim, toda a sua autenticidade, nos trabalhos que nos apresenta. Há um lugar especial para artistas como Athouguia, que através de percepções do quotidiano, daquilo que parece vulgar, sabe tocar a sensibilidade alheia. O pintor coloca-se entre os bons coloristas, com bastante talento realiza a sua obra, provando que sabe bem caminhar nas artes a que se dedica, e nisso tem e dá prazer. É por esta razão que a obra de Luís Athouguia nos surpreende e anima, na unidade da força que habita nas suas cores, a necessária sobriedade das suas composições em que a pintura assume toda a sua razão de ser de uma profunda poesia num acto criador contemporâneo. Pintura despojada, sintética e envolvente. E cada vez mais pintura. PINTURA SÓ.


JOSÉ NETO - Lisboa, 2009 IN CATÁLOGO “UNIVERSO RECONFIGURADO” CENTRO CULTURAL EQUUSPOLIS GOLEGÃ

Bem poderia eu vir - uma vez mais - referir o onirismo imanente ao fazer deste autor, mas como entendo que cada artista tem direito ao seu estilo próprio - advindo da sua identidade única e irrepetível - não o farei, pois tal seria redundante, repressivo da liberdade criativa e insuficiente para abarcar o autêntico alcance da peculiaridade do seu grafismo e mensagem. É que a sua “representação” é bem mais profunda (no tempo e no espaço) que o teor do sonho, da vigília, do transe, ou mesmo do êxtase, e está muito para além do alcance da Psicanálise, da História, ou mesmo da Ciência. Isto porque os conteúdos aprofundados são aqueles da consciência – em si. Numa condição superior a qualquer sonho, imaginação ou alucinação, a consciência recriadora deste autor aprofunda a leitura e codificação de anagramas de memória, circulantes - em potência na nossa genética. Esta recuperação dá-se - em acto - pela fusão dos materiais empregues. Técnica pela qual resulta um trabalho recriador da densa superfície da experiência telúrica. Transmitida esta sensação à percepção, a apercepção é forçada a regredir até um tempo não-linear, no qual ainda não se fazia sentir a influência psicológica (humana) de um inconsciente colectivo. Aí, Homem e animal ainda partilhavam uma posição similar no desenrolamento da realidade e coexistiam no mesmo patíbulo amoral dos valores simbólicos.

Por entre as fendas dinâmicas de uma exuberante realidade pré-mítica Luís Athouguia criou um código próprio pelo qual exprime a harmonia de um jogo entre opostos. Se por um lado existe a surpresa do espanto provocada pelo encontro entre rectas - na sua resultante triangular -, por outro, insinua-se uma ordem de pacificação sinusoidal. Se por um lado o ângulo recto insinua certeza, por outro, tal rigidez é amenizada através da tolerante presença da forma circular. Se por um lado o “Ser” antropo/animal (quase sempre presente a azul) constitui a sua realidade, pela forma ondulante com que a sua língua profere as potências ordenadoras das formas, por outro, o equilíbrio da sua acção manifesta-se sob o assomar do “Olho do Cosmos”. Em suma, a razão evanescente da geometria equilibra-se com a intuição do perene des-contorno da cor. Sem pudor e sem favor afirmo: Luís Athouguia recria em suporte ideogramas da consciência universal, os quais reflectem (fazendonos reflectir acerca d) o desejo radical a todo e qualquer ser existente, i.é., o querer saber na Natureza e o sentir do mais alto apelo Cósmico.

EDUARDO NASCIMENTO - Amadora, 2002 IN CATÁLOGO GALERIA ARTUR BUAL MEMBRANA CIRCUNDANDO O OUTRO LADO DO SEGREDO Voltejas Luís, na membrana, o som e a luz, véu de lua marítima, oculta na respiração, espasmos penetrantes de crisálida a querer voar, pedaço de sol amamentado pelas raízes dos segredos. Danças que escondem o beijo da cor... Difusas, são as almas bebendo no centro da terra a firmeza da água, o rogo das raízes, o lodo fluindo no rio até ao oceano, ao aceno da espuma - corais finitos de marés. - Luz incidindo na membrana, escondendo a parte difusa do coração. Treme a visão no centro da luz, da rotação da esmeralda sob raios de mil sóis; as mãos que afagam a pele da água, o murmúrio central da gota deslizando sobre a textura da folha transparente. Passeias-te sobre a membrana uterina, volumetria da respiração - asas em formação da borboleta surgindo suave, sobre a primavera de um dia, num azul estonteante de fogo, protegidas pela sensação desfocada na atmosfera - vento quase visível no horizonte. (As tuas obras Luís são janelas com segredos, vindos do interior, onde os sonhos têm pedaços de seda – papiro, que um dia fez dançar ao som das esferas, no encontro da primeira respiração)


JOÃO ANÍBAL HENRIQUES, Estoril, 2012 IN CATÁLOGO CLUBE LITERÁRIO DO PORTO O SONHO DA ETERNIDADE EM LUÍS ATHOUGUIA Na obra de Luís Athouguia cruzam-se formas – quase disformes – e cores, marcando fronteiras entre os espaços que vão compondo os cenários fictícios que ele vai imaginando. Normalmente os seus quadros estão vazios. Não mostram caminhos, nem facultam direcções que nos permitam seguir viagem através dos terrenos bem cartografados onde nos parece que é seguro caminhar. Deixam escapar uns laivos de orientação, à laia de engodo para nos prender a atenção e nos fazer olhar ou… ver. As suas obras, serpenteando de forma imprecisa através dos trilhos que cruzam e recruzam o Mundo não podem ser descodificadas. Mantêm-se presas àqueles laivos mais pressentidos do que sentidos que formam o cenário dos sonhos. Ali, numa matéria de tal maneira ancestral que deixa transparecer os aromas sublimes dos tempos em que nasceram os nossos primeiros avós, perdemonos sempre, deleitando-nos com o prazer sem igual de percebermos que só dessa maneira podemos reencontrar o rumo certo. É difícil, senão impossível, descrever com exactidão a pintura de Luís Athouguia. Em primeiro lugar porque ele subverte por completo a lógica, o raciocínio e o pensamento da gens humana. Depois, porque ao distorcer a sua origem, nos impele em navegações que ultrapassam largamente as fronteiras do real, obrigando-nos a entrar em campos nos quais a matéria já não importa e onde os aromas, as cores e as formas mais não são do que ilusões efémeras que deixam para trás a realidade mais palpável. A maior parte dos artistas são génios. São-no porque interiorizam a capacidade quase esquizofrénica que traduz na tela ou no papel a nossa própria perspectiva acerca do Mundo real. Fazem-no com mestria e, quando de grandes mestres tratamos, sentimos que consagram numa só obra toda a multiplicidade de universos que carregam consigo todos os que com eles se vão deslumbrando.

Com Luís Athouguia é tudo ainda mais transcendente, superando de forma exponencial o substrato místico que na arte prevalece. A sua obra, transbordando sensibilidade onírica, aprofunda de forma inquietante os princípios mais singelos que dão forma à existência e ao quotidiano. Ao contrário dos outros, que oferecem uma eternidade fictícia que tolda a noção que temos da inultrapassável efemeridade da vida Humana, Athouguia sublinha esse carácter visceral do dia-a-dia e consagra nas suas obras o cunho imediatista, finito e frágil que nos envolve a todos por igual. Não existem meias-palavras na obra de Luís Athouguia. Nem palavras sequer. As linhas e as cores, transfiguradas em painéis que não esbatem o universo maravilhoso em que estamos mas que aguçam os pensamentos perdidos no meio dos nossos sonhos, são pontes efectivas que nos transportam até à verdadeira eternidade. Não aquela eternidade ilusória em que o fim não existe e em que os tempos se vão esticando até mais não… ele vai ao princípio, à matéria primordial, e é ali, naquele cadinho da alma, que encontra a verdade suprema e a totalidade do que não pode ser concebido… É preciso coragem para literalmente podermos mergulhar na obra dele. É fundamental que o façamos num estado de liberdade absoluto que geralmente só encontramos quando conciliamos o sono com o sonho e nos libertamos das amarras do real. Só assim podemos conceber e sentir os universos alternativos que os seus quadros nos trazem. É com essa forma subliminar, livres e atrozmente perdidos, que podemos conceber os caminhos novos que a sua obra nos propõe. Só dessa maneira, assumindo o carácter transitório do presente em que respiramos, o fechar dos ciclos passados em que suspirámos e antevendo alquimicamente as formas novas a que o futuro nos irá conduzir, podemos inverter as premissas do tempo e tornar-nos irresistivelmente imortais. É isso que nos oferece Luís Athouguia. A eternidade de onde viemos, onde estamos e onde ficaremos sempre. Mesmo que sejamos incapazes de o perceber!


JESÚS DÍAZ HERNÁNDEZ - Madrid, 2010 IN CATÁLOGO ACADEMIA DE LETRAS E ARTES REINADO DAS TRANSMUTAÇÕES Estamos ante uma nova exposição na brilhante trajectória de Luís Athouguia, uma nova exposição mas não mais uma, uma especial, é quiçá o culminar de uma forma de entender a pintura a partir de dois conceitos que se procuram, se cruzam e, por fim, se encontram: a busca permanente da cor e a acção simbólica dos objectos. Não é fácil conseguir esta fusão se não se tem clara a ideia da abstracção que se quer transmitir. Esta ideia é diáfana para Luís Athouguia desde o instante em que empunha o pastel. Quando olho demoradamente um quadro de Athouguia não posso deixar de pensar nas palavras de Claude Monet: O motivo é para mim absolutamente secundário; o que quero representar é o que existe entre o motivo e eu. A representação, a meu entender onírica, da sua pintura deixa entrever a existência de um mundo próprio, um mundo fechado à contaminação das sombras e um mundo aberto aos sentidos da luz. A procura permanente da cor mediatiza de forma radical a visão desse mundo, pois é fácil comprovar como a cor nos move a olhar de uma forma mais fluida, mais rotunda, os objectos que pululam pelo quadro. Objectos que não são senão uma mera representação de algo mais profundo que subjaz no seu interior e de que podemos aperceber-nos com assombrosa clareza. Dizia Schopenhauer que o mundo visível é mera aparência e que só adquire importância quando estamos conscientes de que através dele se expressa a verdade eterna. A pintura de Luís Athouguia mostra-nos a sua verdade eterna adornada de cor e submetida à experiência. Trata de exteriorizar uma ideia, depois de analisar o seu eu íntimo, dotando-a da capacidade de sugerir, de estabelecer correspondências entre os objectos e as sensações. Sente a necessidade de expressar uma realidade distinta do tangível e tende à espiritualidade. O símbolo converte-se no seu instrumento de comunicação decantando-se por figuras que transcendem o material e nos transportam a mundos ideais. É, indubitavelmente, uma obra que convida a observar e pensar. HUGO GUERREIRO - Estremoz, 2006 IN CATÁLOGO MUSEU MUNICIPAL DE ESTREMOZ FIGURAÇÃO ONÍRICA Depois de duas exposições de cerâmica, chegou a vez da pintura! Fomos agora à zona metropolitana de Lisboa "buscar" um pintor premiado e com obra feita. Falamos de Luis Athouguia. As obras deste pintor despertam o nosso imaginário, o nosso subconsciente, ao observarmos o fantástico, as zoomorfias sem nome, sem designação no mundo animal, daquelas que existem só porque o autor tem uma mente rica e

criativa... mas onde vai Luis Athouguia buscar aqueles bichos, aquelas formas geométricas, ou aquelas formas aparentemente sem paralelo no nosso mundo físico? Onde vai buscar aquelas cores, aquela disposição na folha? Certamente que aqui entra um subconsciente particularmente fértil... um subconsciente que "obriga" o autor a expressar-se desta forma, ou seja, pintando o que o subconsciente lhe dita! Ainda bem que Luís Athouguia encontrou esta forma, e não outra qualquer, de se expressar, permitindo assim, a nós, simples observadores, que fruamos o que o subconsciente, o que o seu imaginário lhe transmite. JOSÉ INÁCIO MARQUES EDUARDO - Lagoa, 2009 IN CATÁLOGO CONVENTO SÃO JOSÉ NARRATIVA VISIONÁRIA Luís Athouguia, passados alguns anos, está de volta à Sala de Exposições do Convento de S. José para nos propor novos desafios à nossa sensibilidade, com os fascinantes puzzles dos seus trabalhos. Este pintor é um criador que convida o espectador a fragmentar a ordem inicial e a descobrir insuspeitas coerências e subtis paradoxos na geometria abstracta de cada quadro. Sentimos em muitas obras de Athouguia um simbolismo totémico misterioso, ressonâncias atemporais que nos transportam para aquela essencial dimensão arquetípica, invisível, onírica onde a realidade visível tem as suas raízes. Esta exposição é uma oportunidade singular para nos olharmos a um espelho que não reflecte uma imagem, mas que nos permite transpor magicamente um portal para o desconhecido onde nos podemos conhecer melhor.


JOÃO ANTERO FERREIRA - Lisboa, 1996 IN REVISTA OLÁ! JORNAL SEMANÁRIO O MERGULHO AO MICROMUNDO Pintura a pastel de imagens micro aumentadas para um mundo macro. Os símbolos do quotidiano utilizados de uma forma não conceptualista, o contraste cromático e lumínico, o jogo das formas, as ramificações capilares e a utilização das cores, as manchas de contornos enevoados, ajudam a construir a viagem ao interior do mundo. Luís Athouguia Desde pequeno que se refugiava no seu «canto» a desenhar, desenhar a eito, do retrato ao abstracto, sem qualquer objectivo definido. Desenhava para si, primeiro como uma brincadeira, depois como «hobby». Os amigos, aliás, já o conheciam por essa sua qualidade de estar sempre a desenhar: era num jardim, em casa dos amigos, nas festas, agarrado ao lápis e ao papel. E como não podia deixar de ser, Luís Athouguia diplomouse no IADE e, apesar de pintar há já vinte anos, apenas expõe há treze, consecutivos. A pintura surgiu como uma evolução natural do desenho, na mesma linha do traço e da mancha, o que o levou a optar desde muito cedo pelo pastel. Conhecidas minimamente as características do pastel, a sua preferência, entre o pastel de óleo e o pastel seco, recaiu sobre este. Não deixou de tomar contacto, nem tampouco de aprofundar a técnica da aguarela, do óleo ou do acrílico, durante o seu tempo de aluno no IADE, mas o material que continuou a melhor apreciar foi o pastel, pelas suas qualidades infindáveis. Mas, paralelamente ao desenho e à pintura, e também como «hobby» Luís Athouguia fez muita fotografia. Pormenores das pequenas coisas do quotidiano por que geralmente se passa e nem sequer se toma conhecimento da sua existência, da sua cor, da sua textura e, principalmente, da sua mensagem. São pormenores de tinta a cair duma qualquer parede, são ombreiras de uma porta, pedaços de um pneu, de um lenço ou de uma corda, são vidros partidos, papéis amontoados ou ferrugens arrastadas pelas águas. Entre o mundo descoberto pelo visor da sua máquina e a sua pintura existem muitos pontos em comum. São imagens macro de um universo microaumentadas para o macromundo. É o olhar para a coisa ínfima, para a coisa sem importância, emprestando-lhe a importância que as pessoas, normalmente, não lhe atribuem. A fotografia ajudou-o muito na leitura da sua pintura, a qual não é figurativa nem gestual, nem tampouco abstracta, embora um pouco abstractizante. O seu canto Um belíssimo atelier em pleno coração de Lisboa, e, ainda assim, isolado do ruído urbano e do ramerrão das horas de ponta. Na separação do

profano para o sagrado do seu atelier, uma entrada palaciana de assombrosa magnitude neo-realista. Lá dentro, uma «casa de bonecas» artesanal, construída pelo artista, transpirando a sua personalidade em cada peça de mobiliário, em cada objecto decorativo. A ambiência é de total calmaria, numa luz velada, propícia à meditação. Luís Athouguia gosta de pintar ao som da música, preferencialmente New Age. É a música que melhor o ajuda a uma libertação de espírito, criando um ambiente propício para que «aconteça qualquer coisa». Dentro deste estilo de música, varia a sonoridade dominante mais para o oriental, para o árabe, para o escocês ou para o americano, conforme o próprio estado de espírito em que se encontra. Gosta mais de pintar a partir do fim da tarde e pela noite dentro, não só por haver menos barulho, menos agentes exteriores como telefone e campainhas, mas por ser um horário mais propício ao fluxo que por ele passa, desligando-se dos seus problemas mundanos e pessoais. Para Luís Athouguia é imperioso pintar todos os dias, mesmo que não surja algo de especial. Entre o riscar e o traçar, e entre o manchar com o polegar e o observar, o pintor constrói um pouco mais de si. A procura Não procura retratar a humanidade em si, mas o que é exterior à humanidade. Sem querer ser muito ambicioso, procura tratar dos assuntos de Deus, o que transcende o quotidiano do ser humano. É, no fundo, uma outra dimensão, na qual utiliza muitos dos símbolos que compõem a comunicação e que fazem parte do dia-a-dia da humanidade, não como um fim, mas como um meio. Quando pinta, sente-se como condutor entre um emissor, no caso, uma entidade superior que, não sendo Deus, está um pouco em todos nós, e um receptor, neste caso, a tela ou o suporte. Ou seja, pinta uma vivência e um estado de espírito a que muitas vezes se chama «o outro lado». Cromaticamente, Luís Athouguia comanda conscientemente os trabalhos, escolhendo e aplicando as cores que sente melhor se ligarem ao que pinta, ora de tons quentes ora de tons frios, muitas vezes em contrastes não provocatórios. A sua pintura tem uma forte ligação com a luz, num jogo de contrastes claro/escuro, em que a luminosidade parece esconder-se atrás dos


primeiros planos, espreitando aqui e ali o momento certo para saltar ao nosso encontro. As manchas são separadas por contornos algo enevoados, aumentando a indefinição de objectividade. Se no início da sua pintura se notava uma ligação muito conceptualista de intenções no que respeita a simbologia e aos signos utilizados, com o evoluir natural da abordagem, a mensagem está mais liberta, sem necessidade de se evidenciar tanto. «É pintando muito que, por vezes, a «luz» nos toca, o que leva a que haja um percurso pictórico que não é necessariamente muito bom. Fazem parte dum lote de pequenos exercícios. É como a folha do escritor que vai para o lixo porque a frase não saiu com o impacto necessário». São os seus momentos, a sua vivência que fica ali registada. É como que pôr as coisas em ordem. O que está feito não é de todo a obra perfeita, e como o que Luís Athouguia procura é algo próximo da perfeição, tem de continuar a procurar, consciente de que apenas foi dado mais um passo na direcção certa. «O que eu prefiro é aquilo que ainda não fiz». O seu percurso pictórico, olhando-o friamente, sugere como que um atravessar de uma densa floresta de cardos e espinhos, em que, com o passar do tempo, se vão dissipando, como que se aproximando de uma clareira, de uma paisagem tranquila, mas não bucólica. Algumas das suas telas são autênticos vitrais pictóricos, onde se chega quase a adivinhar o que se esconde lá fora. Outras são olhares microscópicos com o olho nu da alma. Outras ainda são rápidas espreitadelas para o interior do além, em que a força das imagens permite um registo marcante. VICENTE BORGES DE SOUSA - 1993 EXPOSIÇÃO S. MIGUEL SÃO VICENTE - AÇORES Conheço e, de há muitos anos, aprecio profundamente a criação artística de Luís Athouguia. É óbvio que, ao longo destes dez ou doze anos, a expressão plástica tem vindo a apurar-se, a sua acuidade visual a tornar-se sempre mais e

mais precisa. Porém, o fascínio pela mensagem da linguagem estética mantém-se intacto. É que o discurso permanece coeso e íntegro, perseguindo, hoje como ontem, uma verdade continuamente revelada. No desenho, as paisagens são as do tempo ilimitado. São peregrinações vagabundas por paragens oníricas, erótico-sentimentais, um fascínio quase obsessivo pela fuga curvilínea remetendo para uma espacialidade deliberadamente interminável. O desenho de Luís Athouguia é a revelação do discurso mais íntimo, enunciando-se pela mão que vai despindo a nudez das folhas em branco; À espera do gesto que as preencha. E, assim, a grandeza solitária das paisagens interiores veste-se de formas caprichosas, que a luxúria prodigiosa da sensibilidade e da imaginação vai criando um pouco em cada dia, um pouco em cada obra.

JOSÉ BÍVAR - Belamandil, 1994 IN CATÁLOGO CONVENTO DE CRISTO Luís Athouguia é antes de mais um esteta, só depois pintor designer ou fotógrafo. No íntimo do seu trabalho há um sentido de uma elegância dandy, onde o mínimo gesto reflecte como que uma religião pessoal de saudável cepticismo, e frágil equilíbrio no traço que descreve o frisson da própria vertigem da sua vida, e num eterno renascer para o quotidiano exercício da meditação, como no gestualismo zen, orientalismo que herdou por linhagem e que defende com a nobreza do nosso mais glorioso passado, evocando no simbolismo dos seus sábios traços, a memória das góticas miragens do manuelino, na busca dessas Índias espirituais, onde em vórtices de luz se vislumbra a esperança de uma redenção que em cada desenho é assim tentada no retiro intimista da nossa tão lusa saudade. Vagueando intemporal nos desígnios do destino sem direcção que não seja a busca de um SER maior. Desta forma constrói Luís Athouguia a sua obra que é a de um Português Universal, na hora em que Portugal pela voz profética de Pessoa irá cumprir-se.


PEDRO RODRIGUES - Lisboa, 2005

O primeiro impacte é o da cor. Sem se perder em lugares-comuns, Luís Athouguia pratica um jogo abstracto de contrastes que convidam o observador a demorar o olhar sobre as formas que povoam as suas obras. Nesta altura apercebemonos que por entre elementos quase geométricos, que à primeira vista surgiam como que aleatórios, existe uma lógica muito pessoal e particular. Aos poucos entrevê-se quase que uma história na forma como diferentes elementos se conjugam num palco de alusões. E assim, gradualmente, o observador torna-se parte da imagem ao envolver-se na sua interpretação. Nada é dado, mas também nada é escondido. Luís Athouguia nasceu em Cascais durante o ano de 1953. Formou-se no IADE e a sua primeira exposição (colectiva) data de 1983 na Galeria Metrópole, em Lisboa. Conta actualmente com mais de duzentas exposições individuais e colectivas em vários países, entre eles Espanha, Alemanha, Brasil e Argentina. No seu currículo constam também trabalhos de ilustração literária e alguns projectos de arquitectura. A sua obra explora um universo pessoal seguindo uma linguagem estética própria que se desenvolve de forma segura, sem por isso se impor. São apenas feitas sugestões e alegorias, sendo quem observa convidado a uma interpretação de elementos nunca dispersos, nunca perdidos em pretensões de sobriedade. A imagética de Athouguia desenvolve-se antes sobre um jogo Dionisíaco de cor e formas que comunicam não através de uma suposta racionalidade mas expondo desejos, impressões e sentimentos. As cores opacas dançam através de todo o espectro, conferindo vivacidade a uma tela que se divide em diferentes planos. Estes preenchem sempre o olho do observador mas nunca surgem como sobrepovoados ou confusos. A cada forma e elemento é conferido o seu espaço, numa construção orgânica que nasce, respira e estremece sem por isso exigir. Alguns dos elementos que povoam estes diferentes palcos repetem-se em várias instâncias da sua obra, sendo por isso talvez parte da chave que permitirá entender a estética no surrealismo de Athouguia. A descodificação da obra, no entanto, nunca estará completa. Essa é, afinal, uma das características da arte como suporte de comunicação – existe sempre um "algo mais" para descobrir, uma nova perspectiva, um novo olhar. Athouguia dá-nos parte do seu existir interior deixando entrever uma imaginação nunca restringida pela realidade mas funcionando sempre em paralelo a uma perspectiva muito particular desta.

ZEFERINO SILVA, Lisboa, 2003 IN CATÁLOGO GALERIA MAC Imagens de grande impacto visual, que apesar de abstractas evocam um acontecimento onde a dimensão palpável do real, num gesto de silenciosa paixão, nos transporta à contemplação, retrata memórias, encarna desejos. O nosso olhar passeia pelos seus quadros e o prazer é permanentemente revigorado pelo rigor técnico, um domínio da matéria, uma invenção de claridades e transparências marcadas em acordes rítmicos de cor e luz, reflexo da paixão mútua entre o artista e o cromatismo, a iconografia e riqueza vocabular da sua pintura de uma real qualidade criativa. Há duas décadas que Athouguia se dedica a construir pinturas, investigando os elementos integradores de uma linguagem pictórica muito própria. As suas obras mostram exercícios de criação cromática, dos quais uns derivam de sistemas de aprendizagem e outros, da criatividade emotiva do artista face à pintura que configuram o empenho, o ensaio e a vontade de Athouguia penetrar na intimidade da cor e, naturalmente, da luz que revelam aos nossos olhos. A pintura de Luís Athouguia é pois de um lirismo moderno, porque tem a beleza e toques de convulsões emocionais próprios da actualidade.


DESIDÉRIO MURCHO - Ouro Preto, Brasil 2009 IN CATÁLOGO FUTURO Conheci a pintura de Luís Athouguia em 2003, quando procurava ilustrações adequadas para o meu manual de filosofia do ensino secundário intitulado A Arte de Pensar. Especificamente, tratava-se de ilustrar um capítulo sobre lógica. Poder-se-á pensar que é difícil ilustrar um capítulo de lógica formal, mas isso não é verdade; a dificuldade é encontrar ilustrações que sejam, a um tempo, informativas e elegantes. Apesar de ser comum pensar que a lógica pertence ao lado frio da razão ao passo que a arte, especificamente a pintura, pertence ao lado do fogoso da emoção, este dualismo primário e irreflectido não corresponde à realidade. E Athouguia é um dos muitos artistas que o provam: a sua pintura manifesta esse entrelaçamento da razão e da inteligência com a emoção e a intuição que faz da arte mais do que mera decoração de interiores emocionais. A obra de Athouguia que escolhi chama-se “Formulário de Símbolos” e tem a data de 2002. Infelizmente, nunca pude apreciar senão as suas reproduções electrónicas. Mas mesmo em reproduções o “Formulário de Símbolos” impressionou-me pela força das cores primárias e pela carnalidade das formas distorcidas. E o título escolhido não podia ser mais indicado: a lógica, como a pintura e as restantes artes, faz um trabalho intenso com símbolos, mas nem a lógica nem as artes se reduzem a meros formulários de símbolos. Estes são ao invés usados porque nos falam de muitas coisas — e podem obviamente falar-nos de tudo, incluindo de outros símbolos. A pintura de Athouguia tem algumas analogias com a lógica formal. Como na lógica formal, Athouguia usa um número relativamente restrito de elementos. A sua paleta é principalmente feita de vermelhos, verdes e amarelos, alguns tons de azul e preto. Na sua geometria inclui também relativamente poucas variações: círculos e formas parcialmente triangulares e parcialmente angulares. Como na lógica, obtém-se um grande poder expressivo partindo de poucos elementos atómicos. Ao contrário da lógica, porém, eu nada tenho para ensinar sobre pintura. O melhor mesmo é ver a obra de Luís Athouguia e deixá-la falar por si.

FERNANDO GRADE - Oeiras, 1999 IN CATÁLOGO DE ARRUDA DOS VINHOS O QUE SE DEIXA SUGERIDO VALE MAIS "Dizer de mais", em Arte, é mau. Portanto: minimiza. Sendo a linguagem estética o produto de um esforço oficinal ou de um requinte pessoal e (mormente) de um imaginário transformista – assim interessa mais a maneira como se diz, importa mais o que se sugere do que o que se julga ter sido dito, em suma, "o que se diz". É óbvio que – esclarecido este ponto de fulcro – o significante impõe-se ao significado. Também com Athouguia isso acontece. A escrita pictural de Luís Athouguia desenvolve-se com base numa sugerência cromática e neo-romântica, não raro com tons de feitiço, cores sirénicas, onde os pastéis muito bem doseados e esgrimidos organizam-se a partir de um núcleo que acaba por ser sui generis. Sublinho, paradigmaticamente, a obra "Silêncio gritante", com o tono voraz do amarelo e do preto a orientar toda a modulagem. O mesmo se passa noutras obras datadas do ano transacto. Com efeito, a ocupação do espaço depende do modo como se explicita o centro do quadro, o suporte, o núcleo irradiador. Nos trabalhos de 1999 vislumbra-se uma ruptura radical com o pressuposto enunciado, a linguagem tem menos carga onírica e chega a enredar-se na criação de objectos de referência pós-surreal; é o caso do misterioso e sedutor "Aventura da flor proibida" e, dentro do mesmo teor anti-onírico, o "Triunfo do delírio". Mas onde a propensão e capacidade criadoras de L.A. rasgam mais fundo afigura-se-nos ser no quadro "Busto quebrando horizontes", a todos os títulos sensitivo; aqui a procura assumese mais demolidoramente nova, sem quaisquer concessões ao olhar comum. No que concerne às pequenas peças – acrílicos sobre papel – o modus faciendi do Autor é outro, menos correntio na sua estilística. Finalmente, trata-se de uma mostra que merece ser vista, descodificada e fruída com todo o empenho crítico e adesão. Ou o mundo não estivesse nos olhos.


MANUELA GONZAGA, 1996 IN O SEMANÁRIO São paisagens oníricas, que tomam a luz como ponto de referência, e que revelam, em contornos definidos por uma geografia circular, grutas, correntes marinhas, naves, colunas, numa plasticidade orgânica onde, inesperadamente, encontramos símbolos ocultos, ou em flagrante evidência.

memória visual… Que é cativada pelas cromias conseguidas face à técnica apurada que o autor, no desenvolver da sua actividade, consegue e multiplica com prodigiosa sensibilidade, ora tirando parte do fascínio das curvas, remetendo para o infinito, ora canibalizando paisagens interiores numa luxuriante tentação entre cor e forma. Vitrais opacos que revelam jogos de contrastes, reflexos e particularidades a que o espectador passa a compelido cúmplice face ao efeito quase hipnótico conseguido.

JOSÉ ELISEU, 1999 IN DIÁRIO DO SUL

IN REVISTA CASA & JARDIM, 2005

A pintura de Athouguia é-nos dada por uma subtileza de traço notável, numa leveza a roçar o deslumbramento, onde a luz se espalha em cambiantes vários de cores aveludadas, criteriosamente escolhidas numa harmonia perfeita, equilibrada, onde o sensual muitas vezes desperta e parece espreitar por entre as rotas curvilíneas extraídas de uma mole imensa de todos os valores abstractos.

FRANCISCO ARROYO CEBALLOS, 2004 IN REVISTA AIRES DE CÓRDOBA LUÍS ATHOUGUIA. O TRATAMENTO DA COR E AS FORMAS De sua obra pode destacar-se o amplo desdobramento colorista que o identifica, e os fortes contrastes entre tonalidades vivas de textura aveludada e serena. Um marcado gosto pela oposição de elementos lineares, quase geométricos, diferenciados claramente por traços de cor negra que configuram o eixo central, os quais dão sentido, forma e direccionalidade a todo o seu trabalho. Elementos figurativos que configuram a estrutura do núcleo labiríntico no qual o Luís aglutina as suas temáticas, os seus sentimentos entrelaçados, sobre o meio social; É esta visão, a um tempo optimista e animada, que agrada e inunda quem se detém no seu caminho e contempla imperturbavelmente os seus quadros. Recreações ou paisagens de sonho, ambientes que embriagam calmos e cheios de um exuberante lirismo harmónico.

IN O DIABO, 2001 Uma viagem pelo sonho, onde Athouguia fará reviver as suas paisagens abstractas num passeio de matizes que remetem para imaginários neo-românticos. Um discurso onírico que carece sempre de reflexão e interpretação perante a obra e na

Mercê do comprometimento total à sua arte, a pintura, o artista tem vindo a definir-se, tanto pelo amadurecimento da sua técnica, como pela configuração marcadamente particular que consegue estampar nos seus trabalhos. Essa aquisição, em excelência de matéria, em sensibilidade plástica, foi-se tornando notada nas inúmeras apresentações em que já participou. Todo o seu trabalho é como uma caligrafia do espírito, transmissão directa de impulsos, de reflexões, de sentimentos que, a pouco e pouco, se transformam em matéria, em forma, em pensamento plástico. No fulcro desta exposição (Galeria Pepper’s, 2005, Caldas da Rainha), as suas atmosferas perturbantes e sentidas, são como uma luz fervente, que dá vida para lá do sonho, uma lógica do abstracto íntima e silenciosa.

MARIA ADELAIDE MARQUES TEIXEIRA, 2014 Presidente da Câmara Municipal de Portalegre As suas obras, com traços e cores marcantes e poderosas, estão imbuídas de um imaginário e de um surrealismo, que mais do que pesadelos e sonhos Jungianos e Dalinianos, se entrecruzam com a obra majestosa e naturalística de pintores como Wilfredo Lam (e a sua mítica “Selva”), e os operáticos quadros de Henri Rousseau, o criador de universos magníficos e estranhos, que representam lugares exóticos e fantasiosos, cheios de cores, animais e portentos, sem nunca ter saído da sua França natal. Nos quadros de Luís Athouguia, os motivos são predominantemente animais e vegetais, incorporando também objetos inesperados, como OVNIS, símbolos da paz e olhos humanos, que parecem saídos da obra-prima do cinema surrealista, “Un Chien Andalou”, amálgamas de rostos, pedaços de selva, formas (semi) geométricas brancas, vermelhas, azuis e amarelas, que se combinam, como os grandes quadros de Kandinsky, para formar um caleidoscópio que nos faz girar e rodopiar consigo



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